domingo, 25 de novembro de 2007

Teatro de Revista - Parte 2

Parte Final: O Luxo e a Decadência

"Depois de largo período de entrosamento com o samba, o Teatro de Revista se volta para o luxo e abandona a faceta de lançador de sucessos, até que a censura e a televisão o levam à decadência."

Manuel Pinto foi um dos empresários mais bem sucedidos do teatro de revista, no início do século. Coube a Walter Pinto herdar o gosto do pai pelo negócio, fazê-lo crescer e tornar-se um dos mais ricos produtores do setor. Para isso, contribuíram alguns fatores que acabaram por influir na própria cultura popular carioca e, mais remotamente, brasileira.

A fim de ganhar mais dinheiro que o pai, Walter Pinto ousou mais. Investiu, procurou caminhos diferentes, modificou esquemas e teve êxito. Quem se deu mal nesse contexto foi o samba, a médio prazo.

Ao assumir, o novo empresário decidiu que ninguém teria mais destaque que ele em seus espetáculos. Assim, durante anos, uma enorme fotografia sua aparecia no cartaz do teatro e nos anúncios dos jornais, garantindo: Walter Pinto apresenta. E seguiam-se os nomes (sem fotografia de ninguém) dos mais famosos artistas do teatro de revista, em ordem de importância, as vedetes, os comediantes, as modelos, as atrações. Com isso, criou sua marca registrada.

As pessoas não iam ao teatro ver esse ou aquele artista; iam ver um espetáculo de Walter Pinto, o que era sinônimo de qualidade. Ao menos da qualidade que seu gosto passou a impor, modificando inteiramente o conceito de se fazer revista, vigente até os anos 40. Da mesma forma que a Ba-Ta-Clan e outras companhias de revista européias mudaram o formato revisteiro no princípio do século, Walter Pinto voltaria a fazê-lo, nesse momento de transformação.

A diferença foi que, na primeira reviravolta, o samba ganhou espaço para se apresentar. O talento das estrelas estava centrado nas vozes e interpretações, embora a beleza das pernas e demais atributos físicos fossem também da maior importância. Mas, quem não cantasse bem, não se escorasse em um bom samba inédito a cada estréia, teria carreira curta e dificilmente chegaria ao estrelato.

Luxuosa montagem de Walter Pinto, anos 40
Uma das primeiras luxuosas montagens de Walter Pinto, no Teatro Recreio, no Rio de Janeiro, nos anos 40.
Com o advento da era Pinto, tudo mudou, O eixo do talento foi transferido, o essencial era a beleza física e, principalmente, o desembaraço no trato com o público. Para ser vedete, era fundamental o jogo de cintura, que permitia enfrentar o chamado “número de platéia”. Nele, a atriz, em trajes mínimos, depois da breve introdução de um assunto malicioso, dialogava com a platéia e tinha que ter a necessária rapidez de raciocínio para responder, quase sempre com duplo sentido, a quaisquer perguntas, sem se deixar embaraçar, expondo o espectador ao riso dos demais. Se cantasse um pouquinho, já estava bom. Samba, nem pensar!

Em termos cenográficos, as inspirações eram importadas dos grandes shows da Broadway e dos cassinos de Las Vegas, nos Estados Unidos. O Follies Bergère e o Lido, parisienses, também eram fontes de informações para espetáculos estruturados em monumental aparato, procurando imitar os musicais que Hollywood produzia e distribuía para o mundo.

Com o êxito financeiro, Walter Pinto viajava com freqüência para o exterior, onde, além de comprar luxuosas fantasias para seu guarda-roupa cênico, contratava coristas e vedetes de rara beleza e tipos físicos bastante diferentes das brasileiras, criando forte aura de curiosidade e desejo ao redor delas.

Francesas, inglesas, americanas e, mais modestamente, argentinas eram vistas em geral nas leiterias da praça Tiradentes, antes e depois dos espetáculos, como se estivessem com tranqüilidade em Picadilly Circus, na Broadway, em Pigalle, ou na Avenida Corrientes. Duas brasileiras, porém, conseguiram atravessar a cortina de seda das estrangeiras e marcar seus nomes como as mais importantes vedetes dos meados do século.

Em 1944, Walter Pinto estreou no Teatro Recreio, a revista Momo Na Fila, de Geysa Bôscoli e Luiz Peixoto. A estrela era Dercy Gonçalves, mas, lá atrás, nas últimas fileiras das coristas, alinhava-se uma paraense loira e linda, recém-chegada ao Rio de Janeiro, desquitada e com filhos, cujo primeiro emprego foi-lhe dado pelo empresário Pinto. Na carteira de trabalho, o nome Osmarina Colares Cintra. Em muito pouco tempo, transformou-se em Mara Rúbia (foto logo acima neste artigo), nome que passou a ser escrito em destaque, com luzes, na marquise do mais famoso teatro de revista do Brasil. Mara Rúbia, durante anos, foi apontada pela metade do país como a maior vedete brasileira.

A outra metade tinha favorita diferente. Uma que contava com as preferências de ninguém menos que Getúlio Vargas, presidente da República, que assistia a todas as revistas do Recreio e tinha pendor especial por Virgínia Lane (foto ao lado), a quem deu o apelido que ela adotou para sempre: a Vedete do Brasil. Procedente dos cassinos, tarimbadíssima no “número de platéia”, a pequenina Virgínia tinha tal presença em cena que parecia crescer a quase um metro e oitenta e ombrear-se com as espigadas coristas que Walter Pinto importava do outro lado do mundo, mas que acabavam por servir apenas de moldura à baixinha, dentucinha, mas talentosíssima estrela do Recreio, de mais ou menos 20 anos.

Já não havia definitivamente espaço para o samba, no teatro de revista. Quando um ou outro aparecia, era simples repetição de sucesso já ditado pelo rádio ou alguma paródia política que usava a música de um deles em voga, para criticar alguma coisa ou alguém. Nunca mais um samba inédito foi lançado em um palco do teatro de revista, que agora se refestelava na grandeza e no luxo das bem-cuidadas cenografias, dos guarda-roupas deslumbrantes e na sensualidade de mulheres belíssimas, das quais a arte de cantar era o que menos se exigia.

Enquanto a concorrência à revista se limitou aos shows das luxuosas boates cariocas, da ainda capital da República, confinando-se aos pequenos palcos do Golden Room do Copacabana Palace Hotel, das boates Casablanca, Night and Day, Montecarlo, Fred’s e congêneres, Walter Pinto reinou absoluto na praça Tiradentes, de onde saía para incursões por São Paulo, Belo Horizonte ou Porto Alegre, deixando espaço, por pouco tempo, para companhias menores.

Mas, quando a censura política amordaçou os comediantes do teatro de revista, abrindo as portas para a pornografia explícita, e a televisão roubou-lhe os elencos, pagando melhor, ele, praticamente, encerrou as atividades e com elas um período marcante, que, a partir daí, foi só decadência.

Fonte: História do Samba - Editora Globo.

Ademar Casé

Ademar Casé (1902-1993), radialista brasileiro, pai do diretor de teatro e TV Geraldo Casé e avô da atriz Regina Casé. Criador da primeira grande atração do rádio no Brasil, o Programa Casé, começou sua carreira vendendo aparelhos radiofônicos de porta em porta.

Sua técnica de vendas era inusitada: deixava o rádio na casa do freguês em potencial e quando voltava, dias depois, a venda estava garantida. Por seu grande sucesso como vendedor, teve acesso à direção do fabricante dos aparelhos, a Philips, com a qual conseguiu o aluguel de duas horas semanais em sua emissora.

Em 1932, colocou no ar o Programa Casé, que lançaria nomes como Almirante, Nássara, Sadi Cabral e Haroldo Barbosa, entre outros.

Neste programa, famosíssimo nos anos 1930 e 1940, Nássara criou o primeiro jingle brasileiro, Noel Rosa foi contra-regra e Carlos Lacerda, locutor.

Mais vendedor do que artista, Casé foi um pioneiro do rádio, combinando tino comercial e bom humor.

Neco

Neco (Manuel Antenor de Souza), compositor e cantor, nasceu em Petrópolis (RJ), em 25/05/1893 e faleceu em 24/05/1968. Aprendeu a tocar violão com irmão, Paulino, na época em que trabalhava como tecelão na fábrica Santa Helena, em Petrópolis. Aos 17 anos foi para o Rio de Janeiro e, um ano depois, já compunha e cantava suas modinhas.

Em 1912 compôs sua primeira música, Amor ingrato, que ele mesmo gravaria em disco da Casa Faulhaber, um dos maiores sucessos de sua carreira. Compôs nas duas primeiras décadas do século as modinhas Meu anjo, escuta, Sou teu escravo, Por que desprezas?, Simples desejos, Por teu sorriso, e o lundu A mulata carioca.

Retornando à Petrópolis em 1913, voltou a trabalhar como tecelão, depois como chofer de táxi e funcionário dos Correios e Telégrafos. Sem deixar a música de lado, tocava em conjuntos de jazz nos clubes locais e continuou a compor.

Na década de 1950, sua música Amor ingrato foi regravada por Silvinho, com êxito. Em 1950, já aposentado dos Correios e Telégrafos, compôs, com Fernando Martins o samba Nunca mais digo adeus, obtendo grande destaque.

Entre seus maiores sucessos estão a valsa Meu maior pecado (com Mário Rossi), 1949; Uma saudade a mais, valsa (1951); Alice, baião (1955); o bolero O pranto dos meus olhos (com D. Carvalho) e As águas correm para os rios, gravado por Marco Antônio.

Em 1964 encerrou sua carreira de compositor com o samba de carnaval Foi ela (com Darci de Souza), e a marcha Oito garrinhas (com Darci de Souza e Marcílio Lopes).

Obras:

Amor ingrato, modinha, 1912; Foi ela (c/Darci de Sousa), samba, 1964; Meu anjo, escuta, modinha, s.d.; Meu maior pecado (c/Mário Rossi), valsa, 1949; A mulata carioca, lundu, s.d.; Nunca mais digo adeus (c/Fernando Martins), samba, 1950; Uma saudade a mais, valsa, 1951.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora - PubliFolha.

Manduca do Catumbi

Manduca do Catumbi, violonista, nascido (circa 1842) e falecido (circa 1920), provavelmente na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Era padrinho de batismo do compositor e violonista Heitor Catumbi. Morava no Catumbi, bairro carioca do qual herdou o apelido.

Trabalhou em uma litografia na Rua da Assembléia. Faleceu em uma festa de núpcias, enquanto executava uma valsa. Acompanhador e solista muito famoso entre os chorões da velha guarda. Gostava de cantar lundus ao violão.

Segundo Alexandre Gonçalves Pinto, em seu livro O Choro (Reminiscências dos chorões antigos), tocava com a cabeça caída sobre o instrumento e usava anéis de latão cravejados de pedras falsas:

"Manduca de Catumby era um chorão celebre de gloriosa tradição, typo idoso, de cor parda, de alta estatura e usava a cabelleira partida ao meio e a tradicional sobre-casaca, trabalhava numa litographia na rua da Assembléa, trazia nos dedos uns aneis de latão com pedras de vidro, e quando dedilhava o violão que era o seu instrumento chamava a attenção dos assistentes pelo brilho das pedras falsas focalizadas pelo reflexo da luz do lampeão."

"... era um chorão solista e bom acompanhador que pouco se utilizava dos bordões, porém, fazia proezas nas cordas de tripas, sendo por esta razão respeitado e admirado por outros chorões, em bora não tendo elegancia, pois tocava com a cabeça cahida sobre o instrumento, sabia tirar partido nos chôros que executava, ainda possuía uma outra especialidade: tocava com gosto e não se tornava rogado aos pedidos que lhe eram solicitados, era calmo, concentrado, modesto, e de expressões delicadas e muito considerado pelo modo, porque se sabia conduzir entre outros chorões, de seu tempo, eis porque digo que Manduca de Catumby, fez a sua época no tempo que os violões não estavam valorizados como hoje se acham. Aqui, nestas linhas, fica descripto o perfil pouco mais ou menos de um chorão da velha guarda."

Fontes: O Choro (Reminiscências dos chorões antigos), 1936- Alexandre Gonçalves Pinto; Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.