segunda-feira, 17 de abril de 2006

Tropicália

Classificado pelo concretista Augusto de Campos como “oswaldiano, antropofágico, desmistificador”, o primeiro elepê solo de Caetano Veloso, lançado em 1968, o credencia como um dos poetas-compositores mais imaginativos de sua geração. Neste disco polêmico e experimentador, o destaque maior pertence à canção “Tropicália”.

Dividida em cinco partes de melodias primárias e iguais, cada uma terminando com um surpreendente par de “vivas”, a composição oferece uma visão crítica e sintetizada da realidade brasileira, contrapondo valores dessa realidade, numa colagem de símbolos, imagens e citações — “Eu organizo o movimento / eu oriento o carnaval / eu inauguro o monumento / no Planalto Central do país / viva a bossa-sasa / viva a palhoça-ça-ça-ça-ça...”

O próprio título “Tropicália”, cuja origem foi longamente comentada por Caetano, no livro Verdade tropical e que acabaria denominando o movimento poético-musical que marcou aquele final de década, só seria adotado por insistência do produtor Manoel Barenbein, desprezando-se a opção “Mistura Fina”, considerada boa pelo compositor. Júlio Medaglia é o autor do excelente arranjo de “Tropicália” (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Tropicália (1968) - Caetano Veloso - Intérprete: Caetano Veloso

LP Caetano Veloso / Título da música: Tropicália / Caetano Veloso (Compositor) / Caetano Veloso (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1968 / Nº Álbum: R 765.-26 L / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: MPB.


"Quando Pero Vaz Caminha
Descobriu que as terras brasileiras
Eram férteis e verdejantes
Escreveu uma carta ao rei
Tudo que nela se planta
Tudo cresce e floresce
E o Gauss da época gravou"

C#m          F#         C#m
Sobre a cabeça os aviões
            F#          C#m
Sob os meus pés, os caminhões
       F#             C#m             B
Aponta contra os chapadões, meu nariz
E         D          E
Eu organizo o movimento
      D           E
Eu oriento o carnaval
       D
Eu inauguro o monumento
      E            D     E
No planalto central do país
          D       E
Viva a bossa, sa, sa
                D           E
Viva a palhoça, ça, ça, ça, ça
          D       E
Viva a bossa, sa, sa
                E   C#m   B   E
Viva a palhoça, ça, ça,   ça, ça

C#m      F#                        C#m
O monumento é de papel crepom e prata
         F#          C#m
Os olhos verdes da mulata
      F#                           C#m
A cabeleira esconde atrás da verde mata
    F#       C#m   B
O luar do sertão
E     D             E
O monumento não tem porta
            D
A entrada é uma rua antiga,
           E
Estreita e torta
       D                       E
E no joelho uma criança feia e morta,
          D     E
Estende a mão
         D       E
Viva a mata, ta, ta
               D           E
Viva a mulata, ta, ta, ta, ta
         D       E
Viva a mata, ta, ta
                   C#m   B   E   C#m
Viva a mulata, ta, ta,   ta, ta

C#m7          F#7             C#m7
No pátio interno há uma piscina
          F#7         C#m7
Com água azul de Amaralina
          F#7                C#m7
Coqueiro, brisa e fala nordestina
         B   E
E faróis
         D               E
Na mão direita tem uma roseira
       D                   E
Autenticando a eterna primavera
        D
E no jardim os urubus passeiam
          E             D     E
A tarde inteira entre os girassóis
         D      E
Viva Maria, ia, ia
              D           E
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia
         D      E
Viva Maria, ia, ia
                  C#m   B   E
Viva a Bahia, ia, ia,   ia, ia

C#m7          F#7           C#m7
No pulso esquerdo o bang-bang
        F#7                     C#m7
Em suas veias corre muito pouco sangue
            F#7
Mas seu coração
                   C#m7    B    E
Balança a um samba de tamborim
       D           E
Emite acordes dissonantes
            D          E
Pelos cinco mil alto-falantes
             D
Senhoras e senhores
                 E             D     E
Ele põe os olhos grandes sobre mim
          D       E
Viva Iracema, ma, ma
              D           E
Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma
          D       E
Viva Iracema, ma, ma
                  C#m   B   E
Viva Ipanema, ma, ma,   ma, ma

C#m7       F#7         C#m7
Domingo é o fino-da-bossa
        F#7           C#m7
Segunda-feira está na fossa
      F#7         C#m7    B    E
Terça-feira vai à roça, porém
      D             E
O monumento é bem moderno
          D                     E
Não disse nada do modelo do meu terno
         D             E          D    E
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
          D       E
Viva a banda, da, da
                D           E
Carmem Miranda, da, da, da, da
          D       E
Viva a banda, da, da
                    C#m   B   E
Carmem Miranda, da, da,   da, da

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