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Abdon Lyra |
Abdon Lyra (23/09/1887 També, PE - 22/9/1962 Rio de Janeiro, RJ), maestro, trombonista e compositor, começou já, com 14 anos, a dirigir a banda de música de sua pequena cidade.
Em 1908, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a atuar como trombonista em diversas orquestras.
Sua música mais conhecida é a modinha
Estela, com versos de
Adelmar Tavares, gravada por volta de 1909 por
Mário Pinheiro e em 1910 por
Eduardo das Neves na Odeon. Em 1914, o cantor Orestes de Matos gravou sua modinha
Estela, com Adelmar Tavares.
Em 1931, teve a toada Nós somos do Ceará, parceria com Oscar Arruda, gravada pelo próprio Oscar Arruda e a canção Djanira, parceria com Oscar Arruda, gravada na Odeon por Armindo trinta.
Em 1948, junto com o poeta e letrista
Olegário Mariano, ganhou um concurso no qual se escolhia o "Hino da Música".
Obra
Djanira (c/ Oscar Arruda), Estela (c/ Adelmar Tavares), Hino da Música (c/ Olegário Mariano), Nós somos do Ceará (c/ Oscar Arruda).
O grande maestro e trombonista
Abdon Lyra desde tenra idade foi um apaixonado por música. De origem muito humilde, no entanto, não possuía recursos para entrar para a Escola de Música. Mas a música estava no seu destino. Quando contava com apenas oito anos de idade, foi assistir a uma apresentação da Banda do Corpo de Bombeiros no coreto da praça de sua pequena cidade e ficou fascinado com o trombone. Sem dinheiro para comprar o instrumento, decidiu fabricá-lo ele próprio, com latas que eram jogadas fora.
Dotado de excelente ouvido musical, Abdon Lyra começou a estudar trombone por conta própria. Aos doze anos começou a dar aulas de música para ganhar dinheiro, pois seu objetivo era ir a Recife comprar livros de teoria musical e partituras para trombone, para se aperfeiçoar nos estudos.
Autodidata, aos catorze anos já dirigia a banda de música da pequena També. Depois foi para Recife para fazer o Curso de Humanidades no Instituto de Pernambuco, e então foi convidado pelo diretor para dirigir a banda de música do colégio.
Em 1908, aos 21 anos, viajou para o Rio de Janeiro, ingressando nas orquestras, tocando trombone, instrumento de sua profissão. Dois anos depois conheceu Octávia de Carvalho, uma jovem orfã nascida em João Pessoa, que tinha vindo para o Rio de Janeiro após a morte dos pais, para morar com uma prima. Logo os dois se apaixonaram e, três meses depois de se conhecerem, estavam casados.
Desta união tiveram dois filhos: Lupercílio e Léa, ambos também com dons musicais. Lupercílio estudou saxofone, fazendo parte, posteriormente, da Orquestra da Rádio Nacional, e Léa formou-se em piano, tornando-se professora deste instrumento.
Abdon Lyra fez parte da Sociedade de Concertos Sinfônicos e da Orquestra do Teatro Municipal e, por concurso, foi professor catedrático da cadeira de trombone da Escola Nacional de Música.
Sem esquecer a origem nordestina, Abdon compôs várias peças tendo como tema o Maracatu; compôs "Fantasia para Trombone e Orquestra", o "Dobrado Brasil Eterno", onde foi colocada letra por Aloísio Pereira Pires e ficando conhecida como "A Canção das Comunicações"; compôs o "Hino sobre Rio Bonito" e a música "Estela", com letra do poeta Adelmar Tavares, seu amigo.
Em meados de 1948 conquistou o primeiro lugar no concurso realizado para escolha do Hino à Música, com letra de Olegário Mariano, e que é o Hino Oficial da Escola de Música da UFRJ. Também é de sua autoria a Canção do Trabalhador Brasileiro, cuja letra é de autoria de sua filha Léa Lyra.
Em maio de 1952 sua esposa Octávia veio a falecer, mas Abdon, que também se dedicara à espiritualidade, não se deixou abater e continuou lecionando e regendo. Muito ligado à família, Abdon Lyra era um homem cativante. Simpático e elegante, sempre tinha um sorriso para dar às pessoas.
Foi o maior incentivador de sua neta Leuri, filha de Léa, também apaixonada pelos sons, e sempre lhe dava cadernos de música para que a pequena Nini - como era carinhosamente chamada - escrevesse suas composições. No entanto, nunca foi ambicioso. Sempre se dedicou à música por amá-la de fato e não para fazer dela um meio de enriquecer ou de se autopromover.
Trabalhava de madrugada, frente à sua escrivaninha, sob a luz tênue de uma luminária, transcrevendo obras para todos os instrumentos de uma orquestra, e se, num ensaio de regência, algum instrumento não estava afinado, ele o sabia imediatamente, mesmo quando tocado juntamente com todos os outros, tal era o seu ouvido musical.
Após se aposentar pela Escola de Música, Abdon Lyra continuou ligado ao que amava, dando aulas particulares de teoria musical e de violão, seu segundo instrumento. Mas, em 1961, começou a apresentar sintomas de arteriosclerose, o que fez com que suas atitudes perante a vida e perante os outros fossem se modificando. Certa tarde, ao atravessar uma rua, Abdon foi atropelado por um carro, indo ao chão. Teve seu rosto machucado e seus olhos, feridos. Já sofria de glaucoma, o que agravou com o ferimento.
Resistindo a ser tratado pela filha, pois a arteriosclerose o fez ficar desconfiado e teimoso, teve uma infecção ocular que o levou à cegueira. Em jovem, ele sempre dizia que não suportaria se lhe faltasse a visão. No entanto, quando esta lhe faltou, ele já não tinha mais consciência disso.
Abdon Lyra perdeu toda a noção do tempo, só não perdeu a noção da música. Internado na Beneficência Portuguesa, o maestro, embora não reconhecendo mais a família, compunha trechos musicais belíssimos que solfejava para sua netinha, quando esta ia visitá-lo, mesmo sem conhecê-la mais.
Em setembro de 1962, Abdon Lyra foi acometido de insuficiência renal aguda e falência múltipla dos órgãos, vindo a morrer na madrugada do dia 22, num quarto da Beneficência Portuguesa, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Foi enterrado no dia 23 de setembro, dia em que completaria 75 anos de idade. (fonte:
Abdon Lyra - Samba & Choro