domingo, 9 de abril de 2006

Antônio Maria


Antônio Maria Araújo de Morais, compositor e jornalista, nasceu no Recife PE (17/3/1921) e faleceu no Rio de Janeiro RJ (15/10/1964). Nasceu numa casa grande da Rua União, e seu avô materno, Rodolfo Araújo, era rico proprietário na região, dono do Engenho Cachoeira Lisa. Sua infância passou-se entre o velho sobrado da cidade e o engenho do avô, onde costumava ir durante as férias escolares, com os irmãos e primos. Recebeu formação típica das famílias ricas da época, tendo aulas particulares de piano e de francês. O padrão econômico da família, porém, caiu muito, quando o pai, também usineiro, enfrentou uma crise financeira, vindo a morrer pouco depois.


Frequentou o Colégio Marista, em Recife, e no final do curso, aos 18 anos, já se tornara amigo de Fernando Lobo, Arlindo Gouveia e Hugo Gonçalves Ferreira (Hugo Peixa). Por essa época, começou sua vida boêmia pelos bares e cabarés da cidade. Foi estudante de agronomia e, na usina da família, exerceu atividades de técnico de irrigação de cana-de-açúcar.

Em 1934, conseguiu seu primeiro emprego como locutor e apresentador de programas musicais, feitos com discos, na Rádio Clube de Pernambuco e, em 1940, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava seu amigo Fernando Lobo. Ali, seu primeiro emprego foi como locutor esportivo da Rádio Ipanema, dirigida na época por Carlos Frias, da qual acabou sendo dispensado por seu estilo inovador de irradiar jogos (criou várias expressões novas para esse tipo narração). Com Fernando Lobo, viveu algum tempo na boêmia e, tornando-se famoso nos bares cariocas, onde já improvisava alguns sambas, resolveu voltar para Recife, já que não conseguia trabalho fixo. Lá, trabalhou em jornais, fez músicas para publicidade e foi também locutor esportivo.

Em maio de 1944, casou com Mariinha Gonçalves Ferreira, filha do usineiro Tonico Ferreira e irmã de seu amigo Hugo Peixa. Foi então para Fortaleza CE, onde trabalhou como locutor esportivo da Rádio Clube do Ceará. Ficou quase um ano nessa emissora e, em seguida, passou a diretor de produção das Emissoras Associadas, em Salvador BA, onde conheceu Dorival Caymmi, de quem se tornou grande amigo.

Em 1948 mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro, passando a exercer o cargo de diretor de produção na Rádio Tupi, também das Emissoras Associadas, e assinando em O Jornal uma coluna que se tornou famosa - o "Jornal de Antônio Maria", onde escrevia diariamente crônicas sobre os mais diversos assuntos. Foi o primeiro diretor de produção da TV Tupi, inaugurada a 20 de janeiro de 1951, e até essa data já havia feito muitos jingles, principalmente com Geraldo Mendonça e o maestro Aldo Taranto. Não tocava instrumento e compunha cantarolando a música, fazendo a letra à medida que compunha. Em Recife, já havia composto um frevo (de uma série de cinco) chamado Frevo número um , gravado pelo Trio de Ouro, em 9 de agosto de 1951; o Frevo nº 2 do Recife foi gravado por Luís Bandeira, acompanhado de Severino Araújo e sua Orquestra.

Em 1951, fez com Fernando Lobo o samba Querer bem, gravado por Araci de Almeida. Mas até essa época ainda não se tornara conhecido como compositor. No início de 1952, com outros colegas da Rádio Tupi, transferiu-se para a Rádio Mayrink Veiga, ganhando o maior salário de rádio daquela época: 50.000 cruzeiros por mês. Nessa emissora, atuou como locutor esportivo e produziu vários programas que iam ao ar à noite e tinham grande audiência, como Alegria da Rua, Regra Três e Musical Antártica.

Seu sucesso como compositor começou em 1952, quando Nora Ney, então cantora estreante, lançou de sua autoria o samba-acalanto Menino grande e o samba-canção Ninguém me ama (com Fernando Lobo). Por volta de 1953, compôs com Vinícius de Moraes o samba Quando tu passas por mim, gravado por Araci de Almeida na Continental e, depois, por Dóris Monteiro, e o Dobrado de amor a São Paulo (gravado por Araci de Almeida), homenagem que os dois amigos prestavam à cidade de que tanto gostavam e que costumavam visitar juntos.

Ainda em 1953, compôs com Zé da Zilda os sambas Não fiz nada, Não vá embora e Meu contrabaixo, os dois primeiros gravados pelo próprio Zé da Zilda, na Odeon, e o último gravado por Araci de Almeida, na Continental. No ano seguinte, conheceu Ismael Neto, líder de Os Cariocas, e do primeiro encontro dos dois nasceu a Valsa de uma cidade; ainda em 1954, fizeram juntos o choro lento Carioca 1954, o samba-canção Sei perder e Canção da volta, que lançou Dolores Duran como cantora.

Parceria, última composição feita com Ismael Neto, foi gravada, em 1956, pelo conjunto Os Cariocas. Nos anos seguintes, teve novos parceiros como Manezinho Araújo, em Cajueiro doce, e Evaldo Gouveia, em Canção ninar gente grande. Com Luiz Bonfá, compôs Manhã de Carnaval, com numerosas gravações, e Samba de Orfeu, em 1959, ambos para o filme Orfeu do Carnaval, de Marcel Camus; e, com o mesmo parceiro, fez ainda Faça o que quiser, em 1959, e Canção da mulher amada, em 1960. Nesse ano, compôs com Pernambuco Mais que a minha vida, A canção dos olhos, Suas mãos, um de seus maiores sucessos, e O amor e a rosa.

Vítima de um segundo enfarte, faleceu em 1964. Depois de sua morte, foi homenageado num espetáculo só com músicas suas e de Dolores Duran - Brasileiro profissão esperança - escrito por Paulo Pontes, que estreou em 1970, com Maria Bethânia e Raul Cortês, no Teatro Teresa Raquel, no Rio de Janeiro, e que, em 1974, foi levado na cervejaria carioca Canecão por Ciara Nunes e Paulo Gracindo. Em 1997 a cantora Marisa Gata Mansa, lançou o CD Encontro com Antônio Maria, em que interpreta 14 músicas do compositor, entre elas o Frevo n. 2 do Recife, clássico do gênero, Manhã de Carnaval, Samba de Orfeu, A canção dos seus olhos e O amor e a rosa.

Algumas músicas


Obra completa

Aconteceu (c/Ismael Neto), choro, 1954; Aconteceu em São Paulo, samba, 1954; Ai! que medo (c/Ismael Neto), mambo, 1954; Amor de janela (c/Pernambuco), samba, 1961; O amor e a rosa (c/Pernambuco), samba, 1960; O amor que Deus nos deu (c/João Roberto Kelly), samba-canção, s.d.; Bate, coração (c/Vinícius de Moraes), samba-canção, 1960; Cajueiro doce (c/Manezinho Araújo), toada, 1957; Canção da mulher amada (c/Luís Bonfá), 1960; Canção da volta (c/Ismael Neto), samba-canção, 1954; A canção dos seus olhos (c/Pernambuco), samba, 1960; Canção para ninar gente grande (c/Evaldo Gouveia), samba-canção, 1958; Carioca 1954 (c/Ismael Neto), choro lento, 1955; Cartas (c/Ismael Neto), samba-canção, 1955; Coisas do amor (c/Pernambuco), samba, s.d.; Concerto no céu (c/Pernambuco), fox, s.d.; Desse amor melhor (c/Pernambuco), samba, s.d.; Dez noites (c/lsmael Neto), toada, s.d.; Dobrado de amor a São Paulo (c/Vinícius de Moraes), dobrado, 1954; Domingo, samba-canção, s.d.; Dorme (c/Pernambuco), beguine, s.d.; Faça o que quiser (c/Luís Bonfá), samba-canção, 1959; Fique comigo (c/Moacir Silva), samba-canção, s.d.; Frevo número dois do Recife, frevo-canção, 1954; Frevo número três do Recife, frevo, s.d.; Frevo número um do Recife, frevo, 1951; Fulana de Tal, samba-canção, 1954; Gostar de alguém (c/Zacarias), samba, s.d.; Hoje não (c/Zé da Zilda), samba, s.d.; Insensato coração (c/Paulo Soledade), samba, 1956; Madrugada 3 e 5 (c/Ismael Neto e Reinaldo Dias Leme), samba, 1955; Mais que a minha vida (c/Pernambuco), samba, 1960; Manhã de Carnaval (c/Luís Bonfá), samba-canção, 1959; Menino grande, samba-acalanto, 1952; Meu contrabaixo (c/Zé da Zilda), samba, 1953; Minha amada dormiu, samba-canção, 1954; Não fiz nada (c/Zé da Zilda), samba, 1953; Não vá embora (c/Zé da Zilda), samba, 1953; Ninguém me ama (c/Fernando Lobo), samba, 1952; Ninguém sabe de nós (c/Moacir Silva), samba-canção, 1962; A noite é grande (c/Fernando Lobo), marcha, s.d.; Nós era sete (c/Zé Gonzaga), polca, 1952; Onde anda você (c/Reinaldo Dias Leme), samba, 1953; Parceria (c/Ismael Neto), samba, 1956; Pense em mim, samba-canção, 1954; Podem falar (c/Ismael Neto), samba-canção, 1953; Portão antigo, samba-canção, 1955; Preconceito (c/Fernando Lobo), samba, 1953; Quando ela se foi (c/Moacir Silva), samba-canção, s.d.; Quando tu passas por mim (c/Vínícíus de Moraes), samba, 1953; Querer bem (c/Fernando Lobo), samba, 1951; Recife, frevo-canção, 1952; O Rio amanhecendo (c/Ismael Neto), samba, 1955; Rio-São Paulo (c/Reinaldo Dias Leme), maxixe, s.d.; Samba de Orfeu (c/Luís Bonfá), samba, 1959; Sangue quente (c/Moacir Silva), samba, 1963; São Paulo (c/Paulo Soledade), samba, s.d.; Se eu morresse amanhã, samba-canção, 1953; Sei perder (c/Ismael Neto), samba-canção, 1955; Suas mãos (c/Pernambuco), samba, 1960; O tempo marcou (c/Reinaldo Dias Leme), samba, s.d.; Os teus encantos (c/Moacir Silva), samba, s.d.; Valsa de uma cidade (c/Ismael Neto), valsa, 1954; Vem hoje (c/Moacir Silva), samba, 1960; Vou pra Paris (c/Fernando Lobo), samba, 1954.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

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