quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Foi boto, sinhá!

Em noite de festa à beira do rio, o boto transforma-se em um belo rapaz, que se veste todo de branco e usa sempre um chapéu, também branco, na cabeça. Esse chapéu nunca é retirado, pois serve para esconder o orifício que tem na testa e usa para respirar. Não se sabe por que esse orifício não desaparece na sua transformação. Bonito e elegante, o rapaz é bom dançarino e bebedor. Conquista facilmente as moças jovens e bonitas, casadas ou não. Na festa, dança e namora. Depois, convida a namorada para um passeio, para seduzi-la.

Seu poder de sedução é incrível, hipnótico. Muitas de suas vítimas foram "salvas" no último momento porque alguém gritou, fez barulho e as tirou do transe. Após o envolvimento sensual, o boto atira-se no rio e volta à sua forma animal. A namorada, encantada, fica triste. Muitas vezes adoece e acaba por se atirar ao rio à procura do seu amado. As que resistem ao suicídio acabam por parir uma criança, que pode ser boto, já nascer na forma de peixe ou ser normal.

Inúmeras são as histórias contadas com a veracidade característica dos "cabôcos". O Boto é a saída social para as moças que engravidam sem casar. Desculpa fundamental que desvia a jovem do papel de pecadora para o de vítima. O mito também serve ao rapaz que engravidou uma jovem, uma vez que não será procurado, nem identificado, nem responsabilizado. Como resolve tantos "desconfortos", o Boto apresenta-se como um mito socialmente perfeito, sendo talvez esta a razão que o mantém tão vivo até hoje (Fonte: Uma visão sobre a interpretação das canções amazônicas de Waldemar Henrique - Márcia Jorge Aliverti).

Foi Boto, Sinhá!... (Tajá-panema) (batuque, 1933) - Waldemar Henrique e Antônio Tavernard - Intérprete: Gastão Formenti

Disco 78 rpm / Título da música: Foi Boto Sinhá!... / Antônio Tavernard (Compositor) / Waldemar Henrique (Compositor) / Gastão Formenti (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Victor, 1934 / Nº Álbum: 33807 / Lado B / Gênero musical: Batuque / Folclore.



Tajá-panema chorou no terreiro
Tajá-panema chorou no terreiro
E a virgem morena fugiu no costeiro

Foi boto, sinhá
Foi boto, sinhô
Que veio tentá
E a moça levou
E o tal dancará
Aquele doutô
Foi boto, sinhá
Foi boto, sinhô

Tajá-panema se pôs a chorar
Tajá-panema se pôs a chorar
Quem tem filha moça é bom vigiá!

Tajá-panema se pôs a chorar
Tajá-panema se pôs a chorar
Quem tem filha moça é bom vigiá!

O boto não dorme
No fundo do rio
Seu dom é enorme
Quem quer que o viu
Que diga, que informe
Se lhe resistiu
O boto não dorme
No fundo do rio...

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