domingo, 11 de junho de 2006

Travessia

Milton Nascimento morava numa pensão em São Paulo, quando compôs três canções que iriam mudar o curso de sua vida. “Achei que uma delas não era para mim, nem para o Márcio Borges botar letra”, declarou o compositor em um programa da Rádio JB sobre a sua carreira, em outubro de 1990. “Então fui a Belo Horizonte e pedi ao amigo Fernando Brant para fazê-la.” Mas Brant, que jamais havia feito uma letra, recusou sensatamente a incumbência.

Só que o obstinado Milton ignorou a recusa e, deixando-lhe uma gravação da música, retornou a São Paulo, avisando-lhe que em sua próxima visita a Belo Horizonte queria ver a letra pronta. Já havia um título — “O Vendedor de Sonhos” —, uma frase como introdução — “Quem quer comprar meu sonho?” — e um tema para a canção: a história de um personagem, uma espécie de caixeiro viajante, que vendia sonhos.

No entanto, Fernando preferiu criar uma letra diferente sobre o rompimento de um namoro e a expectativa de superar esta situação. Quando Milton voltou e viu a letra, gostou tanto que até bebeu um vinho de Caldas, para comemorar com o novo parceiro o nascimento da canção.

Já o título “Travessia” seria encontrado no texto do livro Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, mais precisamente em sua última palavra. Foi assim, meio surpreso, que Fernando Brant descobriu-se poeta. Juntamente com as outras duas composições — “Morro Velho” (só de Milton) e “Maria, Minha Fé” (letra de Márcio Borges) —, “Travessia” foi inscrita no II FIC. Aliás, inscrição feita à revelia dos autores, por Agostinho dos Santos, que havia recebido as músicas para gravar. A verdade é que a melhor das três, “Travessia”, qualificada como “toada que vem de Minas”, acabou por se classificar em segundo lugar no festival e ainda o prêmio de melhor intérprete a Milton Nascimento.

Esta canção excepcional mostra que Milton já começou fazendo música séria e não apenas música bonita, como analisaria o arranjador Eumir Deodato, em depoimento a Zuza Homem de Mello, em setembro de 68: “O contexto geral da música dele é baseado em música clássica, adaptada a ritmos desconhecidos totalmente. Até hoje não consegui descobrir o impulso rítmico que ele dá às suas músicas. É uma coisa totalmente nova, misteriosa, intrigante e desafiadora.”

“Travessia”, que é e sempre será uma peça importante na obra coerente e equilibrada de Milton Nascimento, possui inúmeras gravações de cantores como Agostinho dos Santos, Elis Regina e Leny Andrade, instrumentistas como Luís Eça, Paulo Moura, Lindolfo Gaya, e no exterior Sarah Vaughan (com Milton), Joe Williams e outros, com o título de “Bridges” e letra de Gene Lees (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Travessia (canção, 1967) - Fernando Brant e Milton Nascimento - Interpretação: Milton Nascimento

LP Milton Nascimento / Título da música: Travessia / Fernando Brant (Compositor) / Milton Nascimento (Compositor) / Milton Nascimento (Intérprete) / Gravadora: Ritmos / Codil / Ano: 1967 / Nº Álbum: CDL 13004 / Lado A / Faixa 4 / Gênero musical: MPB.

Tom: A 
Intro: ( A7+  Bm/A ) 

A7M                  D#m7(9)E/D A7+         E7(sus4) A7+ E7(sus4)
Quando você foi embo___ra    fez-se noite em meu viver 
A7M              E/G#    F#m7  B7  Em     A7     D7M(9/#5) D7M
Forte eu sou mas não tem jei_to,  hoje eu tenho que chorar 
    G7+    G#m5-/7  C#7(b9)      F#m7   F#m/E   D#m7(9)  E/D 
Minha ca___sa não  é   minha,  e nem é   meu    este    lugar 
A7+       Bm       C#m7   F#7(b9)  Bm7  E7(sus4)  A7+   E7(sus4)
Estou só        e  não  resisto,     muito  tenho prá falar 

A7M           G/A             F#m7                   C#m7 
Solto a voz nas estradas,    já não quero parar 
D7M              E/D     C#m7     F#m7  Bm7   Bb7/9 
Meu caminho é de pedras, como  posso sonhar 
A7M           G/A        F#m7           C#m7 
Sonho feito de brisa, vento vem terminar 
D7M                     D/E      Bm7          E7/9  A7M
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar 
    ( A7M  E7(sus4) ) 

A7m             D#m7(9) E/D  A7M     E7(sus4)  A7M  E7(sus4)
Vou seguindo pela vida          me esquecendo de você 
A7M            E/G#          F#m7 B7  Em7  A7    D7M(9/#5) D7M
Eu não quero mais a mor__te,    tenho muito que viver 
    G7M  G#m5-/7  C#7(b9)  F#m7        F#m/E   D#m7  E/D 
Vou querer   amar de      novo e se não der não vou sofrer 
A7M         Bm  C#m7   F#7(b9)   Bm7       E7/9            A7M 
Já não sonho,      hoje faço        com meu braço o meu viver 

A7M           G/A             F#m7                   C#m7 
Solto a voz nas estradas,    já não quero parar 
D7M              E/D     C#m7     F#m7  Bm7   Bb7/9 
Meu caminho é de pedras, como  posso sonhar 
A7M           G/A        F#m7           C#m7 
Sonho feito de brisa, vento vem terminar 
D7M                     D/E      Bm7         E7/9 A7M
Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar 
   ( A7M  E7(sus4) ) 

A7m             D#m7(9) E/D  A7M       E7(sus4)  A7M  E7(sus4)
Vou seguindo pela vida            me esquecendo de você 
A7M            E/G#         F#m7 B7  Em7  A7      D7M(9/#5) D7M
Eu não quero mais a mor__te,    tenho muito que viver 
    G7M  G#m5-/7  C#7(b9)  F#m7        F#m/E   D#m7  E/D 
Vou querer   amar de      novo e se não der não vou sofrer 
A7M         Bm  C#m7   F#7(b9) Bm7      E7/9              A7M 
Já não sonho,      hoje faço     com meu braço o meu   viver