quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Daniel Santos

Daniel Santos, compositor e cantor, nasceu em 5/2/1916 em Santurce de Acuario, Porto Rico, e faleceu em 27/11/1992. Uma das mais enigmáticas personagens da música popular latino-americana Daniel Santos, "El Inquieto Anacobero", era filho de Don Rosendo de los Santos, carpinteiro, e María Betancur, costureira.

Passou sua infância em um bairro de Santurce, conhecido como Trastalleres. Ali viveu seus primeiros anos com suas três irmãs Sara, Rosalilia e Lucy. Aos cinco anos aprendeu o abecedário com a maestrina do bairro conhecida como Dona Ana, e aos sete iniciou sua educação formal na escola pública de Las Palmitas, na Rua Aguacate.

Ao concluir o terceiro grau foi para a Escola Rafael Cordero, na Parada 15 de Santurce, mas não pode se matricular porque a situação econômica em seu lugar era desesperadora tendo, inclusive, que trabalhar como engraxate para ajudar a família. Nessa época sua família mudou-se para a cidade dos arranha-céus, onde Daniel teve que voltar a estudar no primeiro grau já que não sabia falar inglês e conseguiu completar seu segundo ano de escola superior, onde já cantava no coro.

Aos 14 anos abandonou o lugar devido ao pouco que ganhava seu pai, mudando-se para um quartinho por três dólares semanais e iniciou sua vida de “Inquieto Anacobero”. Um dia, enquanto se banhava, começou a cantar as únicas canções que sabia de memória: uma guaracha de Rafael Hernández e Te quiero dijiste, de María Grever. Estava na mais profunda de sua inspiração quando ouviu que batiam em sua porta. Era um dos integrantes do Trio Lírico, um conjunto musical que tocava em bailes, batizados e outras atividades.

Terminou seu banho e se reuniu com o resto dos integrantes, que lhe convidaram a participar em várias apresentações do conjunto. Assim se fez profissional e cobrava um dólar para interpretar canções várias vezes. Logo aumentaram para um peso e meio para cantar aos sábados no Borinquen Social Club de Nova York. Passou, então, a alternar entre o Trio Lírico e o Conjunto Yumurí, até 1938, quando teve um encontro histórico com o compositor Pedro Flores.

Neste ano estava trabalhando em um pequeno cabaré chamado Los Chilenos, onde cantava nos finais de semana por dez dólares e toda bebida que pudesse tomar. Depois foi cantar no Cuban Casino, um cabaré latino localizado na Oitava Avenida. Ali tocavam a orquestra do maestro Augusto Cohen, que alternava com o conjunto Escalera, uma artista espanhola de nome Consuelo Moreno, e um casal de bailarinos mexicanos. Daniel Santos cantava com as duas orquestras, passava-se por mestre de cerimônias, fazia o espetáculo, e quando faltava algum integrante, também o substituía. Por tudo isso ganhava a quantia de 17 dólares semanais.

Uma noite chegou ao cabaré o maestro don Pedro Flores que escutou Daniel interpretar várias canções, entre elas seu bolero Amor perdido. Ao concluir, o compositor lhe convidou para sentar-se à sua mesa que compartilhava com várias personagens e disse-lhe que tinha gostado muito da sua forma de cantar e o convidou para ensaiar com seu grupo Quarteto Flores, em Manhattan.

Com o Quarteto de Pedro Flores gravou muitas das canções que o fariam famoso, entre elas, Tú serás mía, Irresistible, Esperanza inútil, Perdón, Mayoral, Venganza, Amor, Olga, Yo no sé nada, Hay que saber perder, La número 100, Bella mujer, Margie, Prisionero del mar, El último adiós, Borracho no vale, Bella mujer, Guaracha amorosa, e muitas outras.

Em 1941, período da Segunda Guerra Mundial, Daniel gravou o disco mais popular de Don Pedro Flores, Despedida. No ano seguinte substituiu Miguelito Valdés na orquestra de Xavier Cugat e pouco depois abandonou o Hotel Waldorf Astoria para cumprir o serviço militar obrigatório com o exército norte-americano.

Por essa época começou a cobrar consciência nacionalista e se identifica com o pensamento do maestro Don Pedro Albizu Campos, ideais que lhe trazem problemas com o FBI e com o Departamento de Estado norte-americano cada vez que viajava. Mais tarde, recordando as atrocidades da guerra, gravou vários discos com canções de protesto contra esse mesmo exército que utiliza as praias de sua pátria para exercícios militares.

Essa vida de “Inquieto Anacobero” que lhe levou ao cárcere várias vezes começou em Cuba no final de 1946, quando Bobby Capó o apresentou ao Guajiro Amado Trinidad e este lhe contratou para trabalhar durante oito dias no programa "Bodas de Prata Portagás" na RHC Cadena Azul de Rádio, onde se apresentavam os melhores artistas da época. Ali sempre iniciava seu programa com a canção "Anacobero" do pianista porto-riquenho Andrés Tallada. O locutor Luis Villarder sempre o apresentava: “Com vocês Daniel Santos e o tema Anacobero”. Um dia Daniel surpreendeu a audiência no estúdio ao vestir-se com traje de “chuchero” e entrar no estúdio dançando.

Quando o locutor foi anunciar se equivocou e disse: “Com vocês o Anacobero Daniel Santos". A partir desse dia se transformou em "El Anacobero", que na língua ñáñigo significa diabinho. O de 'Inquieto' é por causa da intensa vida de boêmio impenitente que haveria de levá-lo a várias prisões.

Esteve viajando entre Cuba e Nova York durante uns 15 anos, até escutar que Fidel estava recrutando meninos para adestrá-los na milícia, e nunca mais retornou a Cuba. Durante esses anos lhe ocorreram coisas que inspiraram muitas de suas 400 composições, entre elas, "El columpio de la vida", "Patricia", "Amnistía", "El preso", "El que canta" y "Bello mar". Foi também o autor da canção "Sierra Maestra", hino do Movimento 26 de Julho, com a qual Fidel Castro iniciava a transmissão da Rádio Rebelde lá da Sierra Maestra.

Além de grande cantor e compositor, Daniel Santos se deu a conhecer pela vida desordenada que sempre viveu, entre bebidas, mulheres e brigas de rua que lhe fizeram cumprir penas em várias prisões da América Latina, entre elas de Cuba, Equador e República Dominicana. Mesmo assim, muitos países do continente americano o disputavam, chegando ao extremo de confundir sua verdadeira nacionalidade.

Durante seus últimos anos seguiu se apresentando em turnês e concertos nos EUA e América Latina, onde o público lotava os salões para ver o seu ídolo, a lenda do bolero e da guaracha, e escutar suas inumeráveis anedotas e aventuras.

Daniel Santos teve doze filhos e viveu seus últimos anos em Ocala, Flórida, junto a sua duodécima esposa, Ana Rivera, onde morreu em 27 de novembro de 1992, vítima de um ataque cardíaco.

(Texto parcial de Josean Ramos, traduzido do espanhol)


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Fonte: Fundación Nacional para la Cultura Popular - San Juan, Puerto Rico. Tradução: Everaldo J Santos.

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