domingo, 9 de abril de 2006

Dolores Duran


Terceira dos quatro filhos do Sargento da Marinha Armindo José da Rocha e de Josefa Silva da Rocha, Adiléia Silva da Rocha, verdadeiro nome de Dolores, nasceu no dia 7 de junho de 1930, no Rio de Janeiro. Morando nos subúrbios de Irajá e de Pilares, cantava desde os 3 anos de idade. Aos 5 já participava das tradicionais festas do Rio, como reisados desfile das pastorinhas Adiléia ia vestida de anjo: era o anjo cantor. Aos seis anos, durante uma festa de Natal promovida por uma fábrica de louças no subúrbio de Pilares, Adiléia venceu um concurso de calouros e ganhou o prêmio revelação.


Aos dez anos apresentou-se no programa Calouros em Desfile , comandado por Ary Barroso, aos domingos, na Rádio Tupi, onde, interpretando Vereda tropical, de Gonzalo Curiel, não só conseguiu a nota máxima, dividindo o primeiro lugar com o conjunto Nativos da Lua, como também recebeu elogios do temido animador. Em seguida, Adiléia apresentou-se no programa Escada de Jacó, comandado pelo Professor Bacurau e passou a integrar a equipe, cantando todos os domingos em shows de bairro, cinemas, teatros e circos.

Nos doze anos, a morte do pai agravou a situação financeira da família, que já era precária. Nessa época Adiléia participava de radiotetatro, na Rádio Tupi, num programa de histórias infantis chamado Teatro da Tia Chiquinha. Apoiada pela mãe, passou também a integrar o elenco, que apresentava peças infantis no Teatro Carlos Gomes, onde trabalhou nas peças 'Mãe d'água' , 'Aladim e a Lâmpada Maravilhosa', 'O gaúcho' e 'O príncipe do limo verde', na qual cantava a valsa Primavera de Afonso Henriques.

Autodidata, muito cedo também começou seu processo de aprender línguas: ouvia discos em inglês, francês, castelhano e italiano e praticamente dominava esses idiomas. Em virtude disso, inscreveu-se no concurso 'À Procura de uma cantora de boleros', organizado por Renato Murce, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em que a vencedora foi Rosita González. Esse episódio não desanimou Adiléia, que continuou frequentando a Rádio Nacional, conhecendo e sendo conhecida pelos artistas e participando de alguns programas.

Numa dessas apresentações, aos 16 anos de idade, estava presente o Barão Von Stuckart, proprietário da Boate Vogue, frequentada pelos colunáveis da época. O Barão fez um teste com Adiléia, que cantou em inglês, francês e espanhol e ele resolveu contratá-la para a boate. Começando uma prematura carreira profissional de crooner de casa noturna, desaparecia o anjo Adiléia. Em seu lugar, surgia a cantora Dolores Duran.

Logo que começou a cantar na Vogue, Dolores foi ouvida pelo radialista César Alencar, que a contratou para o seu programa na Rádio Nacional, onde Dolores cantava músicas internacionais. Já com um bom salário, Dolores deixou a casa materna e foi dividir um apartamento com uma amiga, a cantora Julie Joy, no mesmo bairro de Ipanema, onde morava sua mãe.

Com um vasto repertório internacional, Dolores cantou nas mais famosas boates do Rio de Janeiro, conquistando vários amigos, como Sérgio Porto, Antônio Maria, Nestor de Holanda e Mister Eco, famosos cronistas da noite carioca.

A estréia de Dolores, em disco, aconteceu em 1952, quando gravou dois sambas para o Carnaval de 1953: Que bom será de Ailce Chaves, Salvador Miceli e Paulo Marques e Já não interessa de Domício Costa e Roberto Faissal.

Em 1953 Dolores gravou Outono, de Billy Blanco e Lama, de Paulo Marques e Ailce Chaves. Mas só começou a se tornar conhecida do grande público em 1954, quando gravou Tradição, de Ismael Silva; Bom é querer bem, de Fernando Lobo; O amor acontece, de Celso Cavalcanti e Flávio Cavalcanti; e, principalmente, Canção da volta, de Antonio Maria e Ismael Neto, música que deu uma maior dimensão à nova cantora.

Em 1955 Dolores apresentou-se em Punta Del Este, no Uruguai. Neste mesmo ano gravou Praça Mauá, de Billy Blanco; Carioca 1954, de Antonio Maria e Ismael Neto; Manias, dos irmãos Celso e Flávio Cavalcanti; e Prá que falar de mim, de Ismael e Macedo Neto, cuja gravação acabou aproximando Dolores de Macedo Neto. Após um rápido namoro, acabaram se casando no dia 8 de julho de 1955. Ainda de 1955 é a primeira composição de Dolores, feita em parceria com Tom Jobim: Se é por falta de adeus, que foi gravada por Dóris Monteiro.

De 1956 é um dos maiores sucessos de Dolores como intérprete: Filha de Chico Brito, de Chico Anísio. Mesmo fazendo sucesso, Dolores parecia insatisfeita e resolveu dar novo rumo à sua carreira, trocando a boate pelo circo. Assim, passou a integrar a Caravana Paulo Gracindo, que atuava nos pavilhões armados nos subúrbios cariocas e onde atuou junto com Adelaide Chiozzo, Blecaute, Rui Rei, Carmen Costa e Carlos Matos, entre outros. Neste ano Dolores viajou para a Argentina, com o violonista Bola Sete e seu Conjunto e para o Uruguai, onde se apresentou na Rádio Carve e na Boate Club de Paris.

Em 1957, Tom Jobim, que ainda era praticamente desconhecido do grande público, mostrou a Dolores uma composição feita em parceria com Vinícius de Moraes. Entusiasmada com a melodia, Dolores fez uma letra, à qual Vinícius se rendeu, rasgando, humildemente, a própria letra; assim surgiu Por causa de você.

Ainda em 1957 Dolores compôs, em parceria com Fernando César, a toada Só ficou a saudade e, em parceria com Tom Jobim, o samba-canção Estrada do sol, a composição mais original da dupla, principalmente pela música de Tom Jobim, que prenunciava o que ele faria na bossa nova. "Estrada do sol" pode ser considerada um dos primeiros impulsos em direção à esse movimento.

Em 1958 Dolores separou-se de Macedo Neto. Nesse mesmo ano, junto com Jorge Goulart, Nora Ney, Conjunto Farroupilha e outros artistas, excursionou pela União Soviética. O sucesso foi tão grande que eles foram convidados a ir à China. Mas, em virtude de desentendimentos, Dolores separou-se do grupo e foi para Paris, onde permaneceu um mês, apresentando-se num barzinho freqüentado por brasileiros. De volta ao Rio de Janeiro, Dolores pediu ao pianista Ribamar que musicasse Quem sou eu? que Dolores havia escrito durante a viagem Moscou-Paris.

Também de 1958 é a composição de Dolores, Castigo, uma de suas músicas de maior destaque do chamado "estilo fossa" e que foi um dos maiores sucessos da década de 50, transformando-se em clássico da música romântica.

Em 1959, em parceria com Edson Borges, Dolores compôs Canção da Tristeza, Deus me perdoe, Tome continha de você e Olha o tempo passando. O samba-canção Pela rua foi gravado por Marisa Gata Mansa e incluído em seu primeiro e histórico LP.

Muitas vezes Dolores escrevia os versos e guardava a melodia na memória, para depois cantarolá-la para um eventual parceiro. Assim foram feitas algumas de suas melhores obras, como é o caso do samba-canção Solidão. Embora seja uma das composições mais famosas de Dolores Duran e tenha sido gravado por muitos intérpretes que o transformaram em sucesso, o samba-canção abolerado Fim de caso passou praticamente despercebido quando da sua primeira gravação, feita pela própria Dolores, em setembro de 1959. A letra é de um sentido poético notável e a música acompanha com perfeição o crescente desconsolo dos versos.

Outra composição de Dolores, que só veio a fazer sucesso mais tarde, foi o samba-canção A noite do meu bem, também gravado por Dolores em setembro de 1959, não obtendo, na época, grande repercussão.

Desde menina Dolores apresentava problemas de saúde, provocados por reumatismo infeccioso. Dolores Duran morreu dormindo, no dia 23 de outubro de 1959, depois de ter cantado na boate Little Club e de ter dado um "esticada", junto com amigos, no Clube da Aeronáutica e no Kilt Club. Não se sabe se sua morte foi provocada por distúrbios cardíacos ou por dose excessiva de barbitúricos.

Naquela mesma noite de 23 de outubro, Marisa Gata Mansa, amiga íntima de Dolores, tinha estréia marcada no Bom Gourmet, onde iria mostrar a mais recente composição de Dolores: Noite de paz. Com Marisa Gata Mansa haviam ficado alguns versos de Dolores, que foram musicados por Ribamar após a morte da compositora, como é o caso de Ternura antiga e Quem foi?.

Algumas músicas e cifras



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Fonte: memórias da mpb - Samira Prioli Jayme.

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