O compositor – e parceiro – Cartola costumava dizer brincando que a letra "ene" sobrava em seu nome (Angenor) e faltava no de Elton (na realidade Elto Antônio de Medeiros, nascido na cidade do Rio de Janeiro em 22 de julho de 1930).
Desde muito cedo a música teve influência em sua vida, pois seu pai era muito ligado aos ranchos e seu irmão Aquiles, compositor, o encaminhou na carreira de criador musical. Aliás, é saborosa a história que Elton conta no programa, como fez seu primeiro samba aos oito anos e seu irmão lhe explicou como era a estrutura de uma composição.
Nascido no bairro da Glória, logo se mudou para o subúrbio carioca, onde iniciou seus estudos e paralelamente o gosto musical. Fez parte de banda, tocando bombardino e saxofone. Posteriormente passou para o trombone, com o qual se destacou tocando nas gafieiras, tão em voga na época. Mas seu forte mesmo eram os instrumentos de ritmo, tornando-se talvez o mais exímio executante de caixa-de-fósforos que se conhece.
Na gravação de um programa para a TV Cultura, em que se apresentaria como cantor, instado pelo produtor Fernando Faro a fazer ritmo, improvisou um instrumento de percussão com uma lata de tinta vazia, abandonada em um canto do estúdio e ninguém percebeu a "invenção".
Como compositor é tido como um dos melhores representantes da escola melodista de Cartola, de quem foi parceiro e com quem criou sambas notáveis. Já era bastante conhecido entre os sambistas quando estreou profissionalmente no musical Rosa de Ouro, criado e produzido pelo poeta-compositor Hermínio Bello de Carvalho.
O espetáculo, que ficou quase um ano em cartaz no Teatro Jovem, no Rio de Janeiro – e andou pelo Brasil –, resgatou a cantora Araci Cortes e lançou nomes como os de Elton, Clementina de Jesus e Paulinho da Viola. Sem mencionar as presenças notáveis do mangueirense Nelson Sargento, do portelense Jair do Cavaquinho e do salgueirense Nescarzinho, o Anescar, criador do antológico samba-enredo Chica da Silva.
Modestamente Elton se diz "parceiro dos famosos" (Cartola, Paulinho da Viola, Hermínio Bello, Zé Keti, Paulo César Pinheiro, Ana Terra, Cacaso, Otávio de Moraes, Joacyr Santana, Regina Werneck, entre outros), quando na realidade são os tais "famosos" que não prescindem de seu grande talento, principalmente Paulinho da Viola, desde sempre seu mais habitual parceiro.
Internacional – já se apresentou na África, em Portugal, na Suécia –, seu samba nunca deixou de ter o acentuado sabor carioca, que é sua marca tradicional, além da beleza das melodias (e muitas vezes das letras). É o principal fator de uma apresentação que faz parte da história da música popular brasileira.
Seu samba-enredo – feito em 1954 para sua Escola de Samba Aprendizes de Lucas –, o Exaltação a São Paulo, foi apresentado pelo cantor Jorge Goulart no programa Um Milhão de Melodias, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Arranjo do maestro Radamés Gnattali, para violino e caixa-de-fósforos, esta naturalmente solada por ele.
Elton Medeiros é seguramente um dos mais talentosos compositores daquilo que se convencionou chamar de "música brasileira de raiz".
Arley Pereira - MPB ESPECIAL 8/1/1975
Arley Pereira - MPB ESPECIAL 8/1/1975
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