"No Tabuleiro da Baiana" é um dos maiores sucessos de Ary Barroso nos anos trinta. Sucesso, aliás, que o surpreendeu, conforme confessou à revista Carioca, em 23.10.37: "'No Tabuleiro da Baiana' foi a primeira música que vendi, tão descrente eu estava do seu mérito. Foi-me encomendada por Jardel Jercolis, que pretendia incluí-la em uma das revistas de sua companhia. A música foi mais 'fabricada' que inspirada; produzi-a mais ou menos à força e acabei compondo-a nos moldes de um batuque feito por mim há vários anos (o samba 'Batuque', gravado por Sílvio Caldas e Elisa Coelho em 1931)".
Mas, embora assim classificada, "No Tabuleiro da Baiana" é uma excelente composição, bem ao estilo Ary Barroso, já mostrando várias daquelas inovações que ele começava a incorporar ao samba. Sua introdução instrumental é tão adequada que faz parte integrante da música. A letra dialogada entre homem e mulher, muito bem construída, ideal para um quadro cômico-musical, têm interferências que funcionam como breques, alguns improvisados na gravação original - por exemplo, o breque "Mentirosa, mentirosa, mentirosa..." foi introduzido pelo cantor Luís Barbosa. A seção "Juro por Deus, pelo Senhor do Bonfim..." quase ad libitum, no meio da música, antecipa um procedimento que Ary usaria outras vezes e que sem dúvida, valoriza o retorno ao ritmo marcado, como em "Os quindins de Iaiá" ( 1941 ) e na segunda versão de "No Morro (Eh, eh!)", rebatizada de "Boneca de piche" (1938).
Comprador dos direitos de "No Tabuleiro da Baiana", para uso exclusivo no teatro, Jardel Jercolis o incluiu na revista Maravilhosa (outubro de 36), na qual era cantado e dançado pela dupla Déo Maia e Grande Otelo. Em 31.12, a composição voltou à cena, na revista É Batata!, da mesma companhia, desta vez apresentada por Oscarito e a menina Isa Rodrigues, então chamada de "Shirley Temple brasileira" e que faria carreira no teatro e na televisão. Antes porém da estréia teatral, "No Tabuleiro da Baiana" já estava gravado por Carmen Miranda e Luís Barbosa, sendo revivido em 1980 por Gal Costa e Caetano Veloso e em 1983 por Maria Bethânia e João Gilberto.
No tabuleiro da baiana (samba-batuque, 1936) - Ary Barroso - Intérpretes: Carmen Miranda e Luiz Barbosa
Disco 78 rpm / Título da música: No tabuleiro da baiana / Ary Barroso (Compositor) / Carmen Miranda, 1909-1955 (Intérprete) / Luiz Barbosa, 1910-1938 (Intérprete) / Luperce Miranda (Acomp.) / Regional (Acomp.) / Benedito Lacerda, 1903-1958 (Acomp.) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 29/09/1936 / Nº Álbum 11402 / Gênero musical: Batuque
No tabuleiro da baiana tem:
-------D7M -----Em7----- Gbm7----- Em7
Vatapá, oi, carurú, mugunzá, tem umbú
-------D7M
Pra Ioiô
----------Eb0------- A7M-- Bb0---- Bm7
Se eu pedir você me dá o seu coração
---------E7----- Em7 ----A7----- D7M
Seu amor de Iaiá?
No coração da baiana tem :
-------D7M ----Em7--- Gbm7 -----Em7
Sedução, cangerê, ilusão, candomblé
--------D7M
Prá você
---Bm7----------- Gbm7
Juro por Deus, pelo Senhor do Bonfim
----Em7--- A7------ D7M
Quero você, baianinha, inteirinha
--------B7 ------Gbm7/-5
Pra mim
------B7/-9-------- Em7------ A7
E depois, o que será de nós dois
--------D7M----- Em7--- A7--- D7M
Seu amor é tão fugaz, enganador
Bm7 ----------Gbm7
Tudo já fiz, fui até num cangerê
Em7------ A7
Pra ser feliz
---------D7M -------------------B7 ------Gbm7/-5
Meus trapinhos juntar com você
-----B7/-9---- Em7----------- A7
E depois vai ser mais uma ilusão
-------D7M ----Em7 -----A7 -----D7M
No amor quem governa é o coração
Fontes: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34; Discografia Brasileira - IMS; Instituto Moreira Salles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário