segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Os boêmios

Os boêmios (tango, 1903) - Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense

Os boêmios, tango-cançoneta do maestro Anacleto de Medeiros cheio da efervescência rítmica do popular maxixe, traduz em sua melodia o ambiente boêmio da cidade do Rio de Janeiro, as rodas de choro nos bares e nas casas de família, os bailes populares e os encontros musicais nas festas religiosas.

A composição, interpretada pelo cantor da Casa Edison Mário Pinheiro, é, sem dúvida, uma homenagem ao meio cultural em que Anacleto construiu sua identidade como músico e compositor. Ele viveu intensamente a agitação do Rio de Janeiro na virada do século XIX para o XX. Ouça a gravação abaixo:

Disco selo: Odeon Record / Título da música: O Boêmio / Anacleto de Medeiros (Compositor) / Catulo Cearense (Compositor) / Mário Pinheiro (Intérprete) / Piano (Acomp.) / Nº do Álbum: 40486 / Lançamento: 1906 / Gênero musical: Tango Cançoneta / Coleção de Origem: IMS, Nirez


Os boêmios - Letra: Catulo da Paixão Cearense

Deus que viver, que prazer
Nesta vida que teço o senhor
Eu gozo só, sem tocar no
Duede travesso do amor!

Oh lé lé! Sou feliz! Uma pinga
De lieias, me faz entrever
O gozar nesta vida borida
É traze-la florida
Em alaere folgar

Mas, oh, que importa o sofrer
Se eu só conheço o prazer?
Eu sei desviar-me da dor
E leve o diabo ao amor!

Meu coração, não aceita
Os espinhos daninhos do amor
Se a mulher, veja ali
Vou passando
Brincando, folgando
A cantar, sou assim!

E que fuja a mulher
O demonio de mim!
Deus me deu esta vida
Por prêmio, serei o boêmio
Que ele quiser

Leve o diabo até inferno
Da vida, a este terreno
Ridente sofrer!
Num copo eu venço o amargor
Do viver!
Tem doçura ao beber! Oh!

Leve o diabo a este inferno
Da vida, este terreno
Cansado sofrer
Eu só encontro alegria no céu
Da folia, cantando a beber!

Oh, como é bom, como é boa
Esta vida que passo sem lar!
Não quero amar, só namoro
A natura que levo a cantar
Uma flor, o luar
Das estrelas, namoro

O divino fulgor
Que ao boêmio dão
Almas meiguices, sem essas
Pieguices do bobo do amor

O fadário (Medrosa)

O fadário - (Medrosa) (canção, 1902) - Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense

Mário Pinheiro ( circa 1880 Campos, RJ - 10/01/1923 Rio de Janeiro, RJ) foi um dos intérpretes mais populares da música brasileira em seu tempo. Estreou sem sucesso como palhaço de circo na Piedade, bairro do subúrbio carioca.

Apresentou-se depois como cantor no Passeio Público, acompanhando-se ao violão. Entre 1904 e 1909, gravou modinhas, lundus e cançonetas para a Casa Edison, introdutora no Brasil da gravação de discos de gramofone.

Esses discos, nos quais se apresentava apenas como Mário, obtiveram enorme vendagem, tornando-o conhecido em todo o Brasil. Devido à sua perfeita dicção, tornou-se o principal anunciador de discos da Casa Edison.

Provavelmente em 1905, gravou as clássicas modinhas Na casa branca da serra, de Guimarães Passos e Miguel Emídio Pestana, O talento e a formosura, de Catulo da Paixão Cearense e Edmundo Otávio Ferreira e O Fadário, de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense, que se pode escutar abaixo:

Disco selo: Odeon Record / Título da música: O Fadário / Anacleto de Medeiros (Compositor) / Catulo Cearense (Compositor) / Mário Pinheiro (Intérprete) / Violão (Acomp.) / Nº do Álbum: 40165 / Nº da Matriz: Rx-157(15) / Lançamento: 1904 / Coleção de Origem: Nirez D




Fonte: Dicionário Cravo Albin da MPB; Instituto Moreira Salles.

Me compra Ioiô

Me compra Ioiô (cançoneta, 1902) - Ernesto de Sousa

Ernesto de Sousa (1864 – 1928 – Rio de Janeiro, RJ), compositor, teatrólogo, farmacêutico e instrumentista, fez fortuna como industrial farmacêutico principalmente devido ao sucesso popular do seu Trinoz e Rum Creosotado, para o qual fez conhecido reclame publicitário:

“Veja ilustre passageiro / O belo tipo faceiro / Que o senhor tem a seu lado / E, no entanto, acredite, / Quase morreu de bronquite, / Salvou-o o Rum Creosotado”.

Ficou famosa a sua cançoneta Quem inventou a mulata?, da peça junina São João na roça. Sua casa era frequentada por figuras como Artur Azevedo, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Catulo da Paixão Cearense, Sátiro Bilhar e outros como os atores Figueiredo e Brandão.

Escreveu ainda com sucesso as músicas Mulata da Bahia, Me compra, Ioiô e Angu do Barão.

A cançoneta Me compra Ioiô foi gravada / lançada pela Senhorita Odette em 1903 pelo selo Zon-o-phone, álbum número 622.

Disco selo: Zon-o-phone X-622 / Título da música: Me Compra Ioiô / Ernesto de Sousa (Compositor) / Senhorita Odette (Intérprete) / Lançamento: 1903 / Gênero musical: Cançoneta / Coleção de Origem: IMS




Fontes: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira; Instituto Moreira Sales.

A borboleta gentil

A borboleta gentil (valsa, 1902) - Autor desconhecido

Valsa interpretada pela Srta. Odette gravada provavelmente entre 1902-1904 – Disco Zon-O-Phone de n° X-537. O acompanhamento desta música é feito pelo piano que se encontra muito ao fundo, distante espacialmente da cantora.

O perfil do acompanhamento segue um padrão bem delimitado dos tradicionais acompanhamentos de valsa. A técnica vocal da intérprete é uma mesclagem entre a impostação eruditizada e o canto falado muito utilizado por cantores como, por exemplo, o Bahiano.


O equilíbrio entre a voz da cantora, enquanto solista e o piano, em muito se assemelha com outras canções gravadas na mesma série de discos Zon-O-Phone. A utilização do prenome Srta. – constante tanto no selo quanto no início da gravação – tanto servia para caracterizar que se tratava de moça solteira como também para representar um padrão já utilizado por cantoras francesas que também adotaram o Mademoiselle (cf. Catálogos da Casa Edison).

Srta Odete (circa 1880 Rio de Janeiro, RJ - circa 1940 Rio de Janeiro, RJ) foi uma das primeiras mulheres a gravar discos no Brasil, ao lado da Srta. Consuelo, sua biografia é praticamente desconhecida. Não deixou sobrenome nem fotografias, apenas gravações em discos mecânicos.

Sua primeira gravação foi feita na pioneira gravadora Zon-O-Phone, em 1902 com a música "Mungunzá", sem indicação de gênero ou de autor. Em seguida, também na Zon-O-Phone e sem indicação de gênero ou autores, gravou "Assaí" e "A inana". Gravou ainda entre outras, "A cantar", "A mulatinha" e "Me compra ioiô".

Presumivelmente em 1904, gravou a valsa "Noivado desfeito", quando a passou a figurar nos selos dos discos como "Senhorita Odete". No mesmo período gravou "A caridosa", de Carlos Gomes. Faz parte do seleto grupo de cantoras que, no começo da indústria fonográfica no Brasil, adotou o prenome de Senhorita antes do nome. Tanto para caracterizar que se tratava de moça solteira quanto por indicação de distinção, já que na França algumas cantoras também adotaram o Mademoiselle antes do prenome.