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sábado, 1 de março de 2008

Grupo Caxangá


Por volta de 1913 João Pernambuco (João Teixeira Guimarães - Jatobá PE, 02/11/1883 - Rio de Janeiro RJ, 16/10/1947) teve a idéia de formar o Grupo Caxangá, de inspiração nordestina, tanto no repertório, como na indumentária, onde cada integrante do conjunto adotava para si um codinome sertanejo.

Em sua primeira formação, o grupo reunia o próprio Pernambuco (Guajurema), Caninha (Mané Riachão), Raul Palmieri, Jacó Palmieri (Zeca Lima), Pixinguinha (Chico Dunga), Henrique Manoel de Souza (Mané Francisco), Manoel da Costa (Zé Porteira), Osmundo Pinto (Inácio da Catingueira), Bonfiglio de Oliveira, Quincas Laranjeiras, Zé Fragoso, Lulu Cavaquinho, Nelson Alves, José Correia Mesquita, Vidraça e Borboleta.

Em 1914 Donga integra o Caxangá com o nome de guerra de "Zé Vicente". No carnaval deste ano o grupo percorre os principais pontos da Avenida Rio Branco, e o batuque Caboca di Caxangá torna-se grande sucesso musical.

O grupo se dissolve em 1919. Os artistas se integram a outros conjuntos como os Turunas Pernambucanos e Oito Batutas.

Por incumbência de Arnaldo Guinle, Pernambuco viaja por vários Estados, para recolher temas folclóricos brasileiros, trabalho do qual participam também Donga e Pixinguinha.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

U poeta do sertão


Outra versão de Caboca di Caxangá - a toada “U poeta du Sertão” - foi gravada em 1927 por Patrício Teixeira e novamente em 1936 por Paraguassu. Ela foi dedicada à memória do companheiro nordestino (Catulo veio do Maranhão) e homem de teatro Arthur Azevedo, que morreu em 1907. A gravação de Paulo Tapajós de 1957 foi relançada no CD da Revivendo "Catulo da Paixão Cearense nas vozes de Paulo Tapajós e Vicente Celestino".

Poeta Do Sertão (toada) - Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco - Interpretação: Paulo Tapajós

LP Catullo O Poeta Do Sertão - Na Interpretação De Paulo Tapajós / Título da música: Poeta Do Sertão / João Pernambuco (Compositor) /Catulo da Paixão Cearense (Compositor) / Paulo Tapajós (Intérprete) / Gravadora: Sinter / Ano: 1957 / Nº Álbum: SLP 1709 / Lado A / Faixa 4 / Gênero musical: Toada.



Si chora o pinho
Im desafio gemedô
Não hai poeta cumo os fio
Du sertão sem sê doutô
Us óio quente
Da caboca faz a gente
Sê poeta di repente
Que a puisia vem do amor

Não há poeta, não há
Cumo os fio do Ceará!

Dotô fromado, home aletrado
Lá da Côrte
Se quisé mexê comigo
Muito intoncê tem qui vê
Us livro da intiligença
I dá sabença
Mas porém u mato virge
Tem puisia como quê!

Poeta eu sô sem sê dotô
Sou sertanejo
Eu sô fio lá dus brejo
Du sertão do Aracati
As minha trova
Nasce d’arma sem trabaio
Cumo nasce na coresma
Nu seu gaio a frô de Abri



Fonte: As Crônicas Bovinas, parte 17

quarta-feira, 22 de março de 2006

Luar do sertão

A toada "Luar do Sertão" é um dos maiores sucessos de nossa música popular em todos os tempos. Fácil de cantar, está na memória de cada brasileiro, até dos que não se interessam por música. Como a maioria das canções que fazem apologia da vida campestre, encanta principalmente pela ingenuidade dos versos e simplicidade da melodia. Embora tenha defendido com veemência pela vida afora sua condição de autor único de "Luar do Sertão", Catulo da Paixão Cearense deve ser apenas o autor da letra.

A melodia seria de João Pernambuco ou, mais provavelmente, de um anônimo, tratando-se assim de um tema folclórico - o côco "É do Maitá" ou "Meu Engenho é do Humaitá" -, recolhido e modificado pelo violonista. Este côco integrava seu repertório e teria sido por ele transmitido a Catulo, como tantos outros temas. Pelo menos, isso é o que se deduz dos depoimentos de personalidades como Heitor Villa-Lobos, Mozart de Araújo, Sílvio Salema e Benjamin de Oliveira, publicados por Almirante no livro No tempo de Noel Rosa.

Há ainda a favor da versão do aproveitamento de tema popular, uma declaração do próprio Catulo (em entrevista a Joel Silveira) que diz: "Compus o Luar do Sertão ouvindo uma melodia antiga (...) cujo estribilho era assim: 'É do Maitá! É do Maitá"'. A propósito, conta o historiador Ary Vasconcelos (em Panorama da música popular brasileira na belle époque) que teve a oportunidade de ouvir "Luperce Miranda tocar ao bandolim duas versões do 'É do Maitá': a original e 'outra modificada por João Pernambuco', esta realmente muito parecida com Luar do sertão".

Homem humilde, quase analfabeto, sem muita noção do que representavam os direitos de uma música célebre, João Pernambuco teve dois defensores ilustres - Heitor Villa-Lobos e Henrique Foreis Domingues, o Almirante - que, se não conseguiram o reconhecimento judicial de sua condição de autor de Luar do Sertão, pelo menos deram credibilidade à reivindicação. Ainda do mesmo Almirante foi a iniciativa de tornar o Luar do Sertão prefixo musical da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a partir de 1939.

Luar do Sertão (toada, 1914) - João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense - Interpretação: Francisco Alves

Disco 78 rpm / Título da música: Luar do Sertão / João Pernambuco (Compositor) / Catulo da Paixão Cearense (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Orquestra Odeon, Lírio Panicali [Direção] (Acomp.) / Nº do Álbum: 12377-b / Nº da Matriz: 7395 / Gravação: 5/Outubro/1943 / Lançamento: Novembro/1943 / Gênero musical: Canção



Eduardo das Neves, o cantor-circense Dudu, interpreta na primeira gravação em 1914:

Disco selo: Odeon Record / Título da música: O Luar do Sertão / João Pernambuco (Compositor) / Catulo da Paixão Cearense (Compositor) / Eduardo das Neves (Intérprete) / Piano e coro (Acomp.) / Nº do Álbum: 120911 / Nº da Matriz: 120.911=3 / Lançamento: Fevereiro/1914 / Gênero musical: Toada sertaneja / Coleção de Origem: IMS, Nirez / Obs.: No rótulo do disco consta Catullo Cearense (Catulo) como compositor da melodia e da letra.


--------G ----------Em -------Am --------D7-------- G----- D7
Não há, ó gente, oh não luar / Como este do sertão (bis)

--------------G------- Em------------ Am--------------------------- D7
Oh que saudade do luar da minha terra / Lá na serra branquejando
------------------------G D7------- G--------- Em---------- Am
Folhas secas pelo chão / Esse luar cá da cidade, tão escuro
--------------------------D7------------------- G------- D7
Não tem aquela saudade / Do luar lá do sertão (refrão)

--------------G --------Em ---------Am--------------------------- D7
A gente fria desta terra sem poesia / Não se importa com esta lua
-----------------------G D7------------- G--------- Em------- Am
Nem faz caso do luar / Enquanto a onça, lá na verde capoeira
------------------------D7-------------------- G------ D7
Leva uma hora inteira, / Vendo a lua a meditar (refrão)

-----------------G--------------- Em---------- Am
Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra
------------------------D7---------------------- G------- D7
Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez
-------------G------------- Em --------Am
Ser enterrado numa grota pequenina
------------------------D7 ----------------G -------D7
Onde à tarde a surunina chora sua viuvez (refrão).


Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Caboca de Caxangá

Catulo da Paixão Cearense: Um sertanejo do Sertão

Em entrevista a Joel Silveira, nos idos de 1940, Catulo da Paixão Cearense declarou-se "um sertanejo do sertão", ressaltando o mérito de saber descrevê-lo muito bem, apesar de não conhecê-lo. Parte desse mérito ele deveria creditar ao violonista João Pernambuco (João Teixeira Guimarães), com quem conviveu por diversos anos e que lhe forneceu, além de alguns temas musicais, um variado vocabulário sertanejo que usaria em seus versos. Um exemplo dessa colaboração é a composição "Caboca de Caxangá", que entrou para a história assinada apenas pelo poeta.

Inspirado numa toada que João lhe mostrara e que teria melodia do violonista, composta sobre versos populares, Catulo escreveu extensa letra, impregnada de nomes de árvores (taquara, oiticica, imbiruçu...), animais (urutau, coivara, jaçanã...), localidades (Jatobá, Cariri, Caxangá, Jaboatão...) e gírias do sertão nordestino, daí nascendo em 1913 a embolada Caboca de Caxangá, classificada no disco como batuque sertanejo. E nasceu para o sucesso, que se estenderia ao carnaval de 1914, para desgosto de Catulo, que achava depreciativo o uso da composição pelos foliões.

A seguir algumas gravações da melodia acima:

Cabocla de Caxangá (batuque, 1913) - Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco - Intérpretes: Júlia Martins, Eduardo das Neves e Bahiano

Disco selo: Odeon Record / Título da música: Cabocla de Caxangá / Catulo da Paixão Cearense (Compositor) / João Pernambuco (Compositor) / Eduardo das Neves (Intérprete) / Bahiano (Intérprete) / Júlia Martins (Intérprete) / Grupo da Casa Edison (Acomp.) / Nº do Álbum: 120521 / Nº da Matriz: 120521 / Gravação: 2/Janeiro/1913 / Lançamento: 1913 / Gênero musical: Batuque Sertanejo / Coleção de Origem: IMS, Nirez



Interpretação de Paulo Tapajós em 1972:

LP No Tempo Dos Bons Tempos - Luar Do Sertão - Músicas de Catullo e Joubert / Título da música: Cabocla de Caxangá / João Pernambuco (Compositor) / Catulo da Paixão Cearense / Paulo Tapajós (Intérprete) / Gravadora: Fontana/Philips / Álbum: 6488 014 / Ano: 1972 / Tracklist: A6 / Gênero musical: Embolada / Batuque sertanejo / Obs.: Extraidos dos LPs de 10 polegadas gravados na Sinter em 1956: SLP 1052 e SLP 1082



E------------------- C7------------------ Fm
Laurindo Punga, Chico Dunga, Zé Vicente
-------------------------B7----------------------E
E esta gente tão valente / Do sertão de Jatobá,
-----------------------C7----------- Fm
E o danado do afamado Zeca Lima,
--------------------------B7-------------------------E
Tudo chora numa prima, / E tudo quer te traquejá.

---------------------B7------------------------E
Caboca di Caxangá, / Minha caboca, vem cá.

------------E---------- C7-------------- Fm
Queria ver se essa gente também sente
-----------------------------B7
Tanto amor, como eu senti,
----------------------------E
Quando eu te vi em Cariri!
-----------------------C7----------- Fm
Atravessava um regato no quartau
-----------------------B7------------------------- E
E escutava lá no mato / O canto triste do urutau.

------------------------B7---------------------------E
Caboca, demônio mau, / Sou triste como o urutau!

E------------------- C7---------------------- Fm
Há muito tempo, lá nas moita das taquara,
-----------------------------B7--------------------------E
Junto ao monte das coivara, / Eu não te vejo tu passá!
------------------C7-------------- Fm
Todo os dia, inté a boca da noite,
------------------------B7----------------------E
Eu te canto uma toada / Lá debaixo do indaiá.

-------------------------B7----------------------E
Vem cá, caboca, vem cá, / Rainha di Caxangá.

E------------------ C7------------------ Fm
Na noite santa do Natal na encruzilhada,
--------------------------B7--------------------------E
Eu te esperei e descantei / Inté o romper da manhã!
--------------------------C7------------ Fm
Quando eu saía do arraiá, o sol nascia
-------------------------B7-------------------E
E lá na grota já se ouvia / Pipiando a jaçanã.

------------------------B7--------------------------E
Caboca, flor da manhã / Sou triste como a acauã!


Fontes: A Canção no Tempo – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Volume 1 - Editora 34; Álbum: Luar do Sertão - Músicas de Catullo e Joubert (1972).

quarta-feira, 15 de março de 2006

João Pernambuco

João Pernambuco - 1926


João Pernambuco (João Teixeira Guimarães), instrumentista e compositor, nasceu em Jatobá PE em 2/11/1883 e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 16/10/1947. Filho de índia caeté e de português, aos 12 anos já tocava viola, que aprendera com violeiros e cantadores sertanejos.


Com a morte dos pais, transferiu-se para Recife PE, onde começou a trabalhar como aprendiz de ferreiro e depois como operário.

Em 1902, viajou para o Rio de Janeiro, passando a residir com uma irmã e empregando-se numa fundição. Seis anos depois, ingressou como servente na prefeitura do então Distrito Federal e mudou-se para uma pensão, na esquina das ruas Riachuelo com Inválidos.

De cultura modesta, mas de excepcional talento musical, por essa época passou a conviver com os grandes violonistas populares, aprimorando-se então no violão, como autodidata. Já autor de algumas canções e toadas sertanejas, e conhecedor de inúmeras outras do folclore nordestino, conheceu Catulo da Paixão Cearense, com quem começou a compor cantigas baseadas nesse folclore, como o coco Engenho de Humaitá, de 1911, que se transformaria na famosa toada Luar do sertão, dois anos depois, e a toada Caboca de Caxangá, de 1913, sucesso no Carnaval do ano seguinte.

Com Catulo da Paixão Cearense, passou a ser conhecido nos meios musicais, chegando a exibir-se em residências ilustres, como a de Rui Barbosa e a de Afonso Arinos. Foi sua a idéia de formar o Grupo Caxangá, que lançou nova moda musica! no pais: os integrantes vestiam-se como sertanejos nordestinos e utilizavam instrumentos típicos.

O grupo, composto por ele, Pixinguinha, Nelson Alves e Donga, entre outros, teve seu auge em 1914 e dissolveu-se em 1919. Participou então de vários outros conjuntos, entre os quais Turunas Pernambucanos e Oito Batutas. Por incumbência de Arnaldo Guinle, viajou por vários Estados, para recolher temas folclóricos brasileiros, trabalho do qual participaram também Donga e Pixinguinha. Compôs várias toadas, muitas delas gravadas pela cantora Stefana de Macedo. Como violonista, gravou para a Casa Edison (Odeon), Columbia e Phoenix.

Em 1997, o violonista Leandro Carvalho gravou o CD João Pernambuco: o poeta do violão (brinde da Sadia), extensão de sua monografia A música para violão de João Pernambuco e Heitor Villa-Lobos, com 14 músicas, entre elas Azulão e Ronca o bizouro na fulô, que atribui ao compositor, baseado em levantamento de Jacó do Bandolim.

Obras

Ajueia, Chiquinha, toada, s.d.; Biro-biro, iaiá, toada, s.d.; Brasileirinho, choro, s.d.; Choro em ré menor, s.d.; Coco dendê rapiá, toada, s.d.; A coivara do meu peito, toada, s.d.; Dengoso, choro, s.d.; Engenho de Humaitá (ou Luar do sertão, c/versos de Catulo da Paixão Cearense, 1913), coco, 1911; Estrada do sertão (c/Hermínio Belo de Carvalho), s.d.; Graúna, choro, s.d.; Gritos d'alma, valsa, s.d.; Interrogando, choro, s.d.; Lágrimas, valsa, s.d.; Lamento, choro, s.d.; O marrueiro, toada, s.d.; Mimoso, choro, s.d.; Pó de mico, choro, s.d.; Reboliço, choro, s.d.; Recordando minha terra, valsa, s.d.; Sempre-viva, valsa, s.d.; Sentindo, choro, s.d.; Siricóia, toada, s.d.; Sonho de magia, valsa, s.d.; Sons de carrilhões, choro, s.d.; Tiá de Junqueira, toada, s.d.; Valsa em lá, s.d.; Vancê, toada, s.d.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - SP - 1998.