Vicente Celestino interpretando "O ébrio". |
O sucesso permanente da canção "O Ébrio" inspiraria, dez anos depois de seu lançamento, a realização do filme homônimo, recordista de bilheteria em todo o país. Impressionado com o personagem, o público chegaria mesmo a identificá-lo com seu criador, o abstêmio Vicente Celestino.
Com efeito, o tema e principalmente a forma declamada da interpretação foram fatores decisivos para que se chegasse a tal exagero. A letra dramática, repleta de desventuras e imagens beirando a pieguice, é uma perfeita sinopse para o enredo de um filme, desde o prólogo falado à parte musical propriamente dita. Nesta, o contraste da primeira parte, no modo menor, com a segunda, no modo maior, contribui para ressaltar a tragédia do protagonista. "O Ébrio", que também inspirou uma peça de teatro (em 1936) e uma novela de televisão (na TV Paulista, em 1965), foi lançado no terceiro disco de Vicente Celestino na Victor, gravadora onde ele permaneceu por 33 anos, até sua morte em 1968.
O Ébrio (canção, 1936) - Vicente Celestino - Intérprete: Vicente Celestino
Disco 78 rpm / Título da música: O ébrio / Vicente Celestino (Compositor) / Vicente Celestino (Intérprete) / Orquestra Victor Brasileira (Acomp.) / Gravadora: Victor / Gravação: 07/08/1936 / Lançamento: 09/1936 / Nº do Álbum: 34091 / Nº da Matriz: 80195-1 / Gênero musical: Canção
"Nasci artista. Fui cantor. Ainda pequeno levaram-me para uma escola de canto. O meu nome, pouco a pouco, foi crescendo, crescendo, até chegar aos píncaros da glória. Durante a minha trajetória artística tive vários amores. Todas elas juravam-me amor eterno, mas acabavam fugindo com outros, deixando-me a saudade e a dor. Uma noite, quando eu cantava a "Tosca", uma jovem da primeira fila atirou-me uma flor. Essa jovem veio a ser mais tarde a minha legítima esposa.
Um dia, quando eu cantava "A Força do Destino", ela fugiu com outro, deixando-me uma carta, e na carta um adeus. Não pude mais cantar. Mais tarde, lembrei-me que ela, contudo, me havia deixado um pedacinho de seu eu: a minha filha. Uma pequenina boneca de carne que eu tinha o dever de educar. Voltei novamente a cantar mas só por amor à minha filha. Eduquei-a, fez-se moça, bonita...
E uma noite, quando eu cantava ainda mais uma vez "A Força do Destino", Deus levou a minha filha para nunca mais voltar. Daí pra cá eu fui caindo, caindo, passando dos teatros de alta categoria para os de mais baixa. Até que acabei por levar uma vaia cantando em pleno picadeiro de um circo. Nunca mais fui nada. Nada, não! Hoje, porque bebo a fim de esquecer a minha desventura, chamam-me ébrio, ébrio..."
-----Am--------- E7------------------------- Am
Tornei-me um ébrio, na bebida busco esquecer
-------------A7 ----------------------------------Dm
Aquela ingrata que eu amava, e que me abandonou
---------------------Dm6 ---------Am
Apedrejado pelas ruas, vivo a sofrer
--------------B7---------------------------- E7
Não tenho lar, e nem parentes, tudo terminou
---------------------------------------------Am
Só nas tabernas é que encontro o meu abrigo
-----------A7------------------------------- Dm
Cada colega de infortúnio, um grande amigo
-------------------------Dm6--------------- Am
Que embora tenham como eu seus sofrimentos
------------E7----------------------------- Am --------E7
Me aconselham, e aliviam os meus tormentos
Com efeito, o tema e principalmente a forma declamada da interpretação foram fatores decisivos para que se chegasse a tal exagero. A letra dramática, repleta de desventuras e imagens beirando a pieguice, é uma perfeita sinopse para o enredo de um filme, desde o prólogo falado à parte musical propriamente dita. Nesta, o contraste da primeira parte, no modo menor, com a segunda, no modo maior, contribui para ressaltar a tragédia do protagonista. "O Ébrio", que também inspirou uma peça de teatro (em 1936) e uma novela de televisão (na TV Paulista, em 1965), foi lançado no terceiro disco de Vicente Celestino na Victor, gravadora onde ele permaneceu por 33 anos, até sua morte em 1968.
O Ébrio (canção, 1936) - Vicente Celestino - Intérprete: Vicente Celestino
Disco 78 rpm / Título da música: O ébrio / Vicente Celestino (Compositor) / Vicente Celestino (Intérprete) / Orquestra Victor Brasileira (Acomp.) / Gravadora: Victor / Gravação: 07/08/1936 / Lançamento: 09/1936 / Nº do Álbum: 34091 / Nº da Matriz: 80195-1 / Gênero musical: Canção
"Nasci artista. Fui cantor. Ainda pequeno levaram-me para uma escola de canto. O meu nome, pouco a pouco, foi crescendo, crescendo, até chegar aos píncaros da glória. Durante a minha trajetória artística tive vários amores. Todas elas juravam-me amor eterno, mas acabavam fugindo com outros, deixando-me a saudade e a dor. Uma noite, quando eu cantava a "Tosca", uma jovem da primeira fila atirou-me uma flor. Essa jovem veio a ser mais tarde a minha legítima esposa.
Um dia, quando eu cantava "A Força do Destino", ela fugiu com outro, deixando-me uma carta, e na carta um adeus. Não pude mais cantar. Mais tarde, lembrei-me que ela, contudo, me havia deixado um pedacinho de seu eu: a minha filha. Uma pequenina boneca de carne que eu tinha o dever de educar. Voltei novamente a cantar mas só por amor à minha filha. Eduquei-a, fez-se moça, bonita...
E uma noite, quando eu cantava ainda mais uma vez "A Força do Destino", Deus levou a minha filha para nunca mais voltar. Daí pra cá eu fui caindo, caindo, passando dos teatros de alta categoria para os de mais baixa. Até que acabei por levar uma vaia cantando em pleno picadeiro de um circo. Nunca mais fui nada. Nada, não! Hoje, porque bebo a fim de esquecer a minha desventura, chamam-me ébrio, ébrio..."
-----Am--------- E7------------------------- Am
Tornei-me um ébrio, na bebida busco esquecer
-------------A7 ----------------------------------Dm
Aquela ingrata que eu amava, e que me abandonou
---------------------Dm6 ---------Am
Apedrejado pelas ruas, vivo a sofrer
--------------B7---------------------------- E7
Não tenho lar, e nem parentes, tudo terminou
---------------------------------------------Am
Só nas tabernas é que encontro o meu abrigo
-----------A7------------------------------- Dm
Cada colega de infortúnio, um grande amigo
-------------------------Dm6--------------- Am
Que embora tenham como eu seus sofrimentos
------------E7----------------------------- Am --------E7
Me aconselham, e aliviam os meus tormentos
----------A-------- Gb7 ---------Bm
Já fui feliz e recebido com nobreza até
----------------E7----------------------- A -------E7
Nadava em ouro, e tinha alcova de cetim
--------------A---------------- Gb7 -------------Bm
E a cada passo um grande amigo em que depunha fé
--------------E7 ---------------A
E nos parentes . . . confiava sim . . .
--------------------------Gb7-------- Bm
E hoje ao ver-me na miséria, tudo vejo então
----------D7 ---------------------------Db7
O falso lar que amava, e a chorar deixei
------------Dm--------- F -----A------------ Gb7
Cada parente, cada amigo, um ladrão
---------------Bm--------- E7------------- A----- Am
Me abandonaram, e roubaram o que amei.
------------E7 -----------------------Am
Falsos amigos, eu vos peço, imploro a chorar
-----------------A7---------------------------------- Dm
Quando eu morrer a minha campa nenhuma inscrição
-----------------------------------Dm6------------ Am
Deixai que os vermes pouco a pouco venham terminar
---------------B7------------------- E7
Este ébrio triste, e este triste coração
---------------------------------------------Am
Quero somente na campa em que eu repousar
--------------A7--------------------------- Dm
Os ébrios loucos como eu venham depositar
---------------------------------Dm6------ Am
Os seus segredos, ao meu derradeiro abrigo
----------E7 -------------------------Am
E suas lágrimas de dor ao peito amigo
Fontes A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34; Discografia Brasileira - IMS; Instituto Moreira Salles.
Ótimo texto! Cheguei ao filme do Ébrio por acidente enquanto buscava pelo significado da palavra no google, e assisti por curiosidade é realmente um filme muito bem elaborado e a música é de emocionar a letra.
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