Ary Barroso compôs Aquarela do Brasil no início de 1939, numa noite de chuva torrencial, que o obrigou a ficar em casa, contrariando seus hábitos. Antes que a chuva terminasse, ainda teve inspiração para compor outra obra prima, a valsa "Três lágrimas".
Quase vinte anos depois, ele mesmo descreveria a criação de Aquarela do Brasil, em entrevista à jornalista Marisa Lira, do Diário de Notícias: "Senti iluminar-me uma idéia: a de libertar o samba das tragédias da vida, (...) do cenário sensual já tão explorado. Fui sentindo toda a grandeza, o valor e a opulência de nossa terra. (...) Revivi, com orgulho, a tradição dos painéis nacionais e lancei os primeiros acordes, vibrantes, aliás. Foi um clangor de emoções. O ritmo original (...) cantava na minha imaginação, destacando-se do ruído da chuva, em batidas sincopadas de tamborins fantásticos. O resto veio naturalmente, música e letra de uma só vez. Grafei logo (...) o samba que produzi, batizando de ‘Aquarela do Brasil'. Senti-me outro. De dentro de minh'alma extravasara um samba que eu há muito desejara. (...) Este samba divinizava, numa apoteose sonora, esse Brasil glorioso."
Exageros à parte, "Aquarela do Brasil" é mais ou menos isso que Ary Barroso pretendeu fazer: uma declaração de amor ao Brasil, através de uma bela composição. É também a obra mais representativa da grande fase de sua carreira (1938-1943), em que ele completa um processo de refinamento de seu repertório, incorporando-lhe requintes até então inusitados em nossa música popular. E como foi preferencialmente um compositor de samba, é neste gênero que melhor empregará esses requintes, de forma especial nos chamados sambas-exaltação, um novo tipo de música do qual é inventor e "Aquarela do Brasil", o paradigma. Já mostra no que o gênero ofereceria em qualidades e defeitos, esta composição sintetiza suas características fundamentais: os versos enaltecedores de nosso povo, sas paisagens, tradições e riquezas naturais, a melodia forte, sincopada, sonoridades brilhantes tudo isso mostrado num crescendo, do prólogo ao final apoteótico, que procura transmitir uma visão romântica e ufanista.
"Aquarela do Brasil" foi lançada por Araci Cortes em 10.06.39, na revista Entra na Faixa, de Ary e Luís Iglesias. Inadequada à voz da cantora, não fez sucesso. Um mês e meio depois, voltou a ser apresentada, desta vez de forma destacada, pelo barítono Cândido Botelho no espetáculo "Joujoux e Balangandãs". Sua primeira gravação aconteceria em seguida (18.08) por Francisco Alves, acompanhado por orquestra que executava um arranjo de Radamés Gnattali, grandiloqüente como exigia a composição. Com esta gravação iniciava-se sua monumental discografia que incluiria figuras como Sílvio Caldas, Antônio Carlos Jobim, Radamés Gnattali, Elis Regina, Gal Costa, João Gilberto, Caetano Veloso, o próprio Ary Barroso, as orquestras de Xavier Cugat, Morton Gould, Ray Conniff, Tommy e Jimmy Dorsey e os superastros Bing Crosby e Frank Sinatra.
A carreira internacional de "Aquarela do Brasil" começou por Hollywood em 1943, quando Walt Disney a incluiu no filme "Alô Amigos" ("Saludo Amigos"), com o título de "Brazil" e versos em inglês de S. K. Russell. No mesmo ano, gravada por Xavier Cugat, fez grande sucesso nos Estados Unidos, aonde chegou a ultrapassar a marca de um milhão de execuções. A partir de então, popular no Brasil e no exterior, se consagraria como uma espécie de segundo hino de nossa nacionalidade. Longe de prever todas essas glórias, Ary Barroso inscreveu "Aquarela do Brasil" no concurso de sambas para o carnaval de 1940, vencido por "Ò seu Oscar" (1°), "Despedida de Mangueira" (2°) e "Cai, cai" (3°). Considerando-se injustiçado, Ary rompeu com Villa-Lobos, presidente da comissão julgadora, com quem só se reconciliaria em 1955.
Aquarela do Brasil (samba, 1939) - Ary Barroso - Intérpretes: Francisco Alves e outros
Título da música: Aquarela do Brasil (I) / Ary Barroso (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Radamés e Sua Orquestra (Acomp.) / Disco Odeon 11768-a / Nº da matriz: 6179 / Gravação: 18/08/1939 / Lançamento: 10/1939 / Gênero musical: Cena Brasileira / Coleções de origem: Nirez, José Ramos Tinhorão, Humberto Franceschi, IMS D
Título da música: Aquarela do Brasil (II) / Ary Barroso (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Radamés e Sua Orquestra (Acomp.) / Disco Odeon 11768-b / Nº da matriz: 6180 / Gravação: 18/08/1939 / Lançamento: 10/1939 / Gênero musical: Cena Brasileira / Coleções de origem: Nirez, José Ramos Tinhorão, Humberto Franceschi, IMS D
Título da música: Aquarela do Brasil / Ary Barroso (Compositor) / Sílvio Caldas (Intérprete) / Orquestra (Acomp.) / Disco Victor / Gravação: 29/05/1942 / Lançamento: 08/1942 / Nº do Álbum: 34949 / Nº da Matriz: S-052542 / Gênero: Samba
Quase vinte anos depois, ele mesmo descreveria a criação de Aquarela do Brasil, em entrevista à jornalista Marisa Lira, do Diário de Notícias: "Senti iluminar-me uma idéia: a de libertar o samba das tragédias da vida, (...) do cenário sensual já tão explorado. Fui sentindo toda a grandeza, o valor e a opulência de nossa terra. (...) Revivi, com orgulho, a tradição dos painéis nacionais e lancei os primeiros acordes, vibrantes, aliás. Foi um clangor de emoções. O ritmo original (...) cantava na minha imaginação, destacando-se do ruído da chuva, em batidas sincopadas de tamborins fantásticos. O resto veio naturalmente, música e letra de uma só vez. Grafei logo (...) o samba que produzi, batizando de ‘Aquarela do Brasil'. Senti-me outro. De dentro de minh'alma extravasara um samba que eu há muito desejara. (...) Este samba divinizava, numa apoteose sonora, esse Brasil glorioso."
Exageros à parte, "Aquarela do Brasil" é mais ou menos isso que Ary Barroso pretendeu fazer: uma declaração de amor ao Brasil, através de uma bela composição. É também a obra mais representativa da grande fase de sua carreira (1938-1943), em que ele completa um processo de refinamento de seu repertório, incorporando-lhe requintes até então inusitados em nossa música popular. E como foi preferencialmente um compositor de samba, é neste gênero que melhor empregará esses requintes, de forma especial nos chamados sambas-exaltação, um novo tipo de música do qual é inventor e "Aquarela do Brasil", o paradigma. Já mostra no que o gênero ofereceria em qualidades e defeitos, esta composição sintetiza suas características fundamentais: os versos enaltecedores de nosso povo, sas paisagens, tradições e riquezas naturais, a melodia forte, sincopada, sonoridades brilhantes tudo isso mostrado num crescendo, do prólogo ao final apoteótico, que procura transmitir uma visão romântica e ufanista.
"Aquarela do Brasil" foi lançada por Araci Cortes em 10.06.39, na revista Entra na Faixa, de Ary e Luís Iglesias. Inadequada à voz da cantora, não fez sucesso. Um mês e meio depois, voltou a ser apresentada, desta vez de forma destacada, pelo barítono Cândido Botelho no espetáculo "Joujoux e Balangandãs". Sua primeira gravação aconteceria em seguida (18.08) por Francisco Alves, acompanhado por orquestra que executava um arranjo de Radamés Gnattali, grandiloqüente como exigia a composição. Com esta gravação iniciava-se sua monumental discografia que incluiria figuras como Sílvio Caldas, Antônio Carlos Jobim, Radamés Gnattali, Elis Regina, Gal Costa, João Gilberto, Caetano Veloso, o próprio Ary Barroso, as orquestras de Xavier Cugat, Morton Gould, Ray Conniff, Tommy e Jimmy Dorsey e os superastros Bing Crosby e Frank Sinatra.
A carreira internacional de "Aquarela do Brasil" começou por Hollywood em 1943, quando Walt Disney a incluiu no filme "Alô Amigos" ("Saludo Amigos"), com o título de "Brazil" e versos em inglês de S. K. Russell. No mesmo ano, gravada por Xavier Cugat, fez grande sucesso nos Estados Unidos, aonde chegou a ultrapassar a marca de um milhão de execuções. A partir de então, popular no Brasil e no exterior, se consagraria como uma espécie de segundo hino de nossa nacionalidade. Longe de prever todas essas glórias, Ary Barroso inscreveu "Aquarela do Brasil" no concurso de sambas para o carnaval de 1940, vencido por "Ò seu Oscar" (1°), "Despedida de Mangueira" (2°) e "Cai, cai" (3°). Considerando-se injustiçado, Ary rompeu com Villa-Lobos, presidente da comissão julgadora, com quem só se reconciliaria em 1955.
Aquarela do Brasil (samba, 1939) - Ary Barroso - Intérpretes: Francisco Alves e outros
Título da música: Aquarela do Brasil (I) / Ary Barroso (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Radamés e Sua Orquestra (Acomp.) / Disco Odeon 11768-a / Nº da matriz: 6179 / Gravação: 18/08/1939 / Lançamento: 10/1939 / Gênero musical: Cena Brasileira / Coleções de origem: Nirez, José Ramos Tinhorão, Humberto Franceschi, IMS D
Título da música: Aquarela do Brasil (II) / Ary Barroso (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Radamés e Sua Orquestra (Acomp.) / Disco Odeon 11768-b / Nº da matriz: 6180 / Gravação: 18/08/1939 / Lançamento: 10/1939 / Gênero musical: Cena Brasileira / Coleções de origem: Nirez, José Ramos Tinhorão, Humberto Franceschi, IMS D
Título da música: Aquarela do Brasil / Ary Barroso (Compositor) / Sílvio Caldas (Intérprete) / Orquestra (Acomp.) / Disco Victor / Gravação: 29/05/1942 / Lançamento: 08/1942 / Nº do Álbum: 34949 / Nº da Matriz: S-052542 / Gênero: Samba
G6(9) Brasil! Gº Meu Brasil brasileiro G6(9) Meu mulato inzoneiro F7 E7 Vou cantar-te nos meus ver...sos Am7 D7(9) Am7 O Brasil, samba que dá D7(9) Am7 Bamboleio, que faz gingar D7(9) Am7 Ó Brasil, do meu amor D7(9) G Em7 Terra de Nosso Senhor Am7 D7(9) G Em7 Brasil! Brasil! Am7 D7(9) G G5+ G6 G5+ Pra mim, pra mim G G5+ G6 G5+ Am Am5+ Am6 Ó abre a cortina do passado Am5+ Am Am5+ Am6 Tira a mãe preta do serrado Am5+ G G5+ G6 Bota o rei congo no congado Am Am5+ Am6 Brasil! G G7 F#7 F7 Brasil! E F E F E F E Deixa cantar de novo o trovador F E F E A merencória luz da lua E7 Am Am5+ Am6 Am5+ Toda canção do meu amor Am Am5+ Am6 Am7(b5) Bm7 Quero ver a Sá Dona caminhando G Em7 A7 Pelos salões arrastando Am7 D7(9) G Em7 O seu vestido rendado Am7 D7(9) G Em7 Brasil! Brasil! Am7 D7(9) G G5+ G6 G5+ Pra mim, pra mim G6(9) Brasil! Gº Terra boa e gostosa G6(9) Da morena sestrosa F7 E7 De olhar indiferen...te Am7 D7(9) Am7 O Brasil, samba que dá D7(9) Am7 Bamboleio, que faz gingar D7(9) Am7 Ó Brasil, do meu amor D7(9) G Em7 Terra de Nosso Senhor Am7 D7(9) G Em7 Brasil! Brasil! Am7 D7(9) G G5+ G6 G5+ Pra mim, pra mim G G5+ G6 G5+ Am Am5+ Am6 O esse coqueiro que dá côco Am5+ Am Am5+ Am6 Oi, onde amarro a minha rede Am5+ G G5+ G6 Nas noites claras de luar Am Am5+ Am6 Brasil! G G7 F#7 F7 Brasil! E F E F E F E Oi estas fontes murmurantes F E F E Oi onde eu mato a minha sede E7 Am Am5+ Am6 Am5+ E onde a lua vem brincar Am Am5+ Am6 Am7(b5) Bm7 O, esse Brasil lindo e trigueiro G Em7 A7 É o meu Brasil brasileiro Am7 D7(9) G Em7 Terra de samba e pandeiro Am7 D7(9) G Em7 Brasil! Brasil! Am7 D7(9) G G5+ G6 G5+ Pra mim, pra mim
Fontes: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34; Discografia Brasileira - IMS; Instituto Moreira Salles.
HÁ UM ERRO NA LETRA ACIMA: não é "Quero ver ESSA dona caminhando...". O correto é "Quero ver a SÁ DONA caminhando...", tal como está na partitura original da composição. "Sá dona" é corruptela de "Senhora Dona" (variantes; "siá dona" e "sinhá dona"). Refere-se à esposa do fazendeiro ou do senhor de engenho, a dona da Casa Grande, tal como era designada pelos escravos e peões. Lembremos que o compositor está "abrindo a cortina do passado".
ResponderExcluirCorreto! Acessei o site oficial de Ary Barroso e já corrigi para "...a Sá Dona caminhando". Obrigado pelo comentário!
ExcluirUma pena não ter mostrado as outras versões (a de Francisco Alves por exemplo)
ResponderExcluirdivino ... devia estar iluminado de talento
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