terça-feira, 30 de outubro de 2007

Rildo Hora

Rildo Hora (Rildo Alexandre Barreto da Hora), instrumentista, compositor e cantor, nasceu em Caruaru PE em 20/4/1 939. Começou a tocar gaita-de-boca aos seis anos, quando foi morar no subúrbio carioca de Madureira.

Autodidata, desenvolveu sua técnica tocando chorinhos, frevos e outras músicas populares que ouvia no rádio.

Aos 12 anos venceu concurso das Gaitas Hering, na Rádio Mauá, do Rio de Janeiro, e foi convidado pelo apresentador do programa, Fred Williams (também gaitista), a integrar a equipe da emissora.

Convidado por Moleque Saci (Caué Filho), participou de shows circenses, acompanhando cantores ao cavaquinho — que também tocava desde os 14 anos — e, como solista, tocando gaita. Tomou parte também do programa Festival de Gaitas, na Rádio Nacional, do Rio de Janeiro.

Em 1958 formou com Sérgio Leite e Luís Guimarães o trio Malabaristas da Gaita, aproveitando a grande aceitação do instrumento nos programas radiofônicos. No ano seguinte, fez sua primeira composição, com Gracindo Júnior, Brigamos com o amor, gravada por Carminha Mascarenhas. Na época da bossa nova, passou também a tocar violão e a cantar.

Em 1961 — época em que trabalhava na boate carioca Cangaceiro —, compôs com Clóvis Melo Canção que nasceu do amor, lançada por Cauby Peixoto, regravada mais tarde por Elisete Cardoso. No ano seguinte, Alaíde Costa gravou, dele e Gracindo Júnior, Como eu gosto de você, arranjo de César Camargo Mariano.

Acompanhou Elisete Cardoso como violonista em shows por todo o Brasil, de 1965 a 1967. No ano seguinte, quando era cantor e professor de violão, iniciou carreira de produtor de discos, aceitando o convite de Geraldo Santos para trabalhar na RCA; sua primeira produção foi o LP Música nossa, seguida dos discos de Antônio Carlos e Jocafi, João Bosco, Martinho da Vila e Maria Creuza.

Estudou então harmonia, contraponto e composição na Pró-Arte, com o maestro Guerra-Peixe. Compôs com Sérgio Cabral Janelas azuis, gravada em 1973 por Maria Creuza. Em 1987 executou na Sala Cecília Meireles, Rio de Janeiro, o Concerto para harmônica e orquestra, de Villa-Lobos, sob regência do maestro Davi Machado.

Em 1988 interpretou Suíte quatro cordas, de Guerra-Peixe, obra escrita e orquestrada especialmente para ele. Em 1992 lançou o CD Espraiado, pela gravadora Caju, que, distribuído nos EUA pela etiqueta Milestone, em 1994, foi considerado um dos dez melhores discos de jazz latino do ano.

Além de ter mais de 200 composições gravadas, é arranjador e produtor de discos de artistas como Martinho da Vila (de quem é produtor desde 1970), Beth Carvalho, Leni Andrade e Elis Regina, tendo recebido vários prêmios. Também participou como instrumentista de discos de inúmeros artistas. Já se apresentou nos E.U.A., Argentina, Angola, Moçambique e países europeus.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora / PubliFolha

Roberto Ribeiro


"As escolas de samba vivem um paradoxo: são um celeiro de cantores, popularmente chamados de "puxadores", mas raros fazem sucesso fora das quadras. Uma das exceções é José Bispo Clementino dos Santos, Jamelão, da Mangueira, cantor, intérprete de samba-enredo – jamais um "puxador", como se recusa a ser chamado.


Outro dos raros exemplos é Roberto Ribeiro – assim mesmo com o verbo no presente, pois Roberto continua vivo nas gravações (poderiam ser em maior número), vídeos (raros). E principalmente na lembrança de quem ouviu aquela voz de timbre muito especial.

Nascido Dermeval Miranda Maciel, Roberto (20/7/1940 Campos, RJ - 8/1/1996 Rio de Janeiro, RJ) é sinônimo de Império Serrano, ao lado do maior compositor de sambas-enredos da história, Silas de Oliveira (Heróis da Liberdade, Tiradentes), de Mano Décio da Viola (parceiro de Silas), Dona Ivone Lara, Mestre Fuleiro, e por aí vai. Além de puxador, Roberto era da ala de compositores da escola – chegou a fazer dois sambas para a avenida.

A voz translúcida de Roberto Ribeiro deixou para sempre o registro de algumas obras-primas de Silas, além de jongos – uma das marcas registradas do morro da Serrinha – e uma fieira de belíssimos sambas de terreiro. Uma das duas melhores gravações de Senhora Tentação (Meu Drama), de Silas, é dele. A outra é de Cartola.

Roberto teve ainda a sensibilidade de deixar registrado um samba-enredo que, apesar de não ter sido o escolhido na quadra para ir à avenida, no carnaval de 1975, durante anos foi cantado nas rodas. A divulgação do samba era feita espontaneamente nos bares e biroscas do Rio. Vedete de Madureira ("Brilhando / num imenso cenário...") sobreviveu durante muito tempo sem estar gravado. Com Roberto Ribeiro, garantiu a perpetuidade.

Puxador de samba na avenida, aos poucos Roberto conquistou palcos e estúdios. Mas nunca se desligou da Serrinha. Nos dias de desfile do Império podia ser visto no asfalto com terno de linho branco, camisa verde e óculos escuros, para proteger a vista, atacada por uma doença irreversível.

Fluminense de Campos, morreu em 1996, vítima de um atropelamento. Foi-se muito cedo, aos 55 anos de idade. Seguiu o destino de Silas, que, em 1972, aos 56, sofreu enfarte fulminante depois de cantar sambas seus em uma roda em Botafogo. Roberto Ribeiro estava presente. Continua presente."


Aluizio Maranhão - ENSAIO

Zimbo Trio


Formado pelo paulista de Bauru, Amílton Godoi (nascido em 1941), ao piano, o paraense de Belém, Luís Chaves (1931), no contrabaixo, e o paulistano Rubinho, Rubens Barsotti (1932), o Zimbo Trio surgiu em São Paulo em plena efervescência da bossa nova, em 1964.

Na epidemia de trios instrumentais do período, ele logo se destacou numa ninhada de cobras que trazia entre muitos os depurados Tamba Trio (Luís Eça, Bebeto, Hélcio Milito), Bossa 3 (Luís Carlos Vinhas, Tião Netto, Edison Machado) e Sambalanço Trio (César Camargo Mariano, Humberto Cleiber e Airto Moreira).

Lançado num show na boate Oásis, em São Paulo, ao lado da cantora e atriz Norma Benguel, o Zimbo alcançaria sucesso nos grandes shows de origem universitária que tomavam a cidade, incluindo o clássico O Fino da Bossa, do qual sairia o programa homônimo da TV Record comandado por Elis Regina.

A pegada vigorosa de arquitetura clássica do piano de Amílton (de formação erudita, estudou na escola de Magda Tagliaferro), o baixo conciso de Luís Chaves e a bateria sutil de Rubinho (que também solava sem as baquetas, utilizando as caixas como tumbadoras) transformaram-se em uma grife de qualidade instrumental capaz de erguer uma ponte entre as dissensões da MPB na época.

O arranjo do ZT para Garota de Ipanema (que eles foram um dos primeiros a gravar) era número imprescindível em suas apresentações. Por isso, eles tanto eram convocados ao programa O Fino, de Elis (com quem gravariam o memorável disco O Fino do Fino, de 1965) quanto ao tradicionalista Bossaudade, de Elizeth Cardoso, com quem excursionariam pelo Japão, além de gravar dois discos ao vivo na boate carioca Sucata, em 1969 e 1970.

Ao lado de Elizeth e seu descobridor, Jacob do Bandolim, o Zimbo ainda participaria de um dos shows mais importantes já realizados no país, no teatro João Caetano no Rio, em fevereiro de 1968, sob a direção de Hermínio Bello de Carvalho. O encontro da bossa modernizadora do trio com o choro nada conservador do exímio Jacob, unidos pela eternidade vocal de Elizeth, virou marco histórico, editado em nada menos de três LPs.

Ao longo de uma carreira de inúmeras excursões ao exterior, o grupo ainda difundiu seu saber fundando em 1973 o CLAM (Centro Livre de Aprendizado Musical), por onde passaram feras como a pianista paulista Eliane Elias, hoje uma renomada jazzista nos EUA, onde está radicada desde os 80.

Em 1974, ao lado da Orquestra Sinfônica de Buenos Aires eles provaram sua ressonância erudita atuando no Pequeno Concerto para o Zimbo Trio, escrito especialmente para eles pelo maestro Ciro Pereira. Com vários discos gravados ao lado de solistas instrumentais (Canhoto da Paraíba, Hector Costita, Heraldo do Monte e até o saxofonista de jazz americano Sonny Stitt) e centrados em repertórios de grandes autores (Milton Nascimento, Tom Jobim) à alta qualidade o Zimbo Trio aliou a façanha de ter resistido a todas os movimentos em um trajeto de longevidade à prova de modismos."

Tárik de Souza
ENSAIO - 28/4/1994

Canhoto da Paraíba

Não são poucos os violonistas canhotos no Brasil. Alguns deles, com status de estrelas de primeiríssima grandeza (como o paulista Américo Giacomino, o Canhoto, o maior nome do instrumento no início do século), deram importantes contribuições para a fixação do violão como o mais brasileiro dos nossos instrumentos populares. Mas todos eles necessitavam inverter as cordas para aprender; primas para cima, bordões para baixo, de maneira que somente canhotos pudessem dedilhar o instrumento. Todos, menos um.

No alto sertão paraibano, na lendária cidade de Princesa Isabel (onde "pau-pereira já roncou", como cantava Luiz Gonzaga), entre nove irmãos, nasceu Francisco Soares de Araújo, em 19 de maio de 1928. O avô era clarinetista da banda, o pai tocava violão, os irmãos distribuíam-se entre vários instrumentos e logo o Chico começou a tocar todos eles, por conta própria. Tanto assim que, já adolescente, tomou puxão de orelha de "seu" vigário, que tolerava a maneira suingada como seu pequeno sacristão tocava os sinos, mas não perdoou quando o flagrou rasgando o frevo Vassourinhas, no... órgão da igreja.

Mas Chico gostava mesmo era de violão. O problema é que para ensiná-lo "só mesmo na frente do espelho", como dizia seu pai, quando desanimou da tarefa. Canhoto irreversível, tratou de aprender sozinho. Como o instrumento era usado pela família toda, não podia inverter as cordas, o negócio era simplesmente virá-lo ao contrario, de cabeça para baixo e...tocar.

Tocar magistralmente, a ponto de em pouco tempo a confraria dos gênios musicais brasileiros saber dele. Pixinguinha, Luperce Miranda, Tia Amélia, Severino Araújo, Dilermando Reis já sabiam que pelo Nordeste - agora já adulto, tocando no Regional da Rádio Jornal do Comercio do Recife, depois de estágio nas mesmas funções na Rádio Tabajara, de João Pessoa - existia um violonista fora de série, à altura dos melhores do país.

Em 1959, visita o Rio de Janeiro e em um sarau na famosa casa de Jacob do Bandolim, em Jacarepaguá, torna-se amigo de todos os seus ídolos, principalmente do jovem Paulinho da Viola, que o homenageia com o choro Abraçando o Chico Soares. Nunca quis fazer carreira no Sul, mesmo tendo gravado um LP (produzido por Paulinho), preferindo continuar sua vida de "chorão" ao lado dos amigos no Recife.

Tão bom compositor quanto intérprete, Canhoto da Paraíba - nome com que se inscreveu definitivamente na história do violão brasileiro - realizou algumas incursões por São Paulo e Rio de Janeiro, exibindo um talento que sempre deixou um gosto de "quero mais" nos que tiveram contato com ele.

Arley Pereira
ENSAIO - 12/4/1994

sábado, 27 de outubro de 2007

A história da Bossa Nova - Parte Final


O flautista americano Herbie Mann foi realmente o primeiro músico estrangeiro a adotar a bossa nova como fonte musical. Em Nova York convenceu o dono da gravadora Atlantic, Nesuhi Ertegun, a vir com ele ao Brasil para ouvir a nova música que, segundo Herbie, iria “incendiar o mundo”. Ertegun já conhecia Vinícius de Moraes do tempo em que este servira no Consulado do Brasil em Los Angeles. Ao saber que o poeta era um dos participantes do movimento, e depois de ouvir Herbie Mann contar o que ouvira no Brasil, não teve dúvidas, desceu no Rio e logo na segunda noite Lula Freire promoveu, a pedido de Herbie Mann, de quem já era amigo, um jantar em sua casa com a presença da nata da Bossa Nova.

Chico Feitosa, Durval Ferreira, Menescal, Vinícius, Luizinho Eça, Baden Powell, Tom e Sérgio Mendes tocaram para Nesuhi e Herbie, que sacou da flauta e entrou direto no ritmo e no som da Bossa Nova. Lá mesmo combinaram que antes de retornar para Nova York deveriam gravar um disco do flautista com os músicos brasileiros.

O resultado foi a gravação do disco Do the Bossa Nova com o americano e os músicos brasileiros Baden Powell, Gabriel, Papão, Juquinha, Paulo Moura, Pedro Paulo, Sérgio Mendes, Durval Ferreira, Otávio Bailly, Dom Um Romão e Luiz Carlos Vinhas.

No estúdio, Nesuhi Ertegun comandava a parte técnica e Tom Jobim coordenava e dava sugestões sobre os arranjos. Não demorou muito e começou uma migração de músicos americanos para o Brasil em busca das composições de Bossa Nova. Paul Winter, Bud Shank e Cannonball Adderley colocaram o Rio em seu roteiro.

Nos Estados Unidos o novo som do Brasil era o novo filão para as gravadoras e editores de música. Tudo era Bossa Nova. Até o que não era. O violonista brasileiro Laurindo de Almeida, que residia há anos na América e que não tinha rigorosamente nada a ver com a Bossa Nova, gravou um disco chamado Laurindo Almeida and the Bossa Nova all Stars. Os músicos eram excelentes jazzistas como Howard Roberts, Al Viola, Shelly Mane, Milt Holland, Chico Guerrero, Jimmy Rowles, Max Bennett, Bob Cooper, Don Fagerquist e Justin Gordon, mas quanto à Bossa Nova eram mais inocentes do que o próprio Laurindo de Almeida.

O músico David Pike, mais esperto, gravou com os músicos Clark Terry e Kenny Burrell um disco com as músicas do pianista e grande compositor João Donato, que também morava na América. Donato voltou para o Brasil e foi imediatamente agregado ao movimento, até porque havia sido um dos primeiros a mudar o toque e as harmonias da música brasileira ainda no começo dos anos 50.

A música de Tom Jobim rapidamente estourava na América: Charlie Byrd e Dizzy Gillespie gravaram composições suas e Stan Getz fez a famosa gravação de Desafinado, da qual vendeu mais de um milhão de exemplares. Mas Tom Jobim só foi conhecer os Estados Unidos quando embarcou junto com outros brasileiros para o famoso concerto no Carnegie Hall, onde a Bossa Nova foi oficialmente apresentada ao mundo.

Em setembro de 1962, a Bossa Nova conquistou definitivamente seu lugar no mundo da música, no histórico espetáculo apresentado no tradicional Carnegie Hall de Nova York. Tudo começou quando Sidney Frey, presidente da gravadora americana Audio Fidelity, resolveu convidar Tom Jobim e João Gilberto para um show em Nova York Frey, que já havia estado no Brasil algumas vezes, passou um telegrama para a Divisão de Difusão Cultural do Itamaraty — cujo chefe era o conselheiro Mário Dias Costa — demonstrando seu interesse e pedindo o apoio do governo brasileiro.

Na época a política cultural do Itamaraty estava mais ligada à promoção de músicos, como Nelson Freire e Jacques Klein, e acontecimentos como a Bienal de Veneza. Apesar disso, Mário Dias da Costa, amante da música brasileira e cultura nacional achou que deveria conhecer a bossa nova mais de perto. Arnaldo Carrilho, então terceiro-secretário da Divisão de Difusão Cultural, encarregou-se de fazer o contato entre ele e Chico Feitosa, que por sua vez levou o diplomata a uma reunião na casa de Nara Leão.

Dias Costa, encantado com o que viu e ouviu naquela noite, resolveu que o grupo deveria participar do espetáculo em Nova York, com eventual ajuda do governo brasileiro através do Ministério das Relações Exteriores. Com a autorização de seu chefe, o ministro das Relações Exteriores, Hermes Lima, e de seu superior imediato, ministro Lauro Escorel, Mário Dias Costa resolveu usar a verba disponível para eventos de difusão cultural e financiar as passagens do grupo para Nova York. A hospedagem ficaria por conta do Consulado do Brasil em Nova York, o que foi providenciado pela consulesa-geral do Brasil Dora Vasconcellos, uma das mais encantadoras e eficientes personalidades da diplomacia brasileira.

Chico Feitosa encarregou-se de elaborar a lista dos músicos que iriam participar. A lista inicial, com dezessete nomes, incluía Ronaldo Bôscoli como apresentador do espetáculo No entanto, Tom Jobim sugeriu que, no lugar de Bôscoli, embarcasse Aloysio de Oliveira, que já tinha morado nos Estados Unidos e tinha bons contatos e ótimas relações por lá. Bôscoli acabou ficando no Rio.

A esta altura, Sidney Frey já havia convocada a imprensa para uma entrevista coletiva, em que anunciou que alugara o Carnegie Hall para um show de Bossa Nova, e que o Itamaraty financiaria as passagens. Isto bastou para que dezenas de pessoas batessem à porta de Dias Costa, garantindo serem integrantes genuínos do movimento. Em São Paulo, um grupo se reuniu e resolveu participar também, conseguindo suas passagens através da gravadora RGE. Entre eles, os cantores Agostinho dos Santos, Caetano Zama e Ana Lúcia.

Aloysio de Oliveira ficou preocupadíssimo com a quantidade de músicos inexperientes (alguns sem terem mesmo nada a ver com a Bossa Nova) que estavam prestes a embarcar para a apresentação. Ele acreditava que a proposta inicial de Frey era melhor: um show apenas com João Gilberto e Tom Jobim seria mais do que suficiente para mostrar todo valor da música brasileira, sem correr o risco de um eventual fracasso na principal casa de espetáculos que poderia comprometer a intenção de apresentar a Bossa Nova como o que de melhor se fazia em música fora dos Estados Unidos.

Com esta preocupação martelando sua cabeça, A1oysio tentou suspender a ida do grupo: convocou uma reunião na casa de Tom Jobim, à qual compareceram Carlos Lyra, João Gilberto e Vinicius de Moraes e sugeriu que seria melhor que todos desistissem do espetáculo uma vez que o show poderia transformar-se em uma grande bagunça.

Aloysio foi tão convincente em seus argumentos que todos saíram dali acreditando que seria mesmo melhor desistir da empreitada. Mas Vinícius chamou Lyra num canto e disse: “Parceirinho, não deixa de ir não, porque Tonzinho e João vão". "Na verdade o Aloysio preferia que todo mundo desistisse para só irem ele, o Tom e o João Gilberto”, conta Carlos Lyra, que imediatamente avisou Menescal e os outros que resolveram enfrentar o desafio.

Dias depois, embarcaram para Nova York, onde já estava o violonista Luiz Bonfá, que já desfrutava de grande prestígio junto ao público e aos músicos americanos. No dia do embarque, criou-se um certo constrangimento quando Aloysio entrou no avião: todos fizeram um silêncio mortal. O produtor acabou sentando-se sozinho num canto, onde passou toda o viagem. Na última hora, Tom Jobim, que detestava avião, não quis embarcar naquele vôo, alegando que o motor do avião estava sujo, e deixou para viajar no dia seguinte. Mas ele não perdeu muita coisa: Caetano Zama não esquece o tormento que foi ouvir o cantor Charles Aznavour, que também estava no avião, tocar cavaquinho durante toda a viagem. A chegada aos Estados Unidos foi uma espécie de sonho. Era outono em Nova York, com dias belíssimos e vários tons de amarelo colorindo a cidade, coberta de folhas secas.

Tom Jobim deu um susto em Mário Dias Costa: desapareceu no dia seguinte ao de sua chegada em Nova York. Todos ficaram preocupadíssimos, até que alguém se lembrou de que ele tinha dito alguma coisa sobre ir à casa do saxofonista Gerry Mulligan em Nova Jersey. Foram atrás dele e encontraram “Tom e Gerry”, ao lado de uma pilha de latas de cerveja. Tinham passado a tarde toda bebericando e tocando juntos.

Finalmente a grande noite chegou: no dia 21 de novembro de 1962, a Bossa Nova subiu ao palco do Carnegie HalI. Compareceram ao histórico espetáculo Luiz Bonfá, o conjunto de Oscar Castro Neves, Agostinho dos Santos, Carlos Lyra, Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Chico Feitosa, Normando Santos, Caetano Zama, Ana Lúcia, Cláudio Miranda, Milton Banana, Sérgio Ricardo, Antonio Carlos Jobim e João Gilberto, além do violonista Bola Sete, a cantora Carmen Costa, o ritmista José Paulo e o pianista argentino Lalo Schiffrin.

Ninguém, nem mesmo o próprio Itamaraty, imaginaria que aquele concerto pudesse superar o sucesso do samba de Carmen Miranda, que chegara as telas de Hollywood nos anos 40. Cerca de três mil pessoas lotaram o Carnegie Hall e outras mil ficaram do lado de fora. Na platéia estavam nomes como Tony Bennett, Peggy Lee, Dizzy Gillespie (este na primeira fila), Miles Davis, Gerry Mulligan, Erroll Garner e Herbie Mann, entre muitos outros ilustres representantes da música americana.

O master of ceremonies, o famoso crítico de jazz Leonard Feather, fez uma introdução explicando o que era a Bossa Nova. O sexteto de Sérgio Mendes, por sugestão de Lula Freire batizado como Bossa Rio (o nome original do grupo era Samba Rio), abriu o espetáculo e sua interpretação foi aplaudidíssima. Anos depois, Mário Dias Costa confessou que chegou a chorar quando o grupo tocou Samba de Uma Nota Só, com arranjo de Paulo Moura.

Alguns jornais publicaram a notícia de que o concerto havia sido um fracasso. Realmente, o sistema de amplificação não era dos melhores, chegando a pifar quando Normando cantava sua música. Boa parte do público que estava nos balcões e galerias não ouviu direito o concerto, o que prejudicou a qualidade de audição do espetáculo, mas sem dúvida foi a partir dali que João Gilberto, Tom Jobim e Carlos Lyra entre outros, deslancharam suas carreiras internacionais, e foi também a partir dali que a Bossa Nova conquistou definitivamente o mundo.

Carlinhos Lyra quase apanhou de um guarda americano porque estava fumando bem embaixo de um aviso de No Smoking, quando foi alertado por Tom Jobim, que o fez apagar o cigarro alegando que nos Estados Unidos Lyra poderia ir parar na cadeira elétrica por infringir a lei. No meio do espetáculo, que durou quase três horas, o Sindicato dos Trabalhadores em Teatro de Nova York ameaçou apagar todas as luzes, pois já tinham estourado sua carga horária de trabalho. A consulesa Dora Vasconcellos teve de usar de toda a sua diplomacia para conseguir que eles continuassem a trabalhar.

Apesar de todos estes contratempos, quem estava pôde presenciar momentos inesquecíveis. Tom Jobim foi muito aplaudido em Samba de Uma Nota Só, mesmo tendo errado a letra. Apesar do nervosismo, ele teve grande presença de espírito ao parar de tocar para recomeçar. “Just a second”, disse Tom para então recomeçar com brilhantismo. Depois cantou Corcovado, Sob aplausos, Tom Jobim saiu do palco e logo depois voltou paro dizer: “It’s my first time in New York and I’m ver very, very glad to be here.I’m loving the people, the town everything. I’m very happy to be with you”.

Já o Gilberto, na última hora, implicou com o vinco de sua calça. Chamou o conselheiro Mário Dias Costa e explicou-lhe que o vinco não estava paralelo à costura, o que prejudicaria sua apresentação e conseqüentemente poderia comprometer a imagem da música brasileira no Exterior. Apavorado, Mário Dias Costa pediu socorro à consulesa Dora Vasconcellos, que localizou a costureira do teatro para conseguir um ferro de passar. Até hoje algumas pessoas garantem que a própria Dora passou a calça de João, enquanto ele esperava tranqüilamente, de meias e cueca.

João entrou no palco com um violão emprestado por Billy Blanco. Ele aguardou o silêncio e cantou Samba da Minha Terra com Milton Banana na bateria e emendou com Corcovado e Desafinado, com Tom Jobim ao piano. Levou o Carnegie Hall ao delírio. Os aplausos não eram à toa: somente naquele ano, Desafinado tivera onze gravações nos Estados Unidos, uma delas a de um milhão de discos vendidos, com Stan Getz e Charlie Byrd.

Outro ponto alto do espetáculo foi a apresentação de Luiz Bonfá ao violão e Agostinho dos Santos cantando Manhã de Carnaval. Bonfá lembra que Agostinho, muito nervoso, abordou-o pouco antes do show começar: “Bonfá, você vai tocar Manhã de Carnaval”? Bonfá confirmou. “Posso cantar com você?”, pediu Agostinho. Bonfá, muito sem jeito, disse que não, já que o que estava combinado era que ele faria apenas um solo com o violão, e não queria se indispor com Sidney Frey. Agostinho não desistiu: “Não tem importância, você modula que depois eu entro...”. Depois de muita insistência, Bonfá cedeu: combinaram que ele faria primeiro uma introdução instrumental e depois anunciaria Agostinho. Mas quando o violonista começou a tocar, os aplausos abafaram o som. Agostinho, achando que já era sua hora, entrou. E acabou cantando desde o início, exatamente como queria. O Carnegie Hall aplaudiu de pé, e cravos vermelhos foram atirados ao palco.

Nos dias seguintes, alguns inimigos da Bossa Nova na imprensa brasileira noticiaram com fartura o “fracasso histórico” do show, A mentira e o exagero causaram uma repercussão tão negativa que Mário Dias Costa foi chamado pelo ministro das Relações Exteriores para explicar o que havia se passado. No entanto, o show havia sido filmado por uma equipe de TV americana. Dora Vasconcellos comprou o filme por 450 dólares e mandou-o para o Brasil na bagagem do radialista Walter Silva, o famoso Pica-pau. As TVs Continental e Tupi encarregaram-se de exibi-lo e a verdade veio à tona: o que se via era algo bem diferente do que a imprensa noticiara. Mostrava, por exemplo, a platéia aplaudindo entusiasticamente Tom, João, Bonfá, Agostinho dos Santos e os demais participantes do show.

Logo Depois do concerto no Carnegie Hall, vários brasileiros fecharam contratos para continuar por lá. João Gilberto assinou um contrato de três semanas com a Blue Angel e outro com a gravadora Verve para gravar um disco. Tom Jobim foi contratado como arranjador pela Leeds Corporation. O conjunto de Oscar Castro Neves foi para o Empire Room do Waldorf Astoria. Chico Feitosa foi convidado por Mel Tormé para assistir ao seu espetáculo em Nova Jersey.

Após a apresentação, no camarim, Chico ficou tocando suas músicas durante uma hora para Mel Tormé enquanto ele tirava a maquiagem. Tormé resolveu: “Quero gravar todas. Vamos nos encontrar na casa de Nesuhi Ertegun em Nova York depois de amanhã para acertar tudo”. Chico voltou para Nova York, caiu no redemoinho das festas para a Bossa Nova, esqueceu de Mel Tormé e voltou para o Brasil sem voltar a ligar para o grande cantor.

Duas semanas depois do Carnegie Hall, aconteceu um novo show de Bossa Nova nos Estados Unidos — que muita gente, como o próprio Carlos Lyra, garante ter sido o “verdadeiro” — no George Washington Auditorium, em Washington. Dele participaram Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra, Roberto Menescal, o Sexteto Sérgio Mendes, Sérgio Ricardo, o quarteto de Oscar Castro Neves, Luiz Bonfá, Agostinho dos Santos e Milton Banana. O grupo fechou sua apresentação em Washington, sendo recebido na Casa Branca.

Tom Jobim ficou em Nova York por nove meses, período em que foi considerado o melhor arranjador musical . pela National Academy of Recording Arts and Sciences, da qual recebeu seu primeiro troféu internacional. O prêmio foi concedido por causa dos arranjos do disco de João Gilberto que a Odeon havia enviado para os Estados Unidos. Em maio de 1963 Tom gravou Antonio Carlos Jobim — The Composer of Desafinado Plays, com doze músicas suas, entre elas Garota de Ipanema, que em breve seria o maior sucesso da Bossa Nova e da música brasileira no Exterior.

No final daquele ano também chegaria às lojas o disco Getz/Gilberto – Featuring Antonio Carlos Jobim, que em menos de um ano vendeu mais de dois milhões de exemplares. O principal êxito do disco foi The Girl from Ipanema, interpretada por Astrud Gilberto. Getz e Gilberto conheceram-se poucos dias depois do concerto no Carnegie Hall, num encontro do qual também participaram Tom Jobim e o produtor Creed Taylor, dono da Verve. A gravação do disco foi uma novela: João e Getz brigavam feitos cão e gato, o primeiro criticando a altura do sax do segundo, que por sua vez brigava com a voz sussurrada de João. Mesmo assim as oito faixas foram gravadas em apenas dois dias e o LP estourou nas paradas, conquistando vários prêmios Grammy.

Carlos Lyra também ficou algum tempo nos Estados Unidos, acompanhando o grupo de Stan Getz.“Ajudou muito o fato do Getz ser um músico ligado à Bossa Nova. Ele queria um elemento brasileiro que cantasse acompanhado pelo conjunto dele”, conta. Lyra cantava somente suas canções e era acompanhado por músicos da melhor qualidade: Getz no sax, Gary Burton no vibrafone e Chick Corea no piano. Juntos, apresentaram-se nos Estados Unidos, Japão, Europa, México, Canadá e até no Brasil. Quando se separou do grupo, Lyra continuou sua carreira no Exterior por conta própria.

O Carnegie Hall havia enfim provado que o evento tinha sido um sucesso na vida dos compositores e na vida da própria Bossa Nova. Apesar das críticas negativas ao show no Carnegie Hall, a Bossa Nova no Brasil estava mais forte do que nunca no início dos anos 60.

Incansáveis, os músicos não paravam de compor e novas parcerias surgiam da noite para o dia. Foi assim com Baden Powell e Vinícius de Moraes. Apresentado a Baden pelo empresário Nilo Queiroz, aluno do violonista, os dois acabaram passando três meses trancados na casa de Vinicius, onde beberam dezenas de garrafas de uísque e criaram 25 canções, entre elas Berimbau e Canto de Ossanha.

Em 1962, mesmo ano do Carnegie Hall, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto finalmente se reuniram para um espetáculo juntos. O antológico O encontro teve lugar na boate Au Bon Gourmet, em Copacabana. A temporada, prevista para um mês, acabou sendo prorrogada por mais duas semanas, tal foi o sucesso. Aquela foi a primeira vez que “o poetinha” cantou em público, e também foi a primeira vez que Garota de Ipanema foi apresentada num espetáculo. A música, que se tornaria um dos hinos da Bossa Nova em todo o mundo, foi composta por Tom alguns meses antes do espetáculo no Carnegie Hall, e Vinicius colocou a letra mais tarde, inspirado pela famosa garota que eles viram passar da varanda do Veloso, em Ipanema. Helô Pinheiro tinha apenas quinze anos na época. e costumava passar pela Rua Montenegro, atual Rua Vinícius de Moraes, a caminho do mar.

Na mesma época, João Gilberto lançou seu terceiro disco, que levava apenas seu nome, viajando em seguida para os Estados Unidos, onde passaria alguns anos sem gravar e até mesmo sem voltar ao Brasil. Entre 1963 e 1969, João Gilberto apresentou-se em várias cidades dos Estados Unidos, Canadá e Europa, conquistando para sempre suas platéias. Em 1965, já separado de Astrud, conheceria em Paris sua segunda mulher, Miúcha Buarque de Holanda.

Aloysio de Oliveira resolveu sair da Odeon e, em 1963, criou sua própria gravadora, a Elenco, que se tornou reduto da Bossa Nova. As capas dos discos, sempre brancas e com fotos de Chico Pereira, tornaram-se uma marca registrada da gravadora.

Um personagem que marcou época na Bossa Nova foi o bailarino Lennie Dale, Ele chegou ao Brasil trazido por Carlos Machado para coreografar o show Elas Atacam pelo Telefone. Encantado com o Rio, Lennie foi ficando e se enturmou com os músicos do Beco das Garrafas, conseguindo convencê-los da importância dos ensaios para uma melhor performance profissional. Antes disso a improvisação costumava comandar os espetáculos. Lennie chegou inclusive a estrelar um espetáculo antológico, em que cantava O Pato com seu forte sotaque, segurando uma fruteira com um pato de verdade dentro. E foi Lennie também que resolveu inventar passos de dança para a Bossa Nova, já que na época qualquer novo ritmo musical sempre era associado a uma dança específica.

Neste início dos anos 60, já começava a se formar a segunda geração dos compositores da Bossa Nova, da qual fizeram parte, entre outros, Marcos Valle, Edu Lobo, Francis Hime, Pingarilho, e Antonio Adolfo. Mais tarde, ainda sob a influência do primeiro grupo, apareceram Milton Nascimento, Chico Buarque e Toquinho.

A cantora Elis Regina chegou ao Rio, vinda de Porto Alegre, em março de 1964. Ela já havia gravado três LPs na capital gaúcha: Viva a Brotolândia (1961), Poema (1962) e O Bem do Amor (1963), nos quais demonstrava a influência de sua maior admiração, Ângela Maria. Miéle e Bôscoli criaram para ela um pocket show no Little Club, do qual também participavam o conjunto Copa Trio, do baterista Dom Um, a bailarina Marly Tavares e o pandeirista Gaguinho. Lennie Dale encarregou-se de ensaiar a “baixinha”: foi dele a idéia de rodopiar os braços feito moinhos de vento, o que valeu a Elis o bem-humorado apelido de “Hélice” Regina.

Marcos Valle conta que a música sempre esteve presente em sua vida. “Estudei música clássica durante treze anos e meu interesse por música brasileira começou muito cedo, ainda criança”. Lembra ele, que, em 1958, quando surgiu Chega de Saudade, ainda era um adolescente de quinze anos e só tocava nas festinhas dos amigos. Através da cantora Tita, Marcos foi apresentado a Johnny Alf, “Ele achou que eu tinha talento e começou a freqüentar a minha casa e me estimulava muito”, lembra Marcos.

Mas sua atividade musical começou a crescer quando reencontrou Edu Lobo, amigo de infância do Colégio Santo Inácio, dentro de um ônibus. Edu comentou que estava tocando violão e que sempre se reunia com Dori Caymmi, filho de Dorival. Entusiasmado, Marcos resolveu se juntar aos dois e em breve eles formariam um trio vocal, com Edu e Dori nos violões e Marcos no piano. Edu Lobo frisa que, nesta época, nenhum deles pensava em música como uma profissão. “Eu já estava programado para estudar Direito e seguir carreira diplomática”, conta Edu, filho do jornalista e compositor Fernando Lobo. Mesmo assim, começaram a freqüentar as reuniões da Bossa Nova.

Marcos Valle da primeira vez em que esteve na casa de Ary Barroso: “Estava todo mundo lá, Vinicius, Carlos Lyra, Baden Powell. Eles eram meus ídolos e de repente eu estava ali, no meio deles”. Numa outra reunião, esta na casa de Vinicius, Marcos reencontrou Lula Freire, amigo de infância de seu irmão Paulo Sérgio. Quando, já no fim da noite, Marcos pegou o violão, Lula imediatamente o convidou para ir no dia seguinte á sua casa para apresentá-lo aos músicos do Tamba Trio de Luizinho Eça. Marcos foi, mostrou algumas de suas primeiras composições, Sonho de Maria, Razão do Amor e Vem o Sol, e Luizinho, que já estava com disco praticamente pronto, resolveu voltar ao estúdio para gravar uma das canções de Marcos que mais o havia encantado: Sonho de Maria.

Nesse mesmo dia Marcos foi apresentado a Carlos Lyra, Roberto Menescal, Luís Carlos Vinhas e Chico Feitosa. Menescal acabou levando-o aos Cariocas, que gravaram Vamos Amar, parceria com Edu Lobo, e Amor de Nada. No ano seguinte Marcos foi chamado para um teste na Odeon, gravadora na qual acabou ficando por doze anos. Seu primeiro disco, Marcos Valle Samba Demais, foi lançado em 1964.

Edu Lobo lembra que aquela época foi muito especial, e que talvez nunca mais se repita em nenhum lugar do mundo. “Bastava você trabalhar muito para que as coisas acontecessem”, conta Edu. A história de sua parceria com Vinicius é um exemplo. Edu Lobo conheceu Vinicius de Moraes numa festa na casa de Olívia Hime, em Petrópolis. “Ela me ligou no final da tarde e disse para eu ir ate lá, porque o Vinicius também estava indo. Eu nunca tinha visto o Vinicius antes, a não ser em shows, e fui correndo”, lembra. Na festa, Edu pegou o violão e começou a tocar algumas músicas. Vinicius, interessado, perguntou se ele não teria uma música nova, ainda sem letra. Edu tinha. Mostrou a música e Vinicius perguntou se poderia fazer a letra. “Dormi aquela noite sem acreditar e no dia seguinte, quando eu acordei, era parceiro do Vinicius de Moraes! Esse tipo de coisa não acontece em lugar nenhum do mundo. Se um grande letrista americano, por exemplo, encontrar um jovem compositor, antes de começar a parceria ele no mínimo vai ligar para o advogado”, garante Edu.

A música em questão era Só me fez bem. “Isso foi mais que um prêmio, mais que qualquer empurrão”, lembra Edu, que ainda nessa época não pretendia seguir carreira musical. “Eu fazia música como quem pega onda, era uma coisa da geração. Inclusive muita gente, que tocava bem na época, hoje em dia faz outra coisa”, diz.

Edu atualmente acha inacreditável a facilidade que se tinha de entrar nas casas de pessoas públicas como Vinicius e Tom Jobim. “A gente ficava só olhando enquanto eles trabalhavam. Na casa do Tom, eu tocava a campainha e entrava, a Teresa trazia um cafezinho e eu ficava ali, feliz da vida, só ouvindo. E eles deixavam. Era como se fosse uma escola”, garante.

Musicalmente, no entanto, tanto Edu Lobo quanto Marcos Valle já começavam a trilhar seus próprios caminhos. Apesar da influência explícita da Bossa Nova, a inovação chegava através da versatilidade em termos de ritmo e principalmente nas letras, que começaram a apresentar mais temas políticos, deixando de lado a máxima “amor, sorriso e flor” da primeira geração da Bossa Nova. Marcos Valle, um dos primeiros surfistas cariocas, chegou a compor várias canções ligadas ao mar. O clima para músicas de fundo social começou a crescer no meio artístico como uma forma de protesto contra o sistema político vigente. Várias canções foram censuradas e outras tiveram frases mutiladas, o que só serviu para aumentar mais ainda a curiosidade e o prestígio das mesmas.

Ainda em 1963, após muito hesitar, Nara Leão aceita o convite de Carlos Lyra e Vinicius para estrelar a Pobre Menina Rica, no Au Bon Gourmet. Entre as canções do espetáculo, todas compostas pela dupla, estavam Samba do Carioca, Sabe Você?, Pau de Arara, Maria Moita e Primavera. A temporada, de apenas três semanas, foi um sucesso. Nara havia começado um namoro com o cineasta Ruy Guerra, também letrista e parceiro de Edu Lobo.

Carlos Lyra, na época, estava mergulhado em pesquisas sobre a música dos velhos sambistas do morro, como Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Keti, tentando inclusive compor com alguns deles. O disco Nara, lançado pela Elenco em 1963, reunia composições como Diz Que Vou Por Aí de Zé Keti, O Sol Nascerá, de Cartola e Elton Medeiros, e Luz Negra. de Nelson Cavaquinho, além de Feio não é Bonito e Maria Moita, de Lyra, Berimbau e Consolação, de Baden e Vinicius, Nanã, de Moacyr Santos, e Canção da Terra e Réquiem para um Amor, de Edu Lobo e Ruv Guerra. Quando o disco saiu, Nara foi ferozmente atacada por alguns críticos, mas seu novo estilo acabou agradando.

Em janeiro de 1964 ela fez uma temporada no Bottle’s, e poucos meses depois partiu para o Japão com o trio de Sérgio Neto e Edison Machado. Quando voltou ao Brasil assinou com a Philips para gravar o Opinião. No repertório, Derradeira Primavera de Tom e Vinicius, Em tempo de Adeus, de Edu Lobo e Ruy Guerra, Opinião e Acender as Velas, de Zé Keti, entre outras composições que iam de capoeiras do folclore baiano. Nara estava fugindo de Ipanema, e o disco causou enorme polêmica, tendo sido considerado na época totalmente anti-Bossa Nova. Logo ela estrearia o show Opinião, de Oduvaldo Viana Filho, Armando Costa e Paulo Pontes, dirigido por Augusto Boal, e acompanhada por Zé Keti e João do Vale, no Teatro de Arena da Rua Siqueira Campos em Copacabana. O espetáculo, em toda a sua temporada, teve grande sucesso. E Nara passaria a ser a musa de outro movimento: o protesto da nova geração universitária.

Nesta época começaram a surgir os festivais da canção, que permitiam uma maior liberdade de composição. A partir de 1965, vários festivais começaram a acontecer nas emissoras Excelsior, Tupi e Record. Em 1966, Tom Jobim, já de volta ao Brasil após todo sucesso no Exterior, estava tomando tranqüilamente seu chopp no bar Veloso, em Ipanema. O telefone do bar tocou. Tom foi chamado e do outro lado da linha estava ninguém menos que Frank Sinatra, diretamente dos Estados Unidos, convidando-o para gravarem juntos um disco. Foi um encontro de gênios: O LP chamado Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, foi escolhido por unanimidade pela crítica especializada dos Estados Unidos como o álbum vocal do ano. Em 1967, o disco só perdeu em vendagem para os Beatles, que haviam acabado de lançar Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.

Mais tarde, já em 1968, Marcos Valle estourou em todas as paradas com a Viola Enluarada. E é ele quem conta como compôs a música: “Eu estava nos Estados Unidos, em 1967, participando de espetáculos e programas de televisão. E aquela saudade batendo. Fui gravar um disco em Nova York com arranjos do Eumir Deodato. Saudoso demais do Brasil, um dia entrei no banho e me veio, embaixo d’água, a melodia completa de Viola Enluarada na cabeça. Foi um ato de saudade, por isso ela é tão brasileira e tão triste também. Quando voltei ao Brasil, conheci o Milton Nascimento. Promoveram um encontro na casa do Tom para a gente se conhecer. Ele era meu fã, e eu dele. Neste encontro, toquei Viola Enluarada ainda sem letra. Todos adoraram a música e inclusive me disseram que deveria ser gravada sem letra. Mas eu preferi pedir ao Paulo Sérgio para fazer a letra. Quando ele me mostrou, fiquei um pouco na dúvida se a letra deveria ser aquela mesma, mas acabei concordando, e realmente o conjunto de letra e música deu supercerto.”

Marcos lembra que, antes de ser sucesso de público e disco Viola Enluarada já era sucesso no meio artístico e era item obrigatório nas rodas de violão e nos shows. No espetáculo do Quarteto em Cy, por exemplo, Juscelino Kubitschek em pessoa levantou-se e cantou a plenos pulmões o refrão “Liberdade”. Logo Marcos Valle convidou Milton Nascimento para gravar música, que rapidamente estouraria nas paradas.

Mais ou menos na mesma época, Marcos Valle foi convidado para participar do programa Almoço com as Estrelas, comandado por Aerton Perlingeiro na TV Tupi. Marcos seria agraciado com o prêmio Velho Capitão uma estatueta com a imagem de Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados e da TV Tupi. “Eu resolvi convidar o meu irmão Paulo Sérgio, já que ele era meu parceiro. O Paulo Sérgio se sentou num canto da mesa. meio escondido, e ficou observando tudo. Quando o Aerton anunciou o prêmio, eu comecei a agradecer e disse que também queria oferecer o prêmio ao meu irmão. Quando eu falei isso, o Paulo Sérgio já se levantou. Mas antes que ele chegasse perto, o Perlingeiro disse: ‘De jeito nenhum!’ Ficou aquele clima, o Paulo Sérgio já voltou pro lugar dele, e o Perlingeiro continuou: ‘Não senhor, o prêmio é seu. Quando o seu irmão merecer um, ele vai ganhar!’ Depois a gente chorava de rir e até hoje eu não sei se o Aerton viu que o Paulo Sérgio estava ali”, lembra Marcos.

Poucos anos depois, o Brasil veria o surgimento de outro movimento importante: o Tropicalismo dos baianos Caetano, Gil e cia. Mas a verdade é que nunca um movimento musical influenciou tantos músicos em tantas partes do mundo como a Bossa Nova.

Era incontestável que a música brasileira havia mudado, e para muito melhor. O respeito com que os compositores e músicos brasileiros começaram a ser tratados no Exterior era a prova do sucesso absoluto da Bossa Nova. O mercado internacional abria-se para o grupo de jovens amadores e seus seguidores, que haviam conquistado pela primeira um lugar de destaque para a música brasileira, livre de sotaques, batucadas e cachos de bananas.

Em curto espaço de tempo, Antonio Carlos Jobim já era conhecido e consagrado como um dos maiores compositores do mundo. A gravação do seu disco com Frank Sinatra cantando suas músicas e músicas americanas no embalo da Bossa Nova era o reconhecimento da definitiva influência da moderna música brasileira.

O violonista Baden Powell foi morar em Paris, e tanto na França como na Alemanha gravou inúmeros discos. O violonista pernambucano Cussy de Almeida morava em Genebra, Suíça, e chegou a ser o primeiro violino da orquestra Suisse Romande. Voltando ao Brasil encantou-se pela Bossa Nova. Viajava freqüentemente ao Rio de Janeiro, onde conheceu diversos personagens da Bossa Nova, terminando por gravar um belíssimo disco (O Mergulhador) de violino e violão com Candinho.

Também para Paris mudou-se o violonista e cantor Normando. Carlinhos Lyra foi para os Estados Unidos e México onde viveu e trabalhou com grande prestígio. O pianista e compositor Eumir Deodato radicou-se em Nova York, onde ganhou diversos prêmios e discos de ouro, sendo considerado um dos maiores arranjadores pelos músicos americanos. Sérgio Mendes, há anos com o seu espetacular som característico, já é uma instituição no cenário da música nternacional.

João Gilberto transformou-se em símbolo e padrão de qualidade de interpretação. Astrud mora na Filadélfia e será sempre a suave “Garota de Ipanema”.

Edu Lobo, Dori Caymmi e Marcos Valle deixaram a marca de sua presença em todos os locais em que a Bossa Nova é ouvida. Vinícius de Moraes, o poeta dos poetas, correu mundo contando e cantando sua poesia, e por algum tempo chegou a morar na Itália, onde fez enorme sucesso.

Oscar Castro Neves fixou residência em Los Angeles como notável arranjador e instrumentista. Roberto Menescal, dono de uma obra que é parte fundamental do acervo da Bossa Nova, fez diversos shows pelo mundo, e além da música tornou-se um dos maiores experts em bromélias no Brasil.

Moacyr Santos e Don Salvador fizeram da América sua opção de vida e trabalho. A batida do violão e dos ritmistas Juquinha, Hélcio Milito, João Palma, Milton Banana, Paulinho Magalhães, Chico Batera, Edson Machado, Toninho Pinheiro, Ronnie Mesquita, Paulinho Braga, Ruben Bassini e Dom Um Romão, abriu no Exterior o caminho para que os percussionistas de vários países acompanhassem a Bossa Nova, que saiu das noites de Copacabana e Ipanema para as luzes internacionais.

De um cantinho e um violão para as grandes platéias e orquestras do mundo. E 40 anos depois do seu nascimento, a riqueza, a suavidade e o encanto da Bossa Nova não se encontrou nada que a superasse.

Fonte: Revista Caras - Edição Especial de Julho de 1996.

Barão Vermelho


Grupo carioca de rock fundado em 1981 por Roberto Frejat (Rio de Janeiro-RJ 1961-)guitarra; Dé (André Palmeira Cunha, Rio de Janeiro 1965-), contabaixo; Maurício Carvalho de Barros (Rio de Janeiro 1964-), teclados; e Guto Goffi (Flávio Augusto Goffi Marques, Rio de Janeiro, 1962-), bateria.


Só no ano seguinte, por intermédio de Leo Jaime, encontrariam o vocalista Cazuza e gravariam o primeiro LP, Barão Vermelho, pela Som Livre, fazendo alguns shows apenas no Rio e em São Paulo.

Depois do lançamento do disco 2, que inclui a faixa Pro dia nascer feliz, vem o sucesso nacional, em 1984, com Bete Balanço, da trilha sonora do filme de mesmo nome e presente no terceiro disco do grupo, Maior abandonado.

Em janeiro de 1985 participam do festival Rock In Rio e em junho é anunciada a saída do vocalista Cazuza, que parte para carreira solo, e a entrada de Fernando Magalhães e Peninha. Frejat passa a ser vocalista e o Barão assina contrato com a Warner.

Em 1990 participam do Hollywood Rock, e no mesmo ano o baixista Dé é substituído por Dadi, ex-integrante dos Novos Baianos e do A Cor do Som. No ano seguinte ganham o prêmio Sharp de melhor grupo de rock e o baixista Dadi é substituído por Rodrigo Santos.

Outros sucessos do Barão são Declare guerra, Por que a gente é assim?, Quem me olha só, Pense e dance, Torre de Babel, O poeta está vivo, Supermercados da vida, Malandragem, Dá um tempo" e Puro êxtase.

Em 2001, depois de mais uma apresentação surpreendente no Rock in Rio 3 – Por um Mundo Melhor, o Barão Vermelho faz uma pausa para seus integrantes desenvolverem projetos paralelos. Em 2004 eles lançaram Barão Vermelho, que mostra sucessos do início de carreira.

Em agosto de 2005, o Barão Vermelho grava no palco do Circo o seu primeiro DVD, dentro do projeto MTV ao Vivo. O elemento surpresa do Barão MTV ao Vivo fica por conta da dobradinha virtual, entre Cazuza e Frejat – este interpretando pela primeira vez - na canção Codinome Beija-Flor, de Cazuza e Ezequiel Neves.

O álbum duplo faz uma retrospectiva de 23 anos de carreira da banda com repertório dos 12 discos de estúdio lançados desde 1982 e do ao vivo Balada MTV.

Fontes: CliqueMusic; Encicl. da Música Brasileira - Art Editora.

Monarco

Monarco (Hildemar Diniz), compositor e cantor, nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 17/8/1933. Criado no subúrbio de Osvaldo Cruz, onde o pai trabalhava como marceneiro, estudou apenas até o terceiro ano primário. Quando criança conheceu Paulo da Portela e, desde cedo, freqüentou rodas de sambistas, compondo aos 11 anos seus primeiros sambas para os blocos do subúrbio.

Sua primeira música gravada foi Vida de rainha (com Alvaiade), por Risadinha. A segunda música foi O lenço (com Chico Santana), na gravadora Sinter. Integrante da ala dos compositores do G.R.E.S. da Portela desde 1950, tem composições gravadas por Paulinho da Viola (O lenço e Passado de glória), Clara Nunes (Vai amor, com Walter Rosa), Martinho da Vila (Tudo menos amor, com Walter Rosa), Roberto Ribeiro (Proposta amorosa) e Beth Carvalho (Fim de sofrimento), entre outros.

Toca cavaquinho e instrumentos de percussão. Como integrante da Velha Guarda da Portela, apresentou-se em shows no Teatro Opinião, do Rio de Janeiro, e no teatro da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo SP.

Mesmo sendo o mais jovem integrante da Velha Guarda da Portela, depois da morte de Manacéia foi escolhido para ser o chefe do grupo. Desempenha as funções de diretor de harmonia da escola de samba da Portela. Após a morte de seus parceiros da Velha Guarda (Alcides, Chico Santana, Manacéia), seus parceiros mais constantes são Ratinho (Alcino Correia) e seu filho, Mauro Diniz.

Gravou seu primeiro LP como cantor em 1974, na Continental. O segundo LP, em 1980, foi gravado na Eldorado: Monarco com participação da Velha Guarda da Portela, reeditado em CD pela mesma gravadora. Em 1991 seu primeiro CD — Monarco, a voz do samba, produzido por Henrique Cazes — foi lançado no Japão.

Em 1994-1995 foi lançado no Brasil, pela Kuarup, o CD A voz do samba, no qual saudava portelenses históricos, destacando- se o samba-enredo que compôs para a escola Unidos do Jacarezinho, em homenagem a Geraldo Pereira. Esse disco lhe rendeu um prêmio Sharp de melhor cantor na categoria samba. No mesmo ano, apresentou-se em São Paulo, no bar Vou Vivendo.

Outras composições de destaque são Amor de malandro (com Alcides Lopes), Coração em desalinho (com Zeca Pagodinho), Falsa alegria (com Ratinho), 1995, Vou procurar esquecer (com Ratinho), 1996, Presença incerta (com Ratinho), 1997.

Obras: Falsa alegria (c/Ratinho), 1995; O lenço (c/Chico Santana), 1970; Passado de glória, samba, 1970; Presença incerta (c/Ratinho), 1997; Tudo menos amor (c/Walter Rosa), 1974; Vai amor (c/Walter Rosa), 1975; Vou procurar esquecer (c/Ratinho), 1996.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira – Art Editora e PubliFolha.

Aquiles Medeiros

Aquiles Medeiros, compositor, nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 30/7/1925 e faleceu em 12/9/1971. Nascido no bairro da Glória, ainda menino mudou-se para o subúrbio de Brás de Pina, onde completou seus primeiros estudos. Desde garoto compunha músicas e liderava pequenos blocos carnavalescos.

Com seu irmão, Elton Medeiros , e outros jovens, integrou o bloco Unidos de Sintra, depois União do Amor, que saía da parada do ônibus Penha Circular. Ali conheceu Joacir Santana, que mais tarde o convidou para fundar o Bloco Carnavalesco Tupi de Brás de Pina, depois transformado em escola de samba.

Também a convite de Joacir, transferiu-se para a escola de samba Aprendizes de Lucas, que mais tarde se associou à Unidos da Capela, para formarem o G.R.E.S. Unidos de Lucas, onde fez parte da ala de compositores.

Formou-se técnico em contabilidade e trabalhou como bancário, tendo sido funcionário da Caixa Econômica Federal. Teve gravados seus sambas Pedra no meu caminho (com Raul Marques e Estanislau Silva) e Boêmio sofredor (com Aguinaldo da Cuíca), pela etiqueta Rádio, com a Aprendizes de Lucas. Foi também passista e tocava vários instrumentos de percussão.

Obras

Boêmio sofredor (c/Aguinaldo da Cuíca), samba, s.d.; Pedra no meu caminho (c/Raul Marques e Estanislau Silva), samba, 1952.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira – Art Editora e PubliFolha.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Arnaldo Batista

Arnaldo Batista (Arnaldo Dias Baptista), cantor e compositor, nasceu em São Paulo-SP no dia 6 de julho de 1948. É mais conhecido por seu trabalho com Os Mutantes. Sua carreira musical tem início em 1962, quando ele forma com seu irmão Cláudio César o grupo The Thunders.

Em 1966, convida seu outro irmão, Sérgio Dias, a se juntar ao grupo Six Sided Rockers, que já contava com a presença de Rita Lee. O grupo daria origem aos Mutantes.

Ali ele desenvolve seus talentos de compositor e arranjador, mas depois de vários problemas e brigas internas, causadas principalmente por seu vício em drogas, ele sai da banda em 1973. Segue, então, carreira de produtor musical, mas o insucesso o motiva a tentar carreira solo.

Lança Lóki? em 1974, considerado seu melhor trabalho. Em 1977 recusa o convite de seu irmão Sérgio para retornar ao Mutantes, formando o grupo Patrulha do Espaço. O novo projeto não vai muito longe, apesar da gravação de um disco de estúdio que só seria lançado parcialmente dez anos depois com o nome de Elo Perdido, assim como uma gravação ao vivo de um show da banda (Faremos Uma Noitada Excelente).

Deixa a Patrulha em 1978, que continua no underground rockeiro. Em 1982 lança outro marco em sua carreira, Singin' Alone, altamente lisérgico, desesperado, decepcionado, obra que cria um rock profundamente experimental, geradora de novos padrões estéticos. No mesmo ano é internado na ala psiquiátrica do Hospital do Servidor Público de São Paulo devido a seu comportamento agressivo, causado pelo uso excessivo de drogas. Durante a internação Arnaldo sofre um acidente, caindo da janela do terceiro andar. Passou quatro meses e onze dias em coma, mas sobreviveu, com uma séria fratura no crânio que deixaria seqüelas permanentes. Continuou gravando.

Em 1987 lança sua mais radical experiência. Pelo selo independente Baratos e Afins sai a gravação caseira Disco Voador. A gravação é feita em dois canais e surge como um disco quase "terapêutico" para Arnaldo. Há de se considerar ainda, que em 1989, o produtor Carlos Eduardo Miranda produz o álbum tributo Sanguinho Novo - Arnaldo Baptista Revisitado com bandas ascendentes no rock nacional como Sepultura, Ratos de Porão entre outros nomes.

Em 1996 foi contratado pela gravadora Virgin para o relançamento de Singin' Alone. Aproveitou para regravar o clássico dos Mutantes Balada do louco, que foi lançado como faixa-bônus. Em 2004 lançou seu último trabalho solo de inéditas, Let It Bed, produzido por John Ulhoa, do Pato Fu.

Em 2006 ocorre o retorno do grupo Mutantes e Arnaldo volta a tocar ao lado do irmão Sérgio Dias e do baterista Dinho Leme após 33 anos de sua saída da banda e 30 do fim do grupo. Rita Lee, vocal feminino na formação original, e que fora casada com Arnaldo (especula-se que desentendimentos conjugais teriam levado a saída desta do grupo) não retorna à banda. Zélia Duncan aceita integrar o conjunto.

Esta formação recente durou até Setembro de 2007, quando Zélia comunicou sua saída do grupo para retomar sua carreira solo. Poucos dias depois do anúncio, Arnaldo comunicou que também deixaria a banda para cuidar de projetos pessoais.

Há quinze anos morando em um pacato sítio em Juiz de Fora, Minas Gerais com sua esposa Lucinha Barbosa, Arnaldo passa seu tempo pintando quadros, escrevendo, tocando e compondo.

Fonte: dados retirados da Wikipédia.

Aymoré

Aymoré (José Alves da Silva), instrumentista e compositor, nasceu em Redenção da Serra-SP (24/6/1908) e faleceu em São Caetano-SP (5/6/1979). Começou tocando machete (cavaquinho) e depois aprendeu a tocar viola, com o pai, e violão prático, pelo método Paraguaçu.

Em 1925 estudou música com Tango (Sebastião Patrício), pistonista da banda de Poços de Caldas MG e Franca SP, e dois anos depois estreou no Teatro São Paulo, de São Paulo, com o nome de Zezinho, ao lado de Jararaca e Ratinho, Canhoto e Paraguassu.

Em 1928 passou a integrar o conjunto Chorões Sertanejos, de Raul Torres, e no ano seguinte gravou pela primeira vez, na Parlophon, um 78 rpm, com Jacaré está no caminho (Raul Torres) e Apanhei-te cavaquinho (Ernesto Nazareth).

Em 1930 conheceu Aníbal Augusto Sardinha, o Moleque do Banjo (mais tarde Garoto), com quem formou uma dupla que se apresentava em rádios e festas em casas de família. Em 1933 passou a integrar o Regional de Armandinho, na Rádio Record, de São Paulo, onde tocavam Vicente de Lima (flauta), Armandinho (violão), Pinheirinho (cavaquinho) e Pingo (pandeiro). Nessa época, adotou o pseudônimo de Aymoré.

Em 1934 foi contratado pela Rádio Cosmos (hoje América), de São Paulo, participando de seu conjunto regional, sob direção de Petit (Hudson Gaia). Ainda nesse ano compôs com Garoto a música Quinze de Julho. No ano seguinte organizou com Petit e Garoto um trio, que se apresentou no salão nobre do Edifício Martinelli.

Ainda em 1935 participou do filme Fazendo fita, de Vittorio Capellaro, com o conjunto regional da Rádio Cosmos. Com o fechamento da emissora, a dupla Aimoré e Garoto foi para a Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro RJ, por indicação de Sílvio Caldas. No Hora do Brasil, realizou programas em dupla com Laurindo de Almeida, pois Garoto adoecera.

Em 1942 formou o regional da Rádio Difusora, de São Paulo, com Miranda (cavaquinho), Antoninho (clarineta), Ernesto (violão) e Petit (violão). Em fins do mesmo ano, atuou na Rádio Cruzeiro do Sul (depois Piratininga), de São Paulo, onde organizou outro conjunto. Apresentou-se também em programa seu, solando ao violão, tendo mais tarde dirigido o regional da Rádio América.

A partir de 1950, durante 11 anos, trabalhou como arquivista da orquestra do Teatro Municipal, de São Paulo, e participou de seus programas de ópera. Acompanhou Vanja Orico na trilha sonora do filme O cangaceiro, de Vítor Lima Barreto, sob a direção do maestro Gabriel Migliori, em 1953. Cinco anos depois, trabalhou com Camargo Guarnieri na trilha do filme Rebelião em Vila Rica, direção de Geraldo e Renato dos Santos Pereira.

Participou em 1974 da gravação do LP de Poli Músicos maravilhosos, pela Chantecler, em que foi homenageado juntamente com Garoto, acompanhando o choro Quinze de Julho, primeira gravação sua com Garoto (1936).

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo, Art Ed., 1977. 3p.

Armandinho

Armandinho (Armando Neves), instrumentista e compositor, nasceu em Campinas-SP (28/11/1902) e faleceu em São Paulo-SP (12/10/1976). Freqüentava na infância a casa do professor de violino Antônio Paula de Sousa, e já tocava violão, de ouvido, pois nunca aprendeu a ler e escrever uma nota musical. Quem transcrevia suas composições para o papel era o seu professor.

Foi jogador de futebol até 1919, depois boiadeiro pelo interior de São Paulo. Aos 21 anos transferiu-se para São Paulo, estudando violão com os irmãos José e Joaquim Matoso e em 1926 com Larosa Sobrinho, com quem ingressou na Rádio educadora Paulista (hoje Gazeta), organizando o primeiro Conjunto Regional de São Paulo. No final do ano seguinte, entrou para o conjunto Os Turunas Paulistas, de Canhoto, considerado o melhor violonista da época. 

Com a morte de Canhoto, em 1928, ingressou na então inaugurada Rádio Record, organizando o primeiro regional dessa emissora, do qual seria chefe durante 30 anos. Em 1930 tocou para o violonista paraguaio Agustín Barrios e, nesse mesmo ano, gravou dois discos para a Parlophon, com Larosa Sobrinho.
Especializado em acompanhamento ao violão, fez somente uma gravação de solo, num disco 78 rpm, de propriedade particular, com o selo Decelith, em 1938. Funcionário público da Secretaria de Estado e Saúde Pública aposentou-se em 1955. 

Suas composições foram gravadas por Garoto, José Menezes, Aimoré, Antônio Rago e Geraldo Ribeiro, entre outros. Seu choro Mafuá foi gravado por José Meneses na Sinter, em 1957. Essa mesma música foi gravada por Aimoré em janeiro de 1966. Em abril de 1966, Antônio Rago gravou Maxixe. Em 1970, Geraldo Ribeiro incluiu algumas músicas suas no LP Geraldo Ribeiro, na Fermata. 

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora / PubliFolha.

Antônio Rago

Antônio Rago, instrumentista e compositor, nasceu em São Paulo SP em 2/7/1916. Filho de imigrantes italianos, desde criança interessava-se por música e costumava ouvir o sapateiro Rafael Fezza, famoso violonista do bairro do Bexiga. Aos 14 anos já acompanhava ao violão as canções populares da época. Aos 17 anos, iniciou estudos de música clássica com o professor Melo.

Em 1936, como integrante do conjunto Regional do Armandinho, começou a atuar na Rádio Record. Com Armandinho e Zezinho (mais tarde chamado Zé Carioca) formava o trio de violões desse conjunto, que fez sucesso durante algum tempo.

Depois, foi convidado a se apresentar na Rádio Belgrano, em Buenos Aires, Argentina, com o cantor Arnaldo Pescuma. A excursão estendeu-se até o Uruguai, com sucesso.

Em 1937, de volta ao Brasil, passou a trabalhar na Rádio Tupi, de São Paulo, com Zezinho e seu Conjunto. Nesse ano, tornou-se acompanhador de Francisco Alves, com quem se apresentou até 1940. Em 1938, compôs a primeira música, a valsa Velhos tempos, gravada por ele em 1940, na Columbia, em solo de violão. No ano seguinte, algumas de suas composições foram incluídas na peça Nós temos balangandãs, de Costa Lima.

Em 1942, tornou- se diretor do regional da Rádio Tupi. Em 1946, o desenho animado Cozinhando um samba, de Jaime Moniz, teve música sua e participação de seu regional e do cantor Caco Velho. Em 1947 Rego e seu Regional gravaram na Continental o bolero Jamais te esquecerei (com Juraci Rago), que foi incluído em 1949 no filme Quase no céu, dirigido por Oduvaldo Viana.

Em 1950 o Regional do Rago recebeu o troféu Roquete Pinto, como o melhor conjunto regional do ano. Nessa época, o grupo era formado por ele (violão solo), Orlando Silveira (acordeom), Siles (clarineta), Petit e Carlinhos (violões), Esmeraldino (cavaquinho), Correia (contrabaixo) e Zequinha (pandeiro).

Participou da televisão brasileira desde a sua inauguração, na TV Tupi, com programa próprio, e também como acompanhante de cantores como Isaura Garcia, Linda Batista, Sílvio Caldas, além de atuar em vários programas de rádio, como A Brigadada Alegria, na Rádio Tupi, de São Paulo.

Em 1952 acompanhou Francisco Alves em sua última apresentação, num programa da Rádio Nacional, de São Paulo, cuja gravação fez parte do LP A voz do rei, lançado em 1975, pela Odeon. Ainda nesse ano, passou a atuar na TV Paulista e na Rádio Nacional, no programa Ronda dos Bairros, além de ter gravado, com seu conjunto, o primeiro LP, na Continental, Jamais te esquecerei, com músicas de sua autoria, como o baião-toada Folhinha, os choros Mentiroso e Mambo na Glória, os boleros Jamais te esquecerei e Em tuas mãos (com Ribeiro Filho), a batucada-choro O Barão na dança (com Mário Vieira) e o baião-fado Festa portuguesa (com Mário Vieira). Gravou mais três LPs na Continental, um na Odeon e dois na Chantecler.

Entre seus parceiros mais constantes além de Ribeiro Filho, destacam-se Teixeira Filho com quem fez Sozinha, e João Pacífico, com quem compôs Não foi adeus, Não convém e Custá pra arranjá, entre outras.

Em 1962, como solista, gravou na Continental o LP Recital de violão, que incluía algumas de suas obras eruditas, como Flor triana e Sonatina em lá menor. Por volta de 1964, o regional se desfez, e ele passou a produzir programas de rádio em Santos, Campinas e outras cidades do Estado de São Paulo, a ensinar violão e a gravar discos solos, como os LPs Especialmente para você (Chantecler, 1974), Rago (Continental, 1978) e Solos de violão (3M, 1986).

CD: Violões, 1992, Projeto Memória Brasileira 110039.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora / PubliFolha.

domingo, 21 de outubro de 2007

Tibério Gaspar


Tibério Gaspar Rodrigues Pereira, compositor, produtor musical e violonista, nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 11/9/1943 e faleceu na mesma cidade em 15/2/2017. Ingressou na Faculdade de Engenharia, mas abandonou o curso para dedicar-se à música.


Iniciou sua carreira profissional em 1967, trabalhando em parceria com Antônio Adolfo. As primeiras composições da dupla foram Caminhada, finalista do II Festival Internacional da Canção (FIC), Tema triste e Rosa branca. Ainda nesse ano, teve registrado pela primeira vez seu trabalho de compositor, com a gravação da canção Caminhada, por Agostinho dos Santos.

Em 1968, sua canção Sá Marina (com Antonio Adolfo) foi gravada, com enorme sucesso, por Wilson Simonal. Também nesse ano, trabalhou na produção e direção musical do evento Música Nossa (Teatro Santa Rosa, RJ), ao lado de Roberto Menescal, Mário Telles, Ugo Marotta e Paulo Sérgio Valle. No ano seguinte, participou do IV Festival Internacional da Canção com Juliana (com Antonio Adolfo), defendida pelo conjunto A Brasuca e classificada em 2º lugar no evento.

Em 1970, representou o Brasil na Olimpíada da Canção de Atenas (Grécia), com Teletema (com Antonio Adolfo), defendida por Evinha e classificada em 2º lugar. Nesse mesmo ano, venceu o V Festival Internacional da Canção com BR-3 (com Antonio Adolfo), defendida por Toni Tornado e Trio Ternura.

Participou, como compositor, de trilhas sonoras para o cinema, com destaque para os filmes O matador profissional, Balada dos infiéis, Ascenção e queda de um paquera, Memórias de um gigolô, O enterro da cafetina, Romualdo e Juliana e Beth Balanço. Ainda como compositor, teve músicas incluídas em trilhas sonoras de novelas da TV Globo, como O cafona, Véu de noiva, Assim na terra como no céu, Verão vermelho e Irmãos Coragem.

Classificou canções em vários festivais, como II Canta Rio-Sul, Festival de Alegre, Festival de São Silvério, Festival de São Simão, Festival de Pinheiros, Festival de Boa Esperança, XV Festival Antense da Canção, Festival de Ilha Solteira, Festival de Piraí, Festival de Juiz de Fora, Festival de Diamantina, Festival de Itumbiara e Festival de Montanha, além dos já citados.

Participou da produção de discos de artistas como Antonio Adolfo & A Brazuca, Ruy Maurity, Toni Tornado, Cristina Conrado e Eudes, entre outros, além de ter assinado, para a Prefeitura de Sapucaia, a produção do CD do XV Festival Antense da Canção.

Trabalhou também na área publicitária, tendo ocupado, em 1977 e 1978, o cargo de diretor geral da Aquarius Produções, responsável pela produção de inúmeras peças publicitárias para todo o Brasil. Compôs jingles para clientes como Leite Gogó, Sérgio Dourado, Caixa Econômica Federal, Adidas, Caderneta de Poupança Letra, Caderneta de Poupança Delfim, Carrocerias Randon, Sudantex, Lanjal e Coca-Cola, entre outros.

Criou e produziu, em 1986, o jingle institucional de fim de ano da Rede Manchete de Televisão. Como produtor de televisão, atuou, com Lúcio Alves, no III Festival Universitário (TV Tupi) e no programa Som Livre Exportação (TV Globo), no qual participou também como apresentador, ao lado de Elis Regina, Rita Lee, Susana de Moraes e Ivan Lins.

Trabalhou na produção e direção de shows de artistas como Ruy Maurity e Belchior (Teatro Carioca), Antonio Adolfo & A Brazuca (Teatro Casa Grande), Johnny Alf (Teatro de Bolso), Tony Tornado (Teatro Copacabana Palace), Maria Alcina (Teatro Copacabana Palace), Nonato Buzar (Hotel Intercontinental), Leonardo Ribeiro (Vinicius Piano Bar), Cristina Conrado (People e Mistura Fina), além de ter dirigido a cantora Elza Soares no show Passaporte (Teatro Rival).

Como intérprete de suas canções, lançou, em 2002, o CD Tibério canta Gaspar. Em 2005, representou o Brasil no Festival Internacional de Viña del Mar com sua canção Matilde (com Guto Araújo), interpretada pela cantora Cristina Conrado.

No ano de 2015 lançou o CD "Caminhada", no qual interpretou de sua autoria as faixas A voz da América(c/ Nonato Buzar), Caminhada (c/ Antônio Adolfo), Companheiro (c/ Naire Siqueira), Coração maluco, Dança mineira (c/ Aécio Flávio), Dono do mundo (c/ Antônio Adolfo), Luz na escuridão, O melhor amigo, Será que eu pus um grilo na sua cabeça? (c/ Guilherme Lamounier), Sideral (c/ Durval Ferreira e Valdir Granthon), Vê ser vê (c/ Rubão Sabino) e Vitória do bem, somente de sua autoria.


Fonte: Dicionário Cravo Albin de Música Popular Brasileira.

Antônio Adolfo


Antônio Adolfo Maurity Sabóia, compositor, instrumentista e cantor, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 10/2/1947. Aos sete anos começou a estudar violino e teoria musical no Conservatório de Música Lorenzo Fernandez. Entre os 11 e os 14 anos estudou em colégio interno, retomando, após esse período, o aprendizado musical com Ayrton Vallim.


Quando estudava no Colégio São Fernando, integrou como pianista, um conjunto que se apresentava em festinhas; nessa época passou a dedicar-se inteiramente ao piano e, em 1963, integrando o conjunto Samba Cinco, começou a freqüentar o Beco das Garrafas e a participar de sessões de jazz e bossa nova.

Em janeiro de 1964, convidado por Carlos Lyra para fazer parte do elenco musical da peça Pobre menina rica (Vinícius de Moraes e Carlos Lyra), para a encenação do Teatro de Bolso, formou o Trio 3-D, que se manteve até 1968, chegando a gravar quatro LPs. É desse ano sua primeira composição, o Tema 3-D.

Em 1967 conheceu Tibério Gaspar, seu parceiro mais constante. As primeiras composições da dupla foram Caminhada (finalista do II FIC, da TV Globo, Rio de Janeiro, em 1967), Tema triste e Rosa branca. Em 1968 obtiveram sucesso com Sá Marina, interpretada por Wilson Simonal. No mesmo ano, no III FIC, concorreu com Visão, também em parceria com Tibério Gaspar.

Em 1969 foi à Europa, como pianista da cantora Elis Regina, e, de volta ao Brasil, no mesmo ano fez ainda músicas para novelas da TV Globo e participou do IV FIC (1969) com a música Juliana (com Tibério Gaspar), que obteve o segundo lugar, música interpretada pelo conjunto A Brazuca, organizado por ele, com o qual, além de muitas apresentações na televisão, excursionou ao Peru e gravou dois LPs na Odeon.

Em 1970, inscreveu Teletema (com Tibério Gaspar) no festival de Atenas, Grécia, que, interpretada por Evinha, obteve a segunda colocação. Ainda em 1970 venceram a fase nacional do V FIC com BR-3, cantada por Toni Tornado.

Quando A Brazuca se desfez em 1971, foi para os EUA, contratado pela Jerry Shayne Music lnc. Em março de 1972 retornou ao Brasil, passando a compor sozinho e a interpretar as suas músicas, lançando pela Philips o LP Antônio Adolfo. Em setembro desse ano viajou para os EUA, para fazer um curso com David Baker, na Indiana University of Music.

De volta ao Brasil, passou a trabalhar como músico, arranjador e professor do Centro Musical Antônio Adolfo, no Rio de Janeiro. Também organiza cursos e oficinas em universidades dos E.U.A. e Europa. Publicou no Brasil diversos livros de iniciação musical e lançou, internacionalmente, o vídeo didático Secrets of Brazilian Music e o livro e CD Brazilian Music Workshop. Gravou discos no Brasil e no mercado internacional.

Em 1996 recebeu o Prêmio Sharp pela composição instrumental Cristalina. Tem trabalhado na releitura de pioneiros da música popular brasileira, como João Pernambuco, Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, trabalho exemplificado no CD Chiquinha com jazz, de 1997.

Em 2001, relançou em CD o disco "Viralata", numa parceria com a gravadora Kuarup. Nesse mesmo ano, apresentou-se no Mistura Fina (RJ). Em 2005, fez show no Songbook Café (RJ), ao lado de Carlos Lyra. Nesse mesmo ano, lançou o CD "Carnaval piano blues". Em parceria com sua filha, a cantora Carol Saboya, lançou, em 2006, o CD "Ao vivo live", registro da apresentação realizada no ano anterior, em Miami. Mais uma vez em parceria com Carol Saboya, lançou, em 2010, o CD “Lá e cá - Here and there”. O disco, registrado como se fosse uma gravação ao vivo, contou com a participação dos músicos Jorge Helder (contrabaixo), Rafael Barata (bateria), Leo Amuedo (guitarra) e Serginho do Trombone (trombone).

Lançou, em 2011, o CD "Chora Baião", contendo suas composições Chicote, Chorosa blues e a faixa-título, além de A ostra e o vento, Gota d’água de Chico Buarque, além de outras. Com a participação de Leo Amuedo (guitarra), Jorge Helder (baixo), Rafael Barata (bateria), Marcos Suzano (percussão) e Carol Saboya (vocais), o CD “Chora baião” foi contemplado com o Latin Jazz Awards, nas categorias Melhor CD, Melhor CD de Brazilian Jazz, Melhor Pianista (o próprio Antônio Adolfo), Melhor Baixista (Jorge Helder) e Melhor Capa (Bruno Liberati, Felipe Taborda e Lygia Santiago).

Em 2013, lançou o CD “Finas misturas”, combinando diferentes estilos musicais brasileiros com o jazz. Ainda nesse ano, foi premiado, juntamente com Carol Saboya, na 16ª edição do Brazilian International Press Awards/Estados Unidos, na categoria Melhor Show de Artista Local, pelo espetáculo realizado no South Florida Jazz, em 10 de Março de 2012. Também, nesse ano, apresentou-se no espaço Miranda (RJ), em show de lançamento do CD “Finas misturas”, pelo projeto “Instrumental MPB”.

Em 2014, lançou pela gravadora Deck, o disco “O piano de Antônio Adolfo”. O trabalho abre o projeto “O piano de...”, uma série dedicada a pianistas. As nove músicas do CD contam com regravações de duas composições, Teletema e Chora baião e com sete outras composições consagradas de nomes como Jacob do Bandolim (Doce de coco) e Aldir Blan (Catavento e girassol).

Em 2017, lançou, no Brasil e nos Estados Unidos, o disco “Hybrido – From Rio to Wayne Shorter”, em tributo ao saxofonista norte-americano Wayne Shorter.

Antônio Adolfo é irmão do compositor e cantor Ruy Maurity e pai da cantora Carol Saboya.

Obras até 1998

BR-3 (c/Tibério Gaspar), 1970; Caminhada (c/Tibério Gaspar), 1967; Emaú, 1995; Glória, Glorinha (c/Tibério Gaspar), 1970; Juliana (c/Tibério Gaspar), 1969; Meia-volta (c/Tibério Gaspar), 1969; Quem viu Helô (c/Tibério Gaspar), 1970; Rosa branca (c/Tibério Gaspar), 1967; Sá Marina (c/Tibério Gaspar), 1968; Teletema (c/Tibério Gaspar), 1970; Visão (c/Tibério Gaspar), 1968; Zabumbaia, 1995.


Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998; Dicionário Cravo Albin da MPB (atualização).