Recém-chegado ao Rio, por volta de 1930, Herivelto Martins costumava frequentar o Morro da Favela, onde havia uma singela capelinha. Por muito tempo ele guardou a imagem dessa capela, com a intenção de usá-la numa canção que descrevesse de forma mística o anoitecer no morro.
Um dia, estando num bilhar na Praça Tiradentes, despertou-lhe a atenção a algazarra de um bando de pardais, que se recolhia às arvores para dormir. Transportando os pardais para o morro, ele escreveu e musicou os seguintes versos: "Tem alvorada / tem passarada / alvorecer / sinfonia de pardais / anunciando o anoitecer" - que logo complementou, compondo o que viria a ser a segunda parte de "Ave Maria no Morro". Entusiasmado com o esboço de samba que acabara de fazer, Herivelto resolveu mostrá-lo ao compadre Benedito Lacerda, na época seu vizinho na Ilha do Governador.
É ele próprio quem conta essa história, no depoimento que prestou para o Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, em 18.08.83: "Eu me preparei para mostrar ao Benedito essa segunda parte. Ensaiei com a Dalva, bem ensaiadinho, e todo animado fui procurá-lo. ‘Ouve aqui, Benedito, este negócio que eu fiz.' E então cantamos, cantamos, a Dalva com aquela voz bonita e eu, no violão, crente que estávamos agradando, pois estava mesmo uma beleza. Terminada a cantoria, uma decepção. O Benedito tirou os óculos, esfregou os olhos e disse com a maior frieza: 'Meu compadre, isso é música de igreja. Vamos fazer música pra ganhar dinheiro, meu compadre'. E, para amenizar o meu desapontamento, acrescentou: ‘Tá bem, tá bem pra vocês cantarem no rádio, mas isso não é música pra dar dinheiro. Cadê aquele sambinha que você me mostrou outro dia?"'.
Desiludido com a rejeição, Herivelto arquivou a composição, só a concluindo meses depois, quando aprontou a primeira parte ("Barracão de zinco / sem telhado / sem pintura / lá no morro...").
Gravada em junho de 42, "Ave Maria no Morro" foi o primeiro sucesso do Trio de Ouro na Odeon. A repercussão do disco, entretanto, trouxe um problema. O cardeal, Dom Sebastião Leme, considerou a canção uma heresia e pediu sua proibição, o que só não aconteceu porque o autor tinha pistolão no serviço de censura. Realmente, a posteridade provaria que Sua Excelência Reverendíssima não estava com a razão: a partir dos anos sessenta, "Ave Maria no Morro" tornou-se a composição que maiores dividendos renderia na obra de Herivelto, especialmente por sua execução em igrejas da Alemanha, Áustria, Suíça e outros países.
Ave Maria no morro (samba, 1942) - Herivelto Martins - Intérpretes: Dalva de Oliveira e Trio de Ouro
Disco 78 rpm / Título: Ave Maria no morro / Herivelto Martins (Compositor) / Trio de Ouro (Intérprete) / Dalva de Oliveira (Intérprete) / Fon-Fon, 1908-1951 (Acompanhante) / Orquestra (Acompanhante) / Gravadora: Odeon / Gravação: 05/06/1942 / Lançamento: 08/1942 / Nº do Álbum: 12185 / Nº da Matriz: 6984 / Gênero: Samba canção / Coleções de origem: IMS, Nirez
Um dia, estando num bilhar na Praça Tiradentes, despertou-lhe a atenção a algazarra de um bando de pardais, que se recolhia às arvores para dormir. Transportando os pardais para o morro, ele escreveu e musicou os seguintes versos: "Tem alvorada / tem passarada / alvorecer / sinfonia de pardais / anunciando o anoitecer" - que logo complementou, compondo o que viria a ser a segunda parte de "Ave Maria no Morro". Entusiasmado com o esboço de samba que acabara de fazer, Herivelto resolveu mostrá-lo ao compadre Benedito Lacerda, na época seu vizinho na Ilha do Governador.
É ele próprio quem conta essa história, no depoimento que prestou para o Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, em 18.08.83: "Eu me preparei para mostrar ao Benedito essa segunda parte. Ensaiei com a Dalva, bem ensaiadinho, e todo animado fui procurá-lo. ‘Ouve aqui, Benedito, este negócio que eu fiz.' E então cantamos, cantamos, a Dalva com aquela voz bonita e eu, no violão, crente que estávamos agradando, pois estava mesmo uma beleza. Terminada a cantoria, uma decepção. O Benedito tirou os óculos, esfregou os olhos e disse com a maior frieza: 'Meu compadre, isso é música de igreja. Vamos fazer música pra ganhar dinheiro, meu compadre'. E, para amenizar o meu desapontamento, acrescentou: ‘Tá bem, tá bem pra vocês cantarem no rádio, mas isso não é música pra dar dinheiro. Cadê aquele sambinha que você me mostrou outro dia?"'.
Desiludido com a rejeição, Herivelto arquivou a composição, só a concluindo meses depois, quando aprontou a primeira parte ("Barracão de zinco / sem telhado / sem pintura / lá no morro...").
Gravada em junho de 42, "Ave Maria no Morro" foi o primeiro sucesso do Trio de Ouro na Odeon. A repercussão do disco, entretanto, trouxe um problema. O cardeal, Dom Sebastião Leme, considerou a canção uma heresia e pediu sua proibição, o que só não aconteceu porque o autor tinha pistolão no serviço de censura. Realmente, a posteridade provaria que Sua Excelência Reverendíssima não estava com a razão: a partir dos anos sessenta, "Ave Maria no Morro" tornou-se a composição que maiores dividendos renderia na obra de Herivelto, especialmente por sua execução em igrejas da Alemanha, Áustria, Suíça e outros países.
Ave Maria no morro (samba, 1942) - Herivelto Martins - Intérpretes: Dalva de Oliveira e Trio de Ouro
Disco 78 rpm / Título: Ave Maria no morro / Herivelto Martins (Compositor) / Trio de Ouro (Intérprete) / Dalva de Oliveira (Intérprete) / Fon-Fon, 1908-1951 (Acompanhante) / Orquestra (Acompanhante) / Gravadora: Odeon / Gravação: 05/06/1942 / Lançamento: 08/1942 / Nº do Álbum: 12185 / Nº da Matriz: 6984 / Gênero: Samba canção / Coleções de origem: IMS, Nirez
G G7 barracão de zinco C Cm G sem telhado sem pintura lá no morro D7 G D7 G barracão é bangalô G7 C lá não existe felicidade de arranha-céu Cm G pois quem mora lá no morro D7 G D7 G já vive pertinho do céu G7 C tem alvorada tem passarada ao alvorecer Cm G E7 sinfonia de pardais Am D7 G anunciando o anoitecer Cm G e o morro inteiro no fim do dia D7 G reza uma prece à ave Maria Cm G e o morro inteiro no fim do dia D7 G reza uma prece à ave Maria D ave Maria C G ave
Fontes: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34; Discografia Brasileira - IMS; Instituto Moreira Salles.
Um hino como tudo que veio de Herivelto e Dalva. Pena o Peri nao continuar a cantar.
ResponderExcluirBarracão
ResponderExcluirDe zinco, sem telhado
Sem pintura, lá no morro
Barracão é bangalô.
Lá não existe
Felicidade de arranha-céu
Pois quem mora lá no morro
Já vive pertinho do céu.
Tem alvorada, tem passarada,
Alvorecer
Sinfonia de pardais
Anunciando o anoitecer.
E o morro inteiro
No fim do dia
Reza uma prece
Ave Maria.
Ave Maria, a - a - ave
E quando o morro escurece
Eleva a Deus uma prece
Ave Maria.
Há erro na letra como vocês podem ver "esta faltando uma parte da letra no final".
Uma pena eu também não lembrar 84 anos hoje em 1942 5 anos
ResponderExcluirDepois que a banda Scorpions gravou essa musica, o mundo abriu as porteiras para imortalizar AINDA MAIS Herivelton Martins.
ResponderExcluir