domingo, 29 de outubro de 2006

MPB-4


Rui Alexandre Faria, nascido em Cambuci, em 1938, Milton Lima dos Santos Filho, de Campos, 1944, Antônio José Waghabi Filho, de Itaocara, 1945, e Aquiles Rique Reis, de Niterói, 1949, todas cidades do Estado do Rio de Janeiro, formam o mais antigo conjunto de que se tenha notícia, no mundo, a manter, desde a criação, os mesmos integrantes.

Rui, Miltinho e Aquiles criaram o grupo em 1962, em Niterói, e a eles juntou-se, em seguida, Waghabi - que, pelo tipo físico, tinha o apelido de Magro, que mantém ainda hoje. No início, eram o Quarteto do CPC, pois apresentavam-se nos espetáculos promovidos pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes.

Foi Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que os batizou de MPB-4 - e nascia, aí, a sigla MPB, para designar aquele tipo de música popular brasileira voltada para a história urbana da constituição da música popular.

O primeiro disco, um compacto - aqueles disquinhos com uma música de cada lado - saiu em 1964. No ano seguinte eles juntaram as quatro vozes com as das meninas baianas, descobertas por Aloísio de Oliveira, do Quarteto em Cy, num espetáculo montado em São Paulo por Chico de Assis.

Chico de Assis foi um dos incentivadores do jovem Chico Buarque de Hollanda e entra nessa história não só por haver aproximado o xará Buarque do MPB-4 quanto por haver dado o ultimato aos meninos fluminenses: ou vocês largam a faculdade e resolvem fazer música profissionalmente, em tempo integral, ou é melhor desistir. Eles largaram a faculdade, depois de uma reunião - que varou a noite - realizada ali no então célebre bar Redondo, na Av. Ipiranga, em São Paulo.

Começava uma das histórias mais bonitas e íntegras da canção brasileira. Com uma formação de extrema simplicidade - o violão de Miltinho, a tumbadora do Magro, um eventual chocalho de Aquiles e a voz de Rui (inicialmente era só isso), o grupo alcançou um grau de sofisticação que poucas vezes um quarteto vocal conseguiu.

O uníssono é perfeito, as vocalizações (quase sempre escritas por Magro) mudaram o conceito de arranjo vocal e ainda hoje constituem a fórmula em que se baseiam os arranjos vocais. Trabalharam - em shows, peças de teatro, comícios, ou que manifestação tenha sido importante para nossa história recente - com os maiores artistas de seu tempo (houve época em que Chico Buarque não entrava em palco sem eles) e o conjunto de seus discos memoráveis forma uma antologia do que melhor se produziu na MPB - afinal, eles são homônimos da sigla e de certa forma responsáveis por ela - nos últimos 40 anos.


Mauro Dias / MPB ESPECIAL / 4/6/1973

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