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Cardoso de Menezes 1940 |
Cardoso de Menezes (Frederico Cardoso de Menezes e Souza), compositor e revistógrafo, nasceu no Rio de Janeiro em 31 de março de 1878, em uma casa na rua Bento Lisboa no bairro do Catete.
Filho de Antônio Frederico Cardoso de Menezes e Souza e Judith Ribas Cardoso de Menezes e Souza, foi criado no meio de intelectuais e artistas famosos da época, que se reuniam na casa de seus pais.
O pai foi músico, escritor, poeta e teatrólogo bastante popular no período entre 1875 e 1910; a mãe era também musicista, tendo sido colaboradora de Arthur Napoleão, famoso editor de partituras musicais. Seu avô paterno foi João Cardoso de Menezes e Souza, o Barão de Paranapiacaba (1827-1915), homem de grande erudição, autor de várias obras e traduções e que gozava de prestígio e influência junto a D. Pedro II.
Em 1900, Cardoso de Menezes casou-se com Amélia Juventina Ferreira, com quem teve quatro filhos; nenhum seguiu a carreira artística. Desde de 1895 foi funcionário público, passando pela Alfândega e se aposentando no Tesouro Nacional.
Cardoso de Menezes não quis se dividir entre música e teatro, como seu pai e, resolvendo se dedicar exclusivamente ao teatro, e especificamente ao teatro da Praça Tiradentes, pode conciliar as duas artes, trabalhando nos gêneros ligeiros musicados.
Assim nos relata Brício de Abreu: contou-me ele que, certa vez, ainda no curso preparatório, com 14 anos [1892] escreveu uma “mágica”. Em vez de estudar, estava escrevendo quando o pai [...] perguntou-lhe o que fazia [...] “Estou escrevendo uma “mágica”[...], o velho Cardoso de Menezes respondeu sorrindo para o filho : “Duvido que seja boa, e só irá à cena quando as galinhas tiverem dentes!”[...] Em 1905, [para] a sua primeira peça representada, “Comes e Bebes”, mandou convidar o pai, com um cartão onde dizia: “As galinhas criaram dentes, venha ver!” E desde então o pai se orgulhou do filho.(Abreu, 1963:248)
Antes de Comes e bebes Cardoso de Menezes havia escrito, em 1904, aos 26 anos, uma revista para ser encenada pelo grupo amador Clube Dramático de Ouro, de São Cristovão:
São Cristovão por um óculo. Foi na ocasião desta apresentação que Cardoso de Menezes conheceu
Chiquinha Gonzaga e Alvarenga Fonseca, que o incentivaram a continuar escrevendo. E foi o que fez, sozinho ou em parceria, o nosso revistógrafo, tornando-se um dos autores de revistas, burletas e operetas mais famosos do Rio.(Abreu, 1963:248)
Com a burleta
Comes e bebes deu-se sua estréia profissional, que contou com intérpretes que se tornariam célebres, pouco tempo depois, no teatro ligeiro carioca. A estreia ocorreu justamente na Companhia do Teatro São José, em 4 de janeiro de 1912, com Alfredo Silva, Cinira Polônio, Júlia Martins,
Pepa Delgado, Franklin de Almeida e outros. Vieram logo depois, ainda em 1912, a opereta
Casei com titia, com música de Chiquinha Gonzaga, apresentada no Teatro São Pedro pela Companhia João de Deus e Zé Pereira com música de Francisco Nunes , também no São José. (Abreu, 1963:248)
Cardoso de Menezes, aliando-se primeiro à grande Chiquinha Gonzaga e logo após a Carlos Bittencourt, produziu revistas, burletas e operetas que ficaram como modelos do gênero. A revista, então chamada de “Carnaval”, teve nele o seu grande autor, “Gato, Baêta e Carapicú” foi dos maiores êxitos de sua época com o ator Alfredo Silva. Depois da fundação da Cia. Nacional de Revistas e Burletas por Paschoal Segreto, para o Teatro S. José, em 1913 [sic], não creio que algum autor tenha ultrapassado com êxito a dupla Carlos Bittencourt e Cardoso de Menezes. (Abreu, 1963: 249)
Cardoso de Menezes foi um dos raros autores a ter o privilégio de ver suas peças em cena por mais de cem representações consecutivas; o que era considerado, para os padrões da época, e do teatro ligeiro, um claro indicativo de qualidade. Segundo Gill (1944: 8) as peças de Cardoso de Menezes [constituíam] acontecimentos expressivos principalmente para os cofres das empresas teatrais [...] e como revistógrafo, descobriu o ovo de Colombo do teatro no Rio quando criou a sua primeira revista exclusivamente carnavalesca. Foi autor de muitas peças, e grande parte desse sucesso, devido certamente a sua “maestria” na escrita destes gêneros teatrais e a consequente boa acolhida do público, realizou com seu mais regular e igualmente bem sucedido colaborador, Carlos Bittencourt.
Faleceu em 30 de março de 1958, às vésperas de completar 80 anos, dos quais mais da metade foram dedicados ao teatro. Sua última peça foi ainda uma revista, Fogo no pandeiro, montada em 1950, pela Companhia Ferreira da Silva no Teatro João Caetano, tendo como intérpretes, entre outros, Dercy Gonçalves, Colé, Silva Filho e Walter D’Ávila.