quarta-feira, 19 de abril de 2006

Festa do Interior

Embora muito cantada nos carnavais a partir de 1982, “Festa do Interior” é uma canção junina, mais frevo do que marcha, diferente do estilo antigo, mas que inegavelmente revive a tradição desses festejos que continuam celebrados no Nordeste com o entusiasmo dos velhos tempos: “Fagulhas, pontas de agulhas / brilham estrelas de São João / (...) / e ardia aquela fogueira / que me esquentava a vida inteira / eterna noite, sempre a primeira / festa do interior...”

De autoria de Abel Silva, a letra faz a certa altura uma referência velada ao episódio da bomba no Rio Centro, ocorrido em 30 de abril de 81: “Ninguém matava, ninguém morria / nas trincheiras da alegria / o que explodia era o amor...”

Além da qualidade da composição, contribuíram para o seu sucesso o arranjo de Lincoln Olivetti, misturando sopros com teclado eletrônico, e a calorosa interpretação de Gal Costa, que vive no elepê Fantasia alguns de seus melhores momentos. Uma prova disso seria a presença do repertório do disco nas rádios, meses seguidos, com cada faixa — “Açaí”, “Meu Bem, Meu Mal”, “Faltando um Pedaço”, “Festa do Interior” — se revezando na preferência dos ouvintes (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Festa do interior (1982) - Moraes Moreira e Abel Silva - Intérprete: Gal Costa


  A              D7  A
Fagulhas, pontas de agulhas
D7        A         C#m7  F#7/9- Bm7   F#7
Brilham estrelas de São   Jo.....ão
  Bm7          E7  Bm7
Babados, xotes e xaxados
E7        Bm7    D/E     A   D/E
Segura as pontas meu coração
A             D  E A
Bombas na guerra-magia
E7        Em7      A7      D
Ninguém matava, ninguém morria

D               Bm7 D/E  A
Nas trincheiras da ale...gria
      F#m7 Bm7     D/E  Em7  A7 A7/13
O que explodia era o   amor
D/A             G7    A
Nas trincheiras da alegria
      F#m7 Bm7     E7 A    A#7  B7
O que explodia era o amor

    C#7/B        C#7
E ardia aquela fogueira
             F#m7
Que me esquentava a vida inteira
       B7                Bm7    E7
Eterna noite sempre a primeira
D/E        E7/9   A
Festa do interi...or

Falsa Baiana

Geraldo Pereira
Na noite de segunda-feira do carnaval de 1944, Roberto Martins estava no Nice, conversando com Geraldo Pereira, quando chegou sua esposa, dona Isaura, fantasiada de baiana. Acontece que, não tendo temperamento carnavalesco, a Sra. Martins era a própria imagem da desanimação, em contraste com os foliões, o que levou o marido a observar: "Olha aí, Geraldo, a falsa baiana...". O que Roberto não sabia era que, inconscientemente, estava oferecendo a Geraldo Pereira o mote para ele criar "Falsa Baiana", o maior sucesso de sua carreira.

Neste samba de ritmo sacudido, bem característico de seu estilo, Geraldo estabelece uma divertida comparação entre a falsa baiana - que "Só fica parada / não canta, não samba / não bole, nem nada" - com a verdadeira - "Que mexe, remexe / dá nó nas cadeira / e deixa a moçada com água na boca". Nascido em Juiz de Fora e criado no morro carioca da Mangueira, este notável compositor - bom de letra e melodia entraria na década de 1940 para a história do samba, gênero que revigorou em escassos quinze anos de atividade.

Talvez pelo caráter inovador de sua obra, que inclui até certas resoluções harmônicas inusitadas na época, Geraldo Pereira não foi suficientemente valorizado em vida. Várias dessas inovações estão bem à mostra em "Falsa Baiana": a originalidade melódica, o deslocamento da acentuação rítmica (que causaria forte impressão em João Gilberto) e o ritmo interno das construções verbais, independentes da melodia. Tudo isso seria valorizado na interpretação inconfundível de seu lançador, o grande sambista Ciro Monteiro.

Uma curiosidade: antes de entregar "Falsa baiana" a Ciro, o autor mostrou-a ao cantor Roberto Paiva, que a rejeitou. "Era de madrugada" - relembra Paiva - "e o Geraldo, ‘meio alto', cantou enrolando as palavras, dando a impressão de que o samba estava ‘quebrado'. Um mês depois, ao ouvi-lo na voz do Ciro, descobri que aquela beleza toda era o samba que o Geraldo me oferecera".

Falsa baiana (samba, 1944) - Geraldo Pereira - Intérprete: Ciro Monteiro

Disco 78 rpm / Título da música: Falsa baiana / Geraldo Pereira (Compositor) / Ciro Monteiro (Intérprete) / Benedito Lacerda [1903-1958] e Seu Regional (Acomp.) / Gravadora: Victor / Gravação: 03/04/1944 / Lançamento: 06/1944 / Nº do Álbum: 80-0181 / Nº da Matriz: S-052940-1 / Gênero: Samba

Intro.: G7+ D7/9

G7+                                  A7
Baiana que entra na roda e só fica parada
                                   D7/9
Não samba, não dança, não bole nem nada
                             G7+ G7
Não sabe deixar a mocidade louca
           C7+              
Baiana é aquela que entra no samba
               Bm7
de qualquer maneira
            E7                 A7
Que mexe, remexe, dá nó nas cadeiras
              D7/9-            G7+  E7
Deixando a moçada com água na boca
          Am7                   D7/9-
A falsa baiana quando entra no samba
              G7+
Ninguém se incomoda, ninguém bate palma
                Am7                D7/9
Ninguém abre a roda, ninguém grita ôba
          G7+    G7
Salve a Bahia, senhor
             C7+               Cm
Mas a gente gosta quando uma baiana
           Bm7               E7
Samba direitinho, de cima embaixo
            Am7
Revira os olhinhos dizendo
         D7/9-         G7+   D7/9
Eu sou filha de São Salvador


Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Chuva de Prata

Ronaldo Bastos
Havia muito Ronaldo Bastos já ultrapassara aquela fase de início de carreira em que o letrista só escreve, ou prefere escrever, sobre o que vivenciou. “Depois a gente descobre que pode armazenar e transferir outras emoções, escrevendo com o estilo de um profissional”, observa o poeta a propósito de uma música que uma gravadora lhe enviara para letrar. O autor da música era o compositor Ed Wilson — Edson Vieira de Barros, irmão do Renato dos Blue Caps —, atuante na Jovem Guarda, e de quem Roberto e Erasmo Carlos falam nos versos: “lá fora um corre-corre / dos brotos do lugar / era o Ed Wilson que acabava de chegar”, da composição “Festa de Arromba”.

A presença de Wilson no iê-iê-iê deu a Ronaldo a ideia de homenagear a precursora do gênero no Brasil, Celly Campelo, e o seu grande sucesso “Banho de Lua” (uma versão de “Tintarella di Luna”), rememorando o tema da canção na letra de “Chuva de Prata”: “Se tem luar no céu / retira o véu e faz chover / sobre o nosso amor / chuva de prata que cai sem parar / quase me mata de tanto esperar / um beijo molhado de luz / sela ó nosso amor...”

Seguem-se outras românticas citações sobre o amor ao luar, suavemente cantadas em tempo de bolero por Gal Costa, com a participação vocal e instrumental do grupo Roupa Nova. É evidente nessa versão de “Chuva de Prata”, lançada no álbum Profana, a influência do arranjo de Stevie Wonder para o seu grande sucesso “I Just Called to Say I Love You”, da mesma época (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Chuva de prata (1985) - Ed Wilson e Ronaldo Bastos - Intérprete: Gal Costa


 A            Am           G#m           C#m 
Se tem luar no céu    retira o véu e 
G       F#                  E    B7
 faz chover  sobre o nosso amor
E                  G#m            Bm               C#7
Chuva de prata que cai sem parar, quase me mata de tanto esperar
   F#m               C     B7           E    B7
Um beijo molhado de luz, sela o nosso amor
E                     G#m
Basta um pouquinho de mel pra adoçar,
              Bm              C#7
  deixa cair o seu véu sobre nós
F#m              C    B7              E   B7
Oh lua bonita no céu, molha o nosso amor
E                B/D#               C#m  C#m7/B
  Toda vez que o amor disser vem comigo
         A  F#            B7  B7/4 B7
Vai sem medo de se arrepender
E             B/D#                C#m  C#m7/B
  Você deve acreditar no que eu digo
         A   Am              E    B7
Pode ir fundo, isso que é viver

(solo)  E  G#m  Bm  C#m7  F#m  C  B7  E  B7
E|-------------------------------------------------------------
B|------------------------------------------------------------
G|------------------------------------------------------------
D|------------------------------------------------------------
A|---1/2--2-2-2--4--4/6--2—2-2-2---0-2-2-2-2-4-4/5-4----------
E|-------------------------------4----------------------------

E|-------------------------------------------------------------
B|------------------------------------------------------------
G|------------------------------------------------9/7--6/4----
D|-------------------1-2--4-4/5----4-2-1-4-2------9/7--6/4----
A|---0p-------0-2-4-------------------------------------------
E|-----4p2--4-------------------------------------------------

E                 G#m
Cola seu rosto no meu vem dançar,
             Bm                C#7
   pinga seu nome no breu pra ficar
  F#m                  C   B7            E   B7
Enquanto se esquece de mim lembra da canção
E                B/D#               C#m  C#m7/B
  Toda vez que o amor disser vem comigo
         A  F#            B7  B7/4 B7
Vai sem medo de se arrepender
E             B/D#                C#m  C#m7/B
  Você deve acreditar no que eu digo
         A   Am              E    B7
Pode ir fundo, isso que é viver
E                  G#m            Bm               C#7
Chuva de prata que cai sem parar, quase me mata de tanto esperar
F#m                 C    B7          E    C#m  G#m7 Gm7
Um beijo molhado de luz, sela nosso amor
  F#m7                  C    B7            E   C#m G#m7 Gm7
Enquanto se esquece de mim, lembra da canção
   F#m7           C    B7             E
Oh lua bonita no céu, molha o nosso amor

Alguém me Disse

Anísio Silva - 1960
Em contrapartida à bossa nova de João Gilberto, fez grande sucesso o intimismo melancólico do também baiano Anísio Silva. Com seu timbre anasalado, ele seria figura assídua nas paradas de sucesso, entre 1958 e 63, sempre interpretando músicas românticas como “Alguém Me Disse”: “Alguém me disse que tu andas novamente / de novo amor, nova paixão, toda contente...”.

O curioso é que Anísio, até então um modesto balconista de farmácia, conheceu o sucesso aos 37 anos, depois de inúmeras tentativas frustradas de seguir uma carreira artística. O êxito de “Alguém Me Disse” influiu decisivamente no trabalho de seus autores, Evaldo Gouveia e Jair Amorim, que faziam sambas-canção e passaram a compor quase exclusivamente boleros (A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Vol. 2 - Ed. 34).

Alguém me disse (bolero, 1960) - Jair Amorim e Evaldo Gouveia - Intérprete: Anísio Silva

Bm 
 Alguém me disse 
        Em         Bm    F#7 
 Que tu andas novamente 
           Bm           Em 
 De novo amor, nova paixão 
          Bm   B7 
 Toda contente 
          Em          A7 
 Conheço bem tuas promessas 
          D           Bm 
 Outras ouvi iguais a essas 
             G           G6 
 E esse teu jeito de enganar 
     F#7 
 Conheço bem 
             Bm 
 Pouco me importa 
         Em           Bm   G  F#7 
 Que te vejam tantas vezes 
           Bm          Em 
 E que tu mudes de paixão 
           Bm   B7 
 Todos os meses 
             Em              F#/Bb 
 Se vais beijar, como eu bem sei 
           D               Bm 
 Fazer sonhar, como eu sonhei 
              G 
 Mas sem ter nunca 
         F#7 G F#7             Bm 
 Amor igual     ao que eu te dei.

Nervos de Aço

Lupicínio Rodrigues
Amores impossíveis, paixões desesperadas, mulheres volúveis, infiéis, tudo isso faz parte do mundo explorado por Lupicínio Rodrigues em sua obra. Ninguém melhor do que ele cantou a dor-de-cotovelo em nossa música popular. O exemplo maior de seu estilo é o samba "Nervos de Aço", uma história de traição amorosa e de protesto contra o conformismo de pessoas traídas.

Só que o protesto é passivo, pois o protagonista também não age, limitando-se a se queixar: "Eu só sinto que quando a vejo / me dá um desejo de morte e de dor". Na realidade, este samba surgiu de uma grande desilusão de Lupicínio, quando a mulata Inah, a paixão de sua vida, abandonou-o após seis anos de romance. Razão do abandono: o poeta prometia, mas não se decidia a casar...

Nervos de aço (samba, 1947) - Lupicínio Rodrigues

Disco 78 rpm / Título: Nervos de aço / Autoria: Rodrigues, Lupicinio, 1914-1974 (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Panicali, Lírio (Acompanhante) / Orquestra Odeon (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 1947 / Álbum 12796 / Gênero: Samba canção

D                D#°           Em
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
                    D
Ter loucura por uma mulher
                       Em
E depois encontrar esse amor, meu senhor
     A7                   D
Nos braços de um outro qualquer 
                  D#°           Em
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
F#7               Bm   B7
E por ele quase morrer
    G                     D
E depois encontrá-lo em um braço
Bm           E7      A7        D
Que nem um pedaço do seu pode ser
F#7 Bm                  F#7
Há pessoas de nervos de aço
                 B7     Em
Sem sangue nas veias e sem coração
                  F#7              Bm
Mas não sei se passando o que eu passo
                  C#             F#7
Talvez não lhes venha qualquer reação
      Bm                      F#7
Eu não sei se o que trago no peito 
             B7                 Em
É ciúme, despeito, amizade ou horror
                          D
Eu só sei é que quando a vejo
           C#       F#7         Bm  A D
Me dá um desejo de morte ou de dor


A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Vol. 1 - Editora 34

A Noite do Meu Bem

Dolores Duran
Uma obra-prima do repertório romântico, “A Noite do Meu Bem” é o maior sucesso de Dolores Duran. Num ensaio para a série “História da Música Popular Brasileira”, a ensaísta Marilena Chauí comenta: “Dolores convoca na canção o universo para a sua noite como se a ela própria tudo faltasse para enfeitar a chegada desse bem tão demorado.”

É um primor de poema, cheio de feminilidade. Poucas vezes em nossas canções encontram-se imagens da beleza e originalidade de “paz de criança dormindo”, “abandono de flores se abrindo”, “alegria de um barco voltando”. “A Noite do Meu Bem” foi lançada em setembro de 1959 por Dolores, que não teve a oportunidade e conhecer-lhe o sucesso, pois morreu no mês seguinte. (A Canção no Tempo - Vol.2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34).

A noite do meu bem (samba-canção, 1959) - Dolores Duran


Am                A7                  Dm
Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
        E7               Am           Dm
E a primeira estrela que vier para enfeitar
               E7
a noite do meu bem


Am             A7                Dm
Hoje eu quero paz de criança dormindo
         E7                 Am
E o abandono de flores se abrindo
          Dm                 E7      A7
Para enfeitar a noite do meu bem


Dm          G7                 C
Quero a alegria de um barco voltando
          A7                     Dm
Quero ternura de mãos se encontrando
          G7                  C      E7
Para enfeitar a noite do meu bem


Am               A7                  Dm
Ah, eu quero o amor, o amor mais profundo
          E7             Am            Dm  
Eu quero toda beleza do mundo para enfeitar
               E7       A7
a noite do meu bem


Dm          G7                 C
Quero a alegria de um barco voltando
          A7                     Dm
Quero ternura de mãos se encontrando
          G7                  C      E7
Para enfeitar a noite do meu bem


Am             A7             Dm
Ah, como esse bem demorou a chegar
           E7              Am
Eu já nem sei se terei no olhar
        Dm       E7       F    Am
Toda pureza que quero lhe dar

Madalena

Havia um sobradinho na rua Jaceguai, n° 27, no bairro carioca da Tijuca, que no período 1965/1971 foi muito freqüentado por uma turma de jovens na maioria universitários, que então iniciavam carreira artística. Entre seus habituées estavam Aldir Blanc, Gonzaguinha, César Costa Filho e Ivan Lins que, incentivados pelos anfitriões — o psiquiatra Aloísio Porto Carreiro e sua mulher Maria Ruth aproveitavam as reuniões para mostrar, de preferência, suas novas composições.

Foi nesse ambiente que tiveram primeiras audições futuros sucessos da música Popular, como “Madalena”, um samba diferente que projetou Ivan Lins: “Oh! Madalena / o meu peito percebeu/ que o mar é uma gota / comparado ao pranto meu...”

Autor de obra altamente individualizada, Ivan Lins teve as características de seu estilo de imediato percebidas por Elis Regina, a lançadora de “Madalena”. No ótimo arranjo que Chiquinho de Morais criou para essa gravação, pode-se ouvir nitidamente o piano percutido do compositor, seu toque inconfundível (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Madalena (1970) - Ivan Lins e Ronaldo Monteiro - Intérprete: Elis Regina


Intro: D7+/9 D6/9 G/A A7/9-

          D7+/9 D6/9
Oh, Madalena 
        G/A A7/9-  D7+/9 D6/9
O meu peito percebeu
      G/A A7/9-   D7+/9
Que o mar é uma gota
      G/A   A7/9-  Am7  D7/9
Comparado ao pranto meu
        G7+  G6
Fique certa 
           Am7  D7/9-    G7+  G6
Quando o nosso amor desperta
        Am7    D7/9-  G7+ G6
Logo o sol se desespera
        G7+  Gb      G/A
E se esconde lá na serra
 B7/9-   Em
Eh Madalena
        Em7/D        C#7/9+
O que é meu não se divide
         F#5+/7     Bm7
Nem tão pouco se admite
          Bm7/A       G#m7  C#7/9
Quem do nosso amor duvide.
       F#7+      G#m7      A#m7
Até a lua se arrisca num palpite
                   A7
Que o nosso amor existe
           D/E              G/A
Forte ou fraco, alegre ou triste

 (D7+/9 G/A)
Oh, Madalena, Madalena, Madalena, Madalena
    D7+/9    G/A       D7+/9
Oh Ma, oh Mada, oh Madale
       G/A              D7+/9
Oh Madale, le, le, le oh Ma, oh Mada

Fascinação

"Fascinação" é uma valsa popular que seduziu o mundo no século passado e foi gravada em diversos e distintos idiomas, originalmente composta por um italiano e um francês, faz cerca de 110 anos. Aquela que se tornou uma “canção do mundo” teve música composta em 1904, por Fermo Dante Marchetti e letra de Maurice de Féraudy, inserida no ano seguinte.

Em 1943, Armando Louzada traduziu a canção para o português, criando a versão interpretada por Carlos Galhardo, a mais clássica em português, registrada em impecável gravação feita com sua voz e orquestra naquele mesmo ano.

Somente mais de 30 anos depois surgiria outra versão clássica na língua portuguesa gravada por Elis Regina em seu álbum "Falso Brilhante" (1976), que popularizou a antiga canção para as últimas gerações no Brasil.

Ainda no Brasil, a música esteve presente na trilha das seguintes novelas da Rede Globo de Televisão, “O Casarão” (1976, com Elis Regina), “Fascinação” (1998, em duas gravações distintas: Carlos Galhardo e Nana Caymmi), “O Profeta” (2006, com Elis Regina) e em algumas produções do cinema nacional.

Fascinação (valsa, 1904) - Música: Fermo Dante Marchetti / Letra: Maurice de Féraudy / Versão: Armando Louzada.

Disco 78 rpm / Título: Fascinação / Armando Louzada (Compositor) / F. D. Marchetti (Compositor) / Carlos Galhardo, 1913-1985 (Intérprete) / Orquestra (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Victor, 04/02/1943 / Álbum 800069 / Lançamento: Abril/1943 / Lado A / Gênero: Valsa

Tom: C  

(primeira parte)
         C                       B
Os sonhos mais lindos... sonhei...
   C/E             Ebº         Dm7     A7(#5)
De quimeras mil um castelo ergui...
   Dm                 Dm7         Dm7M    Dm6
E no teu olhar... tonto de emoção...
    Dm                   F           G#7     G7
Com sofreguidão, mil venturas... previ...

     C                      B
O teu corpo é luz, sedução...
   C/E             Ebº         Dm7     A7(#5)
Poema divino cheio de esplendor...
       F     Fm         Em          A7
Teu sorriso prende, inebria, entontece...
    F      G7      C
És fascinação, amor...

(declamado)
A sorrir, a cantar e a beijar... 
nossas bocas se uniam então ...
E os campos sorrindo viviam ... 
e nos vendo, as flores se abriam ...
Mas um destino mau certo dia chegou ... 
e, sem o teu, o meu coração secou ...

(segunda parte)
    C                        B
Hoje sombra sou... do que fui...
           C/E         Ebº        Dm7       A7(#5)
Minhas ilusões o destino levou...
Dm                 Dm7         Dm7M    Dm6
Nada mais existe... desde que partiste ...
Dm                  F             G#7      G7
E em meu coração só saudade... ficou ...

  C                    B
Vivo com o passado a sonhar...
C/E         Ebº    Dm7     A7(#5)
Vendo-te ainda em meu coração...
           F             Fm          Em        A7
Mas tudo promessas, quimeras, mentiras...
          F       G7   ( Ab  Fm  C )
Da tua fascinação...

Fonte: A música que fascinou o mundo.

De Volta pro Aconchego

Avesso a viagens de avião, Dominguinhos é um dos artistas que mais tempo passa nas estradas, a fim de cumprir sua alentada agenda de shows de norte a sul no país. Tão prolongadas ausências o levariam a compor uma música inspirada no prazer do retorno ao lar, dos reencontros com a mulher e a filha.

Assim, orientou o parceiro Nando Cordel a fazer uma letra nesse sentido, enviando em seguida a composição, um baião, numa fita para Elba Ramalho, que escolhia repertório para o seu próximo disco. No entanto, a cantora reprovou a composição, por ter andamento rápido, ao mesmo tempo em que convidava Dominguinhos a participar do disco.

Já no estúdio, ele retornou ao assunto, mostrando-lhe “De Volta pro Aconchego”, desta vez transformada numa canção lenta. “É desse jeito que eu queria”, entusiasmou-se Elba, ao que o compositor retrucou: “mas esta é a música da fita...” Imediatamente, Dori Caymmi fez o arranjo de base, a sessão rítmica que é registrada em primeiro lugar, e “De Volta pro Aconchego” foi gravada no elepê Fogo na mistura.

Nesta gravação, Elba canta emocionada, acompanhada pelo violão de Dori e a sanfona de Dominguinhos: “Estou de volta pro meu aconchego / trazendo na mala bastante saudade / querendo um sorriso sincero, um abraço / para aliviar meu cansaço / e toda essa minha vontade...”

Com o sucesso da novela “Roque Santeiro”, o maior do ano em matéria de televisão, a canção, incluída em sua trilha sonora, invadiu as paradas radiofônicas, permanecendo nas primeiras colocações por todo o tempo em que telenovela foi exibida. Detalhe: como a melodia não resolve na tônica, enseja uma coda instrumental que acabou por servir de fundo musical aos aplausos do público, sempre que a música é cantada nos shows de Elba (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

De volta pro aconchego (1985) - Dominguinhos e Nando Cordel


  G6               Am7     Bm7     C/D
Estou de volta pro meu aconchego
   G6               D/E   E7/9  Am7/9  E7/9-
Trazendo na mala bastan...te saudade
   Am7/9               E7/9-
Querendo um sorriso sincero,
    Am7/9           E7/9-     C/D
Um abraço para aliviar meu cansaço
            D/C      Bm7   Em7  C/D  D7/9-
E toda essa minha vontade

    G6/9               Am7     Bm7   C/D
Que bom poder estar contigo de novo
  G6/9                 F/G   G7/9   C6/9   E7/9-
Roçando teu corpo e beijan...do   você
    Am7/9         D/C        Bm7/5-
Pra mim tu és a estrela mais linda
              Em7/9        Am7/9
Teus olhos me prendem e fascinam
             C/D      Em7   E7/9-
A paz que eu gosto de ter

  Am7/9            C/D  D/C    Bm7     E7/9-
É duro ficar sem você   vez em quando
  Am7/9               F#m7 B7/9- Em7/9   E7/9-
Parece que falta um peda...ço de mim
    Am7/9         C/D      G6/9
Me alegro na hora de regressar
           F/G G7/9 C6/9          E7/9-    A7/13   
Parece que vou mergulhar na felicidade sem fim
A7/5+   C/D   D7/9-  G6/9

O teu cabelo não nega

A marchinha carnavalesca já existia desde a década de 1920, com características definidas por seus sistematizadores. O prestígio do gênero, porém, somente se consolidou a partir de 1932, com o lançamento de "O Teu Cabelo Não Nega", uma das maiores marchas de todos os tempos. A história de "O Teu Cabelo Não Nega" é curiosa. Em sua forma original - um frevo intitulado "Mulata", dos irmãos pernambucanos Raul e João Valença -, a composição foi oferecida à gravadora Victor para eventual aproveitamento em disco.

Aprovando em parte a melodia, mas achando que a letra tinha um teor excessivamente regional, a direção da gravadora encarregou, então, Lamartine Babo de adaptar "Mulata" ao gosto carioca. Especialista na arte de melhorar canções alheias, ele logo pôs mãos à obra, transformando o frevo na vitoriosa marchinha.

Conforme análise do maestro Roberto Gnattali, que comparou as partituras, o trabalho de Lamartine Babo pode ser resumido no seguinte: "Na primeira parte a letra é a mesma, sendo as notas quase todas iguais, salvo as quatro últimas do verso final que Lamartine, muito sabidamente, ao invés de descer, como no original, subiu, encerrando a estrofe para cima. O ritmo é semelhante, mas o adaptador lhe deu mais balanço, através de antecipações rítmicas, quebrando a quadratura do original. A harmonia é idêntica, estando as melodias construídas com apenas dois acordes: tônica e dominante. Na segunda parte, letra e música são diferentes, com exceção de cinco notas do 9° para o 10° compasso (início da segunda frase musical) que Lamartine aproveitou. Aliás, é o melhor momento da música dos Valença nesta parte (mulata, mulatinha meu amor..), sendo a do Lamartine toda boa... A harmonia é praticamente a mesma (pelo menos nos pontos chave, nas cadências). As introduções são completamente diferentes".

Como se vê, Lamartine aproveitou o que tinha de aproveitar - como o excelente estribilho -, substituindo o que não prestava. Por exemplo, não há termo de comparação entre o humor pobre dos versos desprezados ("Tu nunca morre de fome / que os home / te dá sapato de sarto / bem arto / pra tu abalançá o gererê...") e a letra de Lamartine ("Quem te inventou / meu pancadão / teve uma consagração / a lua te invejando fez careta / porque mulata tu não és deste planeta..."). "Pancadão" e "não é do planeta" eram gírias da época, significando, respectivamente, "mulherão" e "pessoa ou coisa excepcionalmente valiosa". Concluída a marchinha, o compositor ofereceu-a à dupla Jonjoca e Castro Barbosa, que gravava na Victor. A propósito, conta João de Freitas, o Jonjoca: "'O Teu Cabelo Não Nega' nos foi mostrada por Lamartine num encontro, casual na Cinelândia. Achamos uma beleza. Então ele disse: 'É de vocês podem gravá-la!' Dias depois, como íamos gravar também o 'Bandonô', de minha autoria, ocorreu-me a infeliz idéia de propor: 'Ô Castro, vamos gravar essas músicas individualmente. Você fica com uma e eu com a outra'. Quanto à escolha, decidimos num cara ou coroa. Deu cara e eu fiquei com `Bandonô'...".

Quem também se interessou pelo "O Teu Cabelo Não Nega" foi Almirante. Depois de conhecer a marcha através do cantor Minona Carneiro, ele chegou a pedir à direção da Victor para gravá-la. Mas era tarde, o disco já fora gravado no dia 21 de dezembro de 1931 por Castro Barbosa, acompanhado pelo Grupo da Guarda Velha, na ocasião composto de piano, dois saxofones, trompete, banjo, baixo, prato, cabaça, omelê, tantã e coro de seis vozes masculinas e uma feminina. O arranjo e a direção musical eram de Pixinguinha. As primeiras tiragens do disco omitiram, por culpa da gravadora, a co-autoria dos Irmãos Valença na composição. O fato gerou uma questão judicial, com repercussão na imprensa, que acabou por fazer valer os direitos dos reclamantes.

O Teu Cabelo Não Nega (marcha / carnaval, 1932) - Lamartine Babo e Irmãos Valença

Disco 78 rpm / Título da música: O teu cabelo não nega!... / Autoria: Valença, Irmãos (Compositor) / Babo, Lamartine, 1904-1963 (Compositor) / Barbosa, Castro (Intérprete) / Coro (Acompanhante) / Grupo da Guarda Velha (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Victor, 21/12/1931 / Nº Álbum 33514 / Gênero musical: Marcha

 E7             A   
O teu cabelo não nega mulata
  E7                 A
Porque és mulata na cor...
      E7             A     
Mas como a cor não pega mulata
  E7                 A
Mulata eu quero o teu amor

 A               B7    
Tens um sabor / Bem do Brasil
E7                 A
Tens a alma cor de anil
  A7                     D          B7
Mulata, mulatinha, meu amor / Fui nomeado
                   E7
Teu tenente interventor 

ESTRIBILHO

   A               B7
Quem te inventou / Meu pancadão
   E7             A
Teve uma consagração.....
    A7                     D
A lua te invejando fez careta
          B7                     E7
Porque mulata, tu não és deste planeta 

ESTRIBILHO

  A               B7
Quando meu bem / Vieste à terra
E7                  A
Portugal declarou guerra
         A7                  D
A concorrência então foi colossal
          B7                      E7
Vasco da Gama contra o batalhão naval 


Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Noite cheia de Estrelas

Cândido das Neves
Contrastando com o humor irreverente de Noel e Lamartine, 1932 teve também o romantismo derramado de Cândido das Neves em "Noite cheia de Estrelas". Filho do palhaço, cantor e compositor Eduardo das Neves, Cândido - conhecido como Índio, apesar de ser negro - foi um seguidor de Catulo da Paixão Cearense, notabilizando-se como autor de canções seresteiras.

Exemplo disso é "Noite Cheia de Estrelas", um tango-canção cheio de imagens rebuscadas e palavras escolhidas no dicionário: "as estrelas tão serenas / qual dilúvio de falenas / andam tontas ao luar / todo astral ficou silente / para escutar / o teu nome entre endechas / as dolorosas queixas / ao luar...". Gravada por Vicente Celestino, a canção é um clássico dos repertórios do cantor e do autor.

Noite Cheia de Estrelas (tango-canção, 1932) - Cândido das Neves - Intérprete: Vicente Celestino

Disco 78 rpm / Título da música: Noite cheia de estrelas / Cândido das Neves "Índio", 1899-1934 (Compositor) / Vicente Celestino (Intérprete) / Gravadora: Columbia / Gravação: 1932 / Lançamento: Abril/1932 / Nº do Álbum: 22105-b / Nº da Matriz: 381199-2 / Gênero musical: Tango canção / Coleções de origem: Nirez, José Ramos Tinhorão, Humberto Franceschi


Em F Em C F B7 Em 

      B7           Em    B7   Em 
Noite alta, céu risonho 
       B7              Em    B7   Em 
A quietude é quase um sonho 
                    Bm5-/7 
O luar cai sobre a mata 
                    E/G# 
Qual uma chuva de prata 
                    Am    E7   Am 
De raríssimo esplendor 
                     F#m5-/7   B7 
Só tu dormes, não escutas 
          Em    B7   Em 
O teu cantor 
                   Am 
Revelando à lua airosa 
                B7          Em  B7   Em  B7 
A história dolorosa desse amor. 

 Em   B7  Em 
Lua, 
         B7          Em 
Manda a tua luz prateada 
       E7           Am     E7   Am 
Despertar a minha amada 
         C7         B7     C7 
Quero matar meus desejos 
                       B7 
Sufocá-la com os meus beijos 
 Em     B7   Em 
Canto 
        B7             Em 
E a mulher que eu amo tanto 
          E7            Am 
Não me escuta, está dormindo 
                 B7  F#m5-/7 
Canto e por fim 
       B7      Em 
Nem a lua tem pena de mim 
                          F#m5-/7  B7 
Pois ao ver que quem te chama sou  eu 
                         Em    B7     Em 
Entre a neblina se escondeu. 

      B7             Em    B7   Em 
Lá no alto a lua esquiva 
         B7           Em   B7   Em 
Está no céu tão pensativa 
                   Bm5-/7 
As estrelas tão serenas 
                   E/G# 
Qual dilúvio de falenas 
                 Am     E7   Am 
Andam tontas ao luar 
                       F#m5-/7  B7 
Todo o astral ficou silente 
          Em 
Para escutar 
                       Am 
O teu nome entre as endechas 
               B7 
A dolorosas queixas 
    Em     B7   Em 
Ao luar. 

 Em   B7  Em 
Lua, 
         B7          Em 
Manda a tua luz prateada 
       E7           Am     E7   Am 
Despertar a minha amada 
         C7         B7     C7 
Quero matar meus desejos 
                       B7 
Sufocá-la com os meus beijos 
 Em     B7   Em 
Canto 
        B7             Em 
E a mulher que eu amo tanto 
          E7            Am 
Não me escuta, está dormindo 
                 B7  F#m5-/7 
Canto e por fim 
       B7      Em 
Nem a lua tem pena de mim 
                          F#m5-/7  B7 
Pois ao ver que quem te chama sou  eu 
                         Em    B7     Em 
Entre a neblina se escondeu. 


Fontes: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Vol. 1 - Editora 34; Discografia Brasileira - IMS; Instituto Moreira Salles.

Você Só... Mente


Você só ... mente (fox trot, 1933) - Noel Rosa e Hélio Rosa - Intérpretes: Aurora Miranda e Francisco Alves

Disco 78 rpm / Título da música: Você só... mente / Autoria: Hélio Rosa (Compositor) / Noel Rosa, 1910-1937 (Compositor) / Aurora Miranda (Intérprete) / Francisco Alves (Intérprete) / Orquestra Odeon (Acomp.) / Gravadora: Odeon / Gravação: 05/07/1933 / Lançamento: 08/1933 / Nº do Álbum: 11043 / Nº da Matriz: 4691 / Gênero musical: Fox trot / Coleções de origem: IMS, Nirez


Não espero mais você, pois você não aparece
Creio que você se esquece das promessas que me faz
E depois vem dar desculpas, inocentes e banais

É porque você bem sabe
Que em você desculpo
Muitas coisas mais

O que sei somente
É que você é um ente
Que mente inconscientemente
Mas finalmente
Não sei porque
Eu gosto imensamente
De você

Invariavelmente, sem ter o menor motivo
Em um tom de voz altivo
Você quando fala mente
Mesmo involuntariamente, faço cara de inocente
Pois sua maior mentira, é dizer à gente que você
não mente


Fontes: Discografia Brasileira - IMS; Instituto Moreira Salles.

Mulato bamba

Noel Rosa compôs este samba - um clássico de nossa música popular - quando excursionava ao Sul do país, em companhia de Francisco Alves, Mário Reis, Nonô e Pery Cunha. Mário Reis interessou-se logo pela música e colocou-se à disposição para gravá-la, assim que o grupo retornasse ao Rio de Janeiro.

João Máximo e Carlos Didier, examinando o personagem criado pelo compositor, estranharam (no livro 'Noel Rosa uma biografia') que o ''mulato bamba'' fosse malandro, forte e corajoso e, no entanto, não quisesse apaixonar-se por mulher. Para João e Didier, esse malandro é muito parecido com 'Madame Satã', o famoso homossexual da Lapa que era capaz de enfrentar (e vencer) quem se aventurasse a brigar com ele, malandro ou policial. Inclusive, Geraldo Pereira (um dos grandes compositores da nossa música popular), morreu numa briga com o 'Madame Satã' depois de tropeçar e bater com a cabeça na calçada da rua (A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Vol. 1 - Editora 34).

Mulato bamba (samba, 1932) - Noel Rosa

Disco 78 rpm / Título da música: Mulato bamba / Autoria: Rosa, Noel, 1910-1937 (Compositor) / Reis, Mário (Intérprete) / Orquestra Copacabana (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 1932 / Nº Álbum 10928 / Gênero musical: Samba

Intr.: Eb Gm Bbm6/Db C7 Fm Abm6/Cb Bb7 Eb Ab/C Eb

            Bb7           Eb
Este mulato forte é do Salgueiro
                Eb6   Eb/G    Ebm6/Gb  Bb7/F Bb7
Passear no tintureiro era  o seu     esporte
Bb/Ab           G7
Já   nasceu com sorte
           Cm                 Am7(b5)   Gm
E desde pirralho vive à custa do      baralho
      A7  D7    Gm     Bb(#5)
Nunca viu    trabalho

              Bb7         Eb
E quando tira samba é novidade
                      Eb7                    Ab
Quer no morro ou na cidade, ele sempre foi o bamba
C7     Fm         Abm6                 Eb
  As morenas do lugar  vivem a se lamentar
D7  Db7  C7              F7
Por sa...ber que ele não quer
         Bb7       Eb   Ab/C
Se apaixonar por mulher

Eb    Fm   Bb7     Eb   Eb/Db
  O mulato    é de fato
  C7   C/Bb  F7/A         Bb7    Eb
E sabe fazer frente a qualquer valente
Eb/Db    Ab/C   Abm/Cb   Eb/Bb
Mas  não quer saber   de fita
C7        F7   Bb7  Eb
Nem com mulher bo...nita

                  Bb7        Eb
Sei que ele anda agora aborrecido
                 Eb6   Eb/G     Ebm6/Gb Bb7/F Bb7
Porque vive perseguido sempre a toda    hora
Bb/Ab         G7
Ele  vai-se embora
          Cm                Am7(b5)  Gm
Para se livrar do feitiço e do      azar
      A7   D7     Gm  Bb(#5)
Das more...nas de lá

Eb                   Bb7          Eb
Eu sei que o morro inteiro vai sentir
                   Eb7                       Ab
Quando o mulato partir dando adeus para o Salgueiro
C7     Fm           Abm6                      Eb
  As morenas vão chorar, vão pedir pra ele voltar
D7  Db7  C7             F7
Ele en...tão diz com desdém:
            Bb7        Eb     Ab/C Eb
''Quem tudo quer, nada tem!''

Maringá

É comum no mundo inteiro cidades emprestarem seus nomes a canções. Difícil é uma canção inspirar o nome de uma cidade, como foi o caso de "Maringá". O fato ocorreu em 1947, quando Elizabeth Thomas, esposa do presidente da Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná, sugeriu que a composição desse nome a uma cidade recém-construída pela empresa, e que em breve se tornaria uma das mais prósperas do estado.

O curioso é que a canção jamais teria existido se seu autor Joubert de Carvalho (foto ao lado) não fosse, quinze anos antes, um freqüentador assíduo do gabinete do então ministro da viação, José Américo de Almeida.

Joubert, formado em medicina, pleiteava uma nomeação para o serviço público. Numa dessas visitas, aconselhado pelo oficial de gabinete Rui Carneiro, o compositor resolveu agradar o ministro, que era paraibano, escrevendo uma canção sobre o flagelo da seca que na ocasião assolava o Nordeste.

Surgia assim a toada "Maringá", uma obra-prima que conta a tragédia de uma bela cabocla, obrigada a deixar sua terra numa leva de retirantes. Em tempo: alguns meses após o lançamento vitorioso de "Maringá", Joubert de Carvalho foi nomeado para o cargo de médico do Instituto dos Marítimos, onde fez carreira chegando a diretor do hospital da classe. (Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Vol. 1 - Editora 34).

Maringá (toada, 1932) - Joubert de Carvalho

Disco 78 rpm / Título da música: Maringá / Autoria: Carvalho, Joubert de (Compositor) / Gastão Formenti (Intérprete) / Orquestra Victor Brasileira (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Victor, 13/06/1932 / Nº Álbum 33586 / Gênero musical: Canção


A                       Dm 
Foi numa leva que a cabocla Maringá 
               G7                            C    
Ficou sendo a retirante que mais dava o que falar 
        E7                         Am 
E junto dela veio alguém que suplicou 
         F           Dm           E7             A 
Pra que nunca se esquecesse de um caboclo que ficou 
  
   E7          A 
Maringá,  Maringá 
              A7+                           Bbº 
Depois que tu partiste tudo aqui ficou tão triste 
                       Bm 
Que eu "garrei" a imaginar 
               E7 
Maringá,  Maringá 
  
Para haver felicidade é preciso que a saudade 
                    A 
Vá bater noutro lugar 
    G7          Gb7 
Maringá,     Maringá 
                     Bm        B7          E7 
Volta aqui pro meu sertão pra de novo o coração 
                    A 
De um caboclo a sossegar 
  
                            Dm 
Antigamente uma alegria sem igual 
             G7                      C 
Dominava aquela gente na cidade de Pombal 
           E7                            Am 
Mas veio a seca, tudo a chuva foi-se embora 
      F               Dm 
Só restando então as águas 
          E7             A 
Dos meus "'óio" quando chora 
    E7          A 
Maringá,   Maringá 

Recebi hoje, dia 3 de fevereiro, um e-mail comentando o artigo acima que coloquei faz alguns anos no site de músicas antigas da MPB “cifrantiga” e que reproduzo abaixo: “O seu artigo sobre a ligação entre a música e a cidade de Maringá-PR., está muito próximo do correto.

Realmente, José Américo (Ministro da Viação e Obras), tinha como chefe de gabinete o senhor Ruy Carneiro , que mais tarde viria a governador e senador do seu Estado (a Paraíba).

Joubert de Carvalho gostava da boemia e naquele ambiente veio a conhecer e se tornar amigo do senhor Alcides Carneiro (irmão de Ruy Carneiro e também funcionário do Ministério da Viação e Obras), que solteiro e apaixonado por uma namorada chamada Maria, residente na cidade do Ingá (60 km de João Pessoa - PB), compôs a música “Maringá”, narrando o flagelo da seca no nordeste, principalmente na cidade de Pombal, localizada na alto sertão paraibano.

Gostaria de cumprimentá-lo pela narrativa, eis que mesmo na cidade de Maringá, poucas pessoas conhecem a origem do nome da cidade."

Silvano Almeida - Londrina-PR

(um grande abraço pra ti Silvano!)

Gosto, mas não é muito

Francisco Alves
Gosto, mas não é muito - (marcha, 1932) - Ismael Silva e Francisco alves - Intérprete: Francisco Alves

Disco 78 rpm / Título da música: Gosto, mas não é muito / Francisco Alves (Compositor) / Ismael Silva, 1905-1978 (Compositor) / Noel Rosa (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Gravadora: Odeon, 1931 / Nº do Álbum: 13375 / Nº da Matriz: 131302 / Gênero musical: Marcha / Coleções de origem: Nirez, José Ramos Tinhorão, Humberto Franceschi


C--------- Dm------------ G7
Olha! Escuta meu bem
---------------------------------C
É com você que eu estou falando,

Neném!
-----------------------Dm
Esse negócio de amor não convém
G7
Gosto de você
------------------------------F


Mas não é muito...muito
-----------------------C -------G7
Fica firme, não estrila
-----------------------------A7------ Dm
Traz o retrato e a estampilha
--------Fm---- C
Que eu vou ver
-------------Dm ----G7----- C------- F
O que posso fazer por você

---------------------C -----G7
Seu amor é insensato
------------------------------A7----- Dm
Me amofinou mesmo de fato
--------Fm---- C
Não leve a mal
---------Dm ---G7----- C
Eu prefiro a Lei Marcial



Fontes: Instituto Moreira Salles; Discografia Brasileira - IMS.

Adeus

O samba Adeus composto em 1932, é uma homenagem póstuma ao parceiro Nílton Bastos, que morrera no ano anterior. Gravada originalmente pela dupla Castro Barbosa e Jonjoca, foi regravada em 1975 por outra dupla, Vinícius de Moraes e Toquinho : “Adeus, adeus, adeus / Palavra que faz chorar / Adeus, adeus, adeus / Não há quem possa suportar / O adeus é tão triste / E não se resiste / Ninguém jamais / Com o adeus pode viver em paz (...)”.

Adeus (samba, 1932) - Francisco Alves, Noel Rosa e Ismael Silva - Intérpretes: Toquinho e Vinícius de Moraes

LP CD: Vinicius / Toquinho / Título da música: Adeus / Francisco Alves (Compositor) / Noel Rosa (Compositor) / Ismael Silva (Compositor) / Vinícius de Moraes (Intérprete) / Toquinho (Intérprete) / Gravadora: Philips / Nº Álbum: 6349 134 / Ano: 1975 / Faixa: 13 / Gênero musical: Samba



Gravação original da dupla Castro Barbosa e Jonjoca em 1932:

Disco 78 rpm / Título da música: Adeus / Francisco Alves (Compositor) / Ismael Silva, 1905-1978 (Compositor) / Noel Rosa, 1910-1937 (Compositor) / Jonjoca (Intérprete) / Castro Barbosa (Intérprete) / Grupo da Guarda Velha (Acomp.) / Gravadora: Victor / Nº do Álbum: 33548-b / Nº da Matriz: 65451-2 / Gravação: 12/04/1932 / Lançamento: 05/1932 / Gênero musical: Samba



----C ----------------Em7
Adeus ! Adeus ! Adeus !
------------A7------ Dm ---A7


Palavra que faz chorar
-----Dm ------------Dm7--- G7
Adeus ! Adeus ! Adeus !
-------------------Gbo------ C
Não há quem possa suportar
-----C7 ----------F --------A7------ Dm
Adeus é tão triste / Que não se resiste
--------Ebo---- ( C )
Ninguém, jamais
----------A7------- D7-- G7-- C
Com adeus pode viver em paz
-------------( G7 )
Foi o último . . . . .



Fontes: Discografia Brasileira - IMS; Instituto Memória Musical Brasileira - IMMuB.

AEIOU

Com versos brincalhões, recheados de disparates, "A.E.I.O.U." dá bem uma mostra da verve de seus criadores, Lamartine Babo e Noel Rosa. Embora seja tarefa impraticável descobrir-se a contribuição de cada um na feitura da composição pode-se, talvez, atribuir ao primeiro uma maior participação, tendo em vista o estilo dos versos e da melodia.

Classificada pela dupla como "marcha colegial", "A.E.I.O.U." fez grande sucesso em 1932, só suplantado naquele ano pelo de "O teu cabelo não nega", também de Lamartine.

A.E.I.O.U. - (marcha colegial, 1932) - Noel Rosa e Lamartine Babo - Intérpretes: Noel Rosa e Lamartine Babo

Disco 78 rpm / Título da música: A E I O U / Lamartine Babo, 1904-1963 (Compositor) / Noel Rosa, 1910-1937 (Compositor) / Lamartine Babo (Intérprete) / Noel Rosa (Intérprete) / Canhoto (Waldiro Tramontano), 1908-1987 (Acomp.) / Coro (Acomp.) / Grupo (Acomp.) / Gravadora: Victor / Nº do Álbum: 33503 / Nº da Matriz: 65295-2 / Gravação: 18/11/1931 / Lançamento: 01/1932 / Gênero musical: Marcha

Intr.: G G#° D/A D/F# F° Em A7 D D7
       G G#° D/A D/F# F° Em A7 D

                                              |
(A Capella) Uma, duas, angolinhas             |
                                              |
Finca o pé na pampulinha                      |
                                      D       | R
Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar     | E
     A7/C#  D    G/B  A7                      | F
A... E...   I... O... U... Dabliú, dabliú     | R
                 D                            | Ã
Na cartilha da Juju, Juju                     | O
     A7/C#  D    G/B  A7                      |
A... E...   I... O... U... Dabliú, dabliú     |
                 D        D/C                 |
Na cartilha da Juju, Juju                     |

G/B    G     G#°  D/A      D/F#  F°      A7/E
   A Juju já sabe ler, a Juju  sabe escrever
       A7         D°   D   D/C
Há dez anos na carti...lha
G/B    G     G#°  D/A      D/F#  F°      A7/E
   A Juju já sabe ler, a Juju  sabe escrever
        A7             D
Escreve sal com cê-cedilha!

*REPETE REFRÃO

G/B     G     G#°   D/A       D/F#    F°   A7/E
   Sabe conta de  somar, sabe até  multiplicar
        A7           D°    D   D/C
Mas, na divisão se enras...ca
G/B      G   G#°    D/A
   Outro dia fez um feio
        D/F#     F°        A7/E
Pois partindo um queijo ao meio
        A7               D
Quis me dar somente a casca!

*REPETE REFRÃO

G/B        G     G#° D/A          D/F#   F°   A7/E
   Sabe História Natural, sabe História Universal
        A7         D°   D  D/C
Mas não sabe Geografi...a
G/B            G    G#°    D/A
   Pois com um cabo se atracando 
     D/F#  F°  A7/E           A7             D
Na bacia   navegando, foi pra Ásia e teve azia

*REPETE REFRÃO


Fontes: Instituto Moreira Salles - Acervo musical; A Canção no Tempo - Volume 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Zíngara

Gastão Formenti
A canção-rumba, lançada em outubro de 1931, conta a história de um encontro romântico entre um homem e uma cigana, retratando a fascinação e o encanto que ele sente por ela. A palavra "Zíngara" é uma forma de referir-se a uma mulher cigana ou pertencente a uma etnia cigana, que é retratada como uma figura misteriosa e sedutora.

Gastão Formenti, com sua voz expressiva e emocional, deu vida à canção com sua interpretação marcante. Sua voz suave combinou perfeitamente com a melodia cativante de "Zíngara", tornando-a popular entre o público brasileiro da época.

Zíngara (canção-rumba, 1931) - Joubert de Carvalho e Olegário Mariano - Intérprete: Gastão Formenti

Disco 78 rpm / Título da música: Zíngara / Joubert de Carvalho (Compositor) / Olegário Mariano (Compositor) / Gastão Formenti (Intérprete) / Orquestra - Rondon [Direção] (Acomp.) / Gravadora: Victor / Nº do Álbum: 33469-b / Nº da Matriz: 65236-3 / Gravação: 11/09/1931 / Lançamento: 10/1931 / Gênero musical: Canção



Vem, ó cigana bonita / Ver o meu destino
Que mistérios tem / Tu com os olhos
De quem vê no acaso / O amor da gente
Põe nas minhas mãos / O teu olhar ardente
E procura desvendar / No meu segredo a dor,
Cigana, do meu amor.


Mas nunca digas, / Ó zíngara,
Que ilusão me espera, / Qual o meu futuro.
Só àquela por quem / Vou vivendo assim à toa
Tu dirás se a sorte / Será má ou boa
Para que ela venha / Consolar-me um dia a dor
Cigana, do meu amor.


Fonte: Discografia Brasileira - IMS.

Tico-Tico no Fubá


Vibrante, buliçoso e ao mesmo tempo sentimental, o "Tico-Tico no Fubá" é o exemplo perfeito do choro clássico, em três partes, composto na melhor tradição do gênero. Predestinado ao sucesso, impressionou logo em sua primeira apresentação, em 1917, num baile em Santa Rita do Passa Quatro, quando ganhou o nome de "Tico-Tico no Farelo". Razão do nome: a animação dos pares que dançavam em grande alvoroço, provocando o comentário do autor: "até parece tico-tico no farelo...".

Depois, talvez porque já existisse um choro homônimo (de Canhoto), passou a "Tico-Tico no Fubá". Mas, apesar dessa estréia vitoriosa, a obra-prima de Zequinha de Abreu só chegaria ao disco quatorze anos mais tarde, ocasião em que foi gravada pela Orquestra Colbaz, criada e dirigida pelo maestro Gaó. Sucesso absoluto, este disco permaneceu em catálogo até a década de quarenta, época em que a composição alcançou o auge da popularidade.

Contribuiu para isso a sua internacionalização comandada pelos americanos que, no curto espaço de cinco anos, incluíram-na em cinco filmes: "Alô amigos" (43), "A filha do comandante" (43), "Escola de sereias" (44), "Kansas City Kitty" (44) e "Copacabana" (47), sendo que neste último era cantada por Carmen Miranda. A partir de então, recebeu dezenas de gravações, tornando-se uma das músicas brasileiras mais gravadas de todos os tempos, no país e no exterior, salientando-se entre seus intérpretes a organista Ethel Smith, que a levou ao hit-parade americano.

"Tico-Tico no Fubá" é executado por veteranos pianistas de Nova Orleans com a regularidade de uma peça local, embora sofrendo algumas alterações melódicas e rítmicas, que se assemelham a um tango, bem ao estilo da segunda parte de "Saint Louis Blues". Essencialmente instrumental, tem letras de Eurico Barreiros e Aloísio de Oliveira (além de uma versão em inglês, de Ervin Drake), que não vingaram, apesar do relativo sucesso alcançado pelas gravações de Ademilde Fonseca, em sua estréia em disco, e as de Carmen Miranda nos Estados Unidos.

Tico-Tico no Fubá (choro, 1931) - Zequinha de Abreu - Interpretação de Carmen Miranda

Disco 78 rpm / Título: Tico-tico no fubá / Autoria: Oliveira, A (Compositor) / Drake, Ervin (Compositor) / Abreu, Zequinha de (Compositor) / Miranda, Carmen, 1909-1955 (Intérprete) / Bando da Lua (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Decca, Indefinida / Álbum 288084 / Gênero: Samba choro


Versão cantada por Carmen Miranda:

Tico-Tico
Tico-Tico
O Tico-Tico tá
Tá outra vez aqui
O Tico-Tico tá comendo meu fubá
O Tico-Tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer umas minhocas no pomar

Tico-Tico
O Tico-Tico tá
Tá outra vez aqui
O Tico-Tico tá comendo meu fubá
O Tico-Tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer umas minhocas no pomar

Mas por favor, tire esse bicho do seleiro
Porque ele acaba comendo o fubá inteiro
E nesse tico de cá, em cima do meu fubá
Tem tanta coisa que ele pode pinicar
Eu ja fiz tudo para ver se conseguia
Botei alpiste para ver se ele comia
Botei um galo, um espantalho e alçapão
Mas ele acha que fubá é que é boa alimentação

O Tico-Tico tá
Tá outra vez aqui
O Tico-Tico tá comendo meu fubá
O Tico-Tico tem, tem que se alimentar
Que va comer é mais minhoca e nao fubá

Tico-Tico
O Tico-Tico tá
Tá outra vez aqui
O Tico-Tico tá comendo meu fubá
O Tico-Tico tem, tem que se alimentar
Que va comer é mais minhoca e nao fubá

Versão original:

Primeira Parte

Um tico-tico só, / Um tico-tico lá,
Está comendo / Todo, todo meu fubá.

Olha, Seu Nicolau, / Que o fubá se vai,
Pego no meu pica-pau / E um tiro sae.

Coitado... Então eu tenho pena / Do susto que levou
E uma cuia se ia, / Mais fubá eu dou.

Alegre já, / Voando, piando,
Meu fubá, meu fubá, / Saltando de lá pra cá.

Segunda Parte (Declamado)

Tico-tico engraçadinho / Que está sempre a piar,
Vá fazer o teu ninho / E terás assim um lar.

Procure uma companheira / Que eu te garanto o fubá,
De papada sempre cheia / Não acharás a vida má.

Terceira Parte

Houve um dia lá / Que ele não voltou,
E seu gostoso fubá / O vento levou.

Triste fiquei, / Quase chorei,
Mas então vi / Logo depois,
Já não eram um, / Mas sim já dois.

Quero contar baixinho / A vida dos dois,
Tiveram seu ninho / E filhotinhos depois.

Todos agora / Pulam ali,
Saltam aqui, / Comendo sempre o fubá
Saltando de lá para cá.



Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Se você jurar

Ismael Silva
O samba adotou uma nova forma, livrando-se da herança do maxixe, no final da década de 1920. Para isso concorreu decisivamente a necessidade, percebida por compositores ligados à pioneira escola de samba Deixa Falar, de "amaciar" o ritmo usado na época, adaptando-o a um padrão menos sincopado que facilitasse a fluidez do desfile. Dessa chamada "Turma do Estácio" faziam parte Ismael Silva e Nílton Bastos, autores de "Se Você Jurar", composição que, sintetizando as novas características, iria se tornar um dos principais modelos dos sambas dos anos trinta.

Grande sucesso do carnaval de 31, nas vozes de Francisco Alves e Mário Reis, "Se Você Jurar" tem uma melodia expressiva, especialmente na segunda parte, que retorna à primeira através de dois acordes preparatórios de passagem, incomuns nas canções da época. Já a letra explora o tema da regeneração do malandro, muito em moda na ocasião. Só que neste caso o malandro não parece muito seguro do motivo da mudança, considerando-o um jogo meio arriscado: "A mulher é um jogo / difícil de acertar / e o homem como um bobo / não se cansa de jogar / o que eu posso fazer / é se você jurar / arriscar a perder / ou desta vez então ganhar..."

Baseado em informação de Ismael, Hermínio Bello de Carvalho assegura em artigo publicado em 1963: "A primeira parte é do Nilton, com a ajuda de Ismael, e a segunda toda de Ismael". Contrariam essa informação Orestes Barbosa (no livro O Samba) e Mário Reis, que afirmam ser a composição somente de Nilton, enquanto Francisco Alves (em sua autobiografia) atribui o estribilho a Nilton mas se diz autor da segunda parte.

Se você Jurar (samba, 1931) - Ismael Silva e Nilton Bastos

Disco 78 rpm / Título da música: Se você jurar / Francisco Alves (Compositor) / Ismael Silva, 1905-1978 (Compositor) / Nilton Bastos (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Mário Reis (Intérprete) / Orquestra Copacabana (Acomp.) / Gravadora: Odeon / Nº do Álbum: 10747-b / Nº da Matriz: 4080 / Gravação: 05/12/1930 / Lançamento: 01/1931 / Gênero musical: Samba / Coleções de origem: IMS, Nirez

F                         C#º
||: Se você jurar que me tem amor
Dm                A7
Eu posso me regenerar
D7/4     D7          Gm           Em7/5-
Mas se é     para fingir, mulher
     A7  Dm    E7      A7     Dm      C#7  C7
(1ª) A orgia assim não vou deixar (se vo...cê) :||
     A7  Dm    E7      A7     Dm
(2ª) A orgia assim não vou deixar
   A7         Dm
Muito tenho sofrido
              A7
Por minha lealdade
Agora estou sabido,
                    Dm
Não vou atrás de amizade
               Cm6/Eb
A minha vida é boa,
    D7             Gm
Não tenho o que pensar
    Em7/5- A7      Dm
Por uma    coisa à toa,
        E7   A7  Dm      C#7  C7
Não vou me regenerar (se vo...cê)

Refrão
   
 A7         Dm
A mulher é um jogo
              A7
Difícil de acertar
E o homem como um bobo
                  Dm
Não se cansa de jogar
                Cm6/Eb
O que eu posso fazer
 D7           Gm
É se você jurar
 Em7/5- A7      Dm
Arriscar a perder
E7            A7      Dm      C#7  C7
Ou desta vez então ganhar

Fontes: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34 / Discografia Brasileira - IMS.

O que será de mim

O "Hino da malandragem" é tema frequente em sua obra, que comprovou o grande compositor que era o trabalhador Ismael Silva (foto acima: Francisco Alves e Mário Reis). Samba gravado em 1931 por Francisco Alves e Mário Reis: “Se eu precisar algum dia / De ir pro batente / Não sei o que será / Pois vivo na malandragem / E vida melhor não há (...)”.

O Que Será de Mim (samba, 1931) - Ismael Silva, Nílton Bastos e Francisco Alves

Disco 78 rpm / Título da música: O que será de mim / Francisco Alves (Compositor) / Ismael Silva, 1905-1978 (Compositor) / Nilton Bastos (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Mário Reis (Intérprete) / Orquestra Copacabana (Acomp.) / Gravadora: Odeon / Gravação: 28/02/1931 / Lançamento: 04/1931 / Nº do Álbum: 10780-b / Nº da Matriz: 4162-1 / Gênero musical: Samba / Coleções: IMS, Nirez



Se eu precisar algum dia
De ir pro batente
Não sei o que será
Pois vivo na malandragem
E vida melhor não há

Minha malandragem é fina
Não desfazendo de ninguém
Deus é quem nos dá a sina
E o valor dá-se a quem tem
Também dou a minha bola
Golpe errado ainda não dei
Eu vou chamar Chico Viola
Que no samba ele é rei

Dá licença seu Mário

Oi, não há vida melhor
Que vida melhor não há
Deixa falar quem quiser
Deixa quem quiser falar
O trabalho não é bom
Ninguém pode duvidar

Oi, trabalhar só obrigado
Por gosto ninguém vai lá


Fonte: Discografia Brasileira - IMS.

No Rancho Fundo

Elisa Coelho, cantora para quem
Ary dedicou No Rancho Fundo
Este samba foi lançado pela cantora Araci Cortes em junho de 1930, na revista É do outro mundo. Na ocasião chamava-se "Este mulato vai ser meu" (com o subtítulo "Na Grota Funda"), e tinha letra do caricaturista J. Carlos (José Carlos de Brito Cunha, autor da revista).

Ouvindo a composição, Lamartine Babo achou ruins os versos "Na Grota Funda / na virada da montanha / só se conta uma façanha / do mulato da Raimunda". Autorizado por Ary Barroso, escreveu nova letra ( "No Rancho Fundo / bem pra lá do fim mundo / onde a dor e a saudade / contam coisas da cidade..."), sendo o samba gravado por Elisa Coelho, no ano seguinte.

O lirismo nostálgico, que predomina na composição, já aparece na introdução instrumental dessa gravação, com o próprio Ary ao piano. A melodia, por sua vez, caminha suavemente em frases descendentes para um final melancólico, em perfeita sintonia com a letra. Quem não gostou da nova versão foi J. Carlos, que julgou a rejeição de sua letra uma desfeita, rompendo com Ary Barroso.

No Rancho Fundo (samba-canção, 1931) - Lamartine Babo e Ary Barroso

Disco 78 rpm / Título: No rancho fundo / Autoria: Barroso, Ary (Compositor) / Babo, Lamartine, 1904-1963 (Compositor) / Coelho, Elisa (Intérprete) / Dois violões (Acompanhante) / Piano (Acompanhante) / Gravadora: Victor / Gravação: 15/06/1931 / Lançamento: 08/1931 / Nº do Álbum: 33444-a / Nº da Matriz: 65164-1 / Gênero: Samba canção


D
No rancho fundo /
Gb7              Bm
Bem pra lá do fim do mundo
Gb7     
Onde a dor e a saudade/
G        Em7   A7     D   
Contam coisas da cidade....

            D
No rancho fundo/
Gb7                    Bm
De olhar triste e profundo
Gb7                   G
Um moreno canta as mágoas
Em7      A7        D       D
Tendo os olhos rasos dӇgua

        B7             Gbm7 B7   Em
Pobre moreno /  Que tarde no sereno
Gm7       Gbm7          Em7     A7                  D   
Espera a  lua no terreiro/ Tendo o cigarro por companheiro
B7          Gbm7 B7 Em
Sem um aceno / Ele pega da viola
Gm7        D            Em7        A7        D    Gm   D
E a lua por esmola / Vem pro quintal deste moreno

       D                   Gb7               Bm
No rancho fundo / Bem pra lá do fim do mundo
Gb7              G            Em7     A7          D     D
Nunca mais houve alegria/ Nem de noite  e nem de dia
D                    Gb7               Bm
Os arvoredos/ Já não contam mais segredos
Gb7          G          Em7     A7         D         D
Que a última palmeira/ Já morreu na cordilheira

    B7            Gbm7     B7        Em
Os passarinhos / Internaram-se nos ninhos
Gm7             D       Bm7       Em7     A7       D      D
De tão triste essa tristeza/ Enche de treva a natureza
B7                  Gbm7    B7       Em
Tudo por que ?   / Só por causa do moreno
Gm7                        D
Que era grande, hoje é pequeno
Em7     A7      D
Para uma casa de sapê  


A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Vol. 1 - Editora 34

Nem é bom falar

Francisco Alves
Nem é bom falar disputa com o Antonico o título de samba mais popular de Ismael. Outro sucesso do carnaval de 31, também na voz de Chico Viola, marcou uma curiosidade: o acompanhamento de um grupo de vida curta intitulado Bambas do Estácio, com Ismael e Nilton entre eles. Repetiu o sucesso 40 anos depois, quando regravado por Mário Reis: “Nem tudo o que se diz, se faz / Eu digo e serei capaz / De não resistir / Nem é bom falar / Se a orgia se acabar (...)”

Nem é Bom Falar (samba, 1931) - Ismael Silva, Nílton Bastos e Francisco Alves

Disco 78 rpm / Título da música: Nem é bom falar / Francisco Alves (Compositor) / Ismael Silva, 1905-1978 (Compositor) / Nilton Bastos (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Bambas do Estácio (Acompanhante) / Gravadora: Odeon / Gravação: 27/11/1930 / Lançamento: 01/1931 / Nº do Álbum: 10745-a / Nº da Matriz: 4067-1 / Gênero: Samba / Coleções de origem: IMS, Nirez


Nem tudo que se diz se faz
Eu digo e serei capaz
De não resistir
Nem é bom falar
Se a orgia se acabar

(Tu, falas muito, meu bem
E precisas deixar
Tu falas muito, meu bem
E precisas deixar
Senão eu acabo
Dando pra gritar na rua
Eu quero uma mulher bem nua.)

Mas esta vida
Não há quem me faça deixar
Por falares tanto
A polícia quer saber
Se eu dou meu dinheiro todo a você

Até que enfim
Eu agora estou descansado
Até que enfim
Eu agora estou descansado
Ela deu o fora
Foi morar lá na Favela
E eu não quero saber mais dela



Fonte: Discografia Brasileira - IMS.