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sábado, 11 de março de 2006

O circo e seus palhaços cantores

As melhores atrações dos circos brasileiros, no final do século XIX e no início do século XX, eram os palhaços cantores. Foram eles, usando seus picadeiros itinerantes, os pioneiros na divulgação da música popular. 


A principio, nem eram considerados circenses. No Brasil, os primeiros grupos de saltimbancos que percorriam o país eram conhecidos como volantins ou burlantins. Somente no século XIX é que alcançam o status de circenses, começando a instalar seus teatros de lona nas principais cidades brasileiras.

São Paulo era das mais procuradas, por sua população de imigrantes europeus, já afeitos ao gênero de espetáculo. Estatísticas dizem que, em 1897, os 200 mil habitantes de São Paulo contavam com as diversões e atividades de lazer bastante raras, no mais das vezes esportivas e domingueiras. Os paulistanos tinham três teatros, oito jornais diários e o maior deles, O Estado de São Paulo, com tiragem de apenas seis mil exemplares. Nesse clima ideal para os circenses. De 1887 a 1914, foram listadas mais de quarenta companhias do gênero, que se estabeleceram na cidade.

Foi a época de ouro de dois grandes circos que, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, eram reconhecidos como os dois melhores do país e disputavam entre si o primeiro lugar. O circo Spinelli, ao ser armado – garantem os contemporâneos que melhor seria dizer construído – no Rio de Janeiro, encostado no viaduto da Estrada de Ferro Central do Brasil, sua lona chegava até a Rua Figueira de Melo, por coincidência, na mesma região onde se encontra a Escola Municipal do Circo. Era todo cercado de madeira, com arquibancadas confortáveis, platéia assoalhada e picadeiro com altura de um metro e meio. Um verdadeiro teatro.

A revista “Máscara”, da época, em matéria jornalística sobre a qualidade do circo, garantia: “Artista que ali atuasse tal o prestígio da casa, estava definitivamente feito, glorificado, em condições de ingressar em qualquer elenco de renome do Centro”, confirmando o papel de lançador de novidades musicais, reservado aos circos naquele momento.

No final do ano de 1897, o Circo-Pavilhão Internacional, armado com quase a mesma pompa na Rua Voluntários da Pátria, ainda no Rio de Janeiro, anunciava: “Dudu das Neves o primeiro palhaço brasileiro fará as delícias da noite com suas magníficas canções e lundus, acompanhado com seu choroso violão”.

Eram, então, os dois circos os espaços privilegiados de lançamentos da música popular brasileira, em especial lundus, chulas e modinhas, alguns dos principais formadores do samba, o qual, em seguida, viria a ter seu lugar também naqueles picadeiros, apresentado por cantores em início de carreira. Durante muito tempo, o circo continuaria sendo uma alternativa de bom dinheiro para cantores de rádio em geral, pois, não existindo televisão, era a única maneira de se fazerem conhecer pessoalmente por seu público do interior do país.

Os maiores astros-cantores dos Circos Spinelli e Internacional eram os palhaços Eduardo das Neves (Dudu) e Benjamim de Oliveira. O pesquisador e historiador José Ramos Tinhorão analisa o prestígio do palhaço-cantor para a música brasileira: “e na parte que interessa mais diretamente à música popular, o circo ia revelar durante quase um século a importância de veiculador das formas de teatro musicado das cidades, com suas bandas e seus números de show, ficando reservada especialmente à figura do palhaço – ao lado de sua função cômica específica – a de equivalente dos conçonetistas de teatro e, mais tarde, dos cantores de auditório de rádio”.

O início do século XX manteve o prestígio do circo e, ao lado dos palhaços-cantores, já começavam a aparecer artistas que se dedicavam exclusivamente ao canto. O sucesso variava de acordo com a qualidade do circo onde se exibissem e com o tipo de público atingido. Muitos pequenos circos tinham seus também pequenos cantores, que se limitavam a repetir os repertórios apresentados nos picadeiros maiores por astros já consagrados, formando elos de uma grande corrente de divulgação.

É a época em que surgem também no circo cantores como Mário Pinheiro, Francisco Alves, Vicente Celestino, Cadete e o próprio Bahiano, famoso por ser o primeiro a ter repertório gravado em discos no Brasil. Com ele, em mais de vinte duetos, a cantora Júlia Martins. Todos se valendo dos picadeiros para mostrar e divulgar seus trabalhos, aproveitando-se da melhor fase circense, e mesmo quando esta começa e decair, para ceder lugar a outros meios de comunicação e lazer.

Mas, nos princípios do século XX, o espetáculo circense ainda era importante. A temporada paulista do Circo Spinelli, na Alameda Barão de Limeira, foi ocasião festejada pela população e por jornais e revistas. Que registraram o sucesso feito por todos os artistas, mas “principalmente pelo nosso simpático Benjamim de Oliveira, que além de desempenhar seu papel como palhaço, nas pantomimas não tem rival e canta suas canções como ninguém”.

Chegando aos anos 20, dificilmente tal efusão voltaria a ocorrer. Os circos já haviam cedido espaço para o teatro de revista e o “cinematógrapho” aparecia como a novidade que arrebataria o público para as escuras salas de projeção. No comentário sobre a montagem de um circo na Avenida Rangel Pestana, um cronista escrevia que “o público do Brás já não aprecia esse gênero de diversões”.

Numa tentativa de reação, os grandes circos deixavam de ser itinerantes, fixavam-se nas maiores cidades, procuravam uma união com o inimigo, promovendo sessões mistas de artes circenses e projeções cinematográficas. Mas, como lançador e principal divulgador da música popular, seu papel tinha se esgotado.

"Lembro-me da introdução daquela canção O Ébrio (1936) onde Vicente Celestino conta que no começo era "cantor lírico de grande fama" e termina sendo vaiado em pleno picadeiro de um circo: ' ... E uma noite, quando eu cantava ainda mais uma vez "A Força do Destino", Deus levou a minha filha para nunca mais voltar. Daí pra cá eu fui caindo, caindo, passando dos teatros de alta categoria para os de mais baixa. Até que acabei por levar uma vaia cantando em pleno picadeiro de um circo. Nunca mais fui nada. Nada, não! Hoje, porque bebo a fim de esquecer a minha desventura, chamam-me ébrio. Ébrio...' Nota-se que os cantores de circo (e também os circos) realmente decaíram já na década de 30 para 40, mas ainda levou muito tempo" (nota do blogueiro).


Fontes: História do Samba - Editora Globo.

Benjamim de Oliveira


Benjamim de Oliveira, palhaço, ator, cantor, instrumentista e compositor, nasceu em Pará (atual Pará de Minas) MG em 1870, e faleceu no Rio de Janeiro RJ em 3/5/1954. Abandonou o lar ainda menor de idade e juntou-se à troupe do Circo Sotero, atuando em números de trapézio e de acrobacia.


Estreou como palhaço no circo de Frutuoso Pereira (Rua João Alfredo, Várzea do Carmo, São Paulo SP), por volta de 1889. As primeiras apresentações foram vaiadas. Depois de trabalhar em vários circos, adquiriu experiência bastante para atuar como palhaço do Circo Caçamba, então armado na Praça da República, São Paulo.

Aí trabalhou aproximadamente três anos, e, em 1893, obteve o lugar de palhaço principal do Circo Spinelli, famoso na época, no qual encenou quadros cômicos extraídos de operetas e peças burlescas. Na Semana Santa, representou o papel de Cristo, com o rosto pintado de branco, uma vez que era negro.

O sucesso dessa ideia de conjugar teatro com circo abriu caminho para a popularização de clássicos, como Otelo, de William Shakespeare (1564-1616), e A Viúva alegre, de Franz Lehár (1870-1948), em que reservava para si os principais papéis masculinos. Nos entreatos cantava lundus, chulas e modinhas, especialmente de seu amigo Catulo da Paixão Cearense, acompanhando-se ao violão.

Deixou gravadas algumas músicas na Columbia, por volta de 1910, como o monólogo Caipira mineiro, os lundus As comparações e O baiano na rocha, este em duo com Mário Pinheiro.


Figura: Alegoria feita como lembrança do palhaço-cantor Benjamim de Oliveira, cercado dos quatro tipos por ele criados. As melhores atrações dos circos brasileiros, no final do século XIX e no início do século XX, eram os palhaços cantores. Foram eles, usando seus picadeiros itinerantes, os pioneiros na divulgação da música popular.


Fonte: História do Samba - Editora Globo.

quinta-feira, 9 de março de 2006

Eduardo das Neves

Eduardo Sebastião das Neves (Dudu), palhaço de circo, poeta e principalmente cantor, foi o nosso artista negro mais popular do começo do século XX. Nasceu em 1874 no Rio de Janeiro e morreu na mesma cidade em 11 de novembro de 1919. Foi pai do famoso cantor e compositor Cândido das Neves (Índio).


Aos 21 anos foi guarda-freios da Estrada de Ferro Central do Brasil. Demitido passou a ser soldado do Corpo de Bombeiros, de onde também foi expulso por freqüentar fardado rodas boêmias. Em 1895 tornou-se palhaço e cantor, apresentando-se em circos e pavilhões. Nesta profissão percorreu vários estados brasileiros.

A partir de 1906, igualmente a Bahiano, Mário Pinheiro, Cadete e Nozinho era cantor contratado da Casa Edison. Seu extenso repertório versava entre cançonetas, chulas, canções, lundus e modinhas.

Foi Eduardo das Neves quem aproveitou a canção napolitana Vieni sul mare e fez a adaptação para glorificar a chegada do encouraçado Minas Gerais, que se juntaria à esquadra brasileira. Mais tarde, adulterada pelo povo, passou a celebrar tão somente o estado brasileiro e não mais ao navio.

Entre seus sucessos estão: A conquista do ar (Santos Dumont), de 1902. Ficou conhecido também como Palhaço Negro, Diamante Negro, Dudu das Neves e Crioulo Dudu.

Obra

A cabeça da mulher, A carne fraca, A gargalhada Hispano Americana, A guerra de Canudos, A mulata e o crioulo, A pimentinha, Amenidade, Angélica, Aninha faceira, As eleições de Piancó, Aurora, Babo-me todo, Balancê, Bolim-bolacho, Canção do marinheiro (De O Brique), Canção do pobre, Canoa virada, Catorrita, Chegadinho, Choro de arrelia, Clube de Regatas, Desafio dos boiadeiros, Democráticos na ponta, E eu nada, Estranguladores do Rio, Eulina, Gaúcho, Homenagem a Santos Dumont, Iaiazinha, Jovens crioulas, Lília, Lundu gostoso, Manhã na roça, Maria François, Marocas, Menina, teu pai não quer, Moleque chorão, Mulher profunda, Namoro frustado, Não me convém, Negro forro, Noites de Santo Antônio, O amolador, O ano novo, O aumento das passagens, O aquidabã, O bem-te-vi, O bombardeio, O Caninha em apuros, O cara dura, O cocheiro do bonde, O cinco de novembro, O corcunda, O hervário, O Imperador da República, O leque, Ó Margarida, O maxixe, Ó Minas Gerais (versão de Vieni sul mar), O pai de toda gente, O perigo, O pescador, O reinado do maxixe, O soldado que perdeu a parada, O voluntário, Os caçadores, Pai João, Paladinos da Cidade Nova, Pé de ganso, Perdão Emília, Periquitos, Pernambuco é minha terra, Pomada, Quem disse que o dinheiro não é bom, Quando?, Quando o meu peito, Quindins de Iaiá, Rolo em um bonde, Sempre chaleirando, Seu Barnabé, Seu Gouveia, Sindicato da terra da goiabada, Sorteio militar, Um vago, Uma entrevista com Fregoli, Uma festa na Penha.

Discografia

(1907) Balancê • Odeon • 78; (1907) Estranguladores do Rio • Odeon • 78; (1907) Seu Gouveia • Odeon • 78; (1907) Rolo em um bonde • Odeon • 78; (1907) O aquidaban • Odeon • 78; (1907) O amolador • Odeon • 78; (1907) Pai João • Odeon • 78; (1907) Iaiazinha • Odeon • 78; (1907) O soldado que perdeu a parada • Odeon • 78; (1907) E eu nada • Odeon • 78; (1907) Bolim-bolacho • Odeon • 78; (1907) Marocas • Odeon • 78; (1908) O maxixe • Odeon • 78; (1908) Ai Joaquina • Odeon • 78; (1908) Chegadinho • Odeon • 78; (1908) Canção dos marinheiros (de O Brique) • Odeon • 78; (1908) A mulata e o crioulo • Odeon • 78; (1908) Em um café concerto • Odeon • 78; (1908) Aurora • Odeon • 78; (1908) Pai João (O entusiasmo do negro Mina) • Odeon • 78; (1908) Quando o meu peito • Odeon • 78; (1909) Uma festa na Penha • Odeon • 78; (1909) Canção do pobre • Odeon • 78; (1909) Mulher profunda • Odeon • 78; (1909) Menina, teu pai não quer • Odeon • 78; (1909) O ano novo • Odeon • 78; (1909) Angélica • Odeon • 78; (1909) Babo-me todo • Odeon • 78; (1909) O malandro • Odeon • 78; (1909) Os dois bêbados • Odeon • 78; (1909) Canção do marinheiro • Odeon • 78; (1912) O bem-te-vi • Odeon • 78; (1912) Lundu gostoso • Odeon • 78; (1912) Ó, Minas Gerais (Viene sul mar) • Odeon • 78; (1912) Aninha faceira • Odeon • 78; (1912) Não me convém • Odeon • 78; (1912) Democráticos na ponta • Odeon • 78; (1912) Estela • Odeon • 78; (1912) Pomada • Odeon • 78; (1912) Club de Regatas • Odeon • 78; (1912) O voluntário • Odeon • 78; (1912) Canção do soldado • Odeon • 78; (1912) O Caninha em apuros • Odeon • 78; (1912) Lília • Odeon • 78; (1912) O perigo • Odeon • 78; (1912) Noites de Santo Antônio • Odeon • 78; (1912) Margarida vai à fonte • Odeon • 78; (1912) Gaúcho • Odeon • 78; (1912) Seu Barnabé • Odeon • 78; (1912) Festas joaninas • Odeon • 78; (1912) Sindicato da terra da goiabada • Odeon • 78; (1912) Desafio em Braga • Odeon • 78; (1912) Quindins de Iaiá • Odeon • 78; (1912) O pescador • Odeon • 78; (1912) Pé de ganso • Odeon • 78; (1912) Eulina • Odeon • 78; (1912) Manhã na roça • Odeon • 78; (1912) Canoa virada • Odeon • 78; (1912) Amenidade • Odeon • 78; (1912) O corcunda • Odeon • 78; (1912) Moleque chorão • Odeon • 78; (1912) O leque • Odeon • 78; (1912) Sorteio militar • Odeon • 78; (1912) Pernambuco é minha terra • Odeon • 78; (1912) Jovens crioulas • Odeon • 78; (1912) Os caçadores • Odeon • 78; (1912) Periquitos • Odeon • 78; (1912) O Imperador da República • Odeon • 78; (1912) Triângulo mineiro • Odeon • 78; (1912) Maria François • Odeon • 78; (1912) Paladinos da Cidade Nova • Odeon • 78; (1912) O reinado do maxixe • Odeon • 78; (1912) A pimentinha • Odeon • 78; (1912) O bombeiro • Odeon • 78; (1912) Ó Margarida • Odeon • 78; (1912) As eleições de Piancó • Odeon • 78; (1912) O pai de toda gente • Odeon • 78; (1912) O cocheiro do bonde • Odeon • 78; (1912) Negro forro • Odeon • 78; (1913) Namoro frustado • Odeon • 78; (1913) Um vago • Odeon • 78; (1913) Choro de arrelia • Odeon • 78; (1913) Quem disse que o dinheiro não é bom? • Odeon • 78; (1913) O hervanário • Odeon • 78; (1913) O cara dura • Odeon • 78; (1913) Um gago em apuros • Odeon • 78; (1913) Moleque de uma perna • Odeon • 78; (1913) O galo e a galinha • Odeon • 78; (1913) A cabeça da mulher • Odeon • 78; (1913) Meninas traidoras • Odeon • 78.


Fontes: www.musicapopular.org / eduardo-das-neves/music.html; Enciclopédia da Música Brasileira - Editora Art PubliFolha.