sábado, 7 de abril de 2007

Tia Amélia


Tia Amélia (Amélia Brandão Néri), instrumentista e compositora, nasceu em Jaboatão PE em 25/5/1897, e faleceu em Goiânia GO em 18/10/1983. A mãe era pianista e o pai maestro da banda da cidade, além de clarinetista e solista de violão. Começou a tocar piano de ouvido aos quatro anos de idade e aos seis passou a estudar música, dedicando-se somente aos clássicos, por imposição do pai.


Aos 12 anos compôs sua primeira música, a valsa Gratidão. Pensava em seguir a carreira de pianista, mas o casamento, aos 17 anos, e a oposição do marido a impediram. Morando em uma fazenda em Jaboatão, passou a tocar apenas em festas de amigos, dedicando-se ainda a estudar o folclore musical da região.

Aos 25 anos, ficando viúva com três filhos, decidiu tornar-se profissional e foi contratada pela Radio Clube de Pernambuco, em Recife, onde começou a fazer sucesso. Com a fama, e resolvida a esclarecer uma questão de direitos autorais surgida com a gravação, na Odeon, de uma composição sua sem autorização, viajou para o Rio de Janeiro, em 1929, sendo contratada para se apresentar em um concerto no antigo Teatro Lírico, onde teve grande êxito, passando a ser chamada “a coqueluche dos cariocas”.

Na Odeon, além de ter ganhado seus direitos autorais, foi convidada para gravar um disco, e a repercussão de sua apresentação levou-a a tocar nas rádios Mayrink Veiga, Sociedade e Clube do Brasil. Regressou em seguida a Recife, trabalhando na Rádio Clube de Pernambuco e realizando algumas viagens ao interior, nas quais, alem de tocar, fazia pesquisas folclóricas, que serviram de tema a muitas de suas composições.

Em 1931, novamente no Rio de Janeiro, trabalhou em rádio e teve algumas de suas músicas gravadas, como a adaptação de Capelinha de melão, na voz de Elisa Coelho, e Cavalo marinho, interpretada por Stefana de Macedo. Já era compositora e interprete bastante conhecida, com muitos contratos e apresentações.

Amélia Brandão Nery, 1938
Em 1933, a convite do Itamaraty, realizou uma tournée pelas Américas, acompanhada de sua filha, a cantora Silene Brandão Nery, interpretando suas composições inspiradas no folclore brasileiro. Na Venezuela, recusou convite do governo para permanecer dois anos no país estudando o folclore local e viajou para os EUA, contratada por uma emissora de rádio de Schenectady, onde atuou durante cinco meses, sob patrocínio da General Electric.

Cumpriu depois contrato em New York e New Orleans, e em Hollywood chegou a ser convidada para participar, com Silene, de um filme da RKO, no qual trabalharia ao lado da orquestra de Rudy Vallee, mas recusou, por não querer apresentar-se cantando.

De volta ao Brasil em 1939, excursionou com Silene por todo o país, com exceção de Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Com o casamento da filha, resolveu encerrar a carreira, apresentando-se uma única vez no Teatro Municipal, do Rio de Janeiro, e passando a morar, primeiro, em Marília SP e, depois, em Goiânia.

Anos depois, em casa de sua filha em Goiânia, ficou conhecendo a cantora Carmélia Alves, que se entusiasmou ao ouvi-la tocar valsas e choros, revivendo uma escola tradicional da música popular brasileira, a de Pixinguinha, Ernesto Nazareth e Anacleto de Medeiros. Convencida pela cantora, voltou a se apresentar, depois de 17 anos, no Rio de Janeiro e em São Paulo, já com o nome de Tia Amélia e um repertório de chorinhos de sua autoria.

Trabalhou na Rádio Nacional, no Clube da Chave e em outros clubes cariocas, e em São Paulo atuou durante três meses na TV Record, TV Tupi e TV Paulista (hoje Globo). Viajou, em seguida, para Pernambuco trabalhando nas rádios Clube de Pernambuco e Jornal do Comércio, de Recife.

O seu grande sucesso, entretanto, foi o programa Velhas Estampas, que manteve durante 14 meses na TV-Rio, no qual, além de tocar piano e apresentar suas composições, contava histórias dos velhos tempos de sua juventude. A convite da Odeon gravou o LP Velhas estampas, interpretando ao piano diversas composições de sua autoria, entre elas os chorinhos Dois namorados, Chora, coração, Sem nome, Bordões ao luar (nome escolhido pelo poeta Vinícius de Moraes), Sorriso de Bueno e algumas valsas, acompanhada pela Banda Vila Rica.

Com esse disco, grande sucesso de vendagem, recebeu o prêmio de melhor solista e compositora do ano. Lançou depois novo LP pela Odeon, Musicas da vovó no piano da titia, e em julho de 1960 foi contratada pela TV Tupi, do Rio de Janeiro, para fazer um retrospecto da época áurea do choro brasileiro, semelhante ao que já fizera no programa Velhas Estampas.

Continuou atuante, e sua última gravação foi À benção, Tia Amélia, na Marcus Pereira, em 1980, quando já contava 83 anos de vida.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

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