quinta-feira, 13 de abril de 2006

Moraes Moreira

Antônio Carlos Moreira Pires nasceu em Ituaçú BA em 08 de Julho de 1947. Desde cedo tocava sanfona, que mais tarde substituiu pelo violão e pela guitarra. Em 1966 mudou-se para Salvador BA e entrou em contato com o rock and roll, e também com as criações de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo.


Arranjou emprego num banco, e em noitadas de violão na própria pensão onde morava, conheceu Paulinho Boca de Cantor e Luís Galvão, com os quais criaria o grupo Os Novos Baianos, que estreou em 1968.

Em 1975 deixou o grupo para seguir carreira individual. Em 1976 fez grande sucesso no Carnaval baiano, como cantor do Trio Elétrico de Dodô e Osmar. Lançou em 1978 Pombo correio, que se tornou grande êxito carnavalesco nacional.

A partir de 1983, passou a desenvolver o Projeto Brasil, uma série de shows pelas capitais do pais, com repertório carnavalesco, frevos e marchas como Grito de guerra e Festa do interior.

Comemorou 50 anos de idade em 1997, com o CD Estados, que incluiu o sucesso Sinal de vida. Lançou também pela Virgin o CD 50 Carnavais, com sete inéditas e cinco regravações de antigos sucessos.

Algumas músicas:



Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha

Moacir Franco



Moacir Franco, ator, apresentador de TV, humorista, cantor e compositor, nasceu em 5/10/1936. Começou sua carreira atuando nos palcos. Após gravar a marchinha Me dá um dinheiro aí (grande sucesso do carnaval de 1960), inspirada no personagem “mendigo” do programa humorístico A Praça da Alegria (TV Record), começou a gravar discos regularmente, alternando canções humorísticas e românticas. Também atuou nos programas O Riso É o Limite e Rio Te Adoro.


No começo dos anos 60 faria grande sucesso com versões de canções internacionais, como Suave É a Noite (Tender is the Night) ou canções derramadas nacionais, como o bolero Ninguém Chora Por Mim (Evaldo Gouveia e Jair Amorim). Também foi o responsável pelo primeiro sucesso de Astor Piazzola no Brasil, sua versão Balada para um Louco.

Aos poucos, Moacyr também gravou canções sertanejas e de temas religiosos. Em 1996 gravou – recitando – todo o Novo Testamento numa coleção de 18 fitas cassete. Como animador de auditórios, apresentou muitos programas de sucesso, como Show Doçura (TV Rio) e Moacyr TV (TV Globo), que pretendia revelar novos talentos. Depois de ser operado de um aneurisma cerebral voltou à TV, atuando na Tupi, Bandeirantes e SBT.

Em 1982, elegeu-se deputado federal pelo PTB, cumprindo mandato de quatro anos. Entre fins dos anos 80 e começo dos 90 ficou longe das telas, atuando mais como cantor (principalmente em shows) e compositor – escrevendo canções sertanejas para Chitãozinho & Xororó, João Mineiro e Marciano e Nalva Aguiar.

No final dos anos 90, voltou à TV com sucesso, atuando no SBT em programas como Concurso de Paródias e Pequenos Brilhantes.

Algumas músicas

A seresta


Seresta foi um nome surgido no século XX, no Rio de Janeiro, para rebatizar a mais antiga tradição de cantoria popular das cidades: a serenata. Ato de cantar canções de caráter sentimental a noite, pelas ruas, com parada obrigatória diante das casas das namoradas, a serenata já apareceria descrita em 1505 em Portugal por Gil Vicente na farsa Quem tem farelos?. 


No Brasil, o costume das serenatas seria referido pelo viajante francês Le Gentil de la Barbinais, de passagem por Salvador em 1717, ao contar em seu livro Nouveau voyage autour du monde que “à noite só se ouviam os tristes acordes das violas”, tocadas por portugueses (espadas escondidas sob os camisolões) a passear “debaixo dos balcões de suas amadas” cantando, de instrumento em punho, com “voz ridiculamente terna”.

Mais compreensivo, outro francês, o estudioso de literatura luso-brasileira Ferdinand Denis, registraria em livro de 1826 que “gente simples, trabalhadores, percorrem as ruas à noite repetindo modinhas comoventes, que não se consegue ouvir sem emoção”.

Com a transformação dessa modinha, a partir do Romantismo, em cançao sentimental típica das cidades em todo o Brasil (alguns poetas românticos foram compositores, outros tiveram seus versos musicados), tal tipo de canto, transformado desde o séc. XVIII quase em canção de câmara, volta a popularizar-se com a voga das serenatas acompanhadas por músicos de choro, a base de flauta, víolao e cavaquinho.

Influenciadas pelas valsas, as modinhas têm então realçado seu tom de lamento na voz dos boêmios e mestiços capadócios cantadores de serenatas, por isso chamados de serenatistas e serenateiros. Assim, quando no séc. XX a serenata passa por evolução semântica a seresta (para confundir agora sob esse nome, muitas vezes, o ato de cantar com o gênero cantado), os cantores com voz apropriada ao sentimentalismo de serenatas ou serestas transformam-se, finalmente, em seresteiros.

A seresta

Conforme nos lembra o grande flautista brasileiro Carlos Poyares - na apresentação de seu disco Brasil, Seresta -, no passado, grupos de músicos, saindo das festas, detinham-se às janelas de suas pretendidas, para tocar e cantar madrugada a dentro, constituindo um costume boêmio que nós herdamos, como tantos outros, da Península Ibérica. Passando a denominar-se seresta, serenata ou sereno, essas primeiras manifestações, no Brasil, fizeram-se muito antes do lampião de gás... à luz da lua...

De fato, a origem desse costume - de se evocar alguém (especialmente a pessoa amada) através dos versos - vem de tempos passados, de épocas remotas, muitos séculos atrás. Conforme o testemunho de cronistas medievais, na Península Ibérica (Portugal e Espanha), desde a Idade Média, os trovadores e menestréis já costumavam entoar as famosas Cantigas ou Cantares, que compõem um vasto repertório lírico e também satírico: as Cantigas nem sempre tinham tom de romantismo, pois havia as Cantigas de Amigo, de Amor, destinadas aos amigos ou à amada, mas também as Cantigas de Escárnio e Cantigas de Mal-dizer, nas quais enviavam-se recados indelicados a desafetos pessoais, inclinando para o tom humorístico.

As cantigas líricas medievais constituíam, inicialmente, atividades palacianas, cantadas para as damas dos castelos e palácios. Por essa razão, eram encaradas como hábitos aristocráticos, entoadas ao som de instrumentos denominados guitarras (século XIII) ou vihuela - viola espanhola (séculos XIV e XV), considerando-se um hábito de bom-gosto. Aos poucos, entretanto, foram extrapolando os muros dos palácios e mesclando-se com manifestações populares, entre as novas camadas sociais urbanas que se formavam.

Em Portugal, no início do século XVI, o autor teatral Gil Vicente compôs peças que mostravam cenas do processo de popularização, como os autos Quem tem Farelos? e Auto de Inês Pereira . Esse processo, entretanto, crescia na mesma proporção de uma visão social preconceituosa.

Os instrumentos também foram se modificando, surgindo uma variante simplificada da viola, tão difundida popularmente que, por volta de 1650, “D. Francisco Manuel de Melo já podia acusar a perda de prestígio do instrumento junto às pessoas de melhor qualificação da cidade, tão baixo descera seu uso na escala social (....) As novidades de uma música produzida pela gente do povo das cidades, para atender às expectativas do lazer urbano, estava nascendo em Portugal de Quinhentos. E, tal como mais tarde viria a confirmar-se no Brasil, essa música popular surgia como criação das camadas mais humildes dos negros e brancos pobres das cidades, talvez por isso mesmo chamados de patifes”. (Em: História Social da Música Popular Brasileira, de José R. Tinhorão).

Algumas músicas seresteiras:











































































































Mais miscelânea seresteira, porque em uma roda de seresta dá de tudo, inclusive músicas cômicas:















































E para rir um pouco também podemos tocar Ary Toledo:


E o jeitinho especial das músicas de Juca Chaves, o menestrel do Brasil:


Anos 60 também pega bem numa seresta:


Que saudade dos Mamonas! Também vale numa seresta:



Fonte: Origens do gênero “Seresta”

Mílton Nascimento


Milton Nascimento, compositor, cantor e instrumentista nasceu no Rio de Janeiro RJ em 26/10/1942. Filho da empregada doméstica Maria do Carmo Nascimento, foi adotado aos primeiros meses de vida pelo casal Josino Brito Campos (bancário, professor de matemática e técnico em eletrônica) e Lília Silva Campos (professora de música).


Morou nos bairros de Laranjeiras e da Tijuca, no Rio de Janeiro, antes de ser levado para Três Pontas MG, com um ano e meio de idade. Aos quatro anos, ganhou seu primeiro instrumento musical, uma sanfoninha de dois baixos. Já aos 13 anos de idade atuava como crooner ao lado de seu vizinho Wagner Tiso em um conjunto de baile.

Aos 15 anos, ganhou um violão e organizou um conjunto vocal, o Luar de Prata, do qual participava Wagner Tiso, que mais tarde seria tecladista do conjunto Som Imaginário. Foi com a mãe de Wagner que aprendeu as primeiras noções de piano. Tocando sobretudo rocks, apresentavam-se em bailes e shows em Três Pontas. Concluído o ginásio, fez um curso de contabilidade e, por essa época, foi também disc-jóquei da Rádio Clube de Três Pontas. Depois, integrou, como crooner, o conjunto W's Boys, que animava bailes no interior mineiro. Convidados por um empresário de Três Pontas, que estava fundando uma gravadora, os W's Boys foram para Belo Horizonte MG, onde gravaram um compacto na Dex Discos do Brasil, que incluía Barulho de trem (de sua autoria).

Em 1963 transferiu-se para a capital mineira para prestar vestibular em economia. Foi então que conheceu alguns de seus futuros parceiros, entre os quais Fernando Brant, Márcio Hilton Borges (que integrava o conjunto vocal Evolussamba) e seu irmão Lô Borges. Em Belo Horizonte, além de trabalhar de dia em um escritório de contabilidade e de cantar e tocar contrabaixo em boates à noite, começou a compor com mais regularidade.

Em 1964 criou suas primeiras músicas: Novena, Gira girou e Crença, todas em parceria com Márcio Borges. Com Wagner Tiso, formou um trio de jazz, apresentando-se no Bar Berimbau e na TV Itacolomi. Em seguida, passou a integrar o conjunto Evolussamba e, logo depois, o Quarteto Sambacana, liderado por Pacífico Mascarenhas, com o qual, em 1965, foi para o Rio de Janeiro e gravou um LP, na Odeon.

Em junho de 1966, obteve o quarto lugar no FNMP, da TV Excelsior, de São Paulo SP, interpretando Cidade vazia (Baden Powell e Lula Freire). Em setembro desse ano, sua composição Canção do sal foi gravada por Elis Regina, na Philips. Nessa época, tornou-se amigo do cantor Agostinho dos Santos que, em 1967, à sua revelia, inscreveu três músicas suas no II FIC, da TV Globo, do Rio de Janeiro: Travessia, com letra de Fernando Brant, obteve o segundo lugar; Morro Velho, o sétimo, e Maria, minha fé classificou-se entre as 15 finalistas.

Nesse festival, recebeu ainda o prêmio de melhor intérprete. Ainda em 1967, com Novelli, Ronaldo Bastos, Danilo Caymmi e outros, fez um show no Teatro Casa Grande e gravou um LP na extinta Codil, com arranjos de Luís Eça. Nesse mesmo ano, participou do show Travessia, dirigido por Paulo Sérgio Vale, no Rui Bar Bossa, e do show Viola enluarada, com Marcos e Paulo Sérgio Vale, Danilo Caymmi e outros, no Teatro Toneleros, do Rio de Janeiro.

Em 1968, levado por Eumir Deodato, gravou, nos E.U.A., o LP Courage, na A&M Records, com arranjos do próprio Eumir, que incluía, além da canção-título (com Paul Williams), Catavento e Bridges, versão em inglês de Travessia. Nessa ocasião, apresentou-se em várias cidades norte-americanas e mexicanas. De volta ao Brasil, em 1969 lançou o LP Milton Nascimento, pela Odeon, incluindo Beco do Mota, Sentinela, Quatro luas (todas com Fernando Brant). Ainda nesse ano, fez a trilha sonora do filme Os deuses e os mortos, de Rui Guerra, do qual participou também como ator.

No início de 1970, compôs a trilha sonora do filme Tostão, a fera de ouro, de Ricardo Gomes Leite e Paulo Laender, na qual incluiu a música Aqui é o país do futebol (com Fernando Brant). Nesse mesmo ano, o show Milton Nascimento e o Som Imaginário estreou no Teatro Opinião, do Rio de Janeiro, sendo essa a primeira vez que se apresentou com o conjunto, cujos integrantes se tornariam seus acompanhantes habituais. A partir desse show, ainda em 1970, a Odeon lançou o LP Milton, que incluiu sucessos como Para Lennon e McCartney (Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant), Canto latino (com Rui Guerra) e Clube da Esquina (com Lô Borges e Márcio Borges).

Em 1971 participou do festival Onda Nueva, na Venezuela, com Os povos (com Márcio Borges). No ano seguinte, com Lô Borges, gravou, na Odeon, um álbum duplo, que incluía Cravo e canela (com Ronaldo Bastos), San Vicente (com Fernando Brant), Os povos e Lília (com Fernando Brant), esta dedicada a sua mãe adotiva. Em 1974 lançou o LP Milagre dos peixes e, com esse mesmo nome, fez um show, que foi levado no Teatro Municipal, de São Paulo, e no Rio de Janeiro. Essa apresentação, acompanhada por orquestra e pelo Som Imaginário, também foi gravada e lançada em LP duplo , intitulado Milagre dos peixes ao vivo. Suas músicas Escravo de Jó, Hoje é dia de el rei e Cadê foram nessa época censuradas pelo regime militar. No ano seguinte, gravou mais um LP nos E.U.A., Native Dancer, ao lado do saxofonista Wayne Shorter; no Brasil lançou o LP Minas.

Em 1976 lançou nos E.U.A. o LP Milton (A&M Records), com versões em inglês de várias músicas suas e com a participação de Airto Moreira, Herbie Hancock e Wayne Shorter, entre outros. Nesse mesmo ano, lançou no Brasil o LP Gerais (EMI). Dois anos depois, lançou seu terceiro disco nos E.U.A., a antologia Journey to dawn (versão de Crença), pela A&M Records. Simultaneamente, lançou no Brasil o LP Clube da Esquina 2, seu último trabalho pela EMI.

Em 1980 transferiu-se para a gravadora Polygram, quando lançou Sentinela, que trazia o sucesso Canção da América e a participação da Oficina Instrumental Uakti. No ano seguinte, lançou o LP Caçador de mim, em que apresentava os sucessos Nos bailes da vida e Caçador de mim. Ainda em 1981, participou do filme Fitzcarraldo, de Werner Herzog.

Em 1982 gravou dois discos: Missa dos Quilombos (composto a partir de textos de Dom Pedro Casaldáliga, arcebispo de São Félix do Araguaia MT, e do poeta Pedro Tierra) e Anima, em que lançava as músicas Certas canções e Essa voz.

Lançou em 1983 o LP Milton Nascimento ao vivo, gravado durante um show no Anhembi de São Paulo, com a participação de Gal Costa. Ainda em 1983, atuou no filme Buriti, de Carlos Alberto Prates Correia.

Em 1985 lançou o LP Encontros e despedidas, que trazia a música Noites do sertão, composta para o filme homônimo de Carlos Alberto Prates Correia. No ano seguinte, lançou A barca dos amantes, último trabaIho pela Polygram, gravado ao vivo, com a participação de Wayne Shorter.

Em 1987, contratado pela CBS, lançou o disco Yauaretê. Em 1988 lançou o LP Miltons, no qual se destaca a música Bola de meia, bola de gude (c/Fernando Brant). Em 1990 lançou o CD Txai, doando parte dos direitos de vendagem do disco a entidades indígenas. Gravou, em 1993, o CD Angelus (Warner), contando com a participação dos cantores Jon Anderson e James Taylor.

Por suas atividades em prol da ecologia, foi premiado em maio de 1996 pela Rain Forest. No mesmo ano, apresentou em New York o show Amigo, acompanhado por um coro de 30 meninos e pela Orquestra Filarmônica de New York; em seguida, com esse show, participou do Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, e do Festival de Tübingen, na Alemanha.

No final de 1996, apresentou com enorme sucesso o mesmo show em Londres, no The Royal Albert Hall, acompanhado pela Royal Philharmonic Concert Orchestra. Em 1997, após sérias complicações de saúde, em conseqüência de anorexia nervosa, lançou o LP Nascimento (WEA), que trazia composições suas (Rouxinol e em parceria com Chico Buarque (Levantados do chão). Ainda em 1997, a Polygram lançou caixa com dez CDs, remasterizados nos estúdios Abbey Road, em Londres. No final de 1997, excursionou pelo Brasil com o show Tambores de Minas e gravou um documentário sobre sua vida e obra, dirigido por Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor, com a participação de Alcione, Chico Buarque, Gilberto Gil, Wagner Tiso, entre outros.

Em 1998, seu CD Nascimento recebeu o Prêmio Grammy, nos E.U.A., na categoria melhor CD de world music. Foi também lançado o livro Os sonhos não envelhecem - Histórias do Clube da Esquina, de Márcio Borges.

Algumas músicas










































































Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha.

Maysa


Maysa Figueira Monjardim, cantora e compositora, nasceu em São Paulo (16/11/1936) e faleceu no Rio de Janeiro (11/11/1977). Descendente de tradicional família do Espírito Santo, aos 12 anos, estudante de piano, compôs sua primeira música, o samba-canção Adeus. Foi aluna interna no Colégio Sacré Cour de Marie, de onde saiu com 18 anos para casar com o milionário paulista André Matarazzo.


Depois de casada, continuou a compor, mas cantava raramente, em festas de amigos da alta sociedade paulista. Numa dessas festas, em 1956, foi convidada por um produtor de discos para gravar suas composições.

O LP Convite para ouvir Maísa foi lançado pela RGE depois do nascimento de seu filho, e incluía os sambas-canções Meu mundo caiu, Adeus e Ouça, o grande sucesso que a revelou como cantora e compositora de música de fossa. 0 disco bateu recordes de vendagem, mas, por imposição do marido, toda a renda foi doada para a campanha contra o câncer. A partir de então, começou a se apresentar em diversos programas da TV Record e em shows de boates, como a Oásis e a Cave, cujo proprietário, Jordão de Magalhães, muito incentivou sua carreira.

Em 1957, passou a ter seu próprio programa, inicialmente realizado nos estúdios e depois no Teatro Record, transmitido em cadeia de rádio e televisão. A separação do marido deixou-a abalada e levou-a a beber e engordar, o que contribuiu para criar-lhe a imagem de cantora agressiva.

Em 1960 foi para o Rio de Janeiro, onde, por influência de Ronaldo Boscoli, passou a gravar músicas de bossa nova, como O barquinho, Ah! Se eu pudesse e Nós e o mar (todas de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli). Com esse novo repertório, gravou na CBS, acompanhada pelo conjunto de Roberto Menescal, o LP Barquinho, que fez muito sucesso. Viajou em seguida pelo Brasil, Uruguai e Argentina com o mesmo conjunto, transformando-se numa das primeiras divulgadoras de bossa nova no exterior.

Entre 1961 e 1965, apresentou-se no Olympia, de Paris, França, no Blue Angel, de New York, E.U.A., e em Estoril, Portugal, onde conheceu o advogado e industrial espanhol Miguel Azanza, com quem casou. Morando na Espanha fez tratamento de saúde e realizou apresentações e gravações em toda a Europa.

Enquanto isso, eram lançados no Brasil seus LPs Maísa canta sucessos (RGE, 1952), com as músicas Estou pensando em ti (Raul Sampaio e Benil Santos), A canção dos teus olhos (Pernambuco e Antônio Maria) e Ri (Luís Antônio), entre outras; Os grandes sucessos de Maísa (RGE, 1963), com uma coletânea de gravações anteriores, como Ouça e Meu mundo caiu; e Voltei (RGE, 1963), incluindo Meditação (Newton Mendonça e Tom Jobim), Alguém me disse (Jair Amorim e Evaldo Gouveia) e Solidão (Antônio Bruno).

Numa de suas viagens ao Brasil, em 1964, participou de um programa ao lado do jornalista Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), na TV Record. Nos anos seguintes, as etiquetas RCA e Elenco lançaram mais dois LPs, ambos com o título Maísa, trazendo entre outras as músicas Ne me quitte pas (Jacques Brel) e Tristeza (Haroldo Lobo e Niltinho), e Bom dia tristeza (Adoniran Barbosa e Vinícius de Moraes), Demais e Dindi (ambas de Aloysio de Oliveira e Tom Jobim).

Em 1969 retomou a carreira profissional no Brasil, formando com o marido a Guelmay, empresa destinada a produzir seus programas e discos. Nesse mesmo ano, fez um show para um grande público na cervejaria Canecão, do Rio de Janeiro, apresentado depois em São Paulo, no Restaurante Urso Branco, e gravado com o título Canecão apresenta Maísa (Copacabana, 1969), com as músicas Se você pensa (Erasmo Carlos e Roberto Carlos) e Se todos fossem iguais a você (Tom Jobim e Vinícius de Morais), entre outras.

Em 1970 lançou pela Philips o LP Ando só numa multidão de amores, com as músicas Molambo (Meira e Augusto Mesquita), Chuvas de verão (Fernando Lobo) e Que eu canse e descanse (Marcos Vale e Paulo Sérgio Vale). Passou em seguida a trabalhar em teatro e televisão, participando em 1971 da novela O cafona, da TV Globo, para a qual compôs o Tema de Simone.

Em 1974 saiu novo LP pela gravadora Evento, com as músicas Bloco da solidão (Jair Amorim e Evaldo Gouveia) e Agora é cinza (Alcebíades Barcelos e Armando Marçal), entre outras, e no ano seguinte apareceu na novela Bravo, da TV Globo, e em outros programas de televisão. Faleceu em acidente automobilístico na ponte Rio-Niterói.

Martinho da Vila

Martinho José Ferreira, compositor, cantor e sambista de Vila Isabel, nasceu em Duas Barras, interior do estado do Rio, em 12 de fevereiro de 1938. Começou sua carreira no III Festival de Música da TV Record, em 1967, concorrendo com a música "Menina Moça", e repetindo a experiência em 68 e 69.



Nesse último ano saiu o primeiro disco, "Martinho da Vila", com os explosivos partidos-altos Casa de bamba e O pequeno burguês e os sambas-enredo em estilo compactado "Iaiá do Cais Dourado" e "Carnaval de Ilusões", que alterariam o formato tradicional. Sua fama ampliou-se em 1974 com Canta canta, minha gente, disco que incluía o samba Disritimia, muito executada pelas rádios.

Com o velho sambista Donga.
Em 1981, voltado para o público que busca um repertório mais romântico, gravou o disco "Sentimentos", com a faixa "Ex-amor". No ano de 1988 a Vila Isabel foi a campeã com o samba-enredo "Kizomba, Festa da Raça", escrita por Martinho. No mesmo ano lança o disco "Festa da Raça" pela CBS e no ano seguinte explode como o samba Dancei, popularizado pela novela "Tieta", da TV Globo.

Tá delícia, tá gostoso, de 1995, é um novo marco na carreira do compositor, com mais de um milhão de cópias vendidas, e os sucessos Mulheres (Toninho Gerais), Cuca maluca (Garcia do Salgueiro), Devagar, devagarinho (Eraldo Divagar) e a faixa-título.

Em 1997 abriu um bar em Vila Isabel, o Butiquim do Martinho, que se tornou ponto de encontro de sambistas. No ano seguinte o lançamento de "3.0 Turbinado Ao Vivo", pela Sony, fez uma recapitulação de sua carreira, incluindo antigos sucessos ("Quem É do Mar Não Enjoa", "Vem Chegando, Chega Mais", "Casa de Bamba", "Canta, Canta Minha Gente") e clássicos do samba (Batuque na cozinha, de João da Baiana; Pelo telefone, de Donga e Mauro de Almeida).

O arranjador Rildo Hora que dá o tom final a alguns sambas de Martinho.

Com suas enormes vendagens, Martinho quebrou o tabu dos sambistas que precisavam de vozes intermediárias para chegar à massa. Outros grandes êxitos são Assim Não É Brinquedo, Oi Compadre, Pra que dinheiro, Meu laiaraiá, Segure tudo, Balança povo, Você não passa de uma mulher, Na aba, Sonho de um Sonho, Cresci no Morro, Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade. Em 1999 lançou o CD "O Pai da Alegria".

Uma roda de samba com os integrantes da seleção de 70.

Vida de bamba

O 12 de fevereiro de 1938 não seria diferente dos outros dias em Duas Barras, no interior do Rio de Janeiro, se não chovesse tanto - como se o mundo fosse acabar em água - e se o calendário não registrasse um frustrante e encharcado sábado de carnaval. Na sua casa simples, o meeiro Josué Ferreira ouvia a água da chuva bater no teto de zinco e, nervosamente, fumava um cigarro atrás do outro. Sua ansiedade só foi quebrada quando a parteira botou metade de sua cara escura na porta entreaberta do quarto para anunciar: "Nasceu! É um menino".

Doido de felicidade, Josué jamais poderia imaginar que seu único filho homem, entre quatro mulheres, teria seu destino selado pelo som do batuque que se ouvia ao longe. Com o recém nascido nos braços, a mãe, dona Teresa, abriu-se num sorriso e, trazendo-o para bem junto do peito, não hesitou: "Vai se chamar Martinho José" (foto acima a esquerda: ginga de sambista e música do morro sob a farda de sargento do exército).

Alegria em casa de pobre é um artigo de luxo que dura pouco e, na de Josué e Teresa, ela foi imediatamente substituída pelo desalento de que o pequeno Martinho era, na verdade, mais uma boca para dividir o minguado pão de cada dia. Convencidos de que o trabalho instável de fazenda em fazenda não dava mais para sustentar sua prole, eles decidiram embarcar no sonho de uma vida melhor. Afinal, Josué era alfabetizado e Teresa possuía mãos milagrosas quando assumia o comando de uma cozinha. Juntaram filhos, trapos, ambições e tomaram um trem de segunda classe para o Rio de Janeiro. Os Ferreira foram começar de novo num casebre da então Serra dos Pretos Forros, num lugar conhecido como Boca do Mato. Triste engano. "Foi brabo", recorda Martinho. "Na favela, a água era escassa, não tinha luz, não tinha nada."

No clube Vegas, n o Rio, Martinho divide o palco com Candeia.

Se em Duas Barras o meeiro Josué era um homem humilde, mas respeitado, na então capital da República ele e os seus conheceram a mais cruel de todas as misérias: a falta de esperança. Acossados por uma perversa realidade, cada um deles teve de se virar como pôde. Teresa e as meninas foram fazer faxina e outros afazeres domésticos em casas de família, enquanto o menino Martinho se empenhava nas mais variadas tarefas - como engraxar sapatos e limpar caixas de gordura - que lhe rendessem alguns trocados para reforçar o fraco orçamento familiar. A paisagem de miséria e desesperança, no entanto, foi construindo um fosso entre Josué Ferreira e o mundo. Um dia ele não aguentou mais e se matou.

Martinho brilha no desfile que consagrou a Unidos de Vila Isabel, em 1988.

Na manhã seguinte, ainda aos frangalhos, Teresa comunicou aos cinco filhos que não lhe restara outra alternativa senão a de distribuí-los pelas casas dos fiéis da Igreja Cristo Redentor, paróquia que os Ferreira frequentavam no subúrbio de Lins de Vasconcelos. Martinho se tornou uma espécie de pajem e empregado doméstico de Dona Ida e Dona Alzira, duas professoras solteironas que lhe ensinaram as primeiras letras e o empurravam para a vida sacerdotal. Filhas de Maria, elas queriam transformá-lo em padre. Mas a música ia entrando no seu cotidiano por meio das ladainhas e das folias de reis das festas populares: "O meio em que eu vivia era pleno de sanfonas e foguetes", recorda o compositor.

Porém, até os 16 anos, era o mundo da bola que o fascinava. Martinho sonhava com o dia em que, envergando a camisa do Clube de Regatas Vasco da Gama, pisaria a grama verde do Maracanã para brilhar com á mesma intensidade de seu ídolo Ademir Menezes. Até que ele levava jeito defendendo as cores verde e branca do Boquense, mas, agora se convence, nunca passou de um projeto de craque. O futebol, com suas farras e excursões, fez, no entanto, desabrochar o compositor. Entre os companheiros, ele cantava paródias que compunha, colocando letras em melodias de sucesso naqueles anos 50. Ouvindo a marchinha que Martinho havia composto para a torcida de seu time, Tolito, o diretor de harmonia da recém-fundada Aprendizes da Boca do Mato, vislumbrou seu talento e o convidou para se integrar à escola de samba.

No seu segundo carnaval, Martinho já ganhou o respeito e a admiração dos mais velhos, ao escrever o samba-enredo Carlos Gomes. Entre os sambistas de renome, passou a correr a notícia de que na Aprendizes estava surgindo um menino genial, um compositor de futuro, e muitos deles foram até a Boca do Mato para conhecê-lo. Foi assim que, pela primeira vez, ele viu celebridades como Silas de Oliveira, Walter Rosa e Padeirinho e passou a ser uma presença constante na quadra de grandes escolas, como Portela, Mangueira, Império Serrano... "Eu nem sabia quem era quem", confessa ele. "Achava, por exemplo, que Cartola era uma lenda."

Nem passava por sua cabeça tornar-se um compositor profissional, embora sua pequena e aguerrida escola dependesse cada vez mais de suas criações no carnaval. Achava que samba não dava camisa, não garantia o futuro de ninguém. Por isso, fez um curso de auxiliar de químico industrial no Senai e, durante o serviço militar, conseguiu com muito esforço ser designado para trabalhar na farmácia do quartel. Botou fé na carreira militar. Foi promovido a cabo, chegou ao posto de sargento e, nas horas de folga, compunha sua história particular do Brasil para a Boca do Mato contar na avenida. Escreveu sambas-enredo sobre o escritor Machado de Assis, o almirante Tamandaré, o diplomata Rui Barbosa e contou, entre outros acontecimentos, a independência e a construção do Rio de Janeiro.

Companheiro de palco e de samba: Martinho da Vila e Paulinho da Viola.

Promovida ao primeiro grupo, em 1960, numa sofrida escalada, a Boca do Mato voltou ao fundo do poço no ano seguinte. Teve o azar de entrar na Rio Branco logo depois do Salgueiro, que naquele carnaval promovia uma revolução com o enredo "Zumbi das Palmares". Ninguém viu a Boca do Mato, ninguém ouviu o samba de Martinho.

A frustração fez que ele cedesse ao assédio da Unidos de Vila Isabel. Na época, ele já namorava Anália Mendonça, que viria ser a mãe de Martinho Antonio, Analimar e Martinália - seus filhos mais velhos. Recebido de braços abertos, chegou cantando "Boa Noite Vila Isabel", um samba de quadra: "... Boa noite, diretor de bateria/ Quero contar com a sua marcação/ Boa noite, sambistas e compositores/ Presidente e diretores/ Para a Vila eu trago toda a minha inspiração...".

Um ano depois, em 1967, acertou na mosca ao entregar à escola o antológico Carnaval de Ilusões, feito em parceria com Gemeu, samba-enredo que avalizou a presença da Vila Isabel entre as grandes agremiações. Nascia o Martinho da Vila. Em seguida, ele conheceu o sucesso nacional com "O Pequeno Burguês", e sua vida nunca mais foi a mesma.

Pediu dispensa do exército, tirou a mãe e as irmãs das casas das patroas e adquiriu imóveis, inclusive um sítio na mesma região de Duas Barras, onde os Ferreira comeram o pão que o diabo amassou. "Achava que tudo seria passageiro e tratei de aproveitar", revela ele. "Na minha casa tinha festa todo dia." Inspirado em tanta alegria, compôs "Casa de Bamba" e botou para quebrar, em 1968, no IV Festival de Música Popular Brasileira: "...Na minha casa/ Todo mundo é bamba/ Todo mundo bebe/ Todo mundo samba...".

Martinho com a saudosa Clara Nunes.

Trinta anos de carreira depois, é fácil constatar que Martinho José Ferreira conseguiu com sua ginga mas acima de tudo com sua integridade e com a força de seu canto - percorrer caminhos difíceis, superando obstáculos que acabaram com muitas outras carreiras promissoras.

Algumas músicas:




























Fontes: MPB Compositores - Editora Globo; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora PubliFolha.