sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Orora analfabeta

Gordurinha
Orora Analfabeta (samba, 1959) - Gordurinha e Nascimento Gomes - Intérprete: Jorge Veiga

Disco 78 rpm / Título da música: Orora Analfabeta / Nascimento Gomes (Compositor) / Gordurinha (Compositor) / Jorge Veiga (Intérprete) / Gravadora: Copacabana, 1959 / Nº Álbum: 6.016-a / Lado A / Gênero musical: Samba.


Tom: C

       Dm             G7                C
Eu  arranjei uma dona boa lá em Cascadura
A7          Dm           G7       C
Grande criatura mas não sabe  ler
                         A7
E nem  tão  pouco  escrever
           Dm                   G7
Ela é bonitona, bem  feita de corpo
               C
É cheia da nota
       A7                 Dm
Mas escreve gato com   "j"
        G7              C
E escreve saudade com "c"

C7               F                  Fm
 Ela disse outro dia que estava doente
                    C
Sofrendo do "estrombo"
A7        Dm    G7                      C
Levei um tombo  Cai durinho  pra trás
                    C7
Isso assim já e demais
              F          Fm               C
Ela fala "aribu", "arioprano" e "motocicreta"
            Dm                  G7
Diz que adora feijoada "compreta"
                  C
Ela é errada demais!

C7             F                 Fm
Viu uma letra "O"  bordada na blusa
                C
Eu disse é agora
           A7                    Dm
Perguntei seu nome ela disse Orora
         G7           C
E sou filha do Arineu
                    A7
Mas o azar  é todo meu

Baiano não é palhaço


Baiano Não é Palhaço (1962) - Gordurinha - Intérprete: Gordurinha

LP A Bossa Do Gordurinha / Título da música: Baiano Não É Palhaço / Gordurinha (Compositor) / Gordurinha (Intérprete) / Gravadora: RCA Victor / Ano: 1962 / Nº Álbum: BBL 1186 / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Baião.



Sou filho da Bahia com muita alegria
Não interessa se o relógio já deu meio dia
Não falo fino nem ando me rebolando
Mas tem gente falando que eu não sou legal
Não faço ponto lá na Praça Tiradentes
Mesmo assim tem muita gente que ainda fala mal
Não pinto as unhas, nem falo com vedete
Mas estão pintando o sete, isto é uma verdade.
Quando o relógio está marcando meio dia
Quem é filho da Bahia tem que ouvir piada

Ai, ai, ai, ô, ô
Vou repetir que o Brasil
Foi descoberto na Bahia
E o resto é interior

Quando ligo a televisão
Têm sempre um palhaço pra meter o aço
Armando a lona, fabricando um picadeiro
E o baiano o dia inteiro bancando o palhaço
Até parece que estou n'outro país
Vê que piada infeliz inventaram agora:
"Ajude a manter a casa limpa
Matando um baiano por hora"

Chiclete com banana

Radicado no Rio desde 1952, o cantor e compositor baiano Gordurinha (Waldeck Artur de Macedo) teve sua primeira oportunidade artística ao gravar em dupla com Léo Vilar duas músicas para o carnaval de 56. O sucesso, porém, só aconteceria um pouco adiante com “Vendedor de Caranguejo” (1958), “Súplica Cearense” (1960) e principalmente com a gravação de “Chiclete com Banana” por Jackson do Pandeiro em 1959.

Um sacudido sambabop (embora na letra declare-se “samba-rock”), a composição propõe uma divertida troca de influências entre as músicas brasileira e americana: “Eu só boto be-bop no meu samba / quando o Tio Sam tocar um tamborim / quando ele pegar num pandeiro e num zabumba / quando ele aprender que o samba não é rumba / aí eu vou misturar Miami com Copacabana / chiclete eu misturo com banana / e o meu samba vai ficar assim...”.

Além de inspirar um espetáculo de Augusto Boal, “Chiclete com Banana” deu nome a uma bem-sucedida banda baiana e às tiras de quadrinhos do cartunista Angeli. Em 1972, voltou a fazer sucesso ao ser incluída por Gilberto Gil no disco que marcou o seu retorno do exílio londrino. Assinada a princípio somente por Gordurinha, é em algumas gravações apresentada com o nome de José Gomes como co-autor e em outras com o de Almira Castilho.

Chiclete com banana (samba, 1959) - Gordurinha e Almira Castilho - Intérprete: Jackson do Pandeiro


Intro:34 35/25/28/17/15/10 
      Bm7 E7/9- / A7/13 A7/5+ / G7/13 G7/5+ 
      34 35/25/28/17/15/10 
      Bm7 E7/9- / Am7 / A7/13 / G / Eb7/9+ D7/9+ 

        G      E7/9-      A7/13 
Eu só ponho bib-bop no meu samba 
A7/5+        Am7      D7/9     G 
Quando o Tio Sam tocar o tamborim             
            E7/9-                   A7/13 
Quando ele pegar no pandeiro e no zabumba                 
                D7/9             G7 G7  F#7 F7 E7 
Quando ele aprender que o samba não é   rum-ba-a                
                A7    D7/9           G 
Aí eu vou misturar, Miami com Copacabana    
   E7/9-                  A7/13 
Chicletes eu misturo com banana          
         D7/9               G                    
Eu o meu samba vai ficar assim  

Gb G // C7/9 // Bm7 / E7/9  

   Am7         D7/9         G          
Eu quero ver a grande confusão 

Gb G // C7/9 // Bm7 / E7/9          

   Am7         D7/9         G      
Olha aí o samba-rock meu irmão 
G G#º            Am7 A#º   
  É, mas em compensação          
         E7/9-         A7 
Eu quero ver o Boogie-woogie       
      D7/9       Dm7/9  G7/13 
De pandeiro e violão  

C7+         C#º G6          E7/9- 
Quero ver o Tio Sam de frigideira,  
 A7     D7/9 Dm7/9 G7/13 
numa batucada brasileira 
C7+         C#º G6          E7/9- 
Quero ver o Tio Sam de frigideira,  
 A7     D7/9 Dm7/9 G7/13 
numa batucada brasileira 


A Canção no Tempo - Vol.2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Gordurinha


Fossem os curiosos tentar adivinhar-lhe o físico pelo apelido e Gordurinha seria até hoje mais um enigma na história da música popular brasileira. Magro na juventude, Waldeck Artur de Macedo, nascido no bairro da Saúde, em Salvador, no dia 10 de agosto de 1922, ganhou seu apelido em 1938, quando já trabalhava na Rádio Sociedade da Bahia.


Do seu repúdio à colonização americana, epitomizada pela goma sde mascar nasceu o bebop-samba, Chiclete com banana , em parceria com Almira Castilho, que acabou por pronunciar o tropicalismo ao sugerir antropofagicamente na letra: 'só boto bebop no meu samba quando o Tio Sam pegar no tamborim, quando ele entender que o samba não é rumba'.

Ele mesmo chegou a gravar, como que a tirar um sarro um rock entitulado Tô doido para ficar maluco.

Mas não foi só de glória e reconhecimento tardio a vida deste que, ao lado do Trio Nordestino, iria se transformar no baluarte do forró na Bahia. Sua estréia no mundo da música se deu em 1938, quando fez parte do conjunto vocal "Caídos do céu" que se apresentava na Rádio Sociedade da Bahia, fazendo logo depois par cômico com o compositor Dulphe Cruz. Logo se destacou pelo seu dom de humorista e pelo sarcasmo que iria ser disseminado em suas letras anos mais tarde.

Em 1942, cansado de tentar conciliar estudo e sessões de rádio, tomou a decisão se debateu com um dilema conhecido de muitos: medicina ou carreira artística? Como seus discípulos Zé Ramalho e Fred Dantas, Gordurinha caiu fora desse estória de clinicar. Largou a Faculdade de Medicina e seguiu sua sina de cigarra.

Os passos iniciais seriam dados numa Companhia Teatral. Caiu na estrada, mambembeando e povoando de música e pantomimas outras plagas.

Seu próximo passo seria um contrato na Rádio Jornal de Comércio, em Recife, em 1951. Depois, o jovem compositor, humorista e intérprete Gordurinha passaria pela rádio Tamandaré onde conheceu o poeta Ascenso Ferreira, figura folclórica do Recife, Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda. Estes dois últimos gravariam em primeira mão várias das suas composições.

Em 1952 partiu para o Rio de Janeiro onde penou sofrendo gozações preconceituosas. Sublimando estes pormenores, conseguiu trabalhar nos programas Varandão da Casa Grande, na Rádio Nacional, e Café sem Concerto as Radios Tupi e Nacional, duas das maiores do país, sempre fazendo tipos humorísticos. Ficou neste circuito até que almejou um sonho que já alimentava desde os magros dias do Recife: um contrato na mais importante mídia do Brasil na época que era a Rádio Nacional.

Meu enxoval, um samba-coco em parceria com Jackson do Pandeiro seria um dos carros chefes do dis-co ‘forró do Jackson’, de 61. Outro que se daria bem com uma composição do baiano seria o forrozeiro paraense Ary Lobo (mais um dos artistas que o Brasil insiste em esquecer) que prenunciou o Mangue beat ao cantar:

‘Caranguejo-uçá, caranguejo-uçá/ A apanho ele na lama/ E boto no meu caçuá/ Caranguejo bem gordo é gaiamum/ Cada corda de 10 eu dou mais um. Vendedor de caranguejo seria gravado por Clara Nunes, em 74, e por Gilberto Gil no seu ‘Quanta’, de 1997. Outros sucessos foram Baiano não é palhaço que fala do seu orgulho de ser baiano, Súplica cearense e Baiano burro nasce morto.

Gordurinha faleceu em Nova Iguaçú/RJ em 16/1/1969 e seria homenageado na década de 70 com Gilberto Gil, que regravou Chiclete com Banana e Vendedor de Caranguejo no Quanta. O cantor carioca Jards Macalé, também o homenageria com a regravação de Orora analfabeta, no seu 2º LP, ‘Aprendendo a nadar’, de 1974. Elba Ramalho, que em entrevista à revista Showbizz , elogiou sua divisão de versos, se rendeu ao talento do mestre ao dar sua versão de Pau-de-arara é a vovozinha, no seu CD Flor da Paraíba, de 1998.

A última homenagem recebida foi o lançamento do CD A Confraria do Gordurinha, em rememoração aos 30 anos sem o artista. Contando com participação de Gilberto Gil, Confraria da Basófia, Marta Millani e texto do pesquisador Roberto Torres, o CD têm 14 faixas e foi lançado em 1999.

Algumas músicas