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sábado, 31 de agosto de 2013

As laranjas da Sabina

Pepa Delgado
Na manhã de 25 de julho de 1889, um grupo de estudantes da Imperial Escola de Medicina uniu-se em uma inesperada passeata pelas ruas do centro do Rio de Janeiro. O motivo: Sabina, uma baiana vendedora de laranjas, havia sido proibida de armar seu tabuleiro em frente à faculdade, na Rua da Misericórdia. A decisão de expulsá-la, anunciada pelo subdelegado da área, provocou imediata reação dos alunos. Por onde passava, o cortejo ganhava mais adeptos e recebia aplausos de uma multidão entusiasmada. Bem-humorados, os estudantes carregavam uma coroa feita de bananas e chuchus e uma faixa criticando a autoridade, a quem chamaram de “O eliminador das laranjas”. Passaram também pelas redações dos principais jornais da cidade denunciando a arbitrariedade, o que renderia grande repercussão para o caso.

“Um viva aos rapazes, que acabam de escrever a melhor cena das próximas futuras revistas de ano”, publicava a Gazeta de Notícias três dias depois. O jornal estava sendo profético. As “revistas de ano” eram peças teatrais cômicas e musicadas, nas quais desfilavam os eventos tidos como mais importantes do ano anterior. Daí sua denominação: era o momento de passar um ano inteiro em revista. Em 1890, os irmãos escritores Artur e Aluízio Azevedo encenaram sua revista de ano, A República, e Sabina foi uma das personagens mais comentadas. Noite após noite, os cariocas corriam até o Teatro Variedades Dramáticas só para ouvir a canção As laranjas da Sabina. Sabina era interpretada por uma bela atriz grega, Ana Menarezzi, bem diferente da idosa rechonchuda retratada pela imprensa.

Em 1902, quando a indústria fonográfica chegou ao Brasil, As Laranjas da Sabina foi gravada ainda no sistema de cilindros pelo cantor Cadete e já em disco por Bahiano, ainda nesse mesmo ano. Em 1906, a atriz Pepa Delgado gravou o lundu.

Os anos passavam, mas quem disse que Sabina era esquecida? No início do século XX, as agremiações carnavalescas mantinham grupos formados por homens que, nos dias de folia, saíam às ruas fantasiados de baianas e mulatas. Numa homenagem à velha quitandeira da porta da Escola de Medicina, eles eram chamados, no grupo Kananga do Japão, de “Sabinas da Kananga”. Na sociedade dos Fenianos, eram conhecidos simplesmente como “Sabinas”.

Laranjas da Sabina (lundu / tango, 1902) - Artur Azevedo - Interpretação de Pepa Delgado (gravado em 1906).

Disco selo: Odeon Record / Título da música: Laranjas da Sabina / Artur de Azevedo (Composior) / Pepa Delgado (Intérprete) / Piano (Acomp.) / Nº do Álbum: 40350 / Nº da Matriz: Rx-452 / Lançamento: 1906 / Gênero musical: Lundu / Coleção de Origem: IMS



Sou a Sabina, sou encontrada
Todos os dias lá na calçada
Lá na calçada da Academia
Da Academia de Medicina

Um senhor subdelegado
Moço muito restingueiro
Ai, mandou, por dois soldados
Retirar meu tabuleiro, ai...

Sem banana macaco se arranja
E bem passa monarca sem canja
Mas estudante de medicina
Nunca pode passar sem a laranja
A laranja, a laranja da Sabina.

Os rapazes arranjaram
Uma grande passeata
Deste modo provaram
Quanto gostam da mulata, ai

Sem banana macaco se arranja



Fontes: História.com.br; Luis Nassif On Line.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

As mulheres nos discos

Aracy Cortes
No Brasil, assim como nos Estados Unidos, a produção de músicas populares em estúdio foi predominantemente masculina, principalmente no que diz respeito à música cantada. Muitos trabalhos sobre o assunto afirmam que a ausência feminina ocorria, entre fatores de cunho sociocultural, devido às condições técnicas das gravações mecânicas.

Tais estudos têm se baseado em análises auditivas dos discos e, comumente às listas de artistas das gravadoras presentes em revistas especializadas e notas de jornais do período em questão.

De fato, praticamente não se tem referência na literatura consultada, o fato de que alguma cantora tivesse alcançado sucesso substancial, antes da década de 1920.

Segundo Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello (1999, p. 18), isto ocorre...

Pepa Delgado
"...simplesmente, à não existência desse tipo de atividade profissional em nossa sociedade machista de então. O que havia eram atrizes do teatro musicado que às vezes gravavam. As exceções seriam talvez as duas moças que, no suplemento inicial de discos da Casa Edison, aparecem cerimoniosamente tratadas com Srta. Odete e Srta. Consuelo. Sobre essas moças, as primeiras brasileiras a gravarem, têmse apenas uma informação biográfica: eram senhoritas..." (SEVERIANO, 1997).

Na verdade o primeiro volume da Discografia Brasileira de 78 r.p.m. nos apresenta um panorama um pouco mais diverso em relação às intérpretes femininas da era mecânica. Foram identificadas cerca de 340 gravações com cantoras na era mecânica no Brasil. Este valor é aproximado tendo em vista a ausência de informações em relação a muitos dos discos contidos na Discografia 78 r.p.m.

Dos 13 selos existentes, 9 (1) gravaram músicas populares com mulheres como solistas ou formando duos, sendo Zon-O-Phone, Odeon, Favorite Record, Victor Record, Columbia, Brazil, Imperador, Phoenix e Gaúcho.

Abigail Maia
As intérpretes da era mecânica no Brasil foram: Abigail Maia, Albertina Rosa, Arminda, Araci Cortes, Leontina, Aura Abranches, Srta. Consuelo, Berta Santos, Delfina Victor, Dolores de Córdoba, Emília de Oliveira, Florisbela, Amélia de Oliveira, Iracema Bastos, Isaura Lopes, Isolina Santori, Maria Roldan, Alice, Júlia Martins, Laís Areda, Laís Marival, Lili Hartlieb, Malvina Pereira, Maria Pinto, Medina de Souza, Nina Teixeira, Odaléa Sodré, Leonor Pires, Iracema, Pepa Delgado, Risoleta, Rosa Pinto, Rosália Pombo, Senhora Augusta, Srta. Consuelo, Srta. Diva, Srta. Odette, Stella Gil, Virgínia Aço e Zaíra de Oliveira. (2)

Foram analisados também os catálogos da Casa Edison dos anos: 1902, 1913, 1914, 1915, 1918, 1919, 1920, 1925 e 1926. (3) Os fonogramas femininos estão presentes em todos esses, mas observou-se que, como meio de divulgação, a gravadora não fez esforço algum para dar relevo às suas cantoras nos seus catálogos iniciais. Em contraposição, desde o início os catálogos contam com fotografias dos intérpretes masculinos e seções próprias (destacadas em negrito) e agrupadas ora por gênero, ora por acompanhamento. Geralmente as gravações femininas encontravam-se dispersas em tais seções.

Em relação ao catálogo de 1928, pôde-se observar um fato curioso. Neste documento, a divulgação das peças eruditas gravadas no exterior e lançadas no Brasil sob o selo Fonotipia, tanto as cantoras, quanto os cantores tinham o mesmo peso na divulgação. As seções de árias de óperas italianas geralmente são subdivididas pelo destaque do nome do intérprete e de sua respectiva classificação vocal.

Zaíra de Oliveira
Sendo os catálogos das gravadoras as primeiras formas de divulgação do seu repertório disponível, percebemos que os consumidores de música erudita, geralmente selecionavam suas escolhas partindo dos intérpretes célebres, das obras gravadas e da sua classificação vocal. Tal fato pode ser observado desde o primeiro catálogo de 1902.

Como a música erudita era reconhecida mundialmente como a verdadeira produção artística (os discos de óperas, orquestras sinfônicas, solos instrumentais e coros eram classificados como “Discos Artísticos”). Percebe-se que a grande divulgação de tais cantoras que, como foi dito, eram em sua maioria atrizes, se dava, sobretudo nos periódicos especializados de teatro.

Já o catálogo de 1926 traz, pela primeira vez, fotos de intérpretes femininas e uma divulgação mais ativa em relação aos intérpretes masculinos. As cantoras Zaíra de Oliveira e Rosália Pombo ganharam espaço privilegiado nas páginas 9 e 10, respectivamente. Araci Cortes também começa a ganhar destaque a partir deste último catálogo de gravações mecânicas.

(1) Zon-o-Phone, Odeon, Odeonette, Faulhaber, Favorite Record, Victor Record, Columbia, Brazil, Popular, Jurity, Imperador, Phoenix, Gaúcho.; (2) É bom ressaltar que nem todas essas artistas eram de nacionalidade brasileira. Outro ponto a ser lembrado é que, eventualmente, pode constar nesta lista alguma instrumentista. Na medida do possível tentamos identificar informações sobre cada uma delas. Foi um trabalho árduo em sites e enciclopédias de música, mas sem grandes resultados.; (3) Os únicos catálogos existentes da primeira e maior gravadora brasileira no começo do século XX e disponibilizados nos fotoCDs do livro A Casa Edison e seu tempo de Humberto Franceschi, 2002.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Maxixe aristocrático

O primeiro compositor a estilizar o maxixe foi o pianista Ernesto Nazareth, que se apresentava junto com Chiquinha Gonzaga. Ernesto era filho de uma família de classe baixa que morava no bairro Nova Cidade e sua primeira obra como compositor foi a polca-lundu "Você bem sabe".

Somente em 1905 o maxixe começou realmente a tomar conta dos salões do Rio de Janeiro e passou a ser aceito pelas famílias de classe média. Logo, o maestro de teatro José Nunes compôs o "Maxixe aristocrático", cantado pela dupla de atores Pepa Delgado e seu companheiro, na revista "Cá e Lá".

Maxixe Aristocrático (maxixe, 1905) - José Nunes - Interpretação: Pepa Delgado e Alfredo Silva - Disco 76 rpm - Imprenta [S.l.]: Odeon, 1904-1907 - Nº Álbum 40224

Disco selo: Odeon Record / Título da música: Maxixe Aristocrático / José Nunes (Compositor) / Pepa Delgado (Intérprete) / Alfredo Silva (Intérprete) / Piano (Acomp.) / Nº do Álbum: 40224 / Nº da Matriz: Rx-161 / Lançamento: 1905 / Gênero musical: Maxixe / Coleção de Origem: IMS, Nirez



Pepa Delgado:

O maxixe aristocrático / Ei-lo que desbancará
Valsas, polcas e quadrilhas / Quantas outras danças há!

Alfredo Silva:

Nas salas de um pólo ao outro / Quem em dançar bem capriche,
Dentro em pouco dengoso, / Só dançará o maxixe!

E com os versos:

Nobres, plebeus e burgueses, / Caso é verem-no dançar!
Tudo acabará em breve / Por, com fúria, maxixar!


O autor previa a aceitação da dança em todas as salas de dança da cidade. A aceitação do maxixe como dança foi facilitada, na Europa, pela euforia urbana surgida com a utilização, na indústria imperialista, das matérias-primas roubadas de países da Ásia e África. Logo, em meio às novidades importadas que invadiam os países europeus, houve um fato curioso em Paris quando em 1906, o maxixe brasileiro foi apresentado no Teatro Marigny, nos Champs- Élysées, pelas dançarinas Rieuse e Nichette. Dois anos mais tarde, em Portugal, houve a apresentação de dois brasileiros o cançonetista Geraldo Magalhães e Nina. Pouco tempo antes o maxixe havia sido lançado na Europa através da grande novidade: o disco.


Fonte: allboutarts

terça-feira, 31 de outubro de 2006

Pepa Delgado

Pepa Delgado (Maria Pepa Delgado), cantora e atriz de teatro de revistas nasceu em 21/7/1887 em Piracicaba, SP e faleceu em 11/3/1945, no Rio de Janeiro, RJ. Era filha Ana Alves e do toureiro espanhol Lourenço Delgado, que se tornou fotógrafo ao chegar ao Brasil.

Em 1902 veio com o pai para o Rio de Janeiro e, aos 15 anos de idade, se tornou atriz e cantora. Entre 1902 e 1920, atuou em várias revistas encenadas no Teatro São José, no Rio de Janeiro. Em 1905, gravou para a Casa Edison a cançoneta O abacate e o maxixe Café ideal, ambos da revista Cá e lá, com música da maestrina Chiquinha Gonzaga. No mesmo ano, gravou Um samba na Penha, da revista Avança e A recomendação, de Assis Pacheco.

Em 1912, a Columbia lançou discos seus, nos quais se lia em uma das faces: "Atriz brasileira que tem feito sucesso e arrancado (sic) de nosssas platéias as mais ruidosas manifestacoes (sic)". Em algumas dessas gravações, se apresentou cantando em duetos com Mário Pinheiro, registrando, entre outras, o tango Vatapá, de Paulino Sacramento.

Entre suas gravações, destacam-se ainda a canção Iara (Rasga o coração), de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense e, principalmente, Corta-jaca (Gaúcho), de Chiquinha Gonzaga, sua gravação de maior sucesso, ao lado do cantor Mário Pinheiro.

Em 1920, casou-se com o oficial do Exército Almerindo Álvaro de Moraes, que era tesoureiro do Clube dos Democráticos, onde se tornara mais conhecido pelo apelido de Lambada.

Pepa muitas vezes saiu integrando a comissão de frente no desfile dos Préstitos da terça-feira gorda. Nesse mesmo ano seguiu com o marido para a cidade de Campos-RJ, onde se apresentou em teatros.

Encerrou sua carreira artística em 1924, aos 37 anos de idade. Foi ela quem solicitou a Fred Figner, proprietário da Casa Edison e diretor-geral da Odeon Brasileira, que doasse um terreno em Jacarepaguá para construir o Retiro dos Artistas, situado na Rua dos Artistas, ainda hoje em funcionamento.