domingo, 23 de abril de 2006

Cidade Maravilhosa


A própria introdução parece ter sido feita para preceder um hino, com as notas do acorde fundamental de um clarim. É um chamamento alegre, até imponente, porém sem a sisudez de uma marcha militar, o que não lhe tirou a vez de ser escolhida como hino oficial do Rio de Janeiro trinta anos depois de seu lançamento. Mas, "Cidade Maravilhosa" é também um dos hinos do carnaval brasileiro, cantado com muito empenho nos salões, pois, quando a fanfarra ataca a introdução, avisa a todos que o baile esta chegando ao fim.

No início da década de 1930, o Rio era embelezado com a estátua do Cristo Redentor e a modernização de vários trechos da cidade, criando maiores condições para deixar o turista maravilhado. Foi nesta ocasião que, motivado por uma promoção chamada Festa da Mocidade, em que se elegia a Rainha da Primavera, André Filho compôs "Cidade Maravilhosa".

O título reproduzia uma expressão consagrada pelo escritor Coelho Neto. Gravada em 04.09.34, a marcha teve como intérprete Aurora Miranda, acompanhada pelo autor. A escolha de Aurora, uma iniciante de dezenove anos, refletia de certo modo a tendência de romper com uma constante da época: a hegemonia masculina na gravação do repertório carnavalesco.

Já favorita do público, "Cidade Maravilhosa" foi inscrita no concurso de marchas para o carnaval de 35, obtendo somente o segundo lugar, resultado que indignou André Filho. O esquecimento total relegado à vencedora, "Coração Ingrato" (de Nássara e Frazão), provaria a injustiça do julgamento.

Evocativa na segunda parte, que retorna à primeira numa modulação singela, a composição é vibrante no refrão. Este não se repete de modo rigorosamente igual, seguindo, assim, um esquema próprio dos grandes compositores populares: na repetição, os compassos finais sofrem uma alteração melódica que induz a primeira parte do refrão a duas de suas funções primordiais, sejam elas, a preparação para a segunda parte e o encerramento.

Acusada por alguns de ter sido inspirada num trecho do 3° ato da ópera "La Bohème", de Puccini, "Cidade Maravilhosa" permanece no tempo, cantada por gerações sucessivas, já fazendo parte da memória musical brasileira como um dos seus clássicos mais conhecidos.

Cidade Maravilhosa (marcha/carnaval, 1934) - André Filho - Intérpretes: Aurora Miranda e André Filho

Disco 78 rpm / Título da música: Cidade maravilhosa / André Filho (Compositor) / André Filho (Intérprete) / Aurora Miranda (Intérprete) / Orquestra Odeon (Acomp.) / Gravadora: Odeon / Gravação: 04/09/1934 / Lançamento: 10/1934 / Nº do Álbum: 11154 / Nº da Matriz: 4901 / Gênero musical: Marcha / Coleções de origem: IMS, Nirez

Tom: C
Introd.: C Bb A7 F F#o C D7 C Am Dm G7 C

C           Dm   G7
Cidade Maravilhosa
Dm   G7           C   F7
Cheia de encantos mil
Em     Ebo   Dm  A7
Cidade Maravilhosa
Dm         G7      C  G7
Coração do meu Brasil
C           Dm   G7
Cidade Maravilhosa
Dm   G7           C   C7
Cheia de encantos mil
Fm  Bb      C
Cidade Maravilhosa
G7                C
Coração do meu Brasil
C7  Fm  Bb7      C  Am
Cidade Maravilhosa
Dm         G7     C
Coração do meu Brasil
Cm                 D7         Ab7
Berço do Samba e das lindas canções
Dm        G7      Cm
Que vivem na alma da gente
Fm       G7                Cm
És o altar de nossos corações
Ab7       G7      C   G7
Que cantam alegremente


Fontes: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34; Discografia Brasileira - IMS; Instituto Moreira Salles.

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