Em fins de 1941, Dorival Caymmi fez uma temporada no Nordeste, começando por Fortaleza, onde pretendia passar 18 dias, mas acabou ficando dois meses. De Fortaleza, viajou para Recife, enquanto a esposa Stela, saudosa da filha Nana, seguia direto para o Rio. Foi na sua primeira madrugada em Recife, enquanto aguardava vaga no Grande Hotel, que começou a compor "Dora".
Essa história Caymmi conta em depoimento prestado à Associação de Pesquisadores da Música Popular Brasileira, em 1983: "O bar já estava fechando quando, de repente, ouvi uma banda rasgando um frevo. Era um bloco, o ‘Pão da Tarde', que vinha em direção ao hotel, recolhendo donativos para o carnaval. Na frente, dançando descalça, destacava-se uma mulata clara, monumental, que nem devia ser do bloco, estando ali por gostar de dançar. Então, fiquei visualizando a imagem da moça e naquela madrugada mesmo comecei a fazer os primeiros versos: ‘Dora, rainha do frevo e do maracatu / Dora, rainha cafuza de um maracatu...' e continuei repetindo aqueles versos, até que veio um empregado do hotel me avisar que havia desocupado um quarto. No dia seguinte fiz mais um pedaço. Mais adiante, já em Maceió, cheguei naquela parte que diz: 'Os clarins da banda militar / tocam para anunciar...".
Por fim, meses depois, Caymmi completou "Dora"; um notável samba-canção que tem a novidade da introdução em forma de frevo. Este, aliás, é um dos pontos altos da composição, estabelecendo um curioso contraste entre o instrumental vibrante do frevo e o canto dolente do samba-canção. "Dora" pode ser considerada uma homenagem ao Recife, inclusive com a citação nos versos de três expressões do carnaval local: a passista, o frevo e o maracatu. Com sua calma habitual, Caymmi guardou este samba por três anos, somente o gravando em 1945.
Dora (samba-canção, 1945) - Dorival Caymmi - Intérprete: Dorival Caymmi
Disco 78 rpm / Título: Dora / Dorival Caymmi, 1914-2008 (Compositor) / Dorival Caymmi, 1914-2008 (Intérprete) / Fon-Fon [1908-1951] e Sua Orquestra (Acomp.) / Gravadora: Odeon / Gravação: 18/06/1945 / Lançamento: 08/1945 / Nº do Álbum: 12606 / Nº da Matriz: 7856 / Gênero: Samba canção / Coleções de origem: IMS, Nirez
D6/9 Em7 Dora, rainha do frevo e do maracatu A7(13) D6/9 Dora, rainha cafuza de um maracatu D A7(#5) D7(b9/b13) G6 Te conheci no Recife dos rios cortados de pontes A7/E A7 D6/9 D7M(9) Dos bairros, das fontes coloniais Em7 A7(13) D7M(9) D6/9 -Dora! chamei Em7 A7(13) D7M(9) Ô Dora! Ô Do--ra!... D6/9 A7(#5) D7/4(9) D7(b9) G6 Eu vim à cidade Pra ver meu bem passar A7(13) Ô Dora! D6/9 Em6 A7(13) D6/9 Agora... no meu pensamento eu te vejo requebrando Em6 A7(13) D7M(9) D6/9 Pra cá, Ora prá lá, meu bem Am7 D7(9) Am7 D7(9) D7(b9) G6 G7M Os clarins da banda militar, tocam para anunciar: Gm7 C7(9) Sua Dora, agora vai passar!... Gm7 C7(9) C7(b9) F6 Em7 D7M(9) Venham ver o que é bom!... G6 C7(9) F6 Bb7(9) Eb7M D7M Ô Dora, rainha do frevo e do maraca--tu G6 C7(9) F6 Bb7(9) Eb7M D6 Ninguém requebra, nem dança, melhor que tu G6 C7(9) F6 Bb7(9) Eb7M D7M Ô Dora, rainha do frevo e do maraca--tu G6 C7(9) F6 Bb7(9) Eb7M D6 Ninguém requebra, nem dança, melhor que tu G6 D7M Ô Do---ra! Ô Do---ra!
Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34
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