quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Sertaneja

Tango brasileiro "Nenê", de Ernesto Nazareth, publicado em 1895 pela Casa Arthur Napoleão & Cia. e dedicado "ao amigo Dr. Jovino Barral da Fonseca". Segundo o biógrafo Luiz Antonio de Almeida, não se sabe a origem do título, podendo ser uma referência ao apelido de Maria Carolina, irmã do compositor falecida ainda jovem, a um apelido do próprio Dr. Jovino, ou ao apelido de sua ex-discípula Anna Rangel de Vasconcellos Moreira, jovem viúva conhecida por sua grande beleza e que foi apaixonada por Ernesto.

Recebeu letra de Catulo da Paixão Cearense, provavelmente ainda no século XIX, sob o título de "Sertaneja". A edição de Sertaneja de 1968, pela Editora Arthur Napoleão, contém a dedicatória "Ao maestro Nicolino Milano (nenê)", que foi inserida postumamente pelos editores.

Era uma das peças mais tocadas pelo próprio autor, que a executou em diversos recitais ao longo da vida e inclusive a gravou em 1930 (78-RPM Odeon matriz 3940, cujo lançamento não foi aprovado pela gravadora na época, considerando-o "prova má"). Até 2012 recebeu 27 gravações, sendo uma de suas peças mais famosas.

O pianista e compositor Odmar Amaral Gurgel (Maestro Gaó), que tocou esta peça para Nazareth em 1926, contava que o compositor logo lhe chamou a atenção, dizendo que ele deveria fazer um tenuto logo no primeiro acorde (i.e. segurá-lo um pouco), como podemos ouvir na gravação do próprio Nazareth (depoimento de Carlos Eduardo Zappile Albertini, aluno de Gaó). 

Aqui, na interpretação do próprio Nazareth, os seus dois tangos, Nenê e Turuna, gravados em 10/09/1930 e não lançados em disco na época. Matrizes Odeon 3940 e 3942 - Álbum "Os Pianeiros" (FENAB).


Sertaneja (tango, 1895) - Catulo da Paixão Cearense e Ernesto Nazareth

Sestrosa, dengosa
Derriçosa, odorosa flor
Maldosa, formosa
Sertaneja, meu lindo amor!
Anjinho, benzinho
Meu carinho, meu beija-flor
Condena sem pena
Que minh’alma te adora o rigor


Quando tu passas na orla do monte
Caminho da fonte, da tarde ao morrer
Meu pranto rola por sobre a viola
Que a noite consola no seu gemer

Provocante, radiante
Fascinante, ondulante
Num teu fado ritmado
Tu nos fazes até chorar
Logo a gente, a gente sente
Uns desejos dos teus beijos
Uns desejos dos teus beijos
Que até nos fazem delirar

Ingrata, ingrata
Volve a mim um teu doce olhar
Teu riso me mata
Me maltrata, me faz banzar
Desata, desata
Esse olhar do meu coração
Ingrata, ingrata
Suspirosa irerê do sertão

Também se passas
Formosa e tirana
Por minha choupana
Da tarde ao cair
Vou te seguindo
Na estrada arenosa
Qual rola saudosa
A carpir, carpir

Na dança deslizas
E assim pisas mil corações
Teu peito é o leito
Doce leito das tentações
Teus olhos, teus olhos
Vaga-lumes de ingratidões
Teus olhos, teus olhos
Os queixumes das nossas paixões



Fonte: Ernesto Nazareth 150 Anos.

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