terça-feira, 14 de março de 2006

Ernesto Nazareth


"Seu jogo fluido, desconcertante e triste ajudou-me a compreender melhor a alma brasileira", disse o compositor francês Darius Milhaud sobre Ernesto Nazareth, carioca que fixou o "tango brasileiro" e outros gêneros musicais do Rio de Janeiro de seu tempo.


Ernesto Júlio de Nazareth nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 20 de março de 1863, e estudou música com os professores Eduardo Madeira e Lucien Lambert. Intérprete constante de suas próprias composições, apresentava-se como "pianeiro em salas de cinema, bailes, reuniões e cerimônias sociais.

Entre 1920 e 1924, muitos personagens ilustres iam ao cinema Odeon apenas para ouvi-lo. Compunha, lecionava e vivia do piano. Suas partituras era vendidas aos milhares, mas não lhe garantiam a sobrevivência, pela falta de ordenamento dos direitos autorais. Em 14 de julho de 1886, casou-se com Teodora Amália de Meireles, e a ela dedicou a valsa Dora, inédita até então.

Brejeiro, composto em 1893, uma de suas composições mais famosas, é considerado o marco do tango brasileiro. Em razão de dificuldades financeiras, Nazareth vendeu os direitos dessa peça para a Editora Fontes e Cia. por 50.000 réis, o qual chegou a ser gravado pela banda da Guarda Republicana de Paris.

Embora tenha composto obras as quais denominou de tango-brasileiro, Nazareth fazia uma diferenciação entre o choro e o tango-brasileiro, esta por ele considerada música pura. Seus tangos-brasileiros têm a indicação metronômica de M.M. semínima igual a 80 batidas, já no choro, a indicação é de 100 batidas. Para mostrar essa diferença, Nazareth compôs o choro Apanhei-te cavaquinho. Foi uma das únicas composições que ele considerou como choro. O mesmo entendimento tinham Chiquinha Gonzaga, Callado, Alexandre Levy e outros.

Em 1898 realizou seu primeiro concerto no salão nobre da Intendência de Guerra, por iniciativa do Clube São Cristóvão, do Rio de Janeiro. Trabalhou no Tesouro Nacional, como escriturário. Em 1917 morre sua filha, Maria de Lourdes, considerado o primeiro abalo dos inúmeros pelos quais passou em sua vida. Nesse mesmo ano, atuou como pianista na sala de espera do Cine Odeon, que foi por ele inaugurado. As pessoas lotavam para ouvi-lo tocar, mais do que propriamente para ver o filme. Em 1910 já compusera o tango-brasileiro Odeon, inspirado naquele cinema. Em 1919 começou a trabalhar na Casa Carlos Gomes (mais tarde Carlos Wehrs). Executava as partituras que os fregueses se interessavam em comprar.

Compôs fox-trots, sambas e até marchas de carnaval, por um breve período, em 1920. Em 1922 interpretou Brejeiro, Nene, Bambino e Turuna no Instituto Nacional de Música, por iniciativa de Luciano Gallet. Participou como pianista, em 1923 da inauguração da Rádio M.E.C. (antiga Rádio Sociedade do Rio de Janeiro).

Durante quase todo o ano de 1926 apresentou-se em São Paulo, capital e interior. Seus admiradores se uniram e deram-lhe um piano italiano de cauda Sanzin, que faz parte do acervo do Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. Nessa ocasião, Mário de Andrade fez uma conferência sobre sua obra na Sociedade de Cultura Artística, de São Paulo, SP. Retornou ao Rio de Janeiro em 1927, já apresentando sinais da surdez.

Em 1929, morre sua mulher, o que lhe provocou profundo abalo.

Gravou para a fábrica Odeon, em 1930, o tango-brasileiro Escovado e o choro Apanhei-te Cavaquinho. Em 1932, fez várias excursões, principalmente para o sul do Brasil. Com o agravamento da surdez, tocava debruçado sobre o piano para conseguir ouvir sua própria música. Em 1933, apresentou graves perturbações mentais e foi internado no Instituto Neurosifilis da Praia Vermelha, sendo posteriormente transferido para a Colônia Juliano Moreira.

No ano seguinte fugiu e foi encontrado, 4 dias depois, afogado em uma represa. Há uma lenda segundo a qual ele teria sido encontrado morto debaixo de uma cachoeira. A sua postura era impressionante. Estava sentado, com a água lhe correndo por cima, com as mãos estendidas, como se estivesse tocando algum choro novo, que nunca mais poderemos ouvir... (Juvenal Fernandes, in Ernesto Nazareth, Antologia, Ed. Arthur Napoleão Ltda. AN-2087/88). Dele, disse Villa-Lobos: "Suas tendencias eram francamente para a composição romântica, pois Nazareth era um fervoroso entusiasta de Chopin." Querendo compor à maneira do mestre polonês e não possuindo a capacidade necessária para uma perfeita assimilação técnica, fez, sem o querer, coisa bem diferente e que nada mais é do que o incontestável padrão rítmico da música social brasileira. De qualquer maneira, Nazareth é uma das mais notáveis figuras da nossa música.

Entre os grandes admiradores da obra e da atuação como intérprete de Ernesto Nazareth, citam-se Arthur Rubinstein, o russo Miercio Orsowspk, Schelling (que levou suas composições, exibindo-as nos Estados Unidos e Europa), Henrique Oswald e Francisco Braga. Serviu de tema e de inspiração a Luciano Gallet, Darius Milhaud, Enani Braga, Villa-Lobos, Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone e Radamés Gnatalli.

Faz parte do repertório de Eudóxia de Barros, Arnaldo Rebelo, Homero Magalhães, Ana Stella Schic, Roberto Szidon e Artur Moreira Lima, cujas interpretações eruditas dão à sua obra uma nova dimensão. Maria Tereza Madeira (piano) e Pedro Amorim (bandolim), lançaram, em 1997 o CD Sempre Nazareth, pela Kuarup. Ainda nesse ano foi lançado o CD-Rom Ernesto Nazaré, o Rei do Choro (selo CD-Arte), com mais de 300 imagens do compositor, depoimentos, notas, discografia, músicas, além de um álbum com 11 partituras para piano das suas principais obras.

Ernesto Nazareth significa uma caso raro de ligação entre o erudito e o popular: não é um erudito, na acepção da palavra, nem é um compositor apenas popular. Ora se percebe em sua obra um toque chopiniano, especialmente nas valsas, ora a vibração de uma polca ou de um choro entranhados do espírito brasileiro.

Somente uma pequena parte das mais de 200 peças para piano compostas por Ernesto Nazareth foi gravada. Suas composições mais conhecidas são: Apanhei-te cavaquinho, Ameno Resedá (polcas), Confidências, Coração que sente, Expansiva, Turbilhão de beijos (valsas), Bambino, Brejeiro, Odeon e Duvidoso (tangos brasileiros).

Algumas músicas








Obra completa

Adieu, romance sem palavras, 1898; Adorável, valsa, inédita, s.d.; Alaor Prata, hino, inédito (com letra de Maria Mercedes Mendes Teixeira), 1924; Albíngia, valsa, inédita, s.d.; Alerta, polca, 1909; O alvorecer, tango de salão (no manuscrito original figura o título Ensimesmado), 1925; Ameno Resedá, polca, 1912; Apanhei-te, cavaquinho, polca, 1915; Arreliado, tango, inédito, s.d.; Arrojado, samba, 1920; Arrufos, xótis, anterior a 1900; Até que enfim, fox-trot, s.d.; Atlântico, tango, 1921; Atrevidinha, polca, 1889; Atrevido, tango, 1912; Bambino, tango, anterior a 1909; Batuque, tango característico, 1906; Beija-flor, polca, 1884; Beija-flor, tango brasileiro (com letra do autor), s.d.; Beijinho de moça, tango, inédito, s.d.; A bela Melusina, polca, 1888; Bernardo de Vasconcelos (Escola), hino, inédito, s.d.; Bicyclette Club, tango, 1899; Bom-bom, polca, anterior a 1900; Brejeira, valsa brasileira, inédita (extraída do tango Brejeiro), s.d.; Brejeiro, tango, 1893; Caçadora, polca, s.d.; Cacique, tango, 1899; Capricho, fantasia, inédito, s.d.; Cardosina, valsa, inédita, s.d.; Carioca, tango, 1913; Carneiro Leão (dr.), hino, inédito (com letra de Maria Mercedes Mendes Teixeira), 1924; Catrapuz, tango, 1910; Cavaquinho, por que choras?, choro, 1926; Celestial, valsa, s.d.; Chave de ouro, tango, s.d.; Chile-Brasil, quadrilha, 1889; Comigo é na madeira, tango, inédito, 1930; Confidências, valsa, 1910; Coração que sente, valsa, 1905; Corbeille de fleurs, gavotte, 1889; Correta, polca, s.d.; Crê e espera, valsa, 1896; Crises em penca, samba brasileiro carnavalesco, inédito (letra e música de Toneser, anagrama de Ernesto), 1930; Cruz, perigo!!, polca, 1879; Cruzeiro, tango, inédito, s.d.; Cubanos, tango, inédito, s.d.; Cuera, polca-tango, 1913; Cutuba, tango, 1912; Cuiubinha, polca-lundu, 1893; De tarde, canção, inédita, (com versos de Augusto de Lima), s.d.; Delícia (Delight-fulness), fox-trot, 1925; Dengoso, maxixe, 1912; Desengonçado, tango, s.d.; Digo, tango característico, 1902; Dirce, valsa capricho, s.d.; Divina, valsa, 1910; Dor secreta, valsa, inédita, s.d.; Dora, valsa, inédita, 1900; Duvidoso, tango, anterior a 1910; Elegantíssima, valsa capricho; anterior a 1926; Elegia, morceau de salon para mão esquerda, inédita, s.d.; Elétrica, valsa rápida, 1913; Elite Club, valsa brilhante, 1900; Encantada, xótis, 1901; Encantador, tango brasileiro, inédito, s.d.; Eponina, valsa, anterior a 1912; Escorregando, tango brasileiro, s.d.; Escovado, tango, 1904; Espalhafatoso, tango, 1912; Españolita, valsa espanhola, s.d.; Está chumbado, tango, 1898; Ester Pereira de Melo (Escola), hino, inédito, s.d.; Eulina, polca, 1887-1888; Expansiva, valsa, 1912, Êxtase, romance, 1926; Exuberante, marcha carnavalesca, inédita, 1930; Faceira, valsa, 1920-1925; Fado brasileiro, inédito, 1925-1930; Famoso, tango, 1910; Fantástica, valsa brilhante, inédita, s.d.; Favorito, tango, anterior a 1909; Feitiço, tango, s.d.; Feitiço não mata, , chorinho carioca (letra de Ari Kerner), s.d.; Ferramenta, tango-fado português, 1905; Fidalga, valsa lenta, 1910; A flor dos meus sonhos, quadrilha, s.d.; Floraux, tango, 1909; Floriano Peixoto (Escola), hino, inédito (com letra de Maria Mercedes Mendes Teixeira), 1922; A florista, cançoneta (com letra de Francisco Teles), 1909; Fon-fon, tango, anterior a 1910; A fonte de Lambari, polca, 1887; Fonte do suspiro, polca, 1882; Fora dos eixos, tango carnavalesco, 1926; Fraternidade, hino infantil, inédito, s.d.; Furinga, tango, 1898; O futurista, tango,1922; Garoto, tango, 1916; Gaúcho, tango (no manuscrito original figura o título São Paulo-Minas), s.d.; Gemendo, rindo e pulando, tango, 1921; Genial, valsa, 1900; Gentes, o imposto pegou?, polca, 1880; Gentil, xótis, 1898; Gotas de ouro, valsa, 1916; Gracietta, polca, 1880; As gracinhas de Nhonhô, polca, anterior a 1910; Guerreiro, tango, 1917; Helena, valsa, 1896; Henriette, valsa, 1901; Ideal, tango, 1905; If I Am not Mistaken, fox-trot, inédito, s.d.; Improviso, estudo para concerto, 1931; Insuperável, tango, 1919; Iolanda, valsa, 1925; Ipanema, marcha brasileira, s.d.; Íris, valsa, 1899; Jacaré, tango carnavalesco, 1921; Jangadeiro, tango, s.d.; Janota, choro brasileiro, s.d.; Julieta, quadrilha, anterior a 1910; Julieta, valsa, anterior a 1910; Julita, valsa, 1889; Labirinto, tango, 1917; Laço azul, valsa, anterior a 1910; Lamentos, meditação sentimental, inédita, s.d.; Magnífico, tango brasileiro, s.d.; Máguas, meditação, inédita, s.d.; Maly, tango-habanera, inédito, s.d.; Mandinga, tango, s.d.; Marcha fúnebre, 1927; Marcha heróica aos 18 do Forte, marcha, inédita, 1922; Mariazinha sentada na pedra, samba carnavalesco, inédito (com letra de Ernesto Nazareth), s.d.; Marieta, polca, anterior a 1889; Matuto, tango, 1917; Meigo, tango, 1921; Menino de ouro, tango, s.d.; Mercedes, mazurca de expressão, 1917; Mesquitinha, tango característico, 1910; 1922, tango brasileiro (no original manuscrito Samba para o Carnaval), 1922; Miosótis, tango, 1895; Não caio noutra!!!, polca, 1881; Não me fujas assim, polca, 1884; Nazaré, polca, anterior a 1900; Nenê, tango, 1895; No jardim, marcha infantil, inédita (1. A caminho, 2. Preparando a terra, 3. A semente, 4. O plantio, inacabado), s.d.; Noêmia, valsa, 1911; O nome dela, grande valsa brilhante, 1878; Noturno, inédito, 1914; Noturno, inédito, 1920; Nove de Julho, tango argentino, 1917; Nove de Maio, fox-trot, inédito, s.d.; O que há?, tango, 1921; Odeon, tango (com letra de Vinicius de Moraes, 1968), 1910; Onze de Maio, quadrilha, anterior a 1908; Orminda, valsa, 1897; Ouro sobre azul, tango, 1916; Pairando, tango, 1920; Paraíso, tango (estilo milonga), inédito, 1926; Pássaros em festa, valsa lenta, 1922; Paulicéia, como és formosa!, tango, 1921; Pedro II (Escola), hino, inédito (com letra de Maria Mercedes Mendes Teixeira), 1920; Pereira Passos (Escola), hino, inédito (com letra de Leôncio Correia), s.d.; Perigoso, tango brasileiro, anterior a 1909; Pierrot, tango, 1915; Pingüim, tango brasileiro, inédito (sua última composição), 1932; Pipoca, polca, 1895; Pirilampo, tango, 1903; Plangente, tango brasileiro, 1925; Plus ultra, fox-trot, inédito, s.d.; Podia ser pior, tango, 1916; Polca para mão esquerda (vide Tango para mão esquerda); Polonaise, inédita, 1908; Por que sofre?, tango meditativo, 19211; Primo-rosa, valsa, inédita, s.d.; Proeminente, tango brasileiro, s.d.; Quebra-cabeças, tango, s.d.; Quebradinha, polca, 1899; Ramirinho, tango, 1896; Ranzinza, tango, 1917; Rayon d'or, polca-tango, anterior a 1889, Rebuliço, tango, 1912; Recordações do passado, valsa, inédita, s.d.; Remando, tango, 1896; Resignação, valsa lenta, inédita, 1930; Respingando, tango, inédito, s.d.; Ressaca, tango, inédito, s.d.; Retumbante, tango, 1910; Rio de Janeiro, canção cívica (in Canto orfeônico, 1o. volume) (com letra de Leôncio Correia), arranjada para três vozes por Villa-Lobos, s.d.; Rosa Maria, valsa lenta, inédita, 1930; Sagaz, tango brasileiro, 1914; Salve, nações reunidas, hino (in Brasil cantando, por frei Pedro Sinzig) (com letra de Maria Mercedes Mendes Teixeira), s.d.; Samba carnavalesco, peça manuscrita não identificada, s.d.; Sarambeque, tango, 1916; Saudade, valsa, 1913; Saudades dos pagos, marcha-canção, inédita (com letra de Maria Mercedes Mendes Teixeira), s.d.; Saudades e saudades, marcha, 1921; Segredo, tango, 1896; Segredos de infância, valsa, inédita, s.d.; Sentimentos d'alma, valsa, inédita, s.d.; Soberano, tango, 1912; Suculento, samba brasileiro (com letra de Netuno) (no riginal Tango carnavalesco), 1919; Sustenta a nota, tango, 1919; Sutil, tango brasileiro, s.d.; Talismã, tango, 1914; Tango-habanera, peça manuscrita não identificada, s.d.; Tango para mão esquerda, inédito (no original, figura na 1a. parte a designação Polca para mão esquerda), s.d.; Tenebroso, tango, 1908; Os teus olhos cativam, polca, 1883; Thierry, tango, 1912; Time is Money, fox-trot, inédito, s.d.; Topázio líquido, tango, 1914; Travesso, tango, anterior a 1910; Tudo sobe, tango carnavalesco (com letra de Ernesto Nazareth), s.d.; Tupinambá, tango, 1916; Turbilhão de beijos, valsa lenta, 1908; Turuna, grande tango característico, 1899; Vem cá, Branquinha, tango, 1910; Vésper, valsa, 1901; Vitória, marcha aos aliados, inédita (com letra de José Moniz de Aragão), 1918; Vitorioso, tango, 1913; Você bem sabe, polca-lundu (sua primeira composição), 1877; Xangô, tango, 1921; Zica, valsa, 1899; Zizinha, polca, 1899.


Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil; Enciclopédia da Música Brasileira, Art Editora-PubliFolha, 1998; Ernesto Nazareth, Antologia, Ed. Arthur Napoleão Ltda; Nova História da Música Popular Brasileira, Abril Cultural, 1977.

Roberto Xavier de Castro

Roberto Xavier de Castro (Fetinga), violinista e compositor nasceu em 16/5/1890 na cidade de São Francisco da Uruburetama (atual Itapajé) e faleceu em 30/10/1952 na mesma cidade.


Ficou bastante conhecido no Ceará a partir das modinhas Julieta e Maria, compostas em parceria com o poeta Amadeu Xavier de Castro.

Em 1926 obteve vitória judicial contra o cantor e compositor paulista Paraguassu pelo plágio de sua valsa A pequenina cruz do teu rosário, composta inicialmente em versos de Fernando Weyne com o título de Loucuras (1897) .

Obras

A pequenina cruz do teu Rosário (c/ versos de Fernando Weyne), Adélis, Edméia, Julieta (c/ versos de Amadeu Xavier de Castro), Maria (c/ versos de Amadeu Xavier de Castro) e Palmeira.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora, São Paulo, 1998.

Fernando Weyne

Fernando Weyne, poeta, modinheiro e comediógrafo, nasceu em São Fernando, Paraguai, em 3/9/1868, e faleceu em Fortaleza CE, em 17/4/1906.


Em 1897, escreveu o poema Loucuras, publicado em 1906 pelo Almanaque do Ceará. Musicado posteriormente por Roberto Xavier de Castro, tornou-se uma famosa modinha sob o nome de A pequenina cruz do teu rosário.

Foi gravada sucessivamente por Paraguassu, Carlos Gardel, entre outros cantores.

Outros versos de Weyne foram musicados. Entre eles, Sinhá com melodia também de Roberto de Castro.


Fonte: Dicionário da MPB.

A Casa Edison

Frederico Figner


13 de novembro de 1889. Na presença do imperador D. Pedro II, da princesa Isabel e seu marido, o conde D’Eu, um de seus filhos, o príncipe do Grão-Pará, falou e o outro, o príncipe D. Pedro Augusto, solfejou. Era a primeira gravação de sons feita no Brasil, ao ser apresentado à Corte o grafofone (modelo mais avançado de Thomas Edison para seu gramofone). Portanto, D. Pedro Augusto foi o primeiro brasileiro a ter sua voz gravada, cantando.


O Brasil foi dos primeiros países a ter a novidade do final do século XIX – a máquina que aprisionava sons -, já que em 1878, um ano apenas depois de ter registrado sua invenção, Edison receberia autorização do imperador para comercializar a aparelho no país.

A princípio a coisa foi atração de feira, circense, teatral, sendo exibida por camelôs onde encontrassem espaço para reunir meia dúzia de embasbacados cidadãos dispostos a pagar um níquel para ver e ouvir aquela incrível máquina falante. Saída das páginas da ficção registraria poderosa influência na cultura de todos os povos.

Em 1900: anúncio das últimas novidades em aparelhos.

No Brasil o primeiro a se interessar comercialmente pelas máquinas falantes foi o imigrante tchecoslovaco, de origem judaica, Frederico Figner. Menino, emigrou para os Estados Unidos e lá, já adulto, ao tomar conhecimento da invenção, que ainda funcionava de forma primitiva com rolos de cera e deixava de ser curiosidade para se transformar em atividade comercial, comprou um fonógrafo, com alguns rolos de cera, e saiu a exibi-los pelas Américas. De volta àquele país resolve explorar um mercado virgem e parte rumo ao Brasil, onde entra por Belém do Pará no final de 1891. Percebendo o sucesso de suas apresentações, envereda pelo Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia e dá com os costados no Rio de Janeiro, em abril de 1892.

Instala-se na Rua do Ouvidor, 135, com sua “machina que falla”, como anunciavam os jornais, sem saber que iria interferir profundamente na cultura popular do país que escolhera ao acaso para ganhar dinheiro.

Das sessões diárias para a apresentação da novidade até perceber a mina de ouro, Fred Figner – como se tornou conhecido – foi um passo. Importa e comercializa aparelhos e cilindros que vendem como água, pois eram encontrados com vários preços, acessíveis e sofisticados. Com a sua famosa Casa Edison era o dono absoluto do mercado.

Mas, nos últimos anos do século XIX, começa a enfrentar concorrência e sua criatividade é chamada para manter a liderança. Até então se vendiam cilindros de música estrangeira, importados. Fred convida os cantores Cadete (Antonio da Costa Moreira) e Bahiano (Manuel Pedro dos Santos) para gravar fonogramas brasileiros, ganhando um mil-réis por cilindro. Mais tarde o palhaço Eduardo das Neves (Dudu), famoso por seus lundus e canções, veio juntar-se à dupla. Com isso o pioneirismo foi acrescido à biografia de Fred Figner, o de profissionalizar a música popular no Brasil.

Em 1904 entra no mercado o gramofone, com discos de cera cuja reprodução do som era feita através de uma agulha metálica presa a um diafragma de mica, que Émile Berliner lançara. Fred Figner garante para si, através de contrato com a International Zonophone Company, o direito de fabricação de chapas prensadas dos dois lados, o disco, que em muito pouco tempo eliminaria o sistema de gravações por cilindro. Surgem as séries Zon-O-Phone 10.000 e X-1000 que podem ser consideradas as primeiras do disco brasileiro.

O sistema de gravação era mecânico, obrigando o intérprete a cantar gritado na boca de uma enorme corneta. O “técnico de som” tinha que empurra-lo à frente pelos ombros nas notas graves, ou puxa-lo para longe, nas notas agudas. Quando gravavam bandas ou conjuntos, os músicos se amontoavam na frente do “microfone”. Depois da gravação, a cera era enviada para a Alemanha e voltava transformada em disco seis meses mais tarde.

O enorme repertório do cantor Bahiano na Casa Edison. 

Mais tarde Figner fundou filiais em São Paulo e Porto Alegre, montando um estúdio na capital gaúcha, onde registrou artistas locais como o cantor modinheiro Xiru e o grupo de choro Terror dos Facões.

Em 1911, associando-se à Odeon, pertencente à firma holandesa Transoceanic, Figner importa o equipamento da Alemanha e instala no Brasil a primeira fábrica de discos, a Odeon, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, e mantém a liderança até 1924, quando a Victor Talking Machine cria o processo de gravação elétrica, do qual o cantor Francisco Alves seria o pioneiro no Brasil em 1927.

Em 1930, a Transoceanic obrigou Figner a vender todo o patrimônio da Casa Edison, dominando, a partir de então, o processo de gravação no Brasil, ao lado de outras multinacionais, como a Columbia e a RCA Victor. Com 40 mil títulos lançados ao longo de 28 anos, a Casa Edison marca a etapa heróica da gravação de discos no Brasil. A empresa funcionou até os anos 50, mas mudou de ramo: abandonando as máquinas falantes, passou a comercializar mimeógrafos e máquinas de escrever.


Fontes: Construindo o Som; História do Samba – Ed. Globo