Grande entre os grandes, numa terra de violonistas formidáveis, Raphael Rabello foi um daqueles raros instrumentistas merecedores do título de gênio. Nascido em Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, em 31 de outubro de 1962, numa família musical, começou a tocar violão aos sete anos e, aos 12, era profissional.
Corriam os anos 70 e ainda havia espaço na grande mídia para a boa música. Raphael se viu conhecido como o gênio mirim, o menino prodígio, o virtuose precoce - e era tudo isso. Não gostava que o chamassem de precoce, muito menos de gênio. Afirmava que a técnica perfeita, a sonoridade límpida, a pronúncia impecável eram frutos do esforço e do estudo incansáveis - o que também era verdade. Raphael integrou o primeiro grupo de choro, Os Carioquinhas, quando tinha 14 anos.
Há alguns anos, tinha batido à porta do professor Jaime Florence, o Meira, que havia sido mestre de outro gênio, Baden Powell. Meira olhou o moleque louro, cabeludo, pré-adolescente e não acreditou que ali estivesse um músico sério. Rendeu-se. Pouco tempo depois, não tinha mais o que ensinar a ele.
Em 1979, com o bandolinista Joel Nascimento, Raphael criou o conjunto Camerata Carioca, iniciando contato com outro mestre - Radamés Gnattali. Viria a ser, em pouco tempo, o mais importante intérprete da obra violonística de Radamés.
Gravou, em 20 anos de carreira, 16 discos, alguns deles homenagens a outros mestres de seu instrumento, como o Tributo a Garoto (com Radamés, em 1982) e Relendo Dilermando Reis (1994). Fez discos em duo com cantores (Elisete Cardoso, Ney Matogrosso) e, estima-se, participou como instrumentista em mais de 400 elepês e CDs de artistas diversos.
Ao morrer, trágica e precocemente, aos 32 anos, em abril de 1995, Raphael deixou semi-acabados alguns projetos que, aos poucos, estão vindo à luz. Compôs pouco, e suas 18 canções (com letras de Paulo César Pinheiro) foram lançadas, no início de 2002, no disco Todas as Canções, de sua irmã, Amélia Rabello. Tratam-se de registros ao vivo de shows da cantora, na maior parte das faixas acompanhada por Raphael.
Outro projeto era um tributo ao compositor Capiba, com participações de Chico Buarque, Paulinho da Viola, Milton Nascimento e outros nomes de igual importância. Ao morrer, Raphael tinha boa parte das faixas gravadas e os arranjos de todas as músicas elaborados. O CD Mestre Capiba - por Raphael Rabello e Convidados foi lançado no fim de 2002. Seria o primeiro volume de uma séria intitulada Orgulhos do Brasil, dedicada a mestres da MPB, como ele o foi.
Mauro Dias – ENSAIO - 29/4/1993
Fonte: SESC SP
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