A portelense Clara Nunes vivia pedindo ao marido, Paulo César Pinheiro, um samba em homenagem à sua escola. Acontece que o poeta sentia-se meio inibido para a tarefa, pois, além de ter um coração mangueirense, achava que já existia uma obra definitiva sobre a Portela, o samba “Foi um Rio que Passou em Minha Vida”, de Paulinho da Viola. Mesmo assim, para agradar à mulher, começou a pensar no assunto e até criou uma pequena célula melódica que não conseguiu desenvolver a contento.
Um dia, quando menos esperava, encontrou a idéia numa sala de sua própria casa, onde Clara havia montado um altar para as suas devoções: a imagem de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, uma santa negra com o seu manto azul e branco (as cores da Portela), o pombo de asas abertas, representando o Espírito Santo (a águia portelense), enfim, a combinação do místico com o profano (procissão religiosa/desfile carnavalesco) forneceu-lhe o ponto de partida para a composição que, desenvolvida com o parceiro Mauro Duarte, resultou no belo samba-homenagem “Portela na Avenida”:
“Portela / sobre a tua bandeira esse divino manto / tua águia altaneira é o Espírito Santo / no templo do samba / as pastoras e os pastores / (...) / como fiéis na santa missa da capela / salve o samba / salve a santa / salve ela / salve o manto azul e branco da Portela / desfilando triunfal / sobre o altar do carnaval...”
Lançada por Clara Nunes no final de 81, “Portela na Avenida” se consagraria no carnaval de 82, tornando-se a partir de então a música que esquenta a bateria portelense antes de cada desfile. Com o seu sucesso, Paulo César resolveu homenagear também as outras grandes escolas, começando pelo Império Serrano, com o samba “Serrinha”, gravado por Clara. No total, seriam dez sambas dos quais oito foram gravados (dois por Clara e seis por Alcione), permanecendo inéditos em disco (até 1998) os referentes a Vila Isabel e Caprichosos de Pilares.
Paulo César Pinheiro está, assim, para as escolas de samba, como Lamartine Babo, para os clubes do futebol carioca, que homenageou em onze marchas. Detalhe: em 1968, a Mangueira seria exaltada pelo portelense Paulinho da Viola (em parceria com Hermínio Bello de Carvalho) no samba “Sei Lá Mangueira”; em 1981 chegou a vez de a Portela ser homenageada pelo mangueirense Paulo César Pinheiro (em parceria com Mauro Duarte). Estabeleceu-se assim um curioso empate em que todos saíram ganhando (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).
Portela na Avenida (samba, 1982) - Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro
LP Clara / Título da música: Portela Na Avenida / Mauro Duarte (Compositor) / Paulo César Pinheiro (Compositor) / Clara Nunes (Intérprete) / Velha Guarda da Portela (Partic.) / Gravadora: EMI-Odeon / Ano: 1981 / Nº Álbum: 062 421224 / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Samba / Carnaval.
Tom: C
Am G
Portela eu nunca vi coisa mais bela
F E7
Quando ela pisa a passarela e vai entrando na avenida
Am G
Parece a maravilha de aquarela que surgiu
F
O manto azul da padroeira do brasil
E7
Nossa senhora aparecida
Dm Bm5-/7 Am Bm5-/7
Que vai se arrastando e o povo na rua cantando
E7 Am
É feito uma reza, um ritual
A7 Dm Am B7 E7 Am E7
É a procissão do samba abençoando a festa do divino carnaval
Am G
Portela é a deusa do samba o passado revela
F
E tem a velha guarda como sentinela
E7
E é por isso que eu ouço essa voz que me chama
Am G
Portela sobre a tua bandeira este divino manto
F E7 Am
Tua águia altaneira, espírito santo no templo do samba
G7 C
As pastoras e os pastores
G7 C
Vem chegando da cidade da favela
G7 C
Para defender as tuas cores
B7 E7
Como fiéis na santa missa da capela
A7 Dm E7 Am
Salve o samba, salve a santa, salve ela
A7 Dm E7 Am
Salve o manto azul e branco da portela
Dm G7 C E7
Desfilando triunfal sobre o altar do carnaval

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