Aracy Cortes |
No Brasil, assim como nos Estados Unidos, a produção de músicas populares em estúdio foi predominantemente masculina, principalmente no que diz respeito à música cantada. Muitos trabalhos sobre o assunto afirmam que a ausência feminina ocorria, entre fatores de cunho sociocultural, devido às condições técnicas das gravações mecânicas.
Tais estudos têm se baseado em análises auditivas dos discos e, comumente às listas de artistas das gravadoras presentes em revistas especializadas e notas de jornais do período em questão.
De fato, praticamente não se tem referência na literatura consultada, o fato de que alguma cantora tivesse alcançado sucesso substancial, antes da década de 1920.
De fato, praticamente não se tem referência na literatura consultada, o fato de que alguma cantora tivesse alcançado sucesso substancial, antes da década de 1920.
Segundo Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello (1999, p. 18), isto ocorre...
Pepa Delgado |
"...simplesmente, à não existência desse tipo de atividade profissional em nossa sociedade machista de então. O que havia eram atrizes do teatro musicado que às vezes gravavam. As exceções seriam talvez as duas moças que, no suplemento inicial de discos da Casa Edison, aparecem cerimoniosamente tratadas com Srta. Odete e Srta. Consuelo. Sobre essas moças, as primeiras brasileiras a gravarem, têmse apenas uma informação biográfica: eram senhoritas..." (SEVERIANO, 1997).
Na verdade o primeiro volume da Discografia Brasileira de 78 r.p.m. nos apresenta um panorama um pouco mais diverso em relação às intérpretes femininas da era mecânica. Foram identificadas cerca de 340 gravações com cantoras na era mecânica no Brasil. Este valor é aproximado tendo em vista a ausência de informações em relação a muitos dos discos contidos na Discografia 78 r.p.m.
Dos 13 selos existentes, 9 (1) gravaram músicas populares com mulheres como solistas ou formando duos, sendo Zon-O-Phone, Odeon, Favorite Record, Victor Record, Columbia, Brazil, Imperador, Phoenix e Gaúcho.
Abigail Maia |
As intérpretes da era mecânica no Brasil foram: Abigail Maia, Albertina Rosa, Arminda, Araci Cortes, Leontina, Aura Abranches, Srta. Consuelo, Berta Santos, Delfina Victor, Dolores de Córdoba, Emília de Oliveira, Florisbela, Amélia de Oliveira, Iracema Bastos, Isaura Lopes, Isolina Santori, Maria Roldan, Alice, Júlia Martins, Laís Areda, Laís Marival, Lili Hartlieb, Malvina Pereira, Maria Pinto, Medina de Souza, Nina Teixeira, Odaléa Sodré, Leonor Pires, Iracema, Pepa Delgado, Risoleta, Rosa Pinto, Rosália Pombo, Senhora Augusta, Srta. Consuelo, Srta. Diva, Srta. Odette, Stella Gil, Virgínia Aço e Zaíra de Oliveira. (2)
Foram analisados também os catálogos da Casa Edison dos anos: 1902, 1913, 1914, 1915, 1918, 1919, 1920, 1925 e 1926. (3) Os fonogramas femininos estão presentes em todos esses, mas observou-se que, como meio de divulgação, a gravadora não fez esforço algum para dar relevo às suas cantoras nos seus catálogos iniciais. Em contraposição, desde o início os catálogos contam com fotografias dos intérpretes masculinos e seções próprias (destacadas em negrito) e agrupadas ora por gênero, ora por acompanhamento. Geralmente as gravações femininas encontravam-se dispersas em tais seções.
Em relação ao catálogo de 1928, pôde-se observar um fato curioso. Neste documento, a divulgação das peças eruditas gravadas no exterior e lançadas no Brasil sob o selo Fonotipia, tanto as cantoras, quanto os cantores tinham o mesmo peso na divulgação. As seções de árias de óperas italianas geralmente são subdivididas pelo destaque do nome do intérprete e de sua respectiva classificação vocal.
Zaíra de Oliveira |
Sendo os catálogos das gravadoras as primeiras formas de divulgação do seu repertório disponível, percebemos que os consumidores de música erudita, geralmente selecionavam suas escolhas partindo dos intérpretes célebres, das obras gravadas e da sua classificação vocal. Tal fato pode ser observado desde o primeiro catálogo de 1902.
Como a música erudita era reconhecida mundialmente como a verdadeira produção artística (os discos de óperas, orquestras sinfônicas, solos instrumentais e coros eram classificados como “Discos Artísticos”). Percebe-se que a grande divulgação de tais cantoras que, como foi dito, eram em sua maioria atrizes, se dava, sobretudo nos periódicos especializados de teatro.
Já o catálogo de 1926 traz, pela primeira vez, fotos de intérpretes femininas e uma divulgação mais ativa em relação aos intérpretes masculinos. As cantoras Zaíra de Oliveira e Rosália Pombo ganharam espaço privilegiado nas páginas 9 e 10, respectivamente. Araci Cortes também começa a ganhar destaque a partir deste último catálogo de gravações mecânicas.
(1) Zon-o-Phone, Odeon, Odeonette, Faulhaber, Favorite Record, Victor Record, Columbia, Brazil, Popular, Jurity, Imperador, Phoenix, Gaúcho.; (2) É bom ressaltar que nem todas essas artistas eram de nacionalidade brasileira. Outro ponto a ser lembrado é que, eventualmente, pode constar nesta lista alguma instrumentista. Na medida do possível tentamos identificar informações sobre cada uma delas. Foi um trabalho árduo em sites e enciclopédias de música, mas sem grandes resultados.; (3) Os únicos catálogos existentes da primeira e maior gravadora brasileira no começo do século XX e disponibilizados nos fotoCDs do livro A Casa Edison e seu tempo de Humberto Franceschi, 2002.
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