domingo, 3 de outubro de 2010

Ivan Taborda

Ivan Taborda nasceu em São Gabriel, RS,  e iniciou sua carreira nos anos de 1958 e 1959 cantando sozinho e já fazendo humorismo em suas apresentações. Em 1974 junto de Benone Botega formou a dupla “Os Maragatos”, a primeira gravação da dupla foi “O baile do seu Amaranto”.

Consta que a dupla chegou a fazer uma apresentação musical, na época, para o presidente Geisel.

Autentica imagem gaúcha, de bombacha larga, vocabulário carregado com palavras regionais e sotaque sulino. Em suas prosas sempre gosta de ressaltar algum acontecido, contando causos muitas vezes cômicos, outros carregados de saudade.

Ex-motorista do Palácio Iguaçu nos anos 60, o gaúcho Ivan Taborda acabou encontrando seu espaço no Sudoeste do Paraná. Acordeonista e cantor, Taborda - gaúcho de vastos bigodes, aparência saudável do homem do Sul (o que o fez, inclusive, ser requisitado para muitos comerciais de televisão) tem já uma discografia ampla. 

Buscando o humor e o informal em suas gravações - preferindo, aliás, algumas vezes ficar mais como contador de causos do que cantador, Taborda tem um público seguro que garante a absorção de seus discos no interior do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 

Seu novo lp ("As Proezas do Pedro Bino", Chantecler) - 15º de uma carreira de muitos êxitos - alterna as suas próprias (e bem humoradas) composições - como o contrapasso que dá título ao disco, os xotes "Gaúcho de Bossoroca", a toada milongueira "Cantigas do Cruzador", a chamarrita "Minha Filha", também músicas de outros autores do Sul. 

É o caso do delicioso "É Mentira Dele" do saudoso Pedro Raimundo (Imaruí, SC, 29/6/1906 - Rio de Janeiro, 9/7/1973) - intérprete regionalista cuja vida e obra acaba de merecer um ensaio do pesquisador Israel Lopes, de Santa Maria, RS - com edição prevista pela Editora Tchê!, de Porto Alegre, na série "Esses Gaúchos" (embora Pedro Raimundo fosse catarinense de nascimento). 

Ivan Taborda é um intérprete e criador de forte personalidade, que sem se fixar no Nativismo - inclusive por estar há anos fora do Rio Grande do Sul - traz músicas interessantes e bem-humoradas, que merecem atenção.






Versão gaudéria da Bíblia

A versão gaudéria da Bíblia ou "O causo das escrituras"

Pois não sei se já les contei o causo das Escritura Sagrada. Se não les contei, les conto agora. A história essa é meio comprida, mas vale a pena contá por causo dos revertério. De Adão e Eva acho que não é perciso contá os causo, porque todo mundo sabe que os dois foram corrido do Paraíso por tomá banho pelado numa sanga. Naqueles tempo, esse mundaréu todo era um pasto só sem dono, onde não tinha nem dele nem meu.

O primeiro índio a botá cerca de arame foi um tal de Abel. Mas nem chegou a estendê o primeiro fio porque levou um pontaço no peito, do irmão dele, um tal de Caim, que tava meio desconforme com a divisão. O Caim, estonces, ameaçado de processo feio, se bandeou pro Uruguai.

Deixou o filho dele, um tal de Nóe, tomando conta da estância. A estância essa ficava nas barranca de uma corredera e o Noé, uns anos despois, pegou uma enchente muito feia pela frente. Cosa muito séria. Caiu água uma barbaridade. Caiu tanta água que tinha até índio pescando jundiá em cima de cerro.

O Noé entonces botou as criação em cima de uma balsa e se alargou nas correnteza, eta índio velho. A enchente era tão braba que quando o Nóe se deu conta a balsa tava atolada num banhado chamado Dilúvio. Foi aí que um tal de Moiséis varou aquela água toda com vinte junta de boi e tirou a balsa do atoleiro. Bueno, aí com aquele desporpósito, as família ficaram amiga.

A filha mais velha do Noé se casou-se com o filho mais novo do Moisés e os dois foram morá numa estância muito linda, chamada estância da Babilônica.

Bueno, tavam as família ali, tomando mate no galpão, quando se chegou um correntino chamado Golias, com mais uns trinta castelhano do lado dele.

Abriaram a cordeona e quiseram obrigá as prenda a dançá uma milonga. Foi quando os velho, que eram de muito respeito, se queimaram e deu-se o entrevero. Pelia braba, seu. O correntino Golias, na voz de vamo, já se foi e degolou de um talho só o Noé e o velho Moisés.

E já tava largando planchaço em cima do mulherio quando um piazito carreteo, de seus dez ano e pico, chamado Davi, largou um bodocaço no meio da testa do infeliz que não teve nem graça! Foi me acudam e tou morto.

Aí a indiada toda se animou e degolaram os castelhano. Dois que tinham desrespeitado as prenda foram degolado com o lado cego do facão. Foi uma sangüera danada. Tanto que até hoje aquele capão é chamado de Mar Vermelho.

Mas entonces foi nomeado delegado um tal de major Salomão. Homem de cabelo nas venta, o major Salomão. Nem les conto!

Um dia o índio tava sesteando quando duas velha se bateram em cima dum guri de seus seis ano que tava vendendo pastel. O major Salomão, muito chagado ao piazito, passou a mão no facão e de um talho só, cortou as velha em dois. Esse é o muito falado causo do Prejuízo de Salomão que contam por aí.

Mas, por essas estimativas, o major Samolão, o que tinha de brabo tinha de mulherengo. Eta índio bueno, seu. Onde boleava a perna, já deixava filho feito. E como vivia boleando a perna, teve filho que Deus nos livre. E tudo com a cara dele, que era pra não havê discordância. Só que quando Deus nosso Senhor quer, até égua véia nega estribo.

Logo a filha das predileção do major Salomão, a tal de Maria Madalena, fugiu da estância e foi sê china no bolicho. Uma vergonhera pra família. Mas ela puxou a mãe, que era uma paraguaia meio gaudéria que nunca tomô jeito na vida.
O pobre do major Salomão se matou-se de sentimento, com uma pistola Eclesiaste de dois cano.

Mas, vejam como é a vida. Pois essa mesma Maria Madalena se casou-se três ano despois com um tal coronel Ponciano Pilatos.

Foi ele que tirou ela da vida. Eu conheço uns três caso do mesmo feitio e nem um deles deu certo. Como dizia muito bem o finado meu pai, mulher quando toma mate em muita bomba, nunca mais se acostuma com uma só. Mas nesses contraproducente, até que houve uma contrapartida.

O coronel Ponciano Pilatos e a Maria Madalena tiveram doze filho, os tal de aposto, que são muito conhecido pelas caridade que fizeram. Foi até na casa deles que Jesus Cristo churrasqueou com a cunhada de Maria Madalena, que despois foi santa muito afamada. A tal de Santa Ceia.

Pois era uns tempo muito mal definido. Andava uma seca braba pelos campo. São José e a Virge Maria tinham perdido todo o gado e só tavam com uma mula branca no potrero, chamada Samaritana. Um rico animal, criado em casa, que só faltava falá. Pois tiveram que se desfazê do pobre.

E como as desgraça quando vem, já vem de braço dado, foi bem aí que estouraram as revolução. Os maragato, chefiado por um tal coronel Jordão, acamparam na entrada da vila.

Só não entraram proque tava lá um destacamento comandado pelo tenente Lazo, aquele mesmo que por duas vezes foi dado por morto.

Mas aí um cabo dos provisório, um tal de cabo Judas, se passou-se pros maragato e já se veio uns tal de Romano, que tavam numas várzeas, e ocuparam a vila. Nosso Senhor foi preso pra ser degolado por um guasca muito forte e muito feio chamado Calvário. Pois vejam como é a vida. Esse mesmo Calvário, degolador muito mal afamado, era filho da velha Palestina, que tinha sido cozinheira da Virge Maria.

Degolador é como cobra, desde pequeno já nasce ingrato. Mas entonces botaram Nosso Senhor na cadeia, junto com dois abigeatário, um tal de João Batista e o primo dele, Heródio dos Reis.

Os dois tinham peleado por causo de uma baiana chamada Salomé e no entrevero balearam dois padre, Monsenhor Caifás e Cônego Atanásio.

Mas aí veio uma força da Brigada, comandada pelo coronel Jesus Além, que era meio parente do homem por parte de mãe e com ele veio mais três corpo de provisório e se pegaram com os maragatos. Foi a peleia mais feia que se tem conhecimento, Foi quarenta dia e quarenta noite de bala e bala.

Morreu três santo na luta: São Lucas, São João e São Marco. São Mateus fico três mês morre não morre, mas teve umas atenunante a favor e salvou-se de lado a lado. Ainda levou mais um pontaço do mais velho dos Romano, o César Romano, na altura da costela.

Ferimento muito grave que Nosso Senhor curou tomando vinagre na Sexta-feira da paixão. Mas aí, Nosso Senhor se disiludiu-se nos home, subiu na cruz, disse adeus pros amigo e se mandou-se de volta pro céu. Mas deixou os dez mandamentos, que são cinco e que pode mutio bem acolher em dois "não se mata home pelas costa, nem se cobiça mulher dos outro pela frente."

Fonte: Puxa o banco e senta, que tá na hora do chimarrão - cifraclub.

Os dez mandamentos do chimarrão

Os dez mandamentos do chimarrão ou "As regras do bom comportamento numa roda de mate" :

Não peças nunca açúcar no mate

O gaúcho aprende desde piazito que e por que o chimarrão se chama também mate amargo ou, mais intimamente, amargo apenas. Mas, se tu és dos que vêm de outros pagos, mesmo sabendo poderás achar que é amargo demais e cometer o maior sacrilégio que alguém pode imaginar neste pedaço de Brasil: pedir açúcar. Pode-se por água, ervas exóticas, cana, frutas, dólar, etc..., mas jamais açúcar. O gaúcho pode ter todos os defeitos do mundo, mas não merece ouvir um pedido desses. Portanto, tchê, se o chimarrão te parece amargo demais, não hesites, pede uma Coca-Cola com canudinho que tu vais te sentir bem melhor...

Não digas que o chimarrão é anti-higiênico

Tu podes achar que é anti-higiênico pôr a boca onde todo mundo põe. Claro que é, só que tu não tens o direito de proferir tamanha blasfêmia em se tratando de Chimarrão. Repito, pede uma Coca-Cola com canudinho. O canudo é puro como água de sanga (pode haver coliformes fecais e estafilococos dentro da garrafa. Não nele).

Não digas que o mate está quente demais

Se todos estão chimarreando sem reclamar da temperatura da água, é porque ela é perfeitamente suportável por pessoas normais. Se tu não és uma pessoa normal, assume e não te fresqueis. Se, porém te julgas perfeitamente igual as demais, faze o seguinte: vai para o Paraguai. Tu vais adorar o chimarrão de lá.

Não deixes um mate pela metade

Apesar da grande semelhança que existe entre o chimarrão e o cachimbo da paz, há diferenças fundamentais. Com o cachimbo da paz, cada um dá uma tragada e passa adiante. Já o chimarrão, não. Tu deves tomar toda a água servida, até ouvir o ronco da cuia vazia. A propósito, leia logo o mandamento seguinte.

Não te envergonhes do ronco no fim do mate

Se, ao acabar o mate, sem querer fizeres a bomba "roncar", não te envergonhes. Está tudo bem, ninguém vai te julgar um mal educado. Este negócio de chupar sem fazer barulho vale para a Coca-Cola com canudinho, que tu podes até tomar com o dedinho levantado.

Não mexas na bomba

A bomba do chimarrão pode muito bem entupir, seja por culpa dela mesmo, da erva ou de quem preparou o mate. Se isso acontecer, tens todo o direito de reclamar. Mas, por favor, não mexas na bomba. Fale com quem lhe ofereceu o mate ou com quem lhe passou a cuia. Mas não mexas na bomba, não mexas na bomba e, sobretudo, não mexas na bomba.

Não alteres a ordem em que o mate é servido

Roda de chimarrão funciona como cavalo de leiteiro. A cuia passa de mão em mão, sempre na mesma ordem. Para entrar na roda, qualquer hora serve, mas, depois de entrar, espera sempre a tua vez, e não queiras favorecer ninguém, mesmo que seja a mais prendada prenda do Estado.

Não durmas com a cuia na mão

Tomar mate solito é um excelente meio de meditar sobre as coisas da vida. Tu mateias sem pressa, matutando. E às vezes, te surpreendes até imaginando que a cuia não é cuia, mas o quente seio moreno daquela chinoca faceira que, apareceu no baile do Gaudério... Agora, tomar chimarrão numa roda é muito diferente. Aí, o fundamental não é meditar e sim integrar-se à roda. Numa roda de chimarrão tu falas, discutes, ris, xingas, enfim, tu participas de uma comunidade em confraternização. Só que esta tua participação não pode ser levada ao extremo de te fazer esquecer da cuia que está em tua mão. Fala quanto quiseres mas não esqueças de tomar teu mate, que a moçada tá esperando.

Não condenes o dono da casa por tomar o 1º mate

Se tu julgas o dono da casa um grosso por preparar o chimarrão e tomar ele próprio primeiro, saibas que o grosso és tu. O pior mate é o primeiro e quem toma está te prestando um favor.

Não digas que o chimarrão dá câncer na garganta

Pode até dar. Mas não vai ser tu, que pela primeira vez pegas na cuia, que irás dizer, com ar de entendido, que o chimarrão é cancerígeno. Se aceitaste o mate que te ofereceram, toma e esquece o câncer. Se não der pra esquecer, faze o seguinte: pede uma Coca-Cola com canudinho que ela.... etc... etc...

Na casa do Zé Bedeu

Pedro Raimundo
Na casa do Zé Bedeu (polquinha, 1947) - Pedro Raimundo

Título da música: Na casa do Zebedeu / Gênero musical: Tanguinho / Intérprete: Pedro Raimundo / Compositor: Pedro Raimundo / Gravadora Phonodisc / Nome do Álbum: Adeus Mariana / Número do Álbum 0.30-404-122 / Data de Gravação 00/1977 / Data de Lançamento 00/1977 / Lado: lado B/ / Rotações Disco 33 1/3 rpm / Estereo:



Eu vou contá pra vocês / Tudo que aconteceu
Na noite de São João / Na casa do Zé Bedeu
Pela volta das seis horas / Tava grossa a brincadeira
Zé Bedeu gritou: / -Moçada, vâmo acender a fogueira!

Nos fomos todo pra rua / Fizemo roda cantá
Quando fogueira acendeu / Todo mundo quis pulá:
Zé Bedeu foi o primeiro / A cair na brincadeira
Foi pulá de mão no bolso / Caiu dentro da fogueira!

A velha Chica Lorota / Que estava toda animada
Foi pulá caiu a saia / Ficou toda sapecada!
Quando foi as nove hora / Zé Bedeu veio avisar:
-Vamos todos pro salão / Que o baile vai começar!

Quando foi as onze hora / Zé Bedeu gritou assim:
-Vamos todos na cozinha / Tem batata e aipim
Os véio tão proibido / De comer amendoim!
Todo mundo foi comendo / Inté alta madrugada
Zé Bedeu gritou assim: / -Atenção, minha moçada
Vamos todo pro salão / Prá soltar a foguetada!

Os menino e as menina / Só por serem pequenino
Não deixaram soltá bomba / Mas soltavam foguetinho
Estas mocinha de hoje / Toda cheia de coisinha
Não quiseram soltá bomba / Pra mode soltá rodinha

O rapaz envergonhado / Só pro mode as muié
Não quiseram soltá bomba / Mas soltavam buscapé
Os velhos foram chegando / Todos de chapéu na mão
Soltaram um no meio da sala / E soltaram um bomba-rojão

A sogra do Zé Bedeu / Também se alvoroçou
Foi soltá um foguetão / Mas o marvado faió
As velha se revoltaram / Deram logo um contra-ataque
Como não tinha mais bomba / Só soltaram um trique-traque

Zé Bedeu ficou danado / Com tamanha confusão
Chegou no meio da sala / E deu um tiro de canhão
Tinha gente que anuncia lá / Que tudo isto aconteceu
Na noite de São João / Na casa do Zé Bedeu
A todos muito obrigado / Quem vai se embora sou eu...


Pedro Raimundo e a música gaúcha

A música regionalista do Rio Grande do Sul teve uma grande contribuição da música portuguesa e espanhola (da Península Ibérica) que vieram na alma dos colonizadores, como também recebeu a contribuição do imigrante alemão, do imigrante italiano, a influência do índio, do negro e do platino, conforme as pesquisas dos folcloristas Barbosa Lessa e Paixão Côrtes, registradas no livro Danças e Andanças da Tradição Gaúcha (1975).

Mas eles também registram, como adiante irei mencionar, que a música regionalista do Rio Grande do Sul, teve grande influência da milonga argentina e da música sertaneja, principalmente na música caipira de São Paulo, através dos programas de rádio.

Pedro Raimundo foi o grande pioneiro da música regionalista do Rio Grande do Sul. Barbosa Lessa e Paixão Côrtes, no livro mencionado, registraram:

“Nos cafés e bares “da volta do Mercado”, concorridíssimos, ganha aplausos um cantador de nome Pedro Raimundo – natural de Santa Catarina mas bem representativo do Rio Grande na sua maneira “largada” de interpretar, à gaita-piano, animados xotes e polquinhas”.

Em 1940 Pedro Raimundo criou o Programa “Pedro Raimundo e seu conjunto Quarteto dos Tauras”, ao microfone da Rádio Gaúcha de Porto Alegre, e passou a divulgar os nossos ritmos gauchescos. Paixão e Lessa, na obra citada, ainda registram o grande pioneirismo do catarinense, gaúcho de coração:

“Pedro Raimundo deixa em seu lugar, nos shows da “volta do Mercado”, um outro gaiteiro, Oswaldinho, e vai tentar a sorte no Rio. Pouco depois está colhendo aplausos no auditório da Rádio Nacional. E grava a primeira música gauchesca de sucesso nacional: o xote “Adeus, Mariana!

Isso foi em 1943, que Pedro Raimundo radicou-se no Rio de Janeiro e gravou essa música. Cantava na Rádio Nacional, que era a maior vitrine, a maior mídia da época, na divulgação dos artistas brasileiros, sintonizada em todo Brasil. Nesses programas de auditórios, como aquele do Almirante, ele se apresentava pilchado, de bombachas, botas, esporas, lenço ao pescoço, chapéu preto de barbicacho, jogado às costas, representando os usos e costumes do Rio Grande do Sul.

Excursionou por todo o Brasil, vestindo a pilcha gaúcha, e interpretando com sua cordeona, animados xotes, rancheiras, polcas, toadas, valsas e milongas, conforme registramos com o jornalista Vitor Minas, em nosso livro Pedro Raymundo, da coleção Esses Gaúchos (1986).

Sobre o trabalho de Pedro Raimundo, registrei, na Folha de São Borja, um depoimento de Almirante, o grande programador da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que disse:  “Pedro Raymundo: sem o menor favor eu o considero o mais típico e o mais expressivo e legítimo dos artistas gaúchos que já ouvi”.

Registramos em nosso livro com Vitor Minas, que nada menos que Luiz Gonzaga, “O Rei do Baião”, em entrevista ao jornal O Pasquim, em agosto de 1971, declarou ter-se inspirado em Pedro Raimundo, ao constatar que aquele gaúcho tinha o seu traje típico, e porque o nordestino não o tinha, por isso vestiu-se de “cangaceiro”.

Por aí dá para se constatar a projeção a nível nacional que o Pedro Raimundo deu à música do Rio Grande do Sul, cantando xotes e rancheiras, entre outros ritmos gauchescos, por este Brasil afora, numa época que não tinha nem televisão, mas o rádio era um veículo de comunicação de massa, que chegava longe e veio contribuir com essa propagação da Música Popular Brasileira de todas as matizes.


Prece

Pedro Raimundo
Prece (tango, 1950) - Pedro Raimundo

A descontração e exuberância de Pedro Raimundo valeu-lhe o slogan de "O gaúcho alegre do rádio": alternava, em suas apresentações, músicas alegres com outras sentimentais. Foi o primeiro artista típico gaúcho a alcançar fama nacional. 

Apresentava-se com bombachas, lenço no pescoço, botas, esporas, chapéu e guaiaca. Percebendo a aceitação do seu traje regional, Luiz Gonzaga sentiu-se estimulado a apresentar-se como sertanejo nordestino.”

Título da música: Prece / Gênero musical: Tango / Intérprete: Pedro Raimundo / Compositor: Pedro Raimundo / Gravadora Phonodisc / Nome do Álbum: Adeus Mariana / Número do Álbum 0.30-404-122 / Data de Gravação 00/1977 / Data de Lançamento 00/1977 / Lado: lado A / / Rotações Disco 33 1/3 rpm / Estereo:

"És
Palavra de Conforto
Que ameniza os corações sofredores
Quantos por este mundo afora
Aguardam a Oração da Ave-Maria
Para contigo, Palavra Bendita
E juntinho à Deus
Pedir alívio aos seus sofrimentos
E é só em ti Palavra Santa
Que encontramos sempre o bálsamo suavizador..."

Sanfoninha, velha amiga

Pedro Raimundo
Sanfoninha, velha amiga (polca, 1961) - Pedro Raimundo

A última canção do "gaúcho alegre do rádio brasileiro" foi a polca Sanfoninha, velha amiga em 1961, quando já estava inativo profissionalmente.  

Título da música: Sanfoninha, velha amiga / Gênero musical: Polca / Intérprete: Pedro Raimundo / Compositor: Pedro Raimundo / Gravadora Phonodisc / Nome do Álbum: Adeus Mariana / Número do Álbum 0.30-404-122 / Data de Gravação 00/1977 / Data de Lançamento 00/1977 / Lado: lado A / / Rotações Disco 33 1/3 rpm / Estereo:



Gaúcho largado

Pedro Raimundo: divulgador pioneiro.
Em palestra histórica feita junto ao parlamento estadual rio-grandense, em Porto Alegre (1992), o tradicionalista Paixão Cortes enfatizou a condição de ter sido o artista Pedro Raimundo o pioneiro em divulgação de músicas regionalistas em todo o país. De certa forma com razão, pois Luiz Gonzaga, nordestino de Exú, Ceará, espelhado no sucesso de Pedro, apareceu com o seu “baião” no Rio e São Paulo e triunfou.

Pois Pedro Raimundo foi mesmo o precursor brasileiro da música regionalista gaúcha no Brasil. Só depois de muitos anos viria Teixeirinha. Só que o velho e querido Paixão Cortes extrapolou em sua paixão, “contabilizando” Pedro como “gaúcho”. É que o Rio Grande do Sul exerce um certo fascínio para os brasileiros em geral, pois até sua constituição (Farroupilha) tem diferenças da institucional nacional, no que cabe ao estado inserir…

Assim, quando “carimbaram” Pedro como “o gaúcho alegre do rádio brasileiro”, ele nem negou e nem confirmou a alusão: deixou como estava para ver como ficava. Para quem nasceu, como ele, nas costas encharcadas da Lagoa do Imaruí, zona pobre e inexpressiva em termos de representatividade nacional, nesta altura tudo era lucro (fonte:Lagunista).

Título da música: Gaúcho largado / Gênero musical: Toada / Intérprete: Pedro Raimundo / Compositor: Pedro Raimundo / Gravadora Phonodisc / Nome do Álbum: Adeus Mariana / Número do Álbum 0.30-404-122 / Data de Gravação 00/1977 / Data de Lançamento 00/1977 / Lado: lado A / / Rotações Disco 33 1/3 rpm / Estereo:


Saudade de Laguna

Pedro Raimundo
Saudade de Laguna (valsa, 1943) - Pedro Raimundo

Pedro Raimundo gravou e compôs entre 1943 e 1961: Adeus Mariana, Adeus moçada, Chico da Roda, Escadaria, Gaúcho largado, Mágoas de amor, Meu coração te fala, Na casa do Zé Bedeu, Oriental, Prece, Sanfoninha, Velha amiga (última, já na inatividade profissional), Saudades de Laguna, Se Deus quiser, Tá tudo errado (a única composição que teve um parceiro, Jeová R. Portela) e Tico tico no terreiro.

Comentam que Saudades de Laguna encerraria um segredo (que Pedro levou para o túmulo, sem confirmar nem desmentir). Quando morou em Laguna dizem que se apaixonara por uma jovem. Frustrado em seu intento pelos pais da moça, Pedro jamais a teria esquecido. Como não pudesse “homenagear” diretamente a moça, resolveu fazê-lo com a bela valsa, seguramente a melhor composição que fez (com dolente declamação): Saudades de Laguna !  (fonte: Lagunista).

Título da música: Saudade de Laguna / Gênero musical: Valsa / Intérprete: Pedro Raimundo / Compositor: Pedro Raimundo / Gravadora Phonodisc / Nome do Álbum: Adeus Mariana / Número do Álbum 0.30-404-122 / Data de Gravação 00/1977 / Data de Lançamento 00/1977 / Lado: lado A / / Rotações Disco 33 1/3 rpm / Estereo:


"Sinto em meu coração
Uma saudade daquela terra amada
Onde vivi
Saudade que hoje eu choro
Saudade sem fim
Saudade de Laguna
Que é tudo, tudo para mim
Quando de ti me lembro
Laguna amada
Minh'alma triste canta esta saudade
Parece que te vejo
Diante dos meus olhos
Laguna dos meus sonhos
Hoje eu choro...
"

Escadaria

Pedro Raimundo (29/06/1906, Imaruí, SC - 09/07/1973, Rio de Janeiro, RJ), cantor, compositor e instrumentista, nasceu em berço pobre, e seu pai, João Felisberto, era pescador e sanfoneiro. Aos oito anos começou a tocar sanfona. Até os 17, trabalhou como pescador. Trabalhou na Estrada de Ferro Esplanada-Rio Deserto, em Santa Catarina.

Em 1929, mudou-se para Porto Alegre, onde trabalhou como condutor de bondes, inspetor de tráfego, guarda-freios, maquinista de usina, balconista e oleiro. Foi também chaveiro da estrada de ferro D. Teresa Cristina, onde foi vítima de um acidente que lhe deixou um defeito na mão, o que, entretanto, não o impediu de tornar-se um dos mais brilhantes sanfoneiros do Brasil.

Escadaria (choro, 1944) - Pedro Raimundo

Disco 33 1/3 rpm / Título da música: Escadaria / Autoria: Raimundo, Pedro (Compositor) / Raimundo, Pedro (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Phonodisc, 1977 / Nome do Álbum: Adeus Mariana / Nº Álbum 0.30-404-122 / Lado A / Lançamento: 1977 / Gênero: Choro



Veja também:

A música gaúcha ou nativista, Califórnia da Canção Nativa, Cifras de músicas gaúchas, Dicionário regionalista, Gaúcho da Fronteira, Conjuntos ou grupos gaúchos, Dilu Melo, Ovídio Chaves, Os Monarcas, Os Serranos, Pedro Raimundo e Teixeirinha.


Fonte: Dicionário Cravo Albin.