sexta-feira, 21 de julho de 2006

Ponteio

Marília Medalha e Edu Lobo no III Festival de MPB - 1967
Recém-chegado de uma viagem à Europa, Edu Lobo não se sentia inclinado a participar do III Festival de MPB da TV Record, apesar da insistência de Dori Caymmi, que lhe pedia uma letra para a canção que deveria inscrever. De qualquer forma, procurando atender o amigo, começou a pensar no assunto e até encontrou um mote, que lhe pareceu de forte apelo popular: “Ai, quem me dera agora /eu tivesse a viola pra cantar.”

A parceria entretanto gorou, pois Dori optou por Nelson Mota, com quem ganhara o festival da TV Rio com “Saveiros”, e que acabou fazendo os versos da canção, “O Cantador”, defendida no festival por Elis Regina. Mas o mote permaneceu e, desenvolvido por Edu, originou outra composição, que ele entregaria a Capinan para letrar, aproveitando uma idéia que anotara num caderno de projetos: “Ponteio”.

Já então decidido a participar do festival da Record, o compositor convidou o amigo de infância Téo de Barros e o Quarteto Novo (Hermeto Pascoal, Heraldo Monte, Airto Moreira e Téo) para ensaiarem e participarem do arranjo de “Ponteio”. Chamou ainda o conjunto Momento Quatro e uma amiga do Teatro e Arena, a cantora Marília Medalha, cuja apresentação cênica teve a orientação de Augusto Boal. Após a introdução, com a flauta de Hermeto, a extensa letra da canção, entremeada por repetições do mote original, é entoada em diferentes climas e num crescendo intenso, que culmina no final triunfante.

Assim “Ponteio” venceu um dos mais disputados festivais de todos os tempos, sobrepujando com os aplausos do público a “Domingo no Parque”, “Roda Viva”, “Alegria, Alegria” e até “O Cantador”, a preferida de Edu. Do ponto de vista rítmico, a vencedora inovou com um ponteado no desenho dos baixos (colcheia-semicolcheia-colcheia-colcheia), dando a sensação de um baião mais sincopado do que o típico baião de Luiz Gonzaga.

Esta levada seria aproveitada por Edu em outras composições como “Casa Forte”, “Zanzibar” e “Currupião”, tornando-se ainda modelo de um baião de andamento mais veloz, muito utilizado em temas instrumentais por outros compositores. Posteriormente, ele constatou que esse desenho rítmico já existia em peças de Heitor Villa-Lobos. “Ponteio” tem gravações memoráveis como as de Radamés Gnattali, Sivuca, Zimbo Trio e, no exterior, a da big-band de Woody Herman (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Ponteio (1967) - Edu Lobo e Capinan - Interpretação: Edu Lobo, Marília Medalha e Momento Quatro

Compacto simples / Título da música: Ponteio / Edu Lobo (Compositor) / Capinan (Compositor) / Edu Lobo (Intérprete) / Marília Medalha (Intérprete) / Momento Quatro (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1967 / Nº Álbum: 365.221 PB / Lado A / Gênero musical: Canção / Baião / MPB.

Fm                                            
Era um, era dois, era cem, era o mundo chegando e ninguém, 
          F#
  que soubesse que sou violeiro,
                            Fm       
Que me desse um amor ou dinheiro. 
                                             F#
Era um, era dois, era cem, vieram prá me perguntar:
                                  
Ô voce, de onde vai, de onde vem, 
                            A#m7
     diga logo o que tem prá contar
                                           C#7+
Parado no meio do mundo, senti chegar meu momento
                     A#m7                             Gm  C
Olhei pro mundo e nem via, nem sombra, nem sol, nem vento
F             D#                 F           D#
Quem me dera agora eu tivesse a viola prá cantar, ponteio
F            D#                  F           D#
Quem me dera agora eu tivesse a viola prá cantar, ponteio
F             D#                 F          D#
Quem me dera agora eu tivesse a viola prá cantar, ponteio
F             D#                   F         D#     Fm  F#
Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar, prá cantar
Fm                                 
Era um dia, era claro, quase meio, 
                                F#
     era um canto calado, sem ponteio
                                                         Fm
Violência, viola, violeiro, era morte em redor, mundo inteiro
                                                             F#
Era um dia, era claro, quase meio, tinha um que jurou me quebrar
                                                       A#m7
Mas não lembro de dor nem receio, só sabia das ondas do mar
                                                C#7+
Jogaram a viola no mundo, mas fui lá no fundo buscar
                      A#m7                          Gm  C
Se eu tomo e viola, ponteio, meu canto não posso parar, não
F             D#                  F            D#
Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar, ponteio
F             D#                  F             D#
Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar, ponteio
F              D#                  F            D#    
Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar, 
  ponteio, ponteio, todo mundo pontear
F              D#                 F         D#      Fm   F#
Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar, pontear
Fm                                                      F#
Era um, era dois, era cem, era um dia, era claro, quase meio
                                                    Fm
Encerrar meu cantar já convém, prometendo um novo ponteio

                                                     F#
Certo dia que sei por inteiro, eu espero, não vai demorar
                                                       A#m7
Esse dia estou certo que vem, diga logo que vim prá buscar
                                                 C#7+
Correndo no meio do mundo, não deixo a viola de lado,
                 A#m7                       Gm  C
Vou ver o tempo mudado, e um novo lugar prá cantar
F             D#
Quem me dera agora,.........

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