quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Os múltiplos talentos de Mano Heitor


Paulo da Portela fez o samba Coleção de Passarinhos (“Quiseram me comprar, eu não vendi / Uma linda coleção de passarinhos / Bernardo é o gaturano / Aurélio é o rouxinol / Lino é o canário / Mano Rubens, o curió”...), homenageando seus companheiros, sambistas do primeiro time da época, e identificou como canário um certo Lino do Estácio, chamado também Mano Heitor e que perpetuaria na história da cultura popular brasileira como Heitor dos Prazeres (na foto acima dançando animadamente, usa camisa com estampa apropriada: personagens de suas pinturas).

De talento diverso tal quais os nomes que lhe atribuíram, Heitor cedo circulou sua genialidade por vários escalões em todos se destacando, superdotado que era. Nasceu predestinado a influenciar a cultura popular do país. Ao contrário dos meninos de sua geração, que optavam pelos instrumentos de percussão, escolheu o cavaquinho e tornou-se instrumentista respeitado, desenvolvendo o líder que seria.

Pelas mãos de Tia Ciata — sempre ela, a matriarca do samba — teve acesso aos festejos de santo e de samba, aulas com os melhores mestres possíveis. Crescido em tamanho e em saber, percebeu que seu destino estava traçado. Como Lino do Estácio, aprendeu e ensinou samba nas rodas do bairro.

Compositor, desde sempre foi cobiçado pelos cantores da época, distribuindo-se entre seus pares do Estácio, e os sambistas de Madureira, da Mangueira. Na fundação da Deixa Falar, a primeira escola de samba, cita-se obrigatoriamente a presença de Mano Heitor entre os pioneiros. O mesmo acontece quando Cartola inventou a Estação Primeira de Mangueira. E quando Paulo da Portela criou a sua escola azul e branca. Ou ainda, quando o próprio Heitor fundou a De Mim Ninguém Se Lembra.

A radiofonia teve seu quinhão, depois que Heitor trocou as escolas de samba pelos microfones e auditórios. Passou a interpretar composições que antes entregava aos cantores, e criou um grupo vocal, ao qual deu o nome de Heitor e Sua Gente.

Apontou então seu talento para as artes plásticas e se transformou em um dos mais expressivos pintores primitivistas brasileiros. Era mais uma das facetas da cultura popular que a influência de Mano Lino do Estácio atingia. Instrumentista, compositora cantor líder comunitário, pintor premiado, Heitor dos Prazeres transbordou sua importância na história do samba.


Fonte: História do Samba - Editora Globo.

César Camargo Mariano

César Camargo Mariano (Antônio César Camargo Mariano), arranjador / instrumentista, nasceu em São Paulo SP em 19/9/1943. Autodidata, começou a tocar piano aos 13 anos e aos 17 iniciou carreira na orquestra de William Fourneau. A partir dessa época, passou a estudar, por conta própria, instrumentação, orquestração e arranjos.

Em 1961 tocou no conjunto Três Américas. Por essa época participou da gravação de um LP de Alaíde Costa, na RGE, como pianista e arranjador do grupo, que se transformaria, anos depois, no Som-3.

Integrou o conjunto São Paulo Dixieland Band, em 1962, e, no mesmo ano, formou em São Paulo o Sambalanço Trio, do qual era pianista e líder, ao lado do contrabaixista Humberto Claiber e do baterista Airto Moreira. O grupo gravou três LPs e acompanhou o cantor-bailarino Lennie Dale em sua temporada no Teatro de Arena, em São Paulo, e depois na boate Zum-Zum, no Rio de Janeiro RJ, em 1963.

Liderou o trio Som-3 (1965- 1971), que reunia o baterista Toninho Pinheiro e o contrabaixista Sabá, com o qual gravou diversos LPs. Ainda em 1965, foi arranjador e pianista dos LPs de Lennie Dale e Elisete Cardoso e do LP de seu octeto. Nesse mesmo ano aceitou o convite de Wilson Simonal para fazer os arranjos de seu repertório, tarefa para a qual teve inicialmente orientação de Eumir Deodato.

A partir de 1965 e até 1971, foi o responsável pelos arranjos de todos os discos de Wilson Simonal, cantor que acompanhou em excursões ao México, Argentina, Peru, Venezuela, Itália, França, Portugal e Inglaterra.

Participou do júri de todos os festivais da TV Record, de São Paulo, a partir de 1966, ano em que também se apresentou, com o Som-3, no Festival de Arte Negra, em Dacar, Senegal. Como pianista, em 1967 esteve presente nas gravações dos LPs de os Três Morais, Os Farroupilhas e O Quarteto.

Em 1971 passou a ser arranjador e pianista da Philips, participando de todos os discos de Elis Regina gravados a partir dessa data, também como teciadista. Nessa época, realizou com Elis Regina tournées pela América Latina, EUA e Europa. Foi ainda pianista e arranjador de discos de Chico Buarque, João Bosco, Maria Bethânia, Claudete Soares, Erasmo Carlos, Wanderléia, Beth Carvalho, Jorge Ben Jor, Elisete Cardoso e Cristina.

Apresentou em 1977 o show São Paulo/Brasil/Crônica, que a RCA lançou como LP no mesmo ano. Na década de 1980 foram lançados os LPs César Camargo Mariano e Cia (1980) e Samambaia (1981, com destaque para sua composição Maria Rita), ambos pela Odeon; e A todas as amizades (1983, Som Livre), com repertório que incluiu as composições Blue Moon (Rodgers e Hart), Novo tempo (Ivan Lins e Vítor Martins) e Avenida Paulista (com Regina Werneck) e a participação de cantores como Milton Nascimento, Nana Caymmi, Fafá de Belém e Quarteto em Cy, entre outros.

Compôs músicas e fez arranjos para os filmes Eu te amo, de Arnaldo Jabor (1980) e Além da paixão, de Bruno Barreto (1984). Em 1994 mudou-se para New Jersey, EUA, e aí tem se apresentado em casas noturnas e trabalhado como produtor e arranjador. No Brasil em 1997, apresentou-se no Palace, em São Paulo, no festival Heineken Concerts.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.