A canção “Geleia Geral” representa uma síntese dos cânones do próprio movimento tropicalista, além de ser modelo de seu contorno poético. Seus versos contêm arremedos de ufanismo patriótico (“Formiplac e céu de anil / (...) / salve o lindo pendão dos seus olhos”) e citações, as mais diversas, explícitas ou implícitas, distribuídas por suas estrofes e o trecho declamado entre elas.
Há também alusões sarcásticas a passagens da literatura brasileira como o Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade (“Pindorama, país do futuro / (...) / com o roteiro do sexto sentido”), a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias (“Minha terra é onde o sol é mais limpo”), ou a Memórias sentimentais de João Miramar, também de Oswald, conforme salienta o brasilianista Charles Perrone (em Masters of contemporary brazilian song).
No refrão são abordados, no mesmo estilo destrambelhado, do folclore brasileiro ao rock and roll: “Ê, bumba-yê-yê-boi / ano que vem, mês que foi / É, bumba-yê-yê-yê / é a mesma dança meu boi.”
No aspecto musical, vale mencionar que este refrão é construído sobre a repetição de seis compassos, divididos em ternários e binários, fazendo o arranjo de Rogério Duprat citações de O Guarany, de Carlos Gomes (sob o verso declamado sobre as “relíquias do Brasil”) e da canção “All the Way”, após o verso “um elepê de Sinatra”. Essas considerações mostram a relevância da extensa e discutida letra que Torquato Neto, o teórico do tropicalismo, fez para “Geléia Geral”, composição gravada por Gilberto Gil em Panis et circensis, o disco básico da relativamente escassa discografia do movimento.
A expressão “Geleia Geral”, que também seria título de uma coluna de Torquato no jornal carioca Última Hora, em 71/72, tem sua origem anterior à canção: Décio Pignatari havia escrito para revista de literatura Invenção um artigo sobre os princípios da linguagem concretista, que terminava afirmando que “na geleia geral brasileira alguém tem que fazer o papel de medula e de osso”, referindo-se à postura do grupo concretista.
A ligação de Décio e dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos com Caetano Veloso ensejou o aproveitamento da expressão (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
Geleia Geral (1968) - Gilberto Gil e Torquato Neto - Intérprete: Gilberto Gil
LP Tropicália Ou Panis Et Circenses / Título da música: Geleia Geral / Torquato Neto (Compositor) / Gilberto Gil (Compositor) / Gilberto Gil (Intérprete) / Gravadora: Philips / Nº Álbum: R 765.040 L / Ano: 1968 / Lado A / Faixa 6 / Gênero musical: Tropicalismo / MPB.
Há também alusões sarcásticas a passagens da literatura brasileira como o Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade (“Pindorama, país do futuro / (...) / com o roteiro do sexto sentido”), a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias (“Minha terra é onde o sol é mais limpo”), ou a Memórias sentimentais de João Miramar, também de Oswald, conforme salienta o brasilianista Charles Perrone (em Masters of contemporary brazilian song).
Torquato e Gil |
No aspecto musical, vale mencionar que este refrão é construído sobre a repetição de seis compassos, divididos em ternários e binários, fazendo o arranjo de Rogério Duprat citações de O Guarany, de Carlos Gomes (sob o verso declamado sobre as “relíquias do Brasil”) e da canção “All the Way”, após o verso “um elepê de Sinatra”. Essas considerações mostram a relevância da extensa e discutida letra que Torquato Neto, o teórico do tropicalismo, fez para “Geléia Geral”, composição gravada por Gilberto Gil em Panis et circensis, o disco básico da relativamente escassa discografia do movimento.
A expressão “Geleia Geral”, que também seria título de uma coluna de Torquato no jornal carioca Última Hora, em 71/72, tem sua origem anterior à canção: Décio Pignatari havia escrito para revista de literatura Invenção um artigo sobre os princípios da linguagem concretista, que terminava afirmando que “na geleia geral brasileira alguém tem que fazer o papel de medula e de osso”, referindo-se à postura do grupo concretista.
A ligação de Décio e dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos com Caetano Veloso ensejou o aproveitamento da expressão (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
Geleia Geral (1968) - Gilberto Gil e Torquato Neto - Intérprete: Gilberto Gil
LP Tropicália Ou Panis Et Circenses / Título da música: Geleia Geral / Torquato Neto (Compositor) / Gilberto Gil (Compositor) / Gilberto Gil (Intérprete) / Gravadora: Philips / Nº Álbum: R 765.040 L / Ano: 1968 / Lado A / Faixa 6 / Gênero musical: Tropicalismo / MPB.
Tom: E [Intro] D A E E Um poeta desfolha a bandeira A7 E a manhã tropical se inicia C7 Resplandente, cadente, fagueira D Num calor girassol com alegria B7 E Na geléia geral brasileira A E Que o jornal do Brasil anuncia A Ê bumba iê iê boi C#m F#m Ano que vem, mês que foi A Ê bumba iê iê iê F#m7 B7 E É a mesma dança, meu boi "A alegria é a prova dos nove" A7 E a tristeza, teu Porto Seguro C7 Minha terra, onde o Sol é mais limpo D Em Mangueira, onde o Samba é mais puro B7 E Tumbadora na selva-selvagem A E Pindorama, país do futuro A É a mesma dança na sala F#m E B7 No Canecão, na TV E quem não dança não fala Assiste a tudo e se cala Não vê no meio da sala A B7 E As relíquias do Brasil: C#m Doce mulata malvada F#m A E B7 Um elepê de Sinatra Maracujá, mês de abril A Santo barroco baiano B7 Super poder de paisano E A Formiplac e céu de anil E B7 Três destaques da Portela Carne seca na janela Alguém que chora por mim Um carnaval de verdade Hospitaleira amizade A E B7 Brutalidade, jardim Plurialva, contente e brejeira A7 Miss linda Brasil diz: "bom dia" C7 E outra moça também, Carolina D Da janela examina a folia B7 E Salve o lindo pendão dos seus olhos A E E a saúde que o olhar irradia Um poeta desfolha a bandeira A7 E eu me sinto melhor colorido C7 Pego um jato, viajo, arrebento D Com o roteiro do sexto sentido B7 E Voz do morro, pilão de concreto A E Tropicália, bananas ao vento
Letra:
Um poeta desfolha a bandeira e a manhã tropical se inicia
Resplandente, cadente, fagueira num calor girassol com alegria
Na geléia geral brasileira que o Jornal do Brasil anuncia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
A alegria é a prova dos nove e a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o sol é mais limpo e Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem, Pindorama, país do futuro
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
É a mesma dança na sala, no Canecão, na TV
E quem não dança não fala, assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala as relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada, um LP de Sinatra, maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano, superpoder de paisano, formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela, carne-seca na janela, alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade, hospitaleira amizade, brutalidade jardim
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
Plurialva, contente e brejeira miss linda Brasil diz "bom dia"
E outra moça também, Carolina, da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos e a saúde que o olhar irradia
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
Um poeta desfolha a bandeira e eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto tropicália, bananas ao vento
Ê, bumba-yê-yê-boi ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê é a mesma dança, meu boi
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