terça-feira, 4 de abril de 2006

Assis Valente


Incertezas cercam a origem de José de Assis Valente. Desde o local de seu nascimento, constando na certidão Campo da Pólvora, na Bahia, e que ele garantia ter sido entre Bom Jardim e Patioba, na mesma Bahia. Sabe-se que o dia do nascimento foi 19 de março de 1908, mas quanto ao pai, há controvérsias. Assis dizia ser filho de José de Assis Valente (fato que o tornaria Júnior), mas sua certidão de nascimento e uma meia-irmã informam ser o pai desconhecido. A mãe chamava-se Maria Esteves Valente.


Aos seis anos, foi raptado por um certo Laurindo que, achando "injusto um menino tão perspicaz viver em ambiente tão pobre", pediu para que a família Canna Brasil, de Alagoinhas, o criasse. Tudo correu bem até que o casal mudou-se para o Rio de Janeiro, deixando o menino na Bahia. Encaminhado para um hospital, passou a viver ali como lavador de frascos da farmácia.

Em 1917, Assis se mudou para Bonfim, onde se tornou responsável pela farmácia do hospital. Invejosos, os farmacêuticos locais enviaram uma receita contendo poderoso veneno para ser por ele aviada. Leu a fórmula, recusou-se a prepará-la e seu prestígio cresceu. Mas a glória durou pouco: declamou um poema anticlerical em uma quermesse e foi destituído do cargo.

Passava um circo pela cidade, e o menino a ele se uniu, como comediante. Percorreu o Estado e, em Salvador, abandonou o circo, iniciando curso de prótese dentária e se empregando como desenhista em uma revista até que resolveu tentar a sorte no Sul. Desembarcou no Rio de Janeiro no final dos anos 20. Em seguida, já trabalhava como auxiliar de protético e, em pouco tempo, montava consultório próprio. Como desenhista das revistas Shimmy e Fon-Fon, aproximou-se do meio artístico. Conheceu Heitor dos Prazeres em 1932, que, ao ouvir suas primeiras músicas, incentivou-o a compor. Entre ser protético ou compositor, Assis ficou com as duas. Batucando na bancada do consultório, poesia e melodia nascendo juntas.

No mesmo 1932, Araci Cortes grava Tem francesa no morro, e ele conhece sua maior intérprete, Carmen Miranda, que grava Etc. e Good bye boy. Compõe Boas Festas, gravada por Carlos Galhardo, e Cai, cai, balão, (com Aurora Miranda e Francisco Alves), ambas sucessos até hoje. O Bando da Lua grava Brasil pandeiro. Para Assis, foi a década de glória, que terminaria com a ida de Carmen - acompanhada pelo Bando da Lua para os Estados Unidos, em 1939. Antes de partir, a cantora gravaria Camisa listrada. O compositor perdeu a intérprete e o conjunto vocal favoritos.

Em 23 de dezembro de 1939, casou com Nadyle da Silva Santos, mas não foi feliz, a união terminando em 1941. Aos poucos, suas músicas caíam no esquecimento. Afundado em dívidas, inseguro quanto ao futuro, tenta o suicídio, pulando do alto do Corcovado. Foi salvo por uma árvore, que impediu a queda. Esforça-se para recuperar a carreira, compondo baiões, rancheiras, guarânias, na moda, mas fora de seu gênero. Em vão. Era sambista de letras brilhantes, reportagens sonoras, e não encontra mais espaço.

Entrou na década de 50 em depressão e procurou mais uma vez a morte, cortando os pulsos, sem conseguir o intento. Aos poucos, mergulha na melancolia, afastando-se de todos e, por fim, no dia 11 de março de 1958, consegue o que já buscara anteriormente. Em um banco da praia do Russel, ingere cianeto com guaraná e morre.

Cifras e letras de músicas

















Obra completa

Abre a boca e fecha os olhos, samba, 1933; Acabei a paciência, samba, 1933; Acorda, São João, marcha, 1934; Adivinhação, marcha, 1937; Alegria (c/Durval Maia), samba, 1937; Alegria de palhaço, marcha, 1951; Amanhã eu dou, samba, 1942; Amor de bamba, samba, 1933; Ao romper da aurora (c/Leandro Medeiros), samba, 1936; Apresentação, samba, 1956; Arara (c/Leandro Medeiros), marcha, 1938; Armei a rede (c/Arsênio Ottoni), baião, 1951; Badaladas, marcha 1935; Bate palma pra mineira, samba, 1945; Batuca no chão (c/Ataulfo Alves), batucada, 1945; Beijinhos, marcha, 1933; Bis... (c/Lamartine Babo), marcha, 1944; Boa-noite, marcha, 1935; Boas festas, marcha, 1933; Bola preta, marcha, 1938; Boneca de pano, samba, 1950; Brasil pandeiro, samba, 1940; Cadê você, meu bem, samba, 1934; Cai, cai, balão, marcha, 1933; Cai, sereno, batuque, 1939; Camisa listada, samba-choro, 1937; Cansado de sambar, samba, 1937; Cirandinha, marcha, 1936; Com água na boca, marcha, 1957; Coração bateu demais, samba, 1942; Coração que não entende, samba-choro, 1939; Dança do beliscão (c/Júlio Zamorano), marcha, 1949; Deixa comigo, samba, 1939; Deixa está, jacaré (c/Pedro Silva), marcha, 1937; Deixa isso pra lá (c/Alvinho), samba, 1956; Deixa o passado, samba, 1938; Deixe de ser palhaço, marcha, 1935; O delegado mandou (c/Osvaldo Gouveia), samba, 1953; Desprezado sonhador c/Júlio Zamorano e Osvaldo Gouveia), samba, 1953; O dia morreu (c/Oliveira Freitas), samba, 1936; O dinheiro que ganho, samba, 1951; Dona Florinda, samba, 1944; E bateu-me a chapa, samba, 1935; É do barulho (c/Zequinha Reis), marcha, 1935; É duro de se crer?, samba, 1933; É feio, mas é bom, samba, 1940; E o mundo não se acabou, samba-choro, 1938; É ordem do rei (c/Castor Vargas), samba, 1951; E por causa de você, ioiô, samba, 1934; É sacrifício demais (c/Leandro Medeiros), samba, 1939; Ela disse que dá, samba, 1942; Elogio da raça, marcha, 1933; Esquece tudo (c/Milton Valente), samba, 1940; Este samba foi feito pra você (c/Humberto Porto), samba, 1935; Etc., samba, 1933; Eu vivia no morro, samba, 1936; Fala, meu pandeiro, samba, 1936; Felismina, marcha, 1933; Fez bobagem, samba, 1942; Foi pouco, samba, 1938; A folia já chegou, marcha, 1938; Good Bye, Boy, marcha, 1933; Gosto mais do outro lado, marcha, 1935; A infelicidade me persegue, samba, 1936; Isso não se atura, samba, 1935; Já é de madrugada (c/Carlos Perry), samba, 1935; Já que está deixa ficar, samba, 1940; Jacaré, te abraça, samba, 1944; Um jarro d’água, samba, 1939; Jeannette (c/Lamartine Babo), marcha, 1936; José do rancho, rancheira, 1952; Lamento, samba, 1958; Levante o dedo, marcha, 1934; Liii... Liii, marcha, 1944; Lulu, marcha, 1934; Madame, samba, 1945; Mais um balão, marcha, 1935; Mangueira (c/Zequinha Reis), samba, 1935; Marcolina, Marcouna, marcha, 1934; Maria boa, samba, 1936; A Maria é a maior (c/A. Godinho e Júlio Zamorano), batucada, 1954; Me segure..., samba, 1943; O meu não dá, samba-choro, 1951; Minha embaixada chegou, samba, 1935; Minha intenção (c/Nelson Petersen), samba, 1937; Motivos musicais, samba, 1946; Não é proceder (c/Harold White), samba, 1935; Não quero não, batuque, 1938; Não sei pedir seu coração, marcha, 1932; Não sei se é (c/Leandro Medeiros), samba, 1938; Nega!, marcha, 1933; Negócios de família, marcha, 1936; Ninho desfeito (c/Hortênsio de Aguiar), samba, 1951; Nobreza, samba, 1939; Noite azul, marchinha, 1941; Novela (c/Leandro Medeiros), samba, 1937; Ô..., marcha, 1936; Oba! oba!, samba, 1937; Oi, Maria, samba, 1933; Olha a direita, marcha, 1933; Olhando o céu todo estrelado, marcha, 1935; Onde canta o sabiá (c/José Carlos Burle) samba, 1948; Pão de açúcar (c/Artur Costa), samba, 1934; Pão-duro (c/Luís Gonzaga), marcha, 1946; Para onde irá o Brasil?, samba, 1933; Patrulha musical, samba, 1948; Pedacinho de amor, samba, 1935; Pensei que pudesse te amar, samba, 1935; Pequena endiabrada (c/Leandro Medeiros), marcha, 1940; Põe a chave embaixo, marcha, 1933; Por causa de você, samba, 1937; Pra lá de boa, marcha, 1933; Pra que amar, samba, 1934; Pra que você me tentou (c/Nelson Petersen), samba, 1939; Pra quem sabe dar valor, samba, 1933; Procurando a Josefina, fox, 1946; Quando eu queria você (c/Milton Amaral), marcha, 1934; Que é que a Maria tem, samba, 1937; Quem dorme no ponto é chauffeur, batucada, 1944; Quem duvidar que apareça, samba, 1942; Querer bem (c/Penélope), samba, 1951; Quero um samba (c/Júlio Zamorano), samba, 1948; Recadinho de Papai Noel, marcha, 1934; Recenseamento, samba, 1940; A rosa e vento, samba, 1970; Sai de baixo (c/Álvaro da Silva), marcha, 1956; O samba começou, samba, 1937; Sapateia no chão, samba, 1934; A saudade me viu, samba, 1935; Se a gente... quando gostasse, samba, 1933; Se você deixar, marcha, 1937; Sem você não há prazer, samba, 1936; A semana findou, samba, 1950; Sinos da Penha, samba, 1934; Só conheço uma, marcha, 1937; Sodade furadeira (c/Abreu Júnior), toada, 1955; Sou da comissão de frente, samba, 1934; Tão grande, tão bobo, marcha, 1934; Té já, marcha, 1935; Té logo, sinhá, samba, 1943; Tem francesa no morro, samba, 1932; Tenho raiva do luar, marcha, 1934; Tive que me mudar, samba, 1949, Triste verão, marcha, 1935; Tristeza (c/Zequinha Reis), samba, 1937; Uva de caminhão, samba, 1939; Vem comigo (c/Jocelino Reis), marcha, 1936; Vestidinho de iaiá, marcha, 1943; A vida é boa... (c/Herivelto Martins e Francisco Sena), marcha, 1934; Viva a Penha (c/Jovaldo Dantas), batucada, 1955; Você quer ser livre desse mundo (c/Roberto Azevedo), samba, 1936; Vou espalhando por aí, marcha, 1935.


Fontes: MPB Compositores - Editora Globo; Enciclopédia da Música Brasileira - 1998 - Art Editora, PubliFolha.

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