terça-feira, 30 de outubro de 2007

Roberto Ribeiro


"As escolas de samba vivem um paradoxo: são um celeiro de cantores, popularmente chamados de "puxadores", mas raros fazem sucesso fora das quadras. Uma das exceções é José Bispo Clementino dos Santos, Jamelão, da Mangueira, cantor, intérprete de samba-enredo – jamais um "puxador", como se recusa a ser chamado.


Outro dos raros exemplos é Roberto Ribeiro – assim mesmo com o verbo no presente, pois Roberto continua vivo nas gravações (poderiam ser em maior número), vídeos (raros). E principalmente na lembrança de quem ouviu aquela voz de timbre muito especial.

Nascido Dermeval Miranda Maciel, Roberto (20/7/1940 Campos, RJ - 8/1/1996 Rio de Janeiro, RJ) é sinônimo de Império Serrano, ao lado do maior compositor de sambas-enredos da história, Silas de Oliveira (Heróis da Liberdade, Tiradentes), de Mano Décio da Viola (parceiro de Silas), Dona Ivone Lara, Mestre Fuleiro, e por aí vai. Além de puxador, Roberto era da ala de compositores da escola – chegou a fazer dois sambas para a avenida.

A voz translúcida de Roberto Ribeiro deixou para sempre o registro de algumas obras-primas de Silas, além de jongos – uma das marcas registradas do morro da Serrinha – e uma fieira de belíssimos sambas de terreiro. Uma das duas melhores gravações de Senhora Tentação (Meu Drama), de Silas, é dele. A outra é de Cartola.

Roberto teve ainda a sensibilidade de deixar registrado um samba-enredo que, apesar de não ter sido o escolhido na quadra para ir à avenida, no carnaval de 1975, durante anos foi cantado nas rodas. A divulgação do samba era feita espontaneamente nos bares e biroscas do Rio. Vedete de Madureira ("Brilhando / num imenso cenário...") sobreviveu durante muito tempo sem estar gravado. Com Roberto Ribeiro, garantiu a perpetuidade.

Puxador de samba na avenida, aos poucos Roberto conquistou palcos e estúdios. Mas nunca se desligou da Serrinha. Nos dias de desfile do Império podia ser visto no asfalto com terno de linho branco, camisa verde e óculos escuros, para proteger a vista, atacada por uma doença irreversível.

Fluminense de Campos, morreu em 1996, vítima de um atropelamento. Foi-se muito cedo, aos 55 anos de idade. Seguiu o destino de Silas, que, em 1972, aos 56, sofreu enfarte fulminante depois de cantar sambas seus em uma roda em Botafogo. Roberto Ribeiro estava presente. Continua presente."


Aluizio Maranhão - ENSAIO

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