domingo, 12 de março de 2006

Edmundo Otávio Ferreira

Edmundo Otávio Ferreira, instrumentista e tocador de requinta, nasceu em 1870 no Rio de Janeiro e faleceu em 1920, na mesma cidade. Foi aluno do Arsenal de Guerra. Serviu no Corpo de Bombeiros.


Em 1896, com a fundação da Banda do Corpo de Bombeiros, passou a fazer parte da mesma. Compôs chótis e mazurcas. Uma de suas composições conhecidas é a mazurca Esmeraldina.

Sua obra mais famosa, foi o chótis Talento e formosura, que recebeu versos de Catulo da Paixão Cearense, sendo gravado, entre outros, pela Banda da Casa Edson e pela Banda do Corpo de Bombeiros, na Odeon; pelos cantores João Barros e Mário Pinheiro, já com versos de Catulo, na Victor Record e pelo Grupo Lulu o Cavaquinho, na Columbia, todas no início do século XX.

Em 1977, Talento e formosura foi regravada por Paulo Tapajós na série "Cantares brasileiro - vol. 1 - a modinha", distribuído pela Companhia Internacional de Seguros como brinde de Natal.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Ed. 1998, SP

Cupertino de Menezes

Cupertino de Menezes, compositor, maestro, flautista e violinista nasceu em 18/9/1868 e faleceu em 18/10/1950 na cidade do Rio de Janeiro RJ. Filho de Capitulina Maria da Conceição e Juvêncio Acto de Menezes, nasceu em Porto Alegre, quando lá se detiveram os pais, que atuavam como enfermeiros, ajudando a transportar soldados feridos na guerra do Paraguai. 


Seu nome foi dado em homenagem ao santo do dia, São José de Cupertino. Quando a guerra terminou, em 1870, a família transferiu-se para o Rio de Janeiro.

Aos 14 anos de idade, ingressou como artífice na Marinha, no Arsenal da Ilha das Cobras. Ali aprendeu inicialmente a tocar trompete, abandonando depois esse instrumento para dedicar-se à flauta. Quando deixou o Arsenal, estudou harmonia e orquestração.

Dirigiu bandas importantes como a da Brigada Policial, a da Casa Faulhaber e a da Casa Edison. Escreveu o chótis Tardes amenas, que se tornou a canção Manhãs de abril ao receber letra do poeta Hermes Fontes. Esta composição foi gravada por vários artistas dentre os quais a atriz Abgail Maia que a incluiu em seu repertório. Posteriormente Catulo da Paixão Cearense também colocou letra em Tardes amenas, chamando-a Fascinação por teus olhos, omitindo o nome de Cupertino quando a inseriu na "Lira dos salões".

Em 1914, Alvarenga Fonseca e Armando Oliveira fizeram uma paródia de Tardes amenas - Lua cheia - para o ator Bernardino Machado, que a cantou na revista "Chuá", imitando um bêbado. Em 1923, fundou a Estudantina Euterpe, onde teve diversos alunos entre os quais o compositor Jaime Ovale.

Cupertino

"Grande maestro, flauta fluente e sonoroso "primus interpares" entre seus componentes pelo gosto e modo de exprimir com sentimento as suas produções, e também as de Callado, Rangel, Viriato e de outros tantos por mim descritos. Agora já se acha velho e retirado dos choros, tendo se dedicado ao violino tornando-se um admirador de Paganini. Formou até uma sociedade de aprendizagem de músicos onde tem se aproveitado grande quantidade de moças e moços que já se acham diplomados pelo Instituto de Música. Tem de sua lavra grande quantidade de choros. Apesar de não vê-lo há muito tempo, acho que ainda vive para a felicidade dos seus inúmeros alunos e de seus amigos, que no rol deles se encontra o escritor" (O Choro - Reminiscências dos chorões antigos - Rio de Janeiro, 1936 - Alexandre Gonçalves Pinto).

A bela vivenda de Manoel Vianna

"Fui convidado pelo grande Professor Cupertino, para assistir um conjunto de chorões lá para as bandas de Água Santa. Tomando um trem de subúrbios, saltei no Engenho de Dentro, onde esperei um ônibus para aquelas bandas. Depois de muito esperar, enfim, chegou o tal ônibus, onde me foi impossível embarcar, tal o assalto da grande população que ali também esperava. Enfim, pacientemente esperei outro, porque no primeiro fui completamente barrado, pisado, e com a roupa toda amassada. Na chegada do segundo, tomei coragem, e consegui entrar, não sem grande custo. E lá fui no tal veículo que cai daqui, cai para acolá, lá cheguei com os órgãos internos todos soltos de seu competente lugar. Já um pouco distante, já eu ouvia o mavioso som da maravilhosa flauta do Professor Cupertino.

Em passos cadenciados, cheguei à casa, que era um verdadeiro paraíso, onde habitaram nossos primeiros pais. Ao chegar à porteira da casa, visto por Vianna e Cupertino, foi um delírio! Vianna todo sorridente veio me receber à porteira dando-me um abraço que ainda sinto o seu contato. Cupertino recebeu-me sorridente e agradecendo o meu comparecimento ao seu convite. Estavam todos tocando em um belo terraço que tem a sua casa. Sentando-me em uma das cadeiras depois de ter cumprimentado a todos, agarrei de unhas e dentes um mavioso violão, que pousava em cima de uma cadeira, e assim fui fazendo um Mi menor com seus acordes, agradando a todos os componentes do conjunto. Faltava ali um cavaquinho, e tocando eu também este instrumento, Vianna trouxe-me um e entregou-me, eu então o afinando comecei manhosamente a dedilhar contentando mais ou menos a todos.

- Então Cupertino disse: Vamos a um choro? E colocando a sua maviosa flauta aos lábios tocou uma belíssima polca de Callado, que eu felizmente, apesar dos anos passados, ainda me lembrava. Pois todos os chorões sabem que o cavaquinho é um instrumento que nestes choros é de uma necessidade de grande valor. E então o Professor Cupertino, desfiou o rosário, tocando Callado, Viriato, Silveira, Luizinho e outros grandes flautas antigos e modernos, que era uma delícia" (O Choro - Reminiscências dos chorões antigos - Rio de Janeiro, 1936 - Alexandre Gonçalves Pinto).


Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora - São Paulo, 2000; O Choro - Reminiscências dos chorões antigos - Rio de Janeiro, 1936 - Alexandre Gonçalves Pinto.

O choro


O "choro" é o gênero criado a partir da mistura de elementos das danças de salão europeias (como o schottisch, a valsa, o minueto e, especialmente, a polca) e da música popular portuguesa, com influências da música africana. De início, era apenas uma maneira mais emotiva, chorosa, de interpretar uma melodia, cujos praticantes eram chamados de chorões.


Como gênero, o choro só tomou forma na primeira década do século 20, mas sua história começa em meados do século XIX, época em que as danças de salão passaram a ser importadas da Europa. A abolição do tráfico de escravos, em 1850, provocou o surgimento de uma classe média urbana (composta por pequenos comerciantes e funcionários públicos, geralmente de origem negra), segmento de público que mais se interessou por esse gênero de música.

Em termos de estrutura musical, o choro costuma ter três partes (ou duas, posteriormente), que seguem a forma rondó (sempre se volta à primeira parte, depois de passar por cada uma). A origem do termo choro já foi explicada de várias maneiras. Para o folclorista Luís da Câmara Cascudo, esse nome vem de xolo, um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas; de xoro, o termo teria finalmente chegado a choro. Por outro lado, Ary Vasconcelos sugere que o termo liga-se à corporação musical dos choromeleiros, muito atuantes no período colonial. José Ramos Tinhorão defende outro ponto de vista: explica a origem do termo choro por meio da sensação de melancolia transmitida pelas baixarias do violão (o acompanhamento na região mais grave desse instrumento). Já o músico Henrique Cazes, autor do livro Choro – Do Quintal ao Municipal, a obra mais completa já publicada até hoje sobre esse gênero, defende a tese de que o termo decorreu desse jeito marcadamente sentimental de abrasileirar as danças europeias.

Grupo de chorões, Rio de Janeiro, 15/11/1916. No centro, em pé, o compositor Sinhô.

Vários músicos e compositores contribuíram para que esse maneirismo inicial se transformasse em gênero. Autor da polca Flor amorosa, que é tocada até hoje pelos chorões, Joaquim Antonio da Silva Callado foi professor de flauta do Conservatório de Música do Rio de Janeiro. De seu grupo fazia parte a pioneira maestrina Chiquinha Gonzaga, não só a primeira chorona, mas também a primeira pianista do gênero. Em 1897, Chiquinha escreveu para uma opereta o cateretê Corta-Jaca, uma das maiores contribuições ao repertório do choro. Outro pioneiro foi o clarinetista e compositor carioca Anacleto de Medeiros, que realizou as primeiras gravações do gênero, em 1902, à frente da Banda do Corpo de Bombeiros. Assim como outros registros posteriores, essas gravações indicam que a improvisação ainda não fazia parte da bagagem musical dos chorões naquela época.

Essencial para a formação da linguagem do gênero foi a obra de Ernesto Nazareth, que desde cedo extrapolou as fronteiras entre a música popular e a erudita. O autor de clássicos como Brejeiro, Odeon e Apanhei-te cavaquinho destacou-se como criador de tangos brasileiros e valsas, mas de fato exercitou todos os gêneros musicais mais comuns daquela época. A sofisticação da obra de Nazareth era tamanha, que (exceto no caso de Radamés Gnattali, um de seus melhores intérpretes) sua obra só foi definitivamente integrada ao repertório básico dos chorões nos anos 40 e 50, por meio das gravações de Jacob do Bandolim e Garoto.

Também genial, Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma definida. Para isso, introduziu elementos da música afro-brasileira e da música rural nas polcas, valsas, tangos e schottische dos chorões. É o caso do maxixe Os Oito Batutas, gravado em 1918, cujo título antecipou o nome do primeiro conjunto a conquistar fama na história da música brasileira. Protagonistas de uma polêmica temporada de seis meses em Paris, no ano de 1922, Pixinguinha e seus parceiros na banda Oito Batutas (um septeto, na verdade) dividiram a imprensa e o meio musical brasileiro, entre demonstrações de ufanismo e desqualificação. Foi também sob duras críticas que Lamentos (de 1928) e Carinhoso (composto em 1917 e só gravado pela primeira vez em 28), dois inovadores choros de Pixinguinha, foram recebidos pela crítica. O fato de ambos terem sido feitos em duas partes, em vez de três, foi interpretado pelo preconceituoso crítico Cruz Cordeiro como uma inaceitável influência do jazz.

Outra personalidade de peso na história do gênero foi o carioca Jacob Pick Bittencourt, o Jacob do Bandolim, famoso não só por seu virtuosismo como instrumentista, mas também pelas rodas de choro que promovia em sua casa, nos anos 50 e 60. Sem falar na importância de choros de sua autoria, como Remeleixo, Noites Cariocas e Doce de Coco, que fazem parte do repertório clássico do gênero. Contemporâneo de Jacob, Waldir Azevedo superou-o em termos de sucesso comercial, graças a seu pioneiro cavaquinho e choros de apelo bem popular que veio a compor, como Brasileirinho (lançado em 1949) e Pedacinhos do céu.

Um dos exemplos mais bem resolvidos de união entre o choro e o jazz pode ser encontrado na obra do maestro e arranjador pernambucano Severino Araújo, que pouco depois de se mudar para o Rio de Janeiro, em 1944, decidiu adaptar sambas e choros à linguagem das big bands. À frente da Orquestra Tabajara, Araújo gravou vários choros de sua autoria, como Espinha de bacalhau e Um chorinho em Aldeia, exemplos seguidos por outras orquestras do gênero ou compositores como Porfírio da Costa e K-Ximbinho. Outro brilhante adepto da fusão do choro com o jazz foi o maestro Radamés Gnattali, ao lado de quem atuaram talentosos músicos do gênero, como os violonistas Bola Sete, Laurindo de Almeida e Garoto. Mas foi com dois saxofonistas que Gnattali aprofundou mais suas experiências de aproximação com o jazz: Zé Bodega e Paulo Moura, músico que desde os anos 70 dedica parte de seu repertório ao choro.

O Rio de Janeiro é a incontestável capital do choro, mas não faltaram músicos de expressão no gênero, originários de outras partes do país. Um dos pioneiros foi o violonista João Pernambuco, que trocou o sertão pernambucano pelo Rio, em 1904. Além de ter feito parte do conjunto Os Oito Batutas, ele é até hoje cultuado pelos violonistas brasileiros, que continuam interpretando suas composições para violão. Incentivado pelos Batutas, o paraibano Severino de Carvalho, o Ratinho, também migrou para o Rio, em 1922. Um dos pioneiros na utilização do sax soprano, além de compositor de clássicos do gênero, como Saxofone, por que choras?, ficou mais conhecido, porém, ao formar a famosa dupla caipira Jararaca e Ratinho. Outro solista nordestino de destaque, nos anos 20 e 30, foi o clarinetista e saxofonista sergipano Luís Americano, que integrou o inovador Trio Carioca, ao lado do pianista e maestro Radamés Gnattali, em 1937. Já o bandolinista pernambucano Luperce Miranda, que também tocava cavaquinho, radicou-se no Rio de Janeiro, em 1928, depois de tocar com os Turunas da Mauricéia. Notável também é o violonista e compositor Francisco Soares de Araújo, o Canhoto da Paraíba, que surpreende ao tocar seu instrumento sem inverter a posição das cordas, apesar de ser canhoto.

Outro centro de cultivo e desenvolvimento do gênero foi São Paulo, onde se destacaram chorões como os violonistas Armandinho Neves, Antônio Rago e, especialmente, Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto. Virtuose do violão, ele acompanhou a cantora Carmen Miranda nos EUA, em 1939. O contato direto com o jazz influenciou sua obra, inclusive seus choros, que hoje são tocados por violonistas de vários cantos do mundo, incluindo o também paulista Paulo Bellinati, um dos principais divulgadores da obra de Garoto. Embora o choro continue sendo mais cultuado no Rio, é em São Paulo que têm acontecido os mais significativos eventos dedicados ao gênero, como os festivais promovidos pela TV Bandeirantes, nos anos 70, ou a recente série Chorando Alto, no Sesc Pompeia.

Estimulado pelo show Sarau, com Paulinho da Viola e o grupo Época de Ouro (e em parte pelo sucesso do grupo Novos Baianos), o choro conheceu um período de revitalização, nos anos 70. Não apenas surgiram grupos jovens dedicados ao gênero, como os cariocas A Fina Flor do Samba, Galo Preto e Os Carioquinhas, mas um novo público se formou, ampliado por clubes de choro criados em cidades como Brasília, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo, entre outras. O novo interesse pelo gênero propiciou também a redescoberta de veteranos chorões, como Altamiro Carrilho, Copinha e Abel Ferreira, além de revelar talentos mais jovens, como os bandolinistas Joel Nascimento e Déo Rian. Sem dúvida, o músico mais brilhante dessa nova geração foi o violonista carioca Rafael Rabello, que apesar de ter morrido prematuramente, aos 32 anos, em 1995, deixou gravada uma obra de peso.

Já a partir dos anos 80, o choro passa a estabelecer outras conexões musicais. Grupos de espírito chorão, como a Camerata Carioca e a Orquestra de Cordas Brasileiras, também traziam em seus repertórios música erudita de Bach, Vivaldi e Villa-Lobos, ou mesmo o tango contemporâneo de Astor Piazzola. Por outro lado, a música popular brasileira passou a flertar mais com o choro através de obras de influentes compositores e letristas, como Paulinho da Viola e Chico Buarque, ou instrumentistas, como Hermeto Pascoal. Já na última década, o choro vem recebendo uma ênfase especial na parceria do violonista e compositor Guinga com o veterano letrista Aldir Blanc, que elevaram o patamar das experiências com o choro vocal. Entre os músicos da atualidade que dedicam considerável parte de seu repertório ao choro chamam atenção o pianista Leandro Braga, o gaitista Rildo Hora, o clarinetista e saxofonista Nailor Proveta Azevedo e os flautistas Antônio Carlos Carrasqueira e Dirceu Leitte.


Fonte: Choro - Uma música sentimental, sofisticada e muito brasileira (Carlos Calado)

Bonfiglio de Oliveira


Bonfiglio de Oliveira, instrumentista e compositor, nasceu em Guaratinguetá (SP) em 27/09/1894, e faleceu no Rio de Janeiro(RJ) em 16/05/1940. Aprendeu as primeiras noções de música com o pai, contrabaixista da Banda Mafra de Guaratinguetá.


Durante dois anos tocou bumbo na Banda Beneficente e, depois, estudou com o maestro Acosta, que o levou a integrar, como trompetista, a Banda Mafra. Mais tarde foi convidado pelo diretor do Colégio São José, onde estudava, para reorganizar a banda dos alunos. Compôs então sua primeira música, o dobrado “Padre Frederico Gióia”, dedicada ao diretor.

Continuou os estudos no Colégio São Joaquim, em Lorena (SP), e depois transferiu-se para Piquete (SP)., onde organizou uma banda que se apresentava nas cidades do vale do Paraíba. Numa dessas apresentações, foi ouvido pelo maestro e violinista Lafaiete Silva, que o convidou a ir para o Rio de Janeiro, empregando-o como trompetista na orquestra que dirigia no Cinema Ouvidor. Após concluir de trompete, começou a atuar como trompetista e contrabaixista em diversos teatros e cinemas cariocas, inclusive na Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal, sob a regência de Francisco Braga.

Em 1917, ao lado de Pixinguinha, participou do Grupo Caxangá. Em 1918, em Guaratinguetá (SP), compôs a valsa Glória, em homenagem a uma jovem por quem se apaixonara. Mais tarde, a música recebeu versos da poetisa Branca M. Coelho e foi gravada por Gastão Formenti na Columbia, em 1931.

Em 1919, participou como compositor e diretor de harmonia do desfile do rancho Ameno Resedá, tornando-se conhecido então como compositor de marchas-rancho. Integrante da Companhia Arruda, atuou em teatros de revistas, excursionando pelo Brasil com diversas orquestras e conjuntos. Viajou ainda pela Itália, França e Espanha e, com a Companhia Jardel Jércolis, apresentou-se em cidades portuguesas.

Na década de 30, como solista e integrante de orquestra de estúdio, atuou no Programa Casé, da Rádio Philips. A 17 de outubro de 1931, gravou na Victor, em solo de trompete o choro "Flamengo", dedicado ao bairro carioca em que residiu. Também como trompetista, em 1932, passou a atuar com o Grupo da Velha Guarda, continuando no conjunto quando se transformou nos Diabos do Céu.

No carnaval de 1934, obteve grande sucesso com a marchinha Carolina, composta em parceria com Hervé Cordovil. Foi considerado um dos maiores instrumentistas de sopro do seu tempo, ao lado de Pixinguinha e Luís Americano.


Fonte: Enciclopédia da música brasileira - Art Editora.

A modinha


Nascida no Brasil no século XVII, a modinha teve seu primeiro momento de glória na década de 1770, quando foi apresentada na corte de Lisboa pelo poeta, compositor, cantor e violeiro Domingos Caldas Barbosa (1740-1800). O grande sucesso alcançado pelo gênero – denominado modinha para diferenciar-se da moda portuguesa – levou músicos eruditos portugueses a cultivá-lo, só que de forma requintada, adicionando-lhe características da música de ópera italiana. Assim, aproximaram a cantiga colonial das árias portuguesas, praticamente transformando-a em canção camerística.


Foi com esse feitio que ela voltou ao Brasil no início do século XIX. Ao mesmo tempo suave e romântica, chorosa quase sempre, a modinha seguiu então pelo resto do século como o nosso melhor meio de expressão poético-musical da temática amorosa. Composta geralmente em duas partes, com predominância do modo menor e dos compassos binário e quaternário, a modinha do período imperial jamais se prendeu a esquemas rígidos, primando pelas variações.

O primeiro modinheiro a se destacar no começo dos oitocentos foi o compositor Joaquim Manoel da Câmara, morto por volta de 1840. Exímio violonista e cavaquinista, ele impressionava a todos que o ouviam, inclusive o músico austríaco Sigismund Neukomm, professor de Pedro I, que harmonizou vinte de suas modinhas. Joaquim Manoel deixou várias peças de qualidade como Se Me Desses Um Suspiro, Desde o Dia em Que Nasci e A Melancolia, tendo esta servido de tema para a fantasia L'Amoreux, de Neukomm.

Da mesma época é o compositor Cândido José de Araújo Viana, o Marquês de Sapucaí, hoje nome da avenida carioca que se transformou a passarela das escolas de samba. De vida longa (1793-1875), este mineiro de Sabará exerceu funções importantíssimas no Império, tendo sido deputado, senador conselheiro, desembargador, ministro de estado e presidente de Alagoas e do Maranhão. Apesar de todos esses encargos, o marquês ainda arranjou tempo para dedicar-se à música, sendo de sua autoria algumas composições de sucesso, como as modinhas Mandei um Eterno Suspiro e Já Que a Sorte Destinara. Não seria ele, porém, o nosso único personagem histórico a se interessar por música. O imperador Pedro I, além de razoável compositor, tinha boa voz e gostava de cantar modinhas.

Mas o maior "modinheiro" dessa geração foi o violinista, cantor, poeta e compositor Cândido Inácio da Silva. Nascido no Rio de Janeiro em 1800, estudou com o padre José Maurício, que o orientou em sua trajetória artística. São de sua autoria modinhas como Cruel Saudade, A Hora Que Não Te Vejo, Um Só Tormento de Amor e as famosas Busco a Campina Serena e Quando as Glórias Eu Gozei, publicadas em Modinhas Imperiais, de Mário de Andrade, que o considerava o Schubert brasileiro. Cândido compôs ainda valsas e lundus e mais não fez por que a morte o surpreendeu aos 38 anos.

Entre os numerosos autores de modinhas na primeira metade do século XIX, podem ainda ser citados Quintiliano da Cunha Freitas, Lino José Nunes, Francisco da Luz Pinto, os padres Augusto Baltazar da Silveira e Guilherme Pinto da Silveira Sales, além dos eruditos – como o padre José Maurício (1786-1830), Francisco Manoel da Silva (1795-1865), Domingos da Rocha Mussurunga (1807-1856) – que eventualmente compuseram obras do gênero.

Pertence ainda ao período um vasto repertório de modinhas de autores desconhecidos, sendo algumas delas de ótima qualidade, como é o caso de Vem Cá Minha Companheira, Se Te Adoro, Vem a Meus Braços, Róseas Flores da Alvorada, Deixa Dália, Flor Mimosa e Acaso São Estes (que ganhou letra de Tomás Antônio Gonzaga), famosas depois de sua publicação na citada coletânea Modinhas Imperiais.

No fim do século XIX e início do XX, renovada por músicos do povo e sob a forma de canção ternária, assimilada da valsa, a modinha viveu sua fase de maior popularidade, ganhando as ruas como música serenata. Um dos principais responsáveis por essa popularização foi o mulato baiano Xisto Bahia (1841-1894), que além de ser bom ator, notabilizou-se como cantor e compositor de modinhas e lundus. São de sua autoria, por exemplo, A Mulata (com Melo Moraes Filho) e Quis Debalde Varrer-te da Memória (com Plínio de Lima), duas das modinhas mais conhecidas de todos os tempos. Outros sucessos que também marcaram o fim do século foram Na casa branca da serra (Guimarães Passos e J. C. de Oliveira), Perdão Emília (José Henrique da Silva e Juca Pedaço), Gondoleiro do amor (Salvador Fábregas e Castro Alves), Mucama (Gonçalves Crespo), Quem Sabe? (Carlos Gomes), Elvira escuta (anônimo) Foi Uma Noite Calmosa (anônimo) e O Bem-Te-Vi (Miguel Emídio Pestana e Melo Moraes Filho).

Ainda por essa época, celebrizou-se no Rio de Janeiro o maranhense Catulo da Paixão Cearense (1866-1946), pródigo letrista que abarrotou a praça com dezenas de composições. Incapaz de musicar os seus rebuscados poemas, Catulo especializou-se em fazer versos para música alheia de sucesso, transformando em modinhas a maioria. É esse repertório – Talento e Formosura (com Edmundo Otávio Ferreira), Choro e Poesia (Ontem ao Luar) (com Pedro de Alcântara), Clélia (Ao Desfraldar da Vela) (com Luiz de Souza), Terna Saudade (Por um Beijo) e Iara (Rasga o Coração) (com Anacleto de Medeiros) e outras mais – que a então iniciante indústria do disco no Brasil iria comercializar com bastante sucesso nos primeiros 20 anos do século XX.

Ao chegar a era do rádio, com o crescimento da valsa romântica, muitas vezes classificada como canção, a modinha quase desapareceu, figurando vez por outra nas obras de alguns compositores como Vinícius de Moraes (Modinha, com Tom Jobim, e Serenata do adeus) e Chico Buarque (Até pensei).


Fonte: Modinha, a música do amor de outrora - Jairo Severiano.

Salvador Fábregas

Salvador Fábregas, compositor, cantor e pianista, nasceu provavelmente no Rio de Janeiro, por volta de 1820. É possível que tenha falecido na mesma cidade no ano de 1880.

Participou do primeiro recital da Filarmônica Fluminense, em 23 de julho de 1841. Foi nomeado em 1848 como cantor da Capela Imperial, exercendo a função até 1853.

Lecionou canto e piano no Rio de Janeiro até, provavelmente, o ano de 1877. Morou na Rua do Lavradio, 34, centro do Rio.

Compositor de valsas, quadrilhas e modinhas. É autor da valsa "Jardim Botânico" (dedicada a Sra. Teresa dos Santos Barreto d'Albuquerque), que consta no álbum "Rio de Janeiro - Álbum Pitoresco Musical", publicado pelos Sucessores de P. Laforge.

Compôs e publicou em 1851 as seguintes quadrilhas: "Mãe-d'Água", "Paquetá", "A Penha" e "Cascata da Tijuca". Compôs a modinha "Ó Virgem".

É quase certo - e assim consta na maioria das partituras da edição musical - que seja o autor da música sobre os versos de Castro Alves, O gondoleiro do amor. Em 1960, essa música foi gravada pela cantora Stellinha Egg, constando no selo como autor da letra o nome de Sábregas, possivelmente um erro de revisão tipográfica.

Dados adicionais

Segundo consulta em alguns jornais e revistas da época, pertencentes ao acervo digital da Biblioteca Nacional (Hemeroteca Digital Brasileira), constata-se que o cantor, pianista e professor (mestre) de música Salvador Fábregas era de origem espanhola, casado, tendo residido em diversos endereços na cidade do Rio de Janeiro como, inicialmente, Rua do Lavradio, 34, depois Rua do Núncio, 7, Rua do Regente, 55, Rua do Engenho-Velho, 99, e por fim, Rua do Mattoso, 47, seu último endereço terreno.

Faleceu vitimado por embolia cerebral, sendo sepultado em 17/09/1877.


Fontes: Dicionário da MPB; O Globo, de 21/09/1877; O Cruzeiro, de 25/11/1878; Boletim do Expediente do Governo, de fevereiro/1862; Gazeta de Notícias - Obituário, de 19/07/1877; Almanak Adm. Mercantil e Indl. do Rio de Janeiro 1852-1877.

Castro Alves e o gondoleiro do amor

Castro Alves (Antônio de Castro Alves), poeta, nasceu em Muritiba (BA) em 14/03/1847 e faleceu em Salvador (BA), em 06/07/1871. Nasceu na fazenda de Cabeceiras da então freguesia de Muritiba. Poeta romântico, teve alguns de seus poemas musicados, como O adeus a Teresa, Boa-noite, A volta da primavera, O coração e Adormecida, por compositores desconhecidos, que os transformaram em modinhas.

O poema As duas flores foi musicado por Xisto Bahia, Gondoleiro do amor, por Salvador Fábregas. Seu poema Canção da boêmia teve duas músicas diferentes, uma feita na Paraíba e outra no Ceará, ambas no séc. XIX, com o título de Vamos, Eugênia, fugindo. A versão cearense foi gravada por Luís Heitor para o acervo da E.N.M.U.B., do Rio de Janeiro RJ, em 1943, com canto e acompanhamento de duas violas.

A paixão concreta e ardente pela atriz portuguesa Eugênia Câmara influenciou o poeta em sua visão poética do amor. Essa visão pode ser classificada não só como sentimental, mas também como sensual, entendida como uma poesia que apela aos sentidos (sensorial). É desse período o poema O Gondoleiro do Amor, em que a descrição da amada é carregada de uma sensualidade sem precedentes no Romantismo brasileiro.

Inspirado por Eugênia, Castro Alves escreveu seus mais belos poemas de esperança, euforia, desespero e saudade, como É Tarde. Pela primeira vez, a poesia é motivada pela paixão e pelo envolvimento amoroso, e a dor não se traduz em lamentos e queixas. Seu sentimentalismo amoroso é maduro, adulto e se realiza em sua plenitude carnal e emocional.

Gondoleiro do Amor - Castro Alves e Salvador Fábregas - Interpretação: Vicente Celestino



Teus olhos são negros, negros, como as noites sem luar ... / São ardentes, são profundos, como o negrume do mar... / Sobre o barco dos amores, da vida boiando à flor, / doiram teus olhos a fronte do Gondoleiro do amor...

Tua voz é a cavatina dos palácios do Sorrento. / Quando a praia beija a vaga, / quando a vaga beija o vento. / E como em noites de Itália, ama um canto o pescador / Bebe a harmonia em teus cantos o Gondoleiro do Amor.

Teu amor na treva é um astro, no silêncio, uma canção / É brisa nas calmarias, é abrigo no tufão / Por isso eu te amo, querida, quer no prazer, quer na dor. / Rosa! Canto! Sombra! Estrela! do Gondoleiro do Amor.

Tute e o violão de 7 cordas

Tute (Artur de Souza Nascimento), instrumentista, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 01/07/1886 e faleceu em 15/06/1957. Inicialmente fez parte da Banda do Corpo de Bombeiros como bombeiro (tocador de bombo) e coma pratista (tocador de pratos).

Mais tarde, como violonista, integrou a orquestra do Teatro Rio Branco, dirigida por Paulino Sacramento. Na ausência eventual de Antônio Maria Passos, flautista efetivo dessa orquestra, propôs como substituto o flautista Pixinguinha, então com 15 anos, que iniciou, assim, sua carreira de profissional (foto ao lado: Tute com Pixinguinha).

Foi violonista de vários conjuntos, entre os quais o Grupo Chiquinha Gonzaga, o Grupo da Velha Guarda, Os Cinco Companheiros, Gente Boa, a Orquestra Copacabana (tocando banjo), a Orquestra Victor Brasileira.

De 1929 a 1945, foi companheiro de Luperce Miranda (bandolim) na Rádio Mayrink Veiga e Rádio Nacional, do Rio de Janeiro. Também com Luperce, acompanhou Carmen Miranda, Francisco Alves, Mário Reis e um casal de bailarinos a Buenos Aires, Argentina, em 1931.

Foi introdutor, nos conjuntos de choro e nos conjuntos regionais de que fazia parte, do violão de sete cordas, com a sétima corda afinada em dó.

"O violão de sete cordas foi idealizado por Tute no início do século XX. Tute era violonista do conjunto Os Oito Batutas, liderado por Pixinguinha. No estilo ‘choro’, o violão se caracteriza por frases de contraponto geralmente em escala descendente, utilizando-se somente as cordas graves. Daí o nome ‘baixaria’. Tute sentia necessidade de algumas notas mais graves, daí a idéia de colocar uma corda a mais nos bordões. Ele idealizou, desenvolveu e tocou o ‘7 Cordas’ até 1950, quando faleceu" (Raphael Rabello).


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha.

Casimiro da Rocha

Casimiro da Rocha, instrumentista e compositor, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 1880 e faleceu em 27/2/1912. Integrou a banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro na época de Anacleto de Medeiros.

Inspirado no pregão dos compradores de ratos durante a campanha de combate à peste bubônica, promovida por Oswaldo Cruz (1872-1917), compôs a polca Rato, rato, que se tornou célebre ao ser gravada em 1905 pela Casa Edison, com o seu autor ao trompete, Tute ao violão e Chico da Banana ao cavaquinho.

Para combater a peste bubônica que se alastrava pelo Rio de Janeiro em 1903, o diretor da Saúde Pública, Osvaldo Cruz, determinou uma desratização da cidade. Dentro dos limitados recursos que dispunha, organizou uma brigada de exterminadores, dando a cada um de seus integrantes a tarefa de apresentar o mínimo de cinco ratos mortos por dia. O que excedia a esse número era gratificado à razão de 300 réis por cabeça...

E lá saíam eles pelas ruas, carregando grandes latas e apregoando a compra de ratos: "rato! rato!". Tal pregão motivou Casimiro da Rocha, pistonista da Banda do Corpo de Bombeiros, a compor a polca "Rato Rato", sucesso que depois ganhou letra de Claudino Costa "Rato, rato, rato / Por que motivo tu roeste meu baú?" Em tempo: a guerra aos ratos deu certo. Em 4 de abril de 1904, foi anunciado oficialmente o fim da peste. A seguir algumas versões da música:

Rato rato (polca, 1905) - Casimiro da Rocha - Intérprete: Casimiro da Rocha:

Disco Odeon R / Título da música: Rato rato / Casimiro da Rocha (Compositor) / Casimiro da Rocha [Trompete] / Cavaquinho e Violão (Acomp.) / Gravadora: Odeon R / Gravação: 1907 / Lançamento: 1908 / Nº do Álbum: 108069 - 108081 / Nº da Matriz: xR602 / Gênero musical: Polca / Coleções de origem: IMS, Nirez



Rato rato (cançoneta, 1904) - Sem autor - Intérprete: Alfredo Silva

Disco Odeon R / Título da música: Rato rato / Sem autor / Alfredo Silva (Intérprete) / Piano (Acomp.) / Gravadora: Odeon R / Gravação: 1904 / Lançamento: 1904 / Nº do Álbum: 100060 / Nº da Matriz: Sem registro / Gênero musical: Cançoneta / Coleções de origem: Humberto Franceschi



Rato rato (choro) - Casimiro (ou Casemiro) da Rocha e Claudino Costa - Intérprete: Claudino Costa

Disco Odeon R / Título da música: Rato rato / Casimiro da Rocha (Compositor) / Claudino Costa (Compositor) / Claudino Costa (Intérprete / Gravadora: Odeon R / Gravação: 1912-15 / Lançamento: 1912-15 / Nº do Álbum: 120062 / Nº da Matriz: Sem registro / Gênero musical: Choro




Fontes: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello; Editora 34 e Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha; Discografia Brasileira - IMS; Instituto Moreira Salles.

Carlos Gomes

A música de Carlos Gomes, de temática brasileira e estilo italiano inspirado basicamente nas óperas de Giuseppe Verdi, ultrapassou as fronteiras do Brasil e triunfou junto ao público europeu.


Antônio Carlos Gomes nasceu em Campinas SP, em 11/07/1836. Estudou música com o pai e fez sucesso em São Paulo com o Hino acadêmico (com Bittencourt Sampaio) e com a modinha Quem sabe?, conhecida também como Tão longe, de mim distante, de 1860.

Continuou os estudos no conservatório do Rio de Janeiro, onde foram apresentadas suas primeiras óperas: A noite do castelo (1861), com libreto de Fernandes dos Reis, e Joana de Flandres (1863), com libreto de Salvador de Mendonça. Com uma bolsa do conservatório, estudou em Milão com Lauro Rossi e diplomou-se em 1866.

Em 19 de março de 1870 estreou no Teatro Scala de Milão sua ópera mais conhecida, Il guarany (O guarani), com libreto de Antonio Scalvini e baseada no romance homônimo de José de Alencar. Encenada depois nas principais capitais europeias, essa ópera consagrou o autor e deu-lhe a reputação de um dos maiores compositores líricos da época.

O sucesso europeu de Il guarany repetiu-se no Brasil, onde Garlos Gomes permaneceu por alguns meses antes de retomar a Milão, com uma bolsa de D. Pedro ll, para iniciar a composição da Fosca, melodrama em quatro atos em que fez uso do Leitmotiv, técnica então inovadora, e que estreou em 1873 no Scata. Mal recebida pelo público e pela crítica, essa viria a ser considerada mais tarde como a mais importante de suas obras.

Depois de Salvatore Rosa (1874) e Maria Tudor (1879), Carlos Gomes voltou ao Brasil e foi recebido triunfalmente. Nessa temporada brasileira, dirigiu na Bahia e no Rio de Janeiro a montagem de Il guarany e de Salvatore Rosa. Ainda na Bahia apresentou Hino a Camões e em São Paulo realizou, no Teatro São José, a primeira montagem de Il guarany no estado natal. A partir de 1882, Carlos Gomes passou a dividir seu tempo entre o Brasil e a Europa. No Teatro Lírico do Rio de Janeiro estreou Lo schiavo (1889; O escravo), de tema brasileiro.

Com a proclamação da república, perdeu o apoio oficial e a esperança de ser nomeado diretor da Escola de Música do Rio de Janeiro. Retomou então a Milão e estreou O condor (1891 ), no Scala. Doente e em dificuldades financeiras, compôs seu último trabalho, Colombo, oratório em quatro atos para coro e orquestra a que chamou poema vocal sinfônico e dedicou ao quarto centenário do descobrimento da América. A obra foi encenada em 1892 no Teatro Lírico do Rio de Janeiro.

Em 1895 Carlos Gomes dirigiu Il guarany no Teatro São Carlos, de Lisboa, cidade em que recebeu a última homenagem: foi condecorado pelo rei Carlos I. No mesmo ano chegou ao Pará, já doente, para ocupar a diretoria do Conservatório de Música de Belém, cargo criado pelo govemador Lauro Sodré para ajudá-lo.

Os modernistas de 1922 desprezaram Carlos Gomes, mas o público brasileiro sempre valorizou suas modinhas românticas - Bela ninfa de minh'alma, Suspiros d'alma, Quem sabe? -, a parte mais autenticamente nacional de sua obra, e a abertura ("protofonia") de Il guarany.

Em 1993 essa ópera, meio esquecida, voltou aos palcos europeus ao ser montada por Wemer Herzog, na ópera de Bonn, com Plácido Domingo no papel de Peri. Carlos Gomes morreu em Belém, em 16 de setembro de 1896.

Óperas

A Noite do Castelo (1861); Joana de Flandes (1863); Se sa Minga (1866); Nella Luna (1868); Guarany (1870); Fosca (estréia 1873); Salvador Rosa (1874); Maria Tudor (1879); Lo Schiavo - O Escravo (1889); Condor (1891); Colombo (1891).

Canções

Missa de São Sebastião (1854); Bela Ninfa de Minh'Alma (1857); A Alta Noite (1859); Hino Acadêmico (1859); Quem Sabe? (1859); Suspiros d'Alma (1859); Anália Ingrata (1859); Missa de Nossa Senhora da Conceição (1859); Salve o Dia da Ventura (1860); A Última Hora do Calvário (1860); Lo ti vidi (1866); Noturno (1866); La Madamina (1867); Eternamente (1867); Lisa, me vos tu ben? (1869); Saldação do Brasil (1876); Hino a Camões (1880); Tu m'ami (1885-90); Pensa (1885-90); Per me solo (1885-90); Dolce rimprovero (1885-90); Canta ancor (1885-90); Povera bambola (1885-90); Addio (1885-90).

Bittencourt Sampaio

Bittencourt Sampaio (Francisco Leite de Bittencourt Sampaio), poeta, violonista e cantor, nasceu em Laranjeiras, província de Sergipe. Estudou Direito na Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo.

Sabe-se que gostava de fazer experiências de magia branca nas "repúblicas" ou casas de família, distraindo a todos com sua alegria e bom-humor. Promovia saraus literários e musicais e gostava de acompanhar-se ao violão.

Fez carreira política, chegando a administrar a província do Espírito Santo. Foi também diretor da Biblioteca Nacional. Escreveu em diversos periódicos da época, entre eles, a "República". Faleceu, no Rio de Janeiro, a 10 de outubro de 1895.

Autor da letra do famoso "Hino Acadêmico" da Faculdade de Direito. É dele também a letra de uma das modinhas mais conhecidas do Brasil: Quem sabe? (Tão longe de mim distante). Ambas em parceria com o maestro Carlos Gomes. Representante do romantismo literário no Brasil. O "Hino acadêmico" foi gravado em 1974, em versão instrumental, Editora Três - Companhia Brasileira de Discos Phonogram (Detsche Grammophon 2.530.506-B, 3).

Hino Acadêmico - Carlos Gomes e letra de Bittencourt Sampaio- Interpretação: Coral da Faculdade de Direito da USP


"Sois da Pátria a esperança fagueira, / Branca nuvem de um róseo porvir;
Do futuro levais a bandeira, / Hasteada na frente a sorrir.
Mocidade, eia avante, eia avante! / Que o Brasil sobre vós ergue a fé;
Este imenso colosso gigante / Trabalhai por erguê-lo de pé!

0 Brasil quer a luz da verdade, / E uma c'roa de louros também,
Só as leis que nos dêem liberdade, / Ao gigante das selvas convém!
Vossa estrela reluz radiante, / Oh! erguei-a vós todos, com fé,
Este imenso colosso gigante / Trabalhai por erguê-lo de pé!

É nas letras que a Pátria querida / Há de um dia, fulgente, se erguer,
Velha Europa, curvada e abatida, / Lá de longe que inveja há de ter!
Nós iremos marchando adiante, /Acenando o futuro com fé,
Este imenso colosso gigante / Trabalhai por erguê-lo de pé!

Orgulhoso o bretão lá dos mares / Respeitar-nos então há de vir,
São direitos sagrados os lares, / Nunca mais ousarão nos ferir.
Auriverde pendão fulgurante / Hasteai-o, mancebos, com fé!
Este imenso colosso gigante, / Trabalhai por erguê-lo de pé!

São imensos os rios que temos, / Nossos campos quão vastos que são!
As montanhas tão altas, que vemos, / De um futuro bem alto serão.
0 futuro não vai mui distante, / Já podeis acená-lo com fé,
Este imenso colosso gigante, / Trabalhai por erguê-lo de pé!

Nossos pais nos legaram guerreiros, / Honra a glória, virtude e saber;
Nós os filhos de pais brasileiros, / Pela Pátria devemos morrer!
Mocidade eia avante, eia avante! / Que o Brasil sobre vós ergue a fé!
Este imenso colosso gigante, / Trabalhai por erguê-lo de pé!"



Fonte: Dicionário Cravo Albin.