terça-feira, 11 de abril de 2006

Edu Lobo


Eduardo de Góis Lobo, compositor, instrumentista, arranjador e cantor, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 29/8/1943. Filho do compositor Fernando Lobo, foi criado no Rio de Janeiro e na casa dos tios, em Recife PE, onde passava as férias escolares. Seu primeiro instrumento foi o acordeom, que estudou dos oito aos 14 anos. Fez os cursos ginasial e colegial no Colégio Santo Inácio, e por essa época já tentava algumas composições. Na PUC cursou direito até o terceiro ano. Com 16 anos, começou a se interessar pelo violão, iniciando-se com um amigo de infância, o compositor Téo de Barros, e estudando mais tarde com Vilma Graça.


Por volta de 1961, passou a freqüentar shows, principalmente no Beco das Garrafas, em Copacabana, onde assistia a espetáculos dos representantes da nova geração musical, entre os quais João Gilberto e Sérgio Mendes. Nessa época, com Dori Caymmi e Marcos Vale, formou um conjunto que chegou a atuar em shows.

Seu pai incentivou-o, em 1962, a editar algumas composições. No mesmo ano, conheceu Vinícius de Moraes, que fez a letra para Só me fez bem gravada em 1967, no LP Edu-Betânia, da Elenco. Foi também Vinicius quem escreveu a contracapa de seu primeiro disco, um compacto duplo gravado em 1962 com quatro músicas, entre elas Balancinho e Amor de ilusão (ambas de sua autoria), bem dentro do estilo intimista característico da bossa nova. Logo ampliou seu trabalho com temas e motivos da cultura popular, graças a influência de Sérgio Ricardo, João do Vale, Carlos e principalmente Rui Guerra, seu parceiro em Canção da terra, Reza e Aleluia, canções representativas dessa nova fase de criação, marcada por seu conteúdo social.

Começando a compor para teatro, escreveu em 1963 as músicas para a peça Os Azeredos e os Benevides, de Oduvaldo Viana Filho. Entre elas, a canção Chegança (com Oduvaldo Viana Filho) alcançou grande sucesso. Outro êxito, Borandá, foi incluído no show Opinião, musical de protesto estreado no Rio de Janeiro em 1964. Ainda nesse ano, escreveu músicas para Berço de herói, peça teatral de Dias Gomes, e foi convidado por Gianfrancesco Guarnieri para participar da realização de um musical cuja idéia nascera da canção Zambi (com Vinícius de Moraes).

Em maio de 1965, estreou no Teatro de Arena, São Paulo SP, Arena conta Zumbi, de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, musicada por ele. Entre as canções do espetáculo, Upa, neguinho (com Gianfrancesco Guarnieri) tornou-se mais tarde um grande sucesso, cantado por Elis Regina. Em abril desse ano, inscreveu-se no I FMPB, da TV Excelsior, de São Paulo, com duas músicas, Aleluia (com Rui Guerra) e Arrastão (com Vinícius de Morais), ambas já gravadas em LP da Elenco, cuja distribuição foi adiada para que ficassem inéditas até o festival. Interpretada por Elis Regina, Arrastão foi a vencedora, projetando nacionalmente o compositor, já definido como um dos mais importantes da geração posterior ao surgimento da bossa nova. Ainda em 1965, apresentou-se ao lado de Nara Leão do Tamba Trio e do Quinteto Villa-Lobos na boate carioca Zum-Zum, em show dirigido por Aluísio de Oliveira.

Contratado pela TV Record, de São Paulo, passou a atuar semanalmente em programas dessa emissora, e em 1966 participou novamente de festivais: no II FMPB apresentou Jogo de roda (com Rui Guerra) e no I FIC, da TV Globo, Rio de Janeiro, concorreu com Canto triste (com Vinícius de Morais), esta classificada entre as finalistas. Nesse ano, excursionou pela Europa com outros artistas, entre os quais Sylvia Telles e o Salvador Trio, tendo o grupo gravado um disco na então República Federal da Alemanha.

No Brasil em 1967, depois de quatro meses em Paris, França, onde fez um filme para a televisão, voltou a participar de festivais, saindo vencedor do III FMPB, com Ponteio (com Capinam), interpretada por ele e Marília Medalha. No ano seguinte, saiu seu terceiro LP pela Philips, destacando o frevo-canção No Cordão da Saideira e a canção Memórias de Marta Saré (com Gianfrancesco Guarnieri), que alcançou o segundo lugar no IV FMPB. Gravada mais tarde (1971 ) nos E.U.A., com o nome de Crystal Illusions, seria também a canção-tema da peça Marta Saré, de Gianfrancesco Guarnieri, musicada por ele, que estreou em janeiro de 1969 no Teatro João Caetano, do Rio de Janeiro.

No início de 1969, participou do MIDEM, em Cannes, França. De volta ao Brasil, depois de uma passagem por Los Angeles, E.U.A., em abril do mesmo ano casou-se com Vanda Sá, partindo em seguida para Los Angeles, onde residiu por dois anos. Aí se dedicou ao estudo sistemático da música, fazendo cursos de orquestração com Albert Harris. Nesse período, excursionou pelo Japão, com Sérgio Mendes, que também produziu o LP Lobo, gravado em 1971 em Los Angeles e lançado pela A & M Records. Gravou ainda com Paul Desmond, saxofonista do Dave Brubeck Quartet, LP com composições suas e de Milton Nascimento.

Dentre os discos feitos nos E.U.A., apenas o LP Cantiga de longe foi editado no Brasil, trazendo a participação de Hermeto Pascoal, Airto Moreira e Vanda Sá, que reapareceu como intérprete na canção Água verde (de sua autoria).

De volta ao Brasil em 1971, trabalhou principalmente como arranjador, criando também a trilha sonora do filme Barão Otelo no barato dos milhões, de Miguel Borges. Compôs e realizou orquestrações para a peça teatral Woyzeck, de Georg Büchner (1813-1837), dirigida por Marilda Pedroso e encenada no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, em 1971. Fez arranjos para um disco de Marília Medalha e Vinícius de Morais, e em 1973 lançou o LP Edu Lobo (EMI) com músicas inéditas, inclusive uma missa. Ainda em 1973, trabalhou na orquestração das músicas de Calabar, ou O elogio da traição, peça teatral de Chico Buarque e Rui Guerra, algumas das quais foram lançadas em 1974 no LP Chico canta.

Em 1974 e 1975, atuou como arranjador contratado da TV Globo, tendo sido responsáveI pela parte musical de quatro programas da série Caso especial. Em 1975 lançou o LP Deus lhe pague (EMI), com músicas suas e de Vinícius de Moraes. No ano seguinte, pela Continental, lançou o LP Limite das águas. Em 1977 fez tournée por toda a Alemanha, promovendo Limite das águas, lançado no exterior pela etiqueta MPS. Um ano depois, gravou o LP Camaleão (Philips/Polygram), lançado no Brasil e no Japão. Em 1979 compôs a trilha sonora do filme Barra pesada, de Reginaldo Farias, ganhando prêmio no Festival de Cinema de Gramado RS.

Durante a década de 1980, compôs principalmente para teatro e cinema. Em 1980, após lançar o LP Tempo presente (Philips/Polygram), escreveu e compôs o balé Jogos de dança para o Teatro Guaíra, de Curitiba PR, lançado em disco no ano seguinte pela Som Livre. Em 1981, em parceria com Tom Jobim, lançou Tom e Edu (Philips/Polygram). Em 1983, em parceira com Chico Buarque, compôs o espetáculo O grande circo místico, que daria origem a um LP homônimo lançado pela Som Livre, com a participação de Gal Costa, Tom Jobim, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Tim Maia, entre outros. A parceria com Chico Buarque se repetiria com O corsário do rei, de 1985, e Dança da meia-lua, de 1988, ambos lançados em disco pela Som Livre. Em 1984 escreveu a trilha sonora dos filmes O cavalinho azul, de Eduardo Escorel, e Imagens do inconsciente, de Leon Hirshman.

Compôs em 1990 as músicas do programa infantil Rá-tim-bum, da TV Cultura de São Paulo, posteriormente lançado em CD pela Sharp. Em 1992 voltou a apresentar espetáculos, obtendo grande repercussão, o que o levou a gravar um novo disco de intérprete: Corrupião, lançado em CD pela gravadora Velas. Em 1994 recebeu o Prêmio Shell de melhor compositor de música brasileira, pelo conjunto da obra. Lançou em 1995 Meia-noite (Velas), que traz um choro instrumental em homenagem a Tom Jobim: Perambulando. O disco recebeu o Prêmio Sharp como melhor disco de música popular brasileira. Nesse mesmo ano, foi lançado o Songbook Edu Lobo (duplo), pela editora e gravadora Lumiar. Em 1997 compôs Tema de Canudos, em parceria com Cacaso, para o filme Guerra de Canudos, de Sérgio Resende, e foi lançado o CD-Álbum de teatro, com canções em parceria com Chico Buarque.

Algumas músicas


Obra completa

Abertura (Premonição de Maria), 1971; Água verde, 1970; Aleluia (c/Rui Guerra), 1965; Alguém sob medida, 1962; Amor de ilusão, 1962; Arrastão (c/Vinícius de Morais), 1965; Balada do campo de junco (c/Rui Guerra), 1972; Balancinho, 1962; Borandá, 1964; Cahuenga (c/Rui Guerra), 1972; Calada cantiga, 1972; Campos da noite, 1972; Canção da faca, s.d.; Canção da terra (c/Rui Guerra), 1965; Canção do amanhecer (c/Vinícius de Morais), 1965; Candeias, 1967; Cantiga de longe, 1970; Canto continental, s.d.; Canto triste (c/Vinícius de Morais), 1967; Cantoria (c/Rui Guerra), 1972; Casa forte, Catarina e Mariana (c/Rui Guerra), 1967; O charlatão, s.d.; Chegança (c/Oduvaldo Viana Filho), 1965; Chorinho de mágoa (c/Capinam), 1972; Choro bandido (c/Chico Buarque), 1985; Cidade nova (c/Ronaldo Bastos), 1970; Cirandeiro (c/Capinam), 1967; O circo místico (c/Chico Buarque), 1983; Círculos (Zanga, zangada), s.d.; Corrida de jangada (c/Capinam), 1967; De você eu quero tudo (c/Rui Guerra), 1972; Definitivamente, 1972; Dois coelhos (c/Rui Guerra), 1973; Dois tempos (c/Capinam), 1967; O dono da verdade, s.d.; Em tempo de adeus (c/Rui Guerra), 1965; Embolada (c/Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal), 1967; O espelho de Maria, s.d.; Estatuinha (c/Gianfrancesco Guarnieri), 1967; Eu vivo num tempo de guerra (c/Gianfrancesco Guarnieri), 1966; Feira de Santarém (c/Gianfrancesco Guarnieri e Rui Guerra), 1970; Festa de sangue, s.d.; Festas mortas (c/Gianfrancesco Guarnieri), 1973; Flor de Itamaracá, s.d.; Foi preciso viver, 1972; Frevo de Itamaracá, 1970; Glória, s.d.; Incelença (c/Rui Guerra), s.d.; Jogo de roda (c/Rui Guerra), 1966; Kyrie, s.d.; Libera nos, s.d.; Lua nova (c/Torquato Neto), 1967; Maré morta (c/Rui Guerra), 1972; Maria e a festa, s.d.; Mariana, Mariana (c/Rui Guerra), 1970; Marta e Romão (c/Gianfrancesco Guarnieri), 1970; Meia-noite (c/Chico Buarque), 1985; Memórias de Marta Saré (c/Gianfrancesco Guarnieri), 1968; As mesmas histórias, 1965; Meu caminho (c/Dori Caymmi), 1967; Na ilha de Lia, no barco de Rosa (c/Chico Buarque), 1988; Nego maluco (c/Chico Buarque), 1994; No cordão da saideira, frevo-canção, 1968; Norte sul (c/Rui Guerra), cantoria, s.d.; Oremus, s.d.; Paris seis por oito, 1972; Ponteio (c/Capinam), 1967; Porto do sol (c/Ronaldo B. Ribeiro), s.d.; Pra dizer adeus (c/Torquato Neto), 1967; Quatro ventos, s.d.; Rainha porta-bandeira (c/Rui Guerra), 1972; Rancho de ano novo (c/Capinam), 1970; Réquiem no 3 (c/Rui Guerra), 1972; Réquiem para um amor (c/Rui Guerra), 1965; Resolução (c/Lula Freire), 1965; Reza (c/Rui Guerra), 1965; Rosinha (c/Capinam), 1967; Sailing night (c/Rui Guerra), 1972; Saudades só para mim, 1962; O sim e o não, s.d.; Sinherê (c/Gianfrancesco Guarnieri), 1967; Só me faz bem (c/Vinícius de Morais), 1967; Sobre todas as coisas (c/Chico Buarque), 1983; O tempo e o rio (c/Capinam), 1967; Upa, neguinho (c/Gianfrancesco Guarnieri), 1965; Valmi, s.d.; Valsa brasileira (c/Chico Buarque), 1988; Vamos amar (c/Marcos Vale), s.d.; Veleiro (c/Torquato , Neto), 1967; Vento bravo (c/Paulo César Pinheiro), 1973; Viola fora de moda (c/Capinam), 1973; Vira e mexe, s.d.; Zambi (c/Vinícius de Morais), 1964; Zanga, zangada (c/Ronaldo B. Ribeiro), 1973; Zanzibar, 1970.

Veja também



Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

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