Milton Nascimento morava numa pensão em São Paulo, quando compôs três canções que iriam mudar o curso de sua vida. “Achei que uma delas não era para mim, nem para o Márcio Borges botar letra”, declarou o compositor em um programa da Rádio JB sobre a sua carreira, em outubro de 1990. “Então fui a Belo Horizonte e pedi ao amigo Fernando Brant para fazê-la.” Mas Brant, que jamais havia feito uma letra, recusou sensatamente a incumbência.
Só que o obstinado Milton ignorou a recusa e, deixando-lhe uma gravação da música, retornou a São Paulo, avisando-lhe que em sua próxima visita a Belo Horizonte queria ver a letra pronta. Já havia um título — “O Vendedor de Sonhos” —, uma frase como introdução — “Quem quer comprar meu sonho?” — e um tema para a canção: a história de um personagem, uma espécie de caixeiro viajante, que vendia sonhos.
No entanto, Fernando preferiu criar uma letra diferente sobre o rompimento de um namoro e a expectativa de superar esta situação. Quando Milton voltou e viu a letra, gostou tanto que até bebeu um vinho de Caldas, para comemorar com o novo parceiro o nascimento da canção.
Já o título “Travessia” seria encontrado no texto do livro Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, mais precisamente em sua última palavra. Foi assim, meio surpreso, que Fernando Brant descobriu-se poeta. Juntamente com as outras duas composições — “Morro Velho” (só de Milton) e “Maria, Minha Fé” (letra de Márcio Borges) —, “Travessia” foi inscrita no II FIC. Aliás, inscrição feita à revelia dos autores, por Agostinho dos Santos, que havia recebido as músicas para gravar. A verdade é que a melhor das três, “Travessia”, qualificada como “toada que vem de Minas”, acabou por se classificar em segundo lugar no festival e ainda o prêmio de melhor intérprete a Milton Nascimento.
Esta canção excepcional mostra que Milton já começou fazendo música séria e não apenas música bonita, como analisaria o arranjador Eumir Deodato, em depoimento a Zuza Homem de Mello, em setembro de 68: “O contexto geral da música dele é baseado em música clássica, adaptada a ritmos desconhecidos totalmente. Até hoje não consegui descobrir o impulso rítmico que ele dá às suas músicas. É uma coisa totalmente nova, misteriosa, intrigante e desafiadora.”
“Travessia”, que é e sempre será uma peça importante na obra coerente e equilibrada de Milton Nascimento, possui inúmeras gravações de cantores como Agostinho dos Santos, Elis Regina e Leny Andrade, instrumentistas como Luís Eça, Paulo Moura, Lindolfo Gaya, e no exterior Sarah Vaughan (com Milton), Joe Williams e outros, com o título de “Bridges” e letra de Gene Lees (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
Travessia (canção, 1967) - Fernando Brant e Milton Nascimento - Interpretação: Milton Nascimento
LP Milton Nascimento / Título da música: Travessia / Fernando Brant (Compositor) / Milton Nascimento (Compositor) / Milton Nascimento (Intérprete) / Gravadora: Ritmos / Codil / Ano: 1967 / Nº Álbum: CDL 13004 / Lado A / Faixa 4 / Gênero musical: MPB.
Travessia (canção, 1967) - Fernando Brant e Milton Nascimento - Interpretação: Milton Nascimento
LP Milton Nascimento / Título da música: Travessia / Fernando Brant (Compositor) / Milton Nascimento (Compositor) / Milton Nascimento (Intérprete) / Gravadora: Ritmos / Codil / Ano: 1967 / Nº Álbum: CDL 13004 / Lado A / Faixa 4 / Gênero musical: MPB.
Tom: A Intro: ( A7+ Bm/A ) A7M D#m7(9)E/D A7+ E7(sus4) A7+ E7(sus4) Quando você foi embo___ra fez-se noite em meu viver A7M E/G# F#m7 B7 Em A7 D7M(9/#5) D7M Forte eu sou mas não tem jei_to, hoje eu tenho que chorar G7+ G#m5-/7 C#7(b9) F#m7 F#m/E D#m7(9) E/D Minha ca___sa não é minha, e nem é meu este lugar A7+ Bm C#m7 F#7(b9) Bm7 E7(sus4) A7+ E7(sus4) Estou só e não resisto, muito tenho prá falar A7M G/A F#m7 C#m7 Solto a voz nas estradas, já não quero parar D7M E/D C#m7 F#m7 Bm7 Bb7/9 Meu caminho é de pedras, como posso sonhar A7M G/A F#m7 C#m7 Sonho feito de brisa, vento vem terminar D7M D/E Bm7 E7/9 A7M Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar ( A7M E7(sus4) ) A7m D#m7(9) E/D A7M E7(sus4) A7M E7(sus4) Vou seguindo pela vida me esquecendo de você A7M E/G# F#m7 B7 Em7 A7 D7M(9/#5) D7M Eu não quero mais a mor__te, tenho muito que viver G7M G#m5-/7 C#7(b9) F#m7 F#m/E D#m7 E/D Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer A7M Bm C#m7 F#7(b9) Bm7 E7/9 A7M Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver A7M G/A F#m7 C#m7 Solto a voz nas estradas, já não quero parar D7M E/D C#m7 F#m7 Bm7 Bb7/9 Meu caminho é de pedras, como posso sonhar A7M G/A F#m7 C#m7 Sonho feito de brisa, vento vem terminar D7M D/E Bm7 E7/9 A7M Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar ( A7M E7(sus4) ) A7m D#m7(9) E/D A7M E7(sus4) A7M E7(sus4) Vou seguindo pela vida me esquecendo de você A7M E/G# F#m7 B7 Em7 A7 D7M(9/#5) D7M Eu não quero mais a mor__te, tenho muito que viver G7M G#m5-/7 C#7(b9) F#m7 F#m/E D#m7 E/D Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer A7M Bm C#m7 F#7(b9) Bm7 E7/9 A7M Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver