Baseado numa ideia de Sérgio Ricardo, O Pasquim lançou em maio de 72, com um show no Teatro da Praia, a novidade do “Disco de Bolso”, um compacto simples que apresentava duas músicas, sendo uma de um compositor consagrado e a outra de um iniciante.
Convidados por Sérgio, participaram do disco inaugural Antônio Carlos Jobim, com “Águas de Março”, e João Bosco, em parceria com Aldir Blanc, com “Agnus Sei”. Teria assim um lançamento diferente essa importante composição de Jobim que, ao lado de “Matita Perê”, prenuncia uma intensificação em sua obra do uso de temas ligados à natureza.
Aparentemente simples, “Águas de Março” possui na realidade uma estrutura sofisticada, extremamente trabalhada, que a distingue como uma das composições mais inteligentes da música brasileira. Essa estrutura apoia uma melodia caracterizada pela obstinada repetição de uma pequena célula rítmico-melódica, construída basicamente com duas notas (a terceira e a fundamental do acorde de tônica), harmonizada por um encadeamento de quatro acordes, com o uso de inversões e outras diferenças sutis — e é neste ponto que se situa a parte mais rica da criação de Jobim — que se resolve invariavelmente no acorde de tônica a cada final de frase, ou seja, de quatro em quatro compassos, nada menos que 18 vezes durante toda a peça.
Com a troca de acordes, as mesmas notas, sempre repetidas, vão adquirindo colorido renovado, soando como se fossem notas diferentes, enquanto os referidos acordes acabam por se fixar de tal maneira que, ao se cantarolar “Águas de Março”, eles vêm intuitivamente à imaginação, por meio de nosso ouvido interno.
Essa sofisticação se estende à letra, talvez a melhor entre todas que Jobim escreveu. Em dezenas de versos incisivos, diretos, quase sem adjetivação, o poema passa impressões sobre um final de verão no campo, enunciando minuciosamente os componentes da paisagem, encharcada pelas águas de março.
O curioso é que esses dados são transmitidos de forma independente, como frações de um quadro, que o ouvinte ajuntará ao seu gosto: “É pau, é pedra / é o fim do caminho / é um resto de toco / é um pouco sozinho / (...) / é um passo, é uma ponte / é o sapo, é uma rã / é um belo horizonte / é uma febre terçã / são as águas de março / fechando o verão / é a promessa de vida / no teu coração...”
Esta paisagem é a de uma propriedade do compositor, na localidade de Poço Fundo, no estado do Rio, onde ele costumava passar fins de semana. Foi lá que nasceu, em março de 72, “Águas de Março”, numa casinha de pau-a-pique, apelidada de Barraco 2, na qual Tom morou ao tempo em que sua casa maior era construída. Na ocasião, segundo Helena Jobim (no livro Um homem iluminado), “ele trabalhava obsessivamente em ‘Matita Perê’. Subitamente, surgiu em sua cabeça um tema novo. Teresa, sua mulher, ouviu, meio dormindo e disse que o tema era lindo. Então, ele pediu uma folha de papel e, não achando no momento nada melhor, ela lhe deu um papel de embrulho do pão” no qual foi registrada a idéia inicial da canção.
Naturalmente, Tom conhecia o poema “O Caçador de Esmeraldas” de Olavo Bilac, que cita as chuvas de março: “Foi em março, ao findar da chuva, quase à entrada / do outono, quando a terra em sede requeimada / bebera longamente as águas da estação...” Mas, enquanto nos versos de Bilac as águas de março são citadas de passagem (por molharem a terra de onde “Fernão Dias Paes Leme entrou pelo sertão”), nos de Jobim são o próprio tema da composição. Entre dezenas de gravações de “Águas de Março”, destacam-se as duas de Elis Regina, a de João Gilberto e a do próprio Tom Jobim com a Banda Nova.
Águas de Março (1972) - Tom Jobim - Intérpretes: Elis Regina e Tom Jobim
LP Elis & Tom - Elis Regina e Tom Jobim / Título da música: Águas de Março / Tom Jobim (Compositor) / Elis Regina (Intérprete) / Tom Jobim (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1974 / Nº Álbum: 6349 112 / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Samba / Bossa Nova / MPB.
Convidados por Sérgio, participaram do disco inaugural Antônio Carlos Jobim, com “Águas de Março”, e João Bosco, em parceria com Aldir Blanc, com “Agnus Sei”. Teria assim um lançamento diferente essa importante composição de Jobim que, ao lado de “Matita Perê”, prenuncia uma intensificação em sua obra do uso de temas ligados à natureza.
Aparentemente simples, “Águas de Março” possui na realidade uma estrutura sofisticada, extremamente trabalhada, que a distingue como uma das composições mais inteligentes da música brasileira. Essa estrutura apoia uma melodia caracterizada pela obstinada repetição de uma pequena célula rítmico-melódica, construída basicamente com duas notas (a terceira e a fundamental do acorde de tônica), harmonizada por um encadeamento de quatro acordes, com o uso de inversões e outras diferenças sutis — e é neste ponto que se situa a parte mais rica da criação de Jobim — que se resolve invariavelmente no acorde de tônica a cada final de frase, ou seja, de quatro em quatro compassos, nada menos que 18 vezes durante toda a peça.
Com a troca de acordes, as mesmas notas, sempre repetidas, vão adquirindo colorido renovado, soando como se fossem notas diferentes, enquanto os referidos acordes acabam por se fixar de tal maneira que, ao se cantarolar “Águas de Março”, eles vêm intuitivamente à imaginação, por meio de nosso ouvido interno.
Essa sofisticação se estende à letra, talvez a melhor entre todas que Jobim escreveu. Em dezenas de versos incisivos, diretos, quase sem adjetivação, o poema passa impressões sobre um final de verão no campo, enunciando minuciosamente os componentes da paisagem, encharcada pelas águas de março.
O curioso é que esses dados são transmitidos de forma independente, como frações de um quadro, que o ouvinte ajuntará ao seu gosto: “É pau, é pedra / é o fim do caminho / é um resto de toco / é um pouco sozinho / (...) / é um passo, é uma ponte / é o sapo, é uma rã / é um belo horizonte / é uma febre terçã / são as águas de março / fechando o verão / é a promessa de vida / no teu coração...”
Esta paisagem é a de uma propriedade do compositor, na localidade de Poço Fundo, no estado do Rio, onde ele costumava passar fins de semana. Foi lá que nasceu, em março de 72, “Águas de Março”, numa casinha de pau-a-pique, apelidada de Barraco 2, na qual Tom morou ao tempo em que sua casa maior era construída. Na ocasião, segundo Helena Jobim (no livro Um homem iluminado), “ele trabalhava obsessivamente em ‘Matita Perê’. Subitamente, surgiu em sua cabeça um tema novo. Teresa, sua mulher, ouviu, meio dormindo e disse que o tema era lindo. Então, ele pediu uma folha de papel e, não achando no momento nada melhor, ela lhe deu um papel de embrulho do pão” no qual foi registrada a idéia inicial da canção.
Naturalmente, Tom conhecia o poema “O Caçador de Esmeraldas” de Olavo Bilac, que cita as chuvas de março: “Foi em março, ao findar da chuva, quase à entrada / do outono, quando a terra em sede requeimada / bebera longamente as águas da estação...” Mas, enquanto nos versos de Bilac as águas de março são citadas de passagem (por molharem a terra de onde “Fernão Dias Paes Leme entrou pelo sertão”), nos de Jobim são o próprio tema da composição. Entre dezenas de gravações de “Águas de Março”, destacam-se as duas de Elis Regina, a de João Gilberto e a do próprio Tom Jobim com a Banda Nova.
Águas de Março (1972) - Tom Jobim - Intérpretes: Elis Regina e Tom Jobim
LP Elis & Tom - Elis Regina e Tom Jobim / Título da música: Águas de Março / Tom Jobim (Compositor) / Elis Regina (Intérprete) / Tom Jobim (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1974 / Nº Álbum: 6349 112 / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Samba / Bossa Nova / MPB.
Tom: B (Intro: B/A) B/A G#m6 É pau, é pedra, é o fim do caminho Em7+/G F#6 É um resto de toco, é um pouco sozinho B7.9/F# Db/F É um caco de vidro, é a vida, é o sol Em6 B7M É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol B7.9 Db/F É peroba do campo, é o nó da madeira Em6 B7M Caingá, candeia, é o Matita Pereira B7.9 Db/F É madeira de vento, tombo da ribanceira Em6 B7M É o mistério profundo, é o queira ou não queira B7.9 Db/F É o vento ventando, é o fim da ladeira Em6 B7M É a viga, é o vão, festa da cumeeira B7.9 Db/F É a chuva chovendo, é conversa ribeira Em6 B7M Das águas de março, é o fim da canseira B/A G#m6 É o pé, é o chão, é a marcha estradeira Em7+/G F#6 Passarinho na mão, pedra de atiradeira B7.9/F# Db/F É uma ave no céu, é uma ave no chão Em6 B7M É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão B7.9 Db/F É o fundo do poço, é o fim do caminho Em6 B7M No rosto o desgosto, é um pouco sozinho B/A G#m6 É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto Em7+/G F#6 Um pingo pingando, uma conta um conto B7.9/F# Db/F Um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando Em6 B7M É a luz da manhã, é o tijolo chegando B7.9 Db/F É a lenha, é o dia, é o fim da picada Em6 B7M É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada B7.9 Db/F O projeto da casa, é o corpo na cama Em6 B7M É o carro enguiçado, é a lama, é a lama B/A G#m6 É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã Em7+/G F#6 É um resto de mato, na luz da manhã B7.9/F# Db/F São as águas de março fechando o verão Em6 B7M É a promessa de vida no teu coração B7.9/F# E6 É uma cobra, é um pau, é João, é José Em6 B7M É um espinho na mão, é um corte no pé B7.9 Db/F São as águas de março fechando o verão Em6 B7M É a promessa de vida no teu coração B/A G#m6 É pau, é pedra, é o fim do caminho Em7+/G F#6 É um resto de toco, é um pouco sozinho Bm C#/B É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã C#dim/B B É um belo horizonte, é uma febre terçã Bm C#/B São as águas de março fechando o verão C/B B É a promessa de vida no teu coração B/A G#m6 É pau, é pedra, é o fim do caminho Em7+/G F#6 Um resto de toco, é um pouco sozinho B7.9/F# Db/F É um caco de vidro, é a vida, é o sol Em6 B7M É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol B7.9 E6 São as águas de março fechando o verão Em6 B7M É a promessa de vida no teu coração B/A G#m6 É pau, é pedra, é o fim do caminho Em7+/G F#6 É um resto de toco, é um pouco sozinho B7/F# Db/F É um caco de vidro, é a vida, é o sol Em6 B7M É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol B7.9 E6 É peroba do campo, é o nó da madeira Em6 B7M Caingá, candeia, é o Matita Pereira B7.9 Db/F É madeira de vento, tombo da ribanceira Em6 B7M É o mistério profundo, o queira ou não queira B7.9 E6 É o vento ventando, é o fim da ladeira Em6 B7M É a viga, é o vão, festa da cumeeira B7.9 Db/F É a chuva chovendo, é conversa ribeira Em6 B7M Das águas de março, é o fim da canseira B/A G#m6 É o pé, é o chão, é a marcha estradeira Em7+/G F#6 Passarinho na mão, pedra de atiradeira B7/F# Db/F É uma ave no céu, é uma ave no chão Em6 B7M É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão B7.9 Db/F É o fundo do poço, é o fim do caminho Em6 B7M No rosto o desgosto, é um pouco sozinho B/A G#m6 É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto Em7+/G F#6 Um pingo pingando, uma conta um conto B7/F# E6 Um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando Em6 B7M É a luz da manhã, é o tijolo chegando B7.9 Db/F É a lenha, é o dia, é o fim da picada Em6 B7M É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada B7.9 Db/F O projeto da casa, é o corpo na cama Em6 B7M É o carro enguiçado, é a lama, é a lama B/A G#m6 É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã Em7+/G F#6 É um resto de mato, na luz da manhã B7/F# Db/F São as águas de março fechando o verão Em6 B7M É a promessa de vida no teu coração B7.9/F# E6 É uma cobra, é um pau, é João, é José Em6 B7M É um espinho na mão, é um corte no pé B7.9 Db/F São as águas de março fechando o verão Em6 B7M É a promessa de vida no teu coração B/A G#m6 É pau, é pedra, é o fim do caminho Em7+/G F#6 É um resto de toco, é um pouco sozinho Bm C#/B É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã C#m7.5b/B B É um belo horizonte, é uma febre terçã B/A G#m6 São as águas de março fechando o verão Em7+/G F#6 É a promessa de vida no teu coração B/A G#m6 É pau, é pedra, é o fim do caminho Em7+/G F#6 Um resto de toco, é um pouco sozinho B7.9/F# Db/F É um caco de vidro, é a vida, é o sol Em6 B7M É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol B7.9 Db/F São as águas de março fechando o verão Em6 B7M B7.9/F# Db/F Em6 É a promessa de vida no teu coração B7M B7.9 Db/F Em6 B7M Bm7 C#/B C/B B É pau é pedra
Fonte: A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34.
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