Os boêmios, tango-cançoneta do maestro Anacleto de Medeiros cheio da efervescência rítmica do popular maxixe, traduz em sua melodia o ambiente boêmio da cidade do Rio de Janeiro, as rodas de choro nos bares e nas casas de família, os bailes populares e os encontros musicais nas festas religiosas.
A composição, interpretada pelo cantor da Casa Edison Mário Pinheiro, é, sem dúvida, uma homenagem ao meio cultural em que Anacleto construiu sua identidade como músico e compositor. Ele viveu intensamente a agitação do Rio de Janeiro na virada do século XIX para o XX. Ouça a gravação abaixo:
Disco selo: Odeon Record / Título da música: O Boêmio / Anacleto de Medeiros (Compositor) / Catulo Cearense (Compositor) / Mário Pinheiro (Intérprete) / Piano (Acomp.) / Nº do Álbum: 40486 / Lançamento: 1906 / Gênero musical: Tango Cançoneta / Coleção de Origem: IMS, Nirez
Os boêmios - Letra: Catulo da Paixão Cearense
Deus que viver, que prazer
Nesta vida que teço o senhor
Eu gozo só, sem tocar no
Duede travesso do amor!
Oh lé lé! Sou feliz! Uma pinga
De lieias, me faz entrever
O gozar nesta vida borida
É traze-la florida
Em alaere folgar
Mas, oh, que importa o sofrer
Se eu só conheço o prazer?
Eu sei desviar-me da dor
E leve o diabo ao amor!
Meu coração, não aceita
Os espinhos daninhos do amor
Se a mulher, veja ali
Vou passando
Brincando, folgando
A cantar, sou assim!
E que fuja a mulher
O demonio de mim!
Deus me deu esta vida
Por prêmio, serei o boêmio
Que ele quiser
Leve o diabo até inferno
Da vida, a este terreno
Ridente sofrer!
Num copo eu venço o amargor
Do viver!
Tem doçura ao beber! Oh!
Leve o diabo a este inferno
Da vida, este terreno
Cansado sofrer
Eu só encontro alegria no céu
Da folia, cantando a beber!
Oh, como é bom, como é boa
Esta vida que passo sem lar!
Não quero amar, só namoro
A natura que levo a cantar
Uma flor, o luar
Das estrelas, namoro
O divino fulgor
Que ao boêmio dão
Almas meiguices, sem essas
Pieguices do bobo do amor