sexta-feira, 31 de março de 2006

Joubert de Carvalho


Um dos treze filhos do fazendeiro Tobias de Carvalho e de Dona Francisca Gontijo de Carvalho, Joubert de Carvalho nasceu em Uberaba, Minas Gerais, no dia 06 de março de 1900. Tinha nove anos quando o pai comprou um piano, onde Joubert passou a tocar, de ouvido, os dobrados que ouvia na banda local.


Aos doze anos, tendo terminado o curso primário em Uberaba, Joubert mudou-se com a família para São Paulo, motivados pela preocupação do pai com a educação e formação dos filhos, que foram estudar no Ginásio São Bento. A primeira composição de Joubert, a valsa Cruz Vermelha, foi inspirada no hospital infantil do mesmo nome, que havia em São Paulo, e cujas primeiras notas haviam sido tiradas no piano da infância.

O pai permitiu a Joubert que vendesse as partituras, desde que o dinheiro revertesse em benefício do Hospital Cruz Vermelha. O relativo sucesso alcançado pela música animou Joubert a compor outras peças, que entregava à casa editora Compassi & Camin, com autorização de seu pai, desde que o pagamento se resumisse a alguns exemplares para Joubert distribuir aos amigos. Durante o curso ginasial Joubert foi se familiarizando com os clássicos, na casa de uma tia pianista.

Em 1919 Joubert foi para o Rio de Janeiro, onde o ensino era de melhor nível e, em 1920, entrou para a Faculdade de Medicina. Com uma mesada de 500 mil réis, Joubert continuava a compor e, durante uma de suas visitas a São Paulo, o editor fez novos pedidos, com a oferta de 600 mil réis mensais. Como o filho havia obtido êxito nos exames, o velho Tobias não só se rendeu, como manteve a mesada, propiciando ao jovem Joubert uma vida de estudante rico, que podia até mesmo morar em hotel.

Nessa época, influenciado por ritmos estrangeiros, Joubert compôs diversos tangos, como Cinco de Janeiro, dedicado ao sanitarista Osvaldo Cruz. Sua primeira composição gravada foi a canção Noivos, lançada em 1921. Mas seu primeiro grande sucesso viria em 1922 com O príncipe, composta por inspiração da chuva e que seria sua primeira composição gravada no exterior, em 1931. No ano seguinte, 1923, compôs o tango 'argentino' Lindos olhos.

Em 1924 Joubert compôs os sambas O jacaré e Não sou pamonha, os foxes Lira quebrada e Vieni a me, as marchas A nova Itália, Revelação e Vira a casaca, os tangos Pressentimento e Sonhos mortos e o maxixe Viva o coronel e, ainda, em parceria com Zirlá, compôs Aventureiro, Encanto de mulher e Tango venenoso e, em parceria com Zael, compôs O galo preto.

Em 1925 Joubert se formou em Medicina, com a tese intitulada "Sopros musicais do coração", tendo sido aprovado com distinção, embora o título da tese beirasse à pilhéria. Sabendo equacionar perfeitamente as atividades de médico e de músico, Joubert continuava a compor. Desse ano são suas composições Luxo asiático e Vem meu benzinho.

Em 1926, em parceria com Sadi Fonseca, Joubert compôs o maxixe Arrepiado e o tango Canção dos mares e, com Zael, compôs o maxixe Jaquetão. Ainda desse ano são as composições Manequinho, Mãos de neve, Pobrezinho, Prisioneiro do amor e Agonia, esta gravada por Pedro Celestino, irmão de Vicente Celestino.

Em 1927 Joubert casou-se com Elza Faria, que lhe daria o filho Fernando Antonio. Desse mesmo ano são suas composições Bigodinho, Boca pintada, Canarinho, Eu gosto de você, Juriti, Mal aventurado, Nhá Maria, Rio de Janeiro, Rolinha, Sabiá mimoso, Os teus olhos, Traição, As Valentinas e Viva Jaú.

Em 1928 Joubert musicou dois poemas de Olegário Mariano, Cai, cai balão e Tutu Marambá, dando início a uma parceria de mais de vinte músicas. Também de 1928 são as composições de Joubert de Carvalho Aquele cantinho, Caboquinha, O carinho de meu bem, A casinha do meu bem, Castelo de luar, Os dois caminhos, Os filhos da Candinha, O pardal, Saci-Pererê, Sombrinha azul e Um sorriso e um olhar, a maioria delas gravadas por Gastão Formenti.

Embora as composições de Joubert de Carvalho já viessem sendo gravadas por cantores de destaque na época, como Gastão Formenti e Francisco Alves, a novata Carmen Miranda é que foi a responsável pelo grande sucesso de Ta-hi, lançado em 1930 com o título "Prá você gostar de mim", que alcançou uma vendagem de 35.000 discos, numa época em que os grandes cantores vendiam, no máximo, até 1.000 discos.

Ainda em 1930 Joubert compôs Dá-se um jeitinho, É com você que eu queria, Escrita errada, Esta vida é muito engraçada, Gostinho diferente, Kalatan, Neguinho, Pelo teu pecado, Saudade danada, Vai recolher, Vestidinho novo e Vou recolher e, ainda, em parceria com M. Fonseca, compôs Cadeirinha; com Ana Amélia Carneiro de Mendonça, com os Canção do estudante e Tarde dourada; com Olegário Mariano, Loiras e morenas e com Gastão Penalva, Para o amor.

Em 1931, em parceria com Pascoal Carlos Magno, Joubert compôs Pierrô, um de seus maiores êxitos e que foi interpretado por Jorge Fernandes, na peça teatral de mesmo nome, de autoria de Pascoal Carlos Magno. Ainda, neste ano, compôs Amor, amor, Eu sou do barulho, Não me perguntes, Napoleão, Quero ficar mais um pouquinho, Quero ver você chorar, Se não me tens amor, Tem gente aí, Venenoso, História de uma flor, Monte Carlo; com Paulo Roberto, compôs a marcha Foi ... foi ela; com Criso Fontes, o samba-canção Gostar de alguém; com Luiz de Góngora, a canção Por que choro; com Célia Benatti, a marcha Que m'importa; com Osvaldo Orico, a canção Se ela te oferecer um grande amor; com Luiz Gonzaga, o baião Trovas de amor; e, com Olegário Mariano, compôs Absolutamente, A carícia de um beijo, De papo pro á (em algumas fontes 'De papo pro ar')" e Zíngara. De papo pro á foi lançado, com sucesso, por Formenti, em 1931, e revivido por Inezita Barroso, em seu LP 'Canto da saudade'.

Em 1932 Joubert compôs Cabecinha de vento, Coisas de amor, É de trampolim, O gatinho, A glória de São Paulo, Lenita e Lição de Cristo; e, ainda, em parceria com Osvaldo Orico, compôs Horas de amor; com Luiz Martins, O índio do Corcovado; com J. Távora, Teus olhos... o outono; com Olegário Mariano, compôs Beduíno, Caboclinho, Galanteria e Se você quer e com Cleómenes Campos, compôs Dor.

Mas o grande êxito de Joubert em 1932 foi a canção Maringá que, gravada por Gastão Formenti, fez sucesso também no exterior, rendendo direitos autorais a Joubert durante muito tempo. Como Joubert queria um lugar de médico dos Marítimos e, sendo amigo do ministro da Viação, José Américo de Almeida, fez, para agradá-lo, já que este era nordestino, a música "Maringá", que surgiu de 'Maria do Ingá'; Ingá era um município do nordeste, onde a seca havia sido mais rigorosa. "Maringá" era cantada por operários que construíam uma nova cidade no norte do Paraná e que, ao ser fundada oficialmente em 1947, recebeu o nome de Maringá. A canção "Maringá" é considerada uma das mais expressivas

Joubert de Carvalho - 1933
Em 1933 Joubert foi nomeado médico do Instituto dos Marítimos, onde fez carreira, chegando a ser diretor do hospital. Mas não deixou de compor e, nesse mesmo ano, surgiram as músicas Coisinha boa, melhor que há no mundo, Devolve os meus beijos, Estilizada, Ficou um beijo em minha boca, Flor que ninguém colheu, Foi você mesmo, Há nos teus olhos... um luar, Lágrimas de Pierrô, Marilena, Melhor amor, Meu amor chegou, Olá, Que bom que estava, Redenção e Sossega o teu corpo, sossega e, ainda, Arlequim, em parceria com Fortes Malta; Boca bonita, com Narbal Fontes; De madrugada, com Catulo da Paixão Cearense; A doce palidez de Maria, com A. Freitas; Bom dia, meu amor, Canção do abandono, Felicidade e Moreninha brasileira, com Olegário Mariano; C'est toi, l'amour e N'aimez que moi, com Maria Eugênia Celso; Eta caboclo mau e Garota errada, com Luiz Martins; Felicidade... é quase nada e Se um dia pudesse, com Gilberto de Andrade; A lenda das rosas vermelhas e Moleque sarará, com Murilo Fontes; e Tabuada, com Adelmar Tavares.

De 1934 são as composições de Joubert de Carvalho Deixa-me beber, Eu quero te dar um beijo, Um pouquinho de amor, Sapatinho da vida, Uma vezinha só e, também, Pela primeira vez. Em 1940 Joubert compôs as valsas Ainda hei de te beijar, Maria, Maria, Por quanto tempo ainda e Rosi e o fox-canção Em pleno luar. Maria, Maria e Em pleno luar foram gravadas por Orlando Silva, com grande sucesso. No ano de 1941 traz a marcha de Joubert de Carvalho, Avante, companheiros.

De 1943 são suas valsas Ninguém esquece..., A vida é um sonho e Visão de outro amor. O ano de 1946 foi o de maior sucesso para Joubert: Gilberto Milfont lançou a canção Geremoabo e Sílvio Caldas gravou a canção Minha casa e a valsa Nunca soubeste amar. Minha casa foi um dos últimos grandes sucessos de Joubert de Carvalho. O romântico seresteiro ainda lançaria outras composições, mas nenhum de seus trabalhos posteriores alcançou a projeção popular de Minha casa.

Em 1948 Joubert compôs a valsa Noite de estrelas; em 1949, em parceria com R. C. Lisboa, compôs a canção Reminiscência; em 1950, compôs Flor de esperança, Gostoso e Picadinho; em 1951, Baía da Guanabara, É carinho que falta, Felicidade... e nada mais, Um grande amor, Paris, Paris, Sabe lá o que é isso e Quando se vai o amor, esta última em parceria com T. Malta.

Em 1952 Joubert compôs Festa de formatura, Flamboyant, Fogueira, Mamãe Dolores, No tempo da valsa e Perto da lareira e, ainda, em parceria com David Nasser, compôs o bolero Silêncio do cantor, que era uma homenagem ao cantor Francisco Alves, morto nesse ano, em acidente automobilístico. Em 1953, com Adelmar Tavares, Joubert compôs Olha-me bem nos olhos. Ainda nesse ano compôs Mande um beijo, Quando eu partir, Tes yeux, A vida por um beijo e Feliz aniversário, com a qual venceu um concurso, sendo gravada por Neide Fraga.

De 1954 são as composições Apresse o passo, Dia feliz, Marcha das bandeiras, Viva São Paulo e Voltei, voltei. No período de 1955 a 1960, Joubert de Carvalho passou a dedicar-se a estudos filosóficos, não publicando nada e produzindo apenas para uso interno. Em 1959, foi homenageado pelo povo de Maringá, que deu seu nome a uma das ruas da cidade. Em 1961 Joubert compôs Hino ao Presidente e Marcha da vitória. Em 1962 o cantor Carlos Galhardo lançou novas composições de Joubert de Carvalho: O amor e o sol, Florista, Mundos afora, O tempo que ficou e Desde sempre, esta em parceria com Mário Rossi. De 1969 são suas composições Além da vida e Esta noite não e, ainda, Fragrância, em parceria com Mário Rossi e Sol na estrada, com I. Maria.

Em 1970, participou do V Festival Internacional da Canção da TV Globo, com a valsa A flor e a vida, composta em parceria com Ieda Fonseca, não conseguindo classificação. Pouco depois, venceu, com a mesma composição, interpretada por Antonio João, o Festival Brasileiro de Seresta. Em 1971 Joubert compôs O Rio é Carnaval; em 1972, A cidade que nasceu de uma canção e Hora de despedida; e, em 1973, A voz e o violão.

Joubert de Carvalho nunca bebeu, nunca foi boêmio; bares e botequins jamais o atraíram. Homem culto e refinado, chegou também a escrever um romance: Espírito e sexo, que se aproxima do ensaio social. Como médico, também foi muito talentoso e um dos pioneiros no Brasil em Medicina Psicossomática. Autor de mais de setecentas composições editadas, no final da vida Joubert se afastou do mundo musical, pois os novos estilos surgidos deixaram pouco espaço ao romantismo do seresteiro que, de certa forma, ele foi. Joubert de Carvalho morreu no dia 20 de setembro de 1977, vítima de pneumonia, deixando importante legado para a Música Popular Brasileira.

Algumas letras e cifras





















Fonte: memórias da mpb - Samira Prioli Jayme.

Henrique Vogeler

Henrique Vogeler, compositor, instrumentista e regente, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 11/6/1888 e faleceu em 9/5/1944. Nascido no bairro do Catumbi, de pai alemão e mãe brasileira, iniciou-se no piano com pouco mais de cinco anos, assistindo às aulas de música do irmão Jorge, pai de Jaime Vogeler, cantor da década de 1930.


Estudou no Colégio São Bento e em seguida no Colégio Universitário, mas foi obrigado a abandoná-lo por problemas financeiros. Empregado na Estrada de Ferro Central do Brasil, começou a compor para um teatro de amadores organizado por um colega de trabalho.

Ocasionalmente, tocou piano na sala de espera do Cinema Odeon, substituindo Ernesto Nazareth, pianista da casa. Cursou o Conservatório Nacional de Música. Concluídos os estudos musicais, a partir de 1919 lançou-se profissionalmente, compondo para os teatros de revista da Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro.

De suas contribuições ao teatro musicado (1919-1942), destacou-se a partitura para a revista-opereta A canção brasileira, estreada em março de 1933 no Teatro Recreio, que alcançaria 300 representações consecutivas. O seu samba-canção Linda flor, também conhecido em versões com os títulos de Meiga flor e Iaiá ou Ai, Ioiô (com Luiz Peixoto), transformou-se em sucesso após sua gravação por Araci Cortes, em 1929, na Parlophon. A partir do ano seguinte, atuou como diretor artístico das gravadoras Brunswick e Odeon.

Em 1930, como pianista da Odeon, acompanhou várias gravações do cantor Gastão Formenti. Além de compor partituras para revistas, produziu algumas peças de caráter musical mais cuidado, destacando-se seis músicas destinadas a um LP para distribuição no exterior; o disco incluía ainda seis composições de Ernesto Nazareth, interpretadas por ele, exímio pianista.

No início da década de 1940, quando organizava programas musicais para a Hora do Brasil, foi contratado por Villa-Lobos, como seu auxiliar direto no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico, onde permaneceu até a morte.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Homero Dornellas

Homero Dornellas, compositor, instrumento e professor nasceu no Rio de Janeiro-RJ em 14/12/1901 e faleceu em 28/12/1990. Filho do maestro Sofonias Dornellas, estudou piano e teoria musical com o pai e uma tia, dos sete aos 14 anos.

Em 1916 ingressou no I.N.M., do Rio de Janeiro, na classe de Frederico Nascimento, cursando teoria, solfejo e física acústica. Cinco anos depois, abandonou o piano para dedicar-se exclusivamente ao violoncelo, estudando com Eurico Costa. Foi também aluno de harmonia de Nevvton Pádua e Paulo Silva, e de composição de Lorenzo Fernandez.

Em 1923 passou a atuar como violoncelista em diversos conjuntos sinfônicos e camerísticos, como o da Sociedade de Concertos Sinfônicos, Orquestra Arcângelo Corelli e Orquestra do I.N.M. Paralelamente, tocava em cinemas, acompanhando filmes mudos, em teatros de revista, restaurantes, serviços religiosos e em circos, o que deu origem à sua ligação com a música popular.

Data de 1923 sua primeira composição, Parisete, feita em parceria com o pai, que usava o pseudônimo de Sallendor. Em 1926 passou a se dedicar a composições populares, escrevendo sambas, marchas carnavalescas e foxes, sendo, inclusive, convidado, dois anos depois, para supervisionar e revisar os trabalhos de orquestração, arranjo e harmonização de músicas para o Carnaval na Casa Vieira Machado.

Como compositor popular adotou o pseudônimo de Candoca da Anunciação, consagrando-se definitivamente em 1929 com o samba Na Pavuna (com Almirante), que foi grande sucesso no Carnaval de 1930. Lançado pela Parlophon com Almirante e o Bando de Tangarás, Na Pavuna foi o primeiro disco a reproduzir uma batucada, em estúdio, com instrumental de percussão semelhante ao usado nas ruas durante o Carnaval.

Três anos depois, a convite de Villa-Lobos, passou a trabalhar no SEMA, e em 1939 ingressou, por concurso, na Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal, do Rio de Janeiro. Dois anos depois, licenciou-se dessa orquestra, transferindo-se para a Sinfônica Brasileira, a chamado de Eugen Szenkar, e em 1941 foi contratado como músico instrumentista da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro. No ano seguinte foi nomeado professor de canto orfeônico e matérias teóricas do Colégio Pedro II.

Deixou o SEMA em 1959 e a Rádio Nacional cinco anos depois, parando de lecionar no Pedro II em 1972. Publicou Orquestras em desfile, Rio de Janeiro, 1974 (que dá relação nominal dos músicos que integraram os diversos conjuntos atuantes no Rio de Janeiro de 1894 a 1974). Em sua carreira, usou ainda dos pseudônimos Romeoh Sallendor, Sallendor Filho e My Self.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Joraci Camargo

Joraci Schafflär Camargo, teatrólogo e letrista, nasceu no Rio de Janeiro RJ em 18/10/1898 e faleceu em 11/3/1973. Começou no teatro amador em 1912, no Clube Vinte e Quatro de Maio, e mais tarde passou a escrever revistas, estreando com Me leva, meu bem, em colaboração com Pacheco Fialho.


Encerrou em 1927 sua carreira de ator, já profissional, no Teatro de Brinquedo, do Rio de Janeiro, que fundara nesse mesmo ano com Álvaro Moreira e outros.

Ainda nesse ano formou-se em ciências jurídicas e comerciais e passou a escrever comédias de costumes, alcançando sucesso nacional em 1932 com Deus lhe pague.

Em seguida, escreveu letras para composições de Hekel Tavares, com quem já trabalhara no teatro de revistas, entre as quais Favela, Guacyra e Leilão.

Com Custódio Mesquita escreveu o choro Quem é?, gravado por Carmen Miranda, em 1937, na Odeon. Sua obra teatral é extensa.

Obras:

Favela (com Hekel Tavares), 1933; Guacira (com Hekel Tavares), 1933; Leilão (com Hekel Tavares), 1933; Mamãe baiana (com Xerém), toada-canção, 1964; Mulata brasileira (com Hekel Tavares), 1944; Quem é? (com Custódio Mesquita), choro, 1937.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha.

Hekel Tavares

Hekel Tavares

Hekel Tavares, compositor, regente e arranjador nasceu em Satuba AL (16/9/1896) e faleceu no Rio de Janeiro RJ (8/8/1969). Estudou piano com uma tia e, ainda criança, aprendeu harmônica e cavaquinho, já demonstrando grande interesse pelas manifestações populares. Foi para o Rio de Janeiro em 1921 e iniciou-se em orquestração com J. Otaviano. Ao lado de Valdemar Henrique, Marcelo Tupinambá e Henrique Vogeler, sob a influência nacionalista da Semana de Arte Moderna (1922), criou um tipo de música situado na fronteira do erudito e do popular.


Iniciou-se profissionalmente como compositor de teatro de revista, fazendo em 1926 a música para a peça carnavalesca Está na Hora, de Goulart de Andrade, levada no Teatro Glória. Ainda em 1926 apareceu regendo uma orquestra na revista Plus-ultra, no mesmo teatro. Sua primeira composição de sucesso foi Suçuarana (parceria com Luiz Peixoto), lançada em 1927.

Autor de mais de 100 canções, alcançou seu maior êxito com Casa de caboclo (com Luiz Peixoto), gravada em 1928 por Gastão Formenti na Parlophon, e no mesmo ano Eu ri da lagartixa foi lançada por Patrício Teixeira, naquela gravadora.

Em 1927, para o Teatro de Brinquedo (idealizado por Álvaro Moreira e outros), que funcionava no subsolo do Teatro Cassino Beira-Mar, musicou a peça de estréia, sendo também o pianista desse espetáculo e de outros que se seguiram. Essa experiência de teatro ligeiro e elegante teve pouca duração, pois era ainda muito reduzido o público de alta classe média, para o qual eram dirigidos os espetáculos. Assim, ainda em 1927, o compositor se viu na contingência de voltar às revistas mais populares dos teatros da Praça Tiradentes.

Em 1933 Jorge Fernandes gravou, na Odeon, O que eu queria dizer ao teu ouvido (com Mendonça Júnior). Nesse início da década de 1930, fez ainda Favela (com Joraci Camargo), Chove!... chuva!... (com Ascenso Ferreira), Bahia (com Álvaro Moreira), Banzo (com Murilo Araújo), Na minha terra tem (com Luís Peixoto), Felicidade (com Luís Peixoto), Guacyra (com Joraci Camargo), Leilão (com Joraci Camargo), lançada em 1933 por Jorge Fernandes, na Odeon, e Caboclo bom (com Raul Pederneiras), gravada na Columbia em 1942, por Jorge Fernandes etc.

Em 1935 fez sua primeira composição erudita, André de Leão e o demônio de cabelo encarnado, poema sinfônico baseado no poema de Cassiano Ricardo (1895-1974) e lançado em álbum, com libreto ilustrado pelo gravador Osvaldo Goeldi. Inspirando-se sempre na música regional, continuou a produzir no gênero erudito, editando suas obras por conta própria.

De 1949 a 1953 percorreu quase todo o Brasil, em missão especial do então Ministério da Educação e Saúde Pública, pesquisando motivos folclóricos que utilizaria em diversas obras, como no poema sinfônico O Anhangüera, para orquestra, coro misto, solistas e coros infantis (com argumento de sua esposa, Marta Dutra Tavares, e poemas de Murilo Araújo), composição em que utilizou instrumentos de percussão dos índios Tucuna, do alto Solimões, e o conhecido motivo indígena Canide ioune.

Ainda com o material obtido na viagem, em 1955 fez Oração do guerreiro, para baixo profundo. Compôs ainda Concerto, para piano e orquestra; Concerto em formas brasileiras, p/violino e orquestra; O sapo domado e A lenda do gaúcho, fantasias infantis. Deixou inacabados: Rapsódia nordestina e Fantasia brasileira, ambas para piano e orquestra, e o drama folclórico Palmares.

Em 1996 Fernando de Bortoli escreveu Hekel Tavares - O mais lindo concerto para piano e orquestra, São Paulo, Edição do autor, onde incluiu listagem das obras, discografia e bibliografia sobre o compositor.

Obra

Azulão (c/Luís Peixoto), canção, 1929; Bahia (c/Álvaro Moreira), s.d.; Banzo (c/Murilo Araújo), canção, 1933; Biá-tá-tá (c/Jaime d'Altavitta), coco, 1934; Caboclo bom (c/Raul Pederneiras), canção, 1942; Casa de caboclo (c/Luís Peixoto), canção, 1928; Chove!... chuva!... (c/Ascenso Ferreira), canção, 1931; Engenho novo, folclore, 1929; Eu ri da lagartixa, cateretê, 1928; Favela (c/Joraci Camargo), canção, 1933; Felicidade (c/Luís Peixoto), s.d.; Funeral de um rei nagô, s.d.; Guacyra (c/Joraci Camargo), canção, 1933; Humaitá, coco, 1934; Leilão (c/Joraci Camargo), 1933; Moleque namorador, fox-trot, 1927; Na minha terra tem (c/Luís Peixoto), canção, 1929; O que eu queria dizer ao teu ouvido (c/Mendonça Júnior), s.d.; Sabiá, canção, 1927; Suçuarana (c/Luís Peixoto), toada sertaneja, 1927.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha.

Heitor dos Prazeres

Pioneiro em todas as atividades as quais se dedicou, Heitor dos Prazeres nasceu no Rio de Janeiro em 23 de setembro de 1898 e morreu na mesma cidade em 4 de outubro de 1966. Seu pai era marceneiro e tocava na banda da Policia Militar, atividades seguidas por Heitor que se iniciou como polidor de móveis e encontrou sucesso na área musical. 


Estudou até a quarta série do primário e mesmo trabalhando desde os sete anos foi preso, por dois meses, aos treze, por vadiagem. Sua adolescência transcorreu entre a praça Onze e o Mangue, em contato com os "chorões" e os bambas do samba.

Começou a compor em 1912, aprendendo as lições da cultura popular com mestre Hilário Jovino, que o iniciou nas rodas de samba, em que era respeitado por ser um dos bons de pernada. Não perdia Festa da Penha, onde mostrava suas composições, carregando o cavaquinho, que aprendeu a tocar antes de completar dez anos.

Já conhecido no ambiente do sambas participou da criação de algumas escolas, tendo sido um dos fundadores da De mim ninguém se lembra, além de contribuir para o surgimento de outras como a Deixa Falar, a Mangueira e a Portela, nos anos 20.

Em 1929, venceu um concurso de samba, patrocinado pelo jornal A Vanguarda e realizado na casa do mangueirense Zé Espinguela. O samba A tristeza me persegue seria gravado nos anos 70 pela Velha Guarda da Portela, com grande êxito. Começa então sua maior disputa com Sinhô, envolvendo a autoria de diversos sambas e que acabou rendendo, de parte a parte, algumas jóias da música brasileira.

Francisco Alves gravou Ora vejam só e Cassino Maxixe, sendo suas autorias atribuídas exclusivamente a Sinhô, que com a reclamação de Heitor fez o samba-conselho Segura o boi. Heitor replica com Olha ele, cuidado! e a briga ficaria por ai se Cassino Maxixe não fosse gravada por Mário Reis no ano seguinte (1928), com o título definitivo de Gosto que me enrosco. Heitor dos Prazeres volta ao ataque com Rei dos meus sambas, alusivo ao título de Rei do Samba de Sinhô, que tenta inutilmente impedir a gravação do protesto. Mais tarde Heitor recebeu trinta e oito mil-réis por sua parte na parceria de Cassino Maxixe, acordo que lhe valeu também o reconhecimento da autoria.

Deixaste o meu lar é um samba só de Heitor, mas gravado em 1930 trazendo apenas o nome de Francisco Alves como autor, comprovando o comércio, a venda de sambas pelos compositores pobres aos ricos cantores do rádio.

Em 1931, casou com Glória dos Prazeres e, em 1932, apareceu como parceiro de Francisco Alves em Mulher de malandro, época em que abandonou as escolas de samba para se tornar profissional de rádio. Cria um grupo para acompanhá-lo, batizado como Heitor e Sua Gente. Com Noel Rosa compõe o maior êxito do Carnaval de 1936, Pierrô apaixonado. No ano seguinte, descobriu a pintura (Abaixo: um dos quadros de Heitor dos Prazeres, o pintor dos morros cariocas).

Sem abandonar o samba, iniciou-se como pintor primitivista, o que o levou a participar da Primeira Bienal de São Paulo em 1951, voltando a ela em 1953 e 1961. Esteve também em mostras coletivas em quase todas as capitais sul-americanas, em 1957; na exposição Oito Pintores Ingênuos Brasileiros, em Paris, em 1965; Pintores Primitivos Brasileiros em Moscou e outras capitais européias, em 1966. No mesmo ano em que morreu, representara o Brasil no Festival de Arte Negra, em Dacar; no Senegal.

Algumas músicas






Obra completa

Abandono, samba, 1928; Afine o cavaquinho, samba, 1944; Africana (c/J.Cascata), marcha, 1940; Ai que dor, samba, 1932; Alegria do morro Brasil, hino do Carnaval, 1939; Amar, meu bem, samba, 1930; Amargurado, samba, 1932; Até que enfim, favela (c/Nelson Gonçalves), samba, 1946; A cachopa e a mulata, marcha, 1951; Cadenciado, choro, 1950; Canção do jornaleiro, canção, 1933; Cansado, samba, 1932; Cantar pra não chorar (c/Paulo da Portela), samba, 1938; Carioca boêmio, samba-choro, 1945; Carnaval na bienal, marcha, 1952; Carnaval na primavera, marcha, 1961; Chora, samba, 1933; Chora, cuica!, samba, 1947; Coisa gozada, rancheira, 1932; A coisa melhorou, samba, 1943; Com saudade de você, samba, 1930; Comigo ninguém pode, samba, 1939; Cosme e Damião, samba 1954; Criança loura, samba, 1930; Crioulinho frajola, marcha, s.d.; Deixa a cuíca chorar, samba, 1949; Deixa eu chorar, samba, 1959; Deixa o palhaço na roda, marcha, 1940; Deixaste meu lar, samba, 1930; Depois do cinema falado, 1941; Desperte, dodô (c/Herivelto Martins), samba, 1946; É só trocar o pé, marcha-frevo, 1947; É tempo, samba, 1933; Ela foi embora, samba, 1964; Entreguei a Deus, samba, 1964; És falsa, samba, 1930; És feliz, samba, 1929; Estou mal (c/André Filho), samba, 1931; Eta, seu mano, baião, 1957; Eu choro, samba, 1932; Eu gosto de Carnaval, samba, 1928; Eu não fiz nada, samba, 1932; Eu não sei se é castigo (c/Bel Luis), samba, 1960; Eu quero uma mulher, marcha, 1951; Eu sei..., samba, 1963; Eu vou comprar, samba, 1933; Fon-fon, marcha, 1933; Fulana granfina, marcha s.d.; Gosto que me enrosco (c/Sinhô), samba, 1928; Hoje eu vivo triste, samba, 1959; Iemanjá (c/Kaumer Teixeira), ponto de macumba, 1954; Já é demais esta tristeza, samba, 1965; Já é hora, já é hora, rancheira, 1932; Lá em Mangueira (c/Herivelto Martins), samba, 1943; Uma linda roseira, marcha, 1963; Liquita, marcha, 1939; Madureira (c/Kaumer Teixeira), samba, 1957; Margarida, marcha, 1928; Maria seu xodó (c/A. Monteiro), samba, 1959; Meus pecados, samba, 1930; Miss crioula, samba, 1930; Mulata cor de jambo, samba, 1937; Mulher de malandro, samba, 1932; Na casa do seu Zé, marcha, 1951; Na sua casa tem... (c/André Filho), samba, 1938; Nada de rock rock, samba, 1957; Não adianta chorar, samba, s.d.; Não há, samba, 1944; Não sei o que vou fazer, samba, 1933; Não sei por que, samba, s.d.; Não sei que mal eu fiz, samba, 1934; Nega, samba, 1939; Nega, meu bem, samba, 1932; Nossa Senhora de Copacabana (c/Kaumer Teixeira), samba, 1956; Nossa separação (c/Herivelto Martins), samba, 1943; Olha a rola, 1933; Olha ele, cuidado, samba, 1928; Olhar e gostar (c/Sílvio Galicho), cena cômica, 1941; Olinda (c/Herivelto Martins), samba, 1946; Pai bendito (c/KaumerTeixeira), ponto de macumba, 1955; Para quem servir, samba, 1930; Pierrô apaixonado (c/NoeI Rosa), marcha, 1936; Primeira linha, samba, 1930; Primeiro nós, samba, 1948; Progresso, samba, 1932; Quanto dói uma saudade, samba, só.; Que será de mim?, samba, 1930; Quebra, morena, samba, 1942; Quem bate na minha porta (c/Henrique Barbosa e João Barbosa), samba, 1939; Quem tem um amor e gosta, samba-choro, 1959; Rei dos meus sambas, samba, 1929; Riso fingido, samba, 1931; Rosa, não chores, samba, 1930; Samba de nego (c/Kaumer Teixeira), samba, 1955, Santa Bárbara, ponto de macumba, 1955; São Cosme e São Damião (c/Kaumer Teixeira), baião, 1955; São Paulo, parabéns (c/Kaumer Teixeira), marcha, 1954; Saudosa favela, samba, 1958; Saudoso trovador, samba-canção 1959; Se eu pudesse formar, samba, 1948; Sem reclamar (c/D. Carvalho), samba, 1961; Sinhá, marcha, 1932; Só acredito em você, samba-canção, 1961; Só eu sei, samba, 1947; Sou eu que dou as ordens, samba, 1946; Tá rezando, baião, 1956; Tia Chimba, embolada, 1930; Todos gostam de você (c/Kaumer Teixeira), baião, 1955; Trapaiada, samba, 1930; Tristeza (c/João da Gente), samba-canção, 1936; A tristeza (c/Herivelto Martins), samba, 1944; A tristeza me persegue, samba, 1927; Tu hás de sentir, samba-canção, 1931; Tu já foste boa, samba, 1930; Tudo acabado, samba, 1945; Tudo azul (c/H. Ricardo), samba, 1960; Um, dois, três..., marcha, 1932; Vai mesmo, samba, 1928; Vai, saudade, samba, 1964; Vai, vai, samba, s. d.; Vem pro samba, mulata, samba, 1957; Vida de casado (c/Sílvio Galicho), cena cômica, 1941; Você pra mim morreu, samba, 1941; Você tem casa e comida, samba, 1946; Volta ao seu lar (c/Kaumer Teixeira), samba 1956; Voltaste ao teu lar, samba, 1935; Vou da um grito, samba, 1932; Vou fazer tua vontade, samba, 1933; Vou te abandonar, samba, 1930; Vou ver se passo, 1934.


Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha, SP, 1998.

Gastão Formenti

Gastão Formenti, cantor e pintor, nasceu em Guaratinguetá SP (24/6/1894) e faleceu no Rio de Janeiro RJ (28/5/1974). Filho de um italiano, pintor, decorador e cantor lírico amador tinha um ano, quando a família se mudou para São Paulo SP.


Fez o primário na Escola Filorette Fondacari em São Paulo e o secundário no Ginásio São Bento, no Rio de Janeiro. Aos nove anos começou a estudar pintura com o pai e com Pedro Strina. Em 1910, transferindo-se com a família para o Rio de Janeiro, passou a trabalhar com o pai em pintura e, a 25 de fevereiro de 1920, casou com Odília de Oliveira.

Levado pelo escritor Gastão Penalva, em 1927 apresentou-se na Rádio Sociedade, cantando Ontem ao luar (Choro e poesia) (de Pedro de Alcântara, com letra de Catulo da Paixão Cearense). Ainda nesse ano, foi contratado pela Odeon, que havia pouco inaugurara no Brasil o sistema elétrico de gravação. Seu primeiro disco incluía a canção sertaneja Anoitecer (de autor anônimo) e o tango sertanejo Cabocla apaixonada (Marcelo Tupinambá e Gastão Barroso). Em seguida, gravou composições de Joubert de Carvalho, entre as quais Canarinho, Rolinha, Boca pintada e Sabiá mimoso.

De 1927 a 1930, lançou músicas tanto pela Odeon, como pela sua subsidiária, a Parlophon. Em 1928 obteve êxito extraordinário com a gravação, na Parlophon, da canção Casa de caboclo, música de Hekel Tavares sobre motivos de Chiquinha Gonzaga e versos de Luiz Peixoto. Ao lado de Carmen Miranda, foi o primeiro cantor brasileiro a assinar contrato de rádio (com a Mayrink Veiga) em 1930, ao mesmo tempo em que passou a gravar na Brunswick. Ainda nesse ano transferiu-se para a Rádio Transmissora.

Em fevereiro de 1931 gravou um disco na Columbia e, logo depois, foi contratado pela Victor através da qual lançou várias músicas da dupla Joubert de Carvalho e Olegário Mariano, como o cateretê De papo pro á, a canção Zíngara e o fox Beduíno.

Em junho de 1932 gravou a canção Maringá (Joubert de Carvalho), que alcançou grande sucesso e que, mais tarde, daria nome à cidade paranaense. Em novembro do mesmo ano, gravou e fez sucesso com Na Serra da Mantiqueira (Ari Kerner). No ano seguinte, depois de gravar Folhas ao vento (Milton Amaral), passou a atuar na Rádio Clube.

Em 1934 e 1935, lançou várias composições de Valdemar Henrique. Cantor essencialmente romântico, fez sucesso no Carnaval de 1935 com Samba da saudade (Ronaldo Lupo e Saint-Clair Sena). Em 1937, depois de mais um grande êxito com a canção Coração, por que soluças (José Maria de Abreu e Saint-Clair Sena), voltou para a Odeon. Em 1939, na Columbia, gravou com sucesso a valsa Não sei para que viver (Saint-Clair Sena).

De volta à Odeon em 1941, no ano seguinte passou a cantar esporadicamente, dedicando-se à pintura, na qual também se destacou, tendo inclusive quadros expostos em museus brasileiros e do exterior. Em 1947, ainda na Odeon, lançou a valsa Não vale recordar (José Conde e Mário Rossi) e a toada-rumba Lua malvada (Saint-Clair Sena).

Em 1952, agora na Victor regravou Nhá Maria e Trovas de amor (ambas de Joubert de Carvalho) e, em 1956, na Sinter, relançou De papo pro ar e Maringá. Em 1959 a RCA Victor regravou seus grandes sucessos no LP Quadros musicais. Após esse lançamento, retirou-se definitivamente da vida artística. Deixou cerca de 314 gravações em 78 rpm, podendo ser considerado um dos grandes cantores brasileiros de todos os tempos, pela voz, interpretação, técnica e repertório.

Algumas músicas
















Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha; Dicionário Cravo Albin.

Freitinhas

Freitinhas

José Francisco de Freitas, o Freitinhas, foi compositor e instrumentista. Nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1897 e faleceu em 13 de fevereiro de 1956. Estudou piano e teve aulas iniciais de composição com Francisco Braga, compondo sua primeira música aos oito anos, a valsa Treze de Setembro. Em 1912 publicou a valsa Tarde e, dois anos depois, Amor que engana, despertando atenção como autor.


A partir de 1918 começou a escrever partituras para revistas e burletas do teatro musicado, compondo para a revista Zé dos Pacotes, de Miguel Santos, que marcou sua estréia no gênero. Aos 21 anos começou a atuar também como pianista, na Casa Carlos Wehrs.

Em 1923 já havia editado nessa casa 64 composições. No mesmo ano obteve seu primeiro grande sucesso, com o fox-trot Vênus, dedicado a Zezé Leone, vencedora de concurso nacional de beleza. Três anos depois, lançou-se como compositor de músicas para o Carnaval, com a marcha Zizinha (com Carlos Bittencourt e Cardoso de Meneses), lançada na burleta de Freire Júnior Ai, Zizinha. Obteve sucesso também com outras músicas, grandemente influenciadas pelo charleston, entre as quais Eu vi Lili. Por essa época, animava bailes, regendo uma pequena orquestra, no estilo jazz band, com um repertório que incluía suas composições carnavalescas. Para divulgá-las, mandava imprimir folhetos com a letra e a partitura, que distribuía gratuitamente.

Em 1927, sua marcha Dondoca obteve sucesso tão grande que seus editores, a Casa Carlos Wehrs, lhe deram uma medalha de ouro. A marcha foi lançada pela atriz Margarida Max na revista Sol nascente, de Carlos Bittencourt, Cardoso de Meneses e Alfredo Pujol. Dois anos depois, apesar do sucesso de Dorinha, meu amor, sua popularidade começou a declinar pelo surgimento de nova geração de compositores carnavalescos.

No Carnaval de 1933 ainda obteve prêmio da prefeitura carioca com Não faço questão de cor, desaparecendo do cenário carnavalesco e limitando-se a novas apresentações em revistas de teatro.

Principais obras

Dorinha, meu amor, marcha, 1929; Eu vi Lili, marcha, 1926; Miserê, samba, 1924; Vênus, fox-trot, 1923; Zizinha (com Carlos Bittencourt e Cardoso de Meneses), marcha, 1926.

Letras de músicas no site








Algumas obras

01 Canção da mocidade (marcha) - Intérprete: Banda do Corpo de Bombeiros - Gravadora Odeon - Álbum 112619 - Gravação 1915-1921 - Lançamento 1915-1921 - Lado único - Disco 78 rpm; 02 O sabiá (canção sertaneja) - Intérprete: Bahiano - Gravadora Odeon - Álbum 121532 - Gravação 1915-1921 - Lançamento 1915-1921 - Lado indefinido - Disco 76 rpm; 03 Baú enferrujado (samba) - Intérprete: Fernando - Acompanhamento Coro - Gravadora Odeon - Álbum 122852 - Gravação 1921-1926 - Lançamento 1921-1926 - Lado único - Disco 78 rpm; 04 Pra que você tem (samba) - Intérprete: Fernando - Composição com Orlando Vieira - Acompanhamento Coro e Jazz Band Sul Americano Romeu Silva - Gravadora Odeon - Álbum 122850 - Gravação 1921-1926 - Lançamento 1921-1926 - Lado indefinido - Disco 76 rpm; 05 Suspiros que sangram (tango) - Intérprete: Herócles Brandão - Gravadora Odeon - Álbum 122454 - Gravação 1921-1926 - Lançamento 1921-1926 - Lado indefinido - Disco 76 rpm; 06 A bola preta (marcha carnavalesca) - Intérprete: Grupo do Moringa - Gravadora Odeon - Álbum 122003 - Gravação 1921-1926 - Lançamento 1921-1926 - Lado indefinido - Disco 76 rpm; 07 Não chora neném (maxixe) - Intérpretes: American Jazz Band - Sílvio de Souza - Gravadora Odeon - Álbum 123045 - Gravação 1925-1927 - Lançamento 1925-1927 - Lado único - Disco 78 rpm; 08 Salomé, meu bem (maxixe) - Intérprete: American Jazz Band de Sílvio de Souza - Gravadora Odeon - Álbum 123038 - Gravação 12/1925 - Lançamento 07/1927 - Lado indefinido - Disco 76 rpm; 09 És a minha assombração (samba) - Intérprete: Frederico Rocha - Gravadora Odeon - Álbum 123256 - Gravação 1925-1927 - Lançamento: 1925-1927 - Lado indefinido - Disco 76 rpm; 10 Salve a rainha (valsa lenta) - Intérprete:Pedro Celestino - Acompanhamento Orquestra Pan American do Cassino Copacabana - Gravadora Odeon - Álbum 123308 - Gravação 1925-1927 - Lançamento 1925-1927 - Lado indefinido - Disco 76 rpm; 11 Mexe baiana (maxixe) - Intérprete: Orquestra Pan American - Gravadora Odeon - Álbum 10034 - Gravação 00/1927 - Lançamento 00/1927 - Lado B - Disco 78 rpm; 12 Sempre a chorar (modinha) - Intérprete: Augusto Calheiros - Gravadora Odeon - Álbum 10075 - Gravação 00/1927 - Lançamento 00/1927 - Lado B - Disco 78 rpm; 13 Revivendo o passado (valsa) - Intérprete: Pedro Celestino - Gravadora Odeon - Álbum 123309 - Gravação 00/1927 - Lançamento 00/1927 - Lado único - Disco 78 rpm; 14 Lulu... acende a luz (canção) - Intérprete: Francisco Alves - Composição com Luiz Iglesias - Gravadora Odeon - Álbum 10251 - Gravação 00/1928 - Lançamento 00/1928 - Lado A - Disco 78 rpm; 15 Que pequena levada (charleston) - Intérprete: Francisco Alves e Rosa Negra - Gravadora Odeon - Álbum 10154 - Gravação 00/1928 - Lançamento 00/1928 - Lado B - Disco 78 rpm; 16 Meu suquinho (marcha) - Intérprete: Francisco Alves - Composição com Lamartine Babo - Gravadora Odeon - Álbum 10154 - Gravação 00/1928 - Lançamento 00/1928 - Lado A - Disco 78 rpm; 17 Loló (marcha) - Intérprete: Francisco Alves - Gravadora Odeon - Álbum 10179 - Gravação 00/1928 - Lançamento 00/1928 - Lado A - Disco 78 rpm; 18 O gaúcho (canção) - Intérprete: Francisco Alves - Gravadora Parlophon - Álbum 12816 - Gravação 00/1928 - Lançamento 00/1928 - Lado A - Disco 78 rpm; 19 Uma noite de serenata (seresta) - Intérprete: Francisco Alves - Gravadora Parlophon - Álbum 12816 - Gravação 00/1928 - Lançamento 00/1928 - Lado B - Disco 78 rpm; 20 Não dou palpite (marcha) - Intérprete: Francisco Alves - Gravadora Odeon - Álbum 10353 - Gravação 00/1929 - Lançamento 00/1929 - Lado A - Disco 78 rpm; 21 No grajaú, Iaiá (samba de elite) - Intérprete: Mário Reis - Composta com Dan Malio Carneiro - Gravadora Odeon - Álbum 10576 - Gravação 1929-1930 - Lançamento 03/1930 - Lado A - Disco 78 rpm; 22 Capricho de mulher (samba) - Intérprete: Mário Reis - Gravadora Odeon - Álbum 10539 - Gravação 00/1930 - Lançamento 00/1930 - Lado A - Disco 78 rpm; 23 Gueishinha (samba) - Intérprete: Sebastião Rufino - Gravadora Brunswick - Álbum 10130 - Gravação 00/1930 - Lançamento 00/1931 - Lado B - Disco 78 rpm; 24 Eu não posso perder pra você (marcha) - Intérprete: Gastão Formenti - Gravadora Brunswick - Álbum 10136 - Gravação 00/1930 - Lançamento 00/1931 - Lado B - Disco 78 rpm; 25 O retrato da mulher que a gente gosta (samba) - Intérprete: Januário de Oliveira - Gravadora Columbia - Álbum 5185 - Gravação 00/1930 - Lançamento 1930-1931 - Lado B - Disco 78 rpm; 26 Eu sou é ulio (marcha) - Intérprete: Sílvio Salema / Gravadora Victor - Álbum 33257 - Gravação 00/1930 - Lançamento 00/1930 - Lado A - Disco 78 rpm; 27 Beijo azul (tango) - Intérprete: Sônia Barreto - Composta com Osvaldo Santiago - Gravadora Victor - Álbum 33474 - Gravação 00/1931 - Lançamento 00/1931 - Lado A - Disco 78 rpm; 28 Alma perversa (tango) - Intérprete: Francisco Alves - Composto com João Rossi - Acompanhamento Orquestra Copacabana - Gravadora Odeon - Álbum 10815 - Gravação 10/06/1931 - Lançamento 1931/1931 - Lado B - Disco 78 rpm; 29 Sapeca (marcha carnavalesca) Intérprete: Celeste Leal Borges - Acompanhamento Orquestra Copacabana - Gravadora Odeon - Álbum 10741 - Lançamento 01/1931 - Lado A - Disco 78 rpm; 30 Mulata macumbeira (samba) - Intérprete: Celeste Leal Borges - Composta com Domingos Magarinos - Acompanhamento Orquestra Copacabana - Gravadora Odeon - Álbum 10741 - Lançamento 01/1931 - Lado B - Disco 78 rpm; 31 Não faço questão de cor (marcha) - Intérprete: Castro Barbosa - Gravadora Odeon - Álbum 10954 - Gravação 00/1932 - Lançamento 00/1933 - Lado A - Disco 78 rpm; 32 Flor do mato (canção) - Intérprete: Augusto Calheiros - Composição com Zeca Ivo - Gravadora Odeon - Álbum 11021 - Gravação 00/1933 - Lançamento 00/1933 - Lado B - Disco 78 rpm; 33 Mal de amor (marcha) - Intérprete: Leonel Faria - Álbum 11103 - Gravação 00/1934 - Lançamento 00/1934 - Lado B - Disco 78 rpm; 34 Questão de raça (marcha) - Intérprete: Arnaldo Amaral - Composta com Zeca Ivo - Gravadora Columbia - Álbum 22260 - Lançamento 01/1934 - Lado indefinido - Disco 78 rpm; 35 Teu passarinho (marcha) - Intérprete: Almirante - Composta com José B. de Abreu - Gravadora Odeon - Álbum 11304 - Gravação 00/1935 - Lançamento 00/1936 - Lado A - Disco 78 rpm; 36 Boquinha de carmin (marcha) -Intérprete: Carlos Galhardo - Composta com Marco Antonio - Gravadora Odeon - Álbum 11451 - Gravação 00/1936 - Lançamento 00/1937 - Lado B - Disco 78 rpm; 37 Um minuto de felicidade (valsa) - Intérprete: Gastão Formenti - Composta com Valfrido Silva - Gravadora Odeon - Álbum 11590 - Gravação 00/1938 - Lançamento 00/1938 - Lado A - Disco 78 rpm; 38 Confissão (canção) - Intérprete: Pedro Celestino - Composta com Adollar e Pedro Celestino - Gravadora Odeon - Álbum 12791 - Gravação 00/1947 - Lançamento 00/1947 - Lado A - Disco 78 rpm.



Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha - São Paulo, 1998.

Freire Júnior

Francisco José Freire Júnior, revistógrafo, pianista, compositor, nasceu em Santa Maria Madalena, RJ, no dia 4 de agosto de 1881 e morreu no Rio de Janeiro em 6 de outubro de 1956.


Aos oito anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro. Aos 14 anos, morando no bairro de Santa Teresa, começou a compor (tocando piano de ouvido) para um grupo de teatro amador.

Sua primeira composição foi para a peça O primo da Califórnia, de França Júnior. Em uma das apresentações, tocando ao piano, conhece Chiquinha Gonzaga, que o incentiva a estudar o instrumento. Assim o fez com o maestro Agnelo França, no Instituto Nacional de Música. Morou e estudou odontologia na ilha de Paquetá. Exerceu a profissão em escolas e consultórios particulares.

Ali também, durante anos, dirigiu o Paquetá Jornal. Sua primeira composição para o teatro profissional foi em 1917 para a revista Tudo dança, de Alvarenga Fonseca e J. Miranda, encenado no Teatro Carlos Gomes. Estreou como autor teatral em 1919 com a burleta Flor do Mal.

No período de 1919 até 1956, escreveu e encenou 172 peças teatrais. Tornou-se um dos maiores autores de revistas musicais do Brasil. Em 1934, tornando-se empresário do Teatro Recreio, ainda assume a direção do Teatro Cômico da Empresa Pascoal Segreto. Mais tarde dirige outras companhias teatrais. Em 1952 ganha medalha pela produção de Eu quero sassaricá, campeã de bilheteria de 1951.

Seus principais sucessos foram: Ai amor (1921), Ai, seu mé (1922), Luar de Paquetá (1923), Não olhe assim (1923), De cartola e bengalinha (1925), Malandrinha (1927), Amor de malandro e Seu Julinho vem (1929), Deusa (1931), Pálida morena e Revendo o Passado (1933), Hei de ver-te um dia (1935).

Seus últimos anos foram de declínio. Aplicou tudo que tinha para empresariar suas novas peças, mas não obteve sucesso algum. Morreu com problemas do desequilíbrio nervoso.

Algumas músicas

















Fonte: História do Samba - Fascículos - Editora Globo.

quinta-feira, 30 de março de 2006

Teatro de Revista

Uma das primeiras montagens de Walter Pinto - Teatro Recreio - Rio de Janeiro, anos 40.

O Teatro de revista é um gênero de teatro musicado caracterizado por passar em revista os principais acontecimentos do ano. A encenação é feita numa sucessão de quadros onde os fatos são revividos com intenção e humor. Tudo em meio a muitas danças, canções e outros números musicais.


Surgido no Rio de Janeiro em 1859, com a revista de Justino de Fiqueiredo Novais intitulada As surpresas do Sr. José da Piedade, relacionada ao ano de 1858 em dois atos e quatro quadros. Essa revista foi estreada no Teatro Ginásio, dia 15 de janeiro de 1859. Esse novo gênero de teatro com música firmou-se definitivamente a partir da década de 1880, com o aparecimento do magnifico Artur de Azevedo que se tornou o maior nome do teatro musicado brasileiro em todos os tempos.

No início, as revistas brasileiras sofreram a influência das revistas européias, até 1887, com a encenação da revista La gran via, por uma companhia espanhola. Nessa revistas as coristas cantavam em coro e não se movimentavam pelo palco. As revistas brasileiras inovaram e ganharam estilo próprio mesmo antes do final da década de 1880 quando passou a lançar músicas de sucesso popular.

O tango Araúna ou Xô, araúna, da revista Cocota, de Artur Azevedo, encenada em 1885, é considerada como a primeira música que saiu do palco para as ruas, para o domínio popular. Depois veio a cançoneta A missa campal, de Oscar Pederneiras, 1888, cantada, também, na revista de Oscar pederneiras. Em seguida vieram outras composições que fortificaram ainda mais esse tipo de teatro musicado.

Entre as mais famosas da época, tivemos o tango As laranjas da Sabina, com letra de Artur de Azevedo, que foi lançado pela soprano italiana Ana Manarezzi na revista A República, de Artur e Aluízio Azevedo, em 1890; o lundu Mugunzá, de F. Carvalho, lançado em 1892 na revista portuguesa Tim-tim por tim-tim, e o tango brasileiro Gaúcho, de Chiquinha Gonzaga, tocado pela primeira vez na revista Zizinha Maxixe, de autoria do ator Machado Careca, em 1897, que se tornou um dos maiores sucessos da música popular brasileira de todos os tempos, sob o nome de Corta-jaca.

Além de veículo da popularização de canções populares, o teatro de revista abrigou e deu nome a uma série de maestros-compositores, como a própria Chiquinha Gonzaga, Paulino Sacramento, Nicolino Milano, Bento Mossurunga, Antonio Sá Pereira, Sofonias Dornelas, Adalberto Gomes de Carvalho.

A partir da década de 1920, o teatro de revista sofreu a influência do cinema e seu tempo foi diminuído e passaram a concorrer, também, com os mágicos o que conduziu o gênero para o show, cuja tendência aumentou na década de 1930 com os espetáculos internacionais dos cassinos. Em 1935, foi encenada no Teatro Recreio, a revista de Freire Junior, intitulada Bailarina do cassino. Dessa forma a importância do teatro musicado passou para os shows de boate ou de teatros com o objetivo de atender a um público mais exigente.

O teatro de revista dando sucesso às músicas populares

Até o começo dos anos 20, o teatro de revista que se fazia no Brasil ainda era rudimentar, sem muita preocupação com guarda-roupas, cenários e mesmo com os próprios espaços onde era encenado. Naqueles momentos, aportam no Rio de Janeiro duas companhias européias que iriam ditar a mudança completa do comportamento do gênero, tanto no palco como fora dele.

Salvyano Cavalcanti de Paiva conta, no livro Viva o rebolado, como foi a reação nacional à presença da companhia francesa Ba-Ta-Clan: “Despertaram interesse, surpresa e sensação a saúde e a marcação das coristas, de corpo escultural, a música viva e funcional, os cenários magnificentes, a movimentação de luzes e cores que ampliava os efeitos estéticos e cenográficos e, em especial, o apelo erótico alcançado mediante a mostra generosa do nu feminino – que a Censura, no primeiro momento, não ousou proibir para não parecer matuta... Isto chocou mais aos empresários que ao público; verificaram, por fim, o acanhado das suas realizações. A conseqüência mais imediata foi a supressão das meias e das grosseiras roupas de malha das coristas. E tentativas de melhorar, enriquecer, as apoteoses: isto representou mudança radical na cenografia e nos figurinos e a introdução de uma coreografia consciente nos números de dança coletiva, até então executados na base do improviso”.

As observações se prestam também à companhia madrilense Velasco, que junto com a francesa trouxeram a feérie para o público carioca. Foi tal o impacto das mulheres europeias no país que, em São Paulo, um jovem tentou suicidar-se, saltando do viaduto do Chá, por amor a uma das francesinhas, e Juca Paranhos, futuro barão do Rio Branco, casou-se com a corista belga Marie Stevens.

A primeira revista brasileira não chegou a ficar em cartaz uma semana, por falta de público e proibição da censura, após a estréia. Denominava-se As surpresas do Sr. José da Piedade e foi encenado no Teatro Ginásio, no Rio de Janeiro, em 1859. A segunda tentativa foi em 1875, com a A Revista do Ano de 1875, escrita por Joaquim Serra, mas que acabou fracassando por excesso de sátiras políticas. Ainda nesse ano, do mesmo Serra, Rei morto, rei posto dá sinais de que público começava a aceitar o novo tipo de teatro.

O grande sucesso brasileiro apareceria em 1883, com o O Mandarim, espetáculo de Artur Azevedo e Moreira Sampaio, com a participação do cançonetista e compositor Xisto Bahia, considerado um dos maiores artistas populares de sua época e, segundo o próprio Artur Azevedo, “o ator mais nacional que tivemos”. Como revista inteiramente brasileira, a primeira carnavalesca a ser montada intitulava-se O Boulevard da Imprensa de Oscar Pederneiras.

Portugal nos manda, em 1892, suas cançonetistas da revista Tintim por tintim, com bastante êxito. A revista como balanço do ano desaparece no início do século. É o momento em que a música começa a tomar espaço maior no palco e o Carnaval a ser um dos seus principais motes, envolvendo-se o teatro de revista com as grandes sociedades carnavalescas, como os clubes dos Fenianos, Tenentes do Diabo, dos Democráticos e outros.

Na revista O Maxixe, em 1906, é lançado Vem cá mulata (Arquimedes de Oliveira e Bastos Tigre), no mesmo ritmo do título. Vira grito de guerra dos Democráticos nos carnavais seguintes, tal êxito que foi no palco. É um dos primeiros exemplares do teatro de revista como lançador de músicas que o povo adotaria de imediato. A fase das revistas do ano ficara para trás. O público crescente deixava-se seduzir por um tipo de teatro que alcançava uma estrutura tipicamente brasileira, mais que isso, carioca, e a revista assumia agora o papel que cumpriria nos anos seguintes, de lançadora de sucessos da música popular brasileira.

Cidade essencialmente musical, mesmo assim, o Rio de Janeiro só veria o prestígio do teatro de revista consolidado, nos últimos anos da década de 10 e nos primeiros da de 20. Assumida inteiramente a função de vitrine, abriria os palcos para compositores populares, que os levariam à celebridade, transformaria vedetes-cantoras nas mulheres mais desejadas e cobiçadas do país. Desejo e cobiça que, muitas vezes eram orientados para diferentes finalidades, visto que, na realidade, os compositores as desejavam como intérpretes de seus sambas nos palcos revisteiros e cobiçavam o resultado financeiro que, certamente, adviria de um lançamento feito por uma daquelas deusas.

Nos anos 20, o nome mais famoso a ter suas composições levadas a cenas foi José Barbosa da Silva, o Sinhô, que se auto-intitulava o Rei do Samba. Chegou à proeza – em duas ocasiões – de ter o mesmo samba cantado em duas revistas diferentes, encenadas simultaneamente. Além dele. A fase é de destaque para Freire Júnior, Eduardo Souto, Henrique Vogeler, Luiz Peixoto, Lamartine Babo, Hekel Tavares, Ary Barroso, entre outros.

Desde Pelo telefone, o propalado primeiro samba gravado, detecta-se um vínculo mais forte entre o teatro de revista e o samba. Inspirados na gravação do cantor Bahiano, os revistógrafos Álvaro Pires e Henrique Júnior apresentavam, no dia 7 de agosto de 1917, no Teatro Carlos Gomes, na praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, a revista Pelo Telefone. A repercussão do samba no Carnaval daquele ano não se transmitiu ao espetáculo, que ficou em cartaz apenas uma semana.

A que consegue êxito digno de nota, com mais de quatrocentas representações, e a revista Pé de Anjo, musicada pelo paranaense Bento Mossurunga e Bernardo Vivas. Nela aparecem as figuras de Júlia Martins, que gravou dezenas de duetos com o pioneiro Bahiano, nos discos da Casa Edison, e uma estreante que viria a ser a maior das vedetes de todos os tempos, a paulista Margarida Max. O sucesso era a marcha Pé de anjo, de Sinhô, que consolidou a aliança entre o teatro de revista e a música popular.

Considerada uma das maiores estrelas do teatro de revista em todos os tempos, a paulista Margarida Max, formou, com Augusto Aníbal e João Lins, o trio principal de atrações da revista 'Onde está o Gato". De autoria de Geysa Bôscoli e Luiz Iglésias foi montada em 1929, no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro.
Tanto assim que, no mesmo 1920, estréia a revista Papagaio Louro, com mais um samba de Sinhô, Fala meu louro, e no Teatro São José, Quem é bom já nasce feito, aproveitando o nome de outro samba dele. Quem apresenta é Otília Amorim, uma das grandes vedetes que disputavam as preferências do público carioca.

No ano seguinte, a revista Reco-Reco, estrelada pela mesma Otília, com música de Bento Mossurunga, destaca a presença do “tenor” Francisco Alves, vestido de malandro e cantando um samba que dizia: “Olha a menina / sem saia / freguês”. No Teatro São José, um samba de Caninha (José Luiz Morais) dava o que falar e o que cantar, emprestando seu nome à revista Esta nega qué mi dá. Francisco Alves e Otília lançaram o samba a duas vozes.

Uma “figurinha de brasileira petulante”, no dizer do crítico Mário Nunes, estreava na revista em 1922, destinada a ser a maior lançadora de talentos de toda a história do gênero. Vinda de espetáculos circenses, Araci Cortes iniciava a carreira em Nós pelas costas, estreada no Teatro Recreio, na última noite do ano de 1921.

Chegaram então as francesas e as espanholas. As comemorações do centenário de independência do Brasil, enchendo o Rio de Janeiro de festas e convidados, mais as presenças das coristas européias incendiaram os teatros de revista. As modificações começaram a ser adotadas e a aparecer já nos novos espetáculos. Um samba classificado como “à moda paulista”, composto por Eduardo Souto, transforma-se no sucesso do Carnaval de 1923 e na revista do mesmo nome. Tatu subiu no pau, montada pela empresa Paschoal Secreto, no Teatro São José, ultrapassando cem representações.

O elenco completo da revista "Ai se eu pudesse voá", montada no Rio de Janeiro, no final dos anos 20. Na fotografia destacam-se o ator Brandão Sobrinho, que está logo abaixo do estandarte, e o cantor Vicente Celestino, o último da esquerda, na fileira do meio. A estrela com o leque, é Vitória Soares.
Luiz Peixoto chega de Paris e encena Meia noite e trinta, colocando no palco tudo o que aprendera lá. É a pá de cal no enterro da velha revista, que agora tem gosto refinado em cenários, guarda-roupa, iluminação, textos, e oferece muito melhores condições aos seus lançamentos musicais. Francisco Alves é uma das atrações, ao lado de sua mulher Nair. Além de cantar, dança desenvolto com ela. Ainda em 1923, Chico Alves participaria, junto com da iniciante Araci Cortes, da revista Sinhô de ópio, na qual interpretava um almofadinha cantor. A partir daí, sua presença torna-se mais rara até por volta de 1930, quando abandona o teatro e passa a se interessar mais por gravações e programas radiofônicos. Durante 15 anos, o teatro de revista foi a sua vitrine.

Um êxito estrondoso marcou o aparecimento, como estrela, de Margarida Max. A cinco de maio de 1924, estreou no Teatro Recreio, de Marques Porto e Afonso de Carvalho, a revista À La Garçonne, que modificaria costumes no país. Depois de trezentas representações, excursionou pelo Brasil, lançando a moda dos cabelos curtos para mulheres, “a lá garçonne” ou “a la homme”, tal como usava Margarida. Bonita, vistosa, talentosa e jovem, com enorme força interior, que faria dela a maior das vedetes do gênero. Iniciava ali uma carreira que acabaria por desbancar a estrelíssima Otília Amorim, vencendo as concorrências de Antônia Denegri, Eva Stachino, Lia Binatti, Zaíra Cavalcanti e da própria Araci Cortes, que ao final seria sua sucessora, sem contudo, alcançar seu status de grande dama do teatro de revista.

Uma das vezes em que o destino fez com que Margarida e Araci se cruzassem deve-se a um samba clássico. Araci lançou, em 1929, na revista É de Outro Mundo o samba de Ary Barroso e J. Carlos, A Grota Funda. Em 14 de maio de 1931, Margarida Maux, na revista Brasil do Amor, lança a versão definitiva do samba, agora com letra de Lamartine Babo e rebatizada como... No Rancho Fundo.

"Penas de Pavão", de Marques Porto e Afonso de Carvalho, foi encenada em janeiro de 11923, no Teatro Recreio, do Rio de Janeiro. O quadro chamava-se "Shimmy e Fox".
O decorrer dos anos 20 foi um contínuo ritmo de ascensão do teatro de revista e de suas belas mulheres cantoras. A catarinense Lia Binatti era procurada por compositores como Hekel Tavares, Henrique Vogeler, Sá Pereira, Otília Amorim, já veterana, mas bela e experiente, era exemplo para as que chegavam. Henriqueta Brieba iniciava sua longa carreira, que terminaria na televisão como comediante. Araci Cortes vai se firmando como protótipo da beleza da mulher brasileira.

Braço de cera consagra Margarida Maux, que canta o samba de Nestor Brandão, e Lia Binatti leva A favela vai abaixo, a revista e o samba de Sinhô, ao sucesso absoluto. A relação de grandes composições cresce a cada estréia de revista. Novos e antigos compositores se valem da revista para iniciar ou consolidar carreiras. Otília Amorim bisa e trisa o novo samba de Sinhô, Que vale a nota sem o carinho da mulher?, na revista Eu quero é Nota!. Simultaneamente, Vicente Celestino canta o mesmo samba em outra revista, Cadê As Notas?.

O bonito e original guarda-roupa da revista "Comidas, Meu Santo!" de Marques Porto e Ari Pavão, encenada no Teatro Recreio, do Rio de Janeiro, em 1925.
Com Gosto que me enrosco, Sinhô repete a proeza, Nelly Flores o canta em Seminua (agosto de 1928) e novamente Vicente Celestino fazia o eco, agora na revista Cachorro quente. Ainda em Seminua, Nelly lança outro clássico do Rei do Samba, Deus nos livre dos castigos das mulheres. Araci Cortes tem um dos seus maiores sucessos com Jura, na revista Microlândia, enquanto gente nova começa a aparecer.

A montagem de Miss Brasil apresenta, como um dos autores, o compositor Ary Barroso, que teria longa carreira na revista. Foi ele quem, por exemplo, lançou um jovem, cantando seu samba Gente bamba, que depois seria gravado como Faceira, na revista Brasil do amor, em 1931, no Teatro Recreio. O cantor estreante era ninguém menos que Sílvio Caldas, outro que, como Francisco Alves, cantou muito tempo no teatro de revista, lançando sambas como Caboclo da cidade e Malandro, de Freire Júnior, ou Cordiais saudações e Mulato bamba, de Noel Rosa, antes de se dedicar apenas ao rádio e ao disco. Ary lançou no palco sucessos como Dá nela, Eu sou do amor, Orgia, o já citado No rancho fundo, Boneca de piche, Vamos deixar de intimidade, Na batucada da vida, Foi ela, No tabuleiro da baiana e outras.

Entre os grandes sambistas que se envolveram com a revista, um dos pioneiros foi Alcebíades Barcelos, o Bidê, de quem Francisco Alves cantou o samba A malandragem, na revista Seu Julinho vem, de Freire Júnior, encenada pela Companhia de Alda Garrido no Teatro Carlos Gomes, em 1929. Margarida Max e suas coristas levantavam o público com o samba-choro O Gavião, de Pixinguinha, na revista Guerra ao mosquito, e Wilson Batista contava quem aos 16 anos, já tinha seu primeiro samba, Na estrada da vida, cantado pela estrela Aracy Cortes, em uma revista no Recreio.

Mas é claro que o teatro de revista tinha o seu lado de malícia, de duplo sentido, e musicalmente não fugiria também desse aspecto. O sambista Luís Soberano soube explora-lo entregando para Aracy Cortes cantar, na revista Não adianta chorar, em 1929, o samba Costureira, em que ela explorava todo o seu talento junto à platéia: “Eu quero ver, por ventura minha / qual dos senhores é que se orgulha / de conseguir meter a linha / no buraquinho, desta agulha / Que o consiga é o que desejo / E como prêmio eu darei / ao vencedor um beijo / E coisa mais, que não direi”, e seguia até o final: “Que tem seu ponto fraco / Se a gente perde a linha / Não dá com o buraco”.

A mesma Aracy lançou de Ismael Silva e Nilton Bastos, o Se você jurar, de Noel Rosa, os sambas Com que roupa?, Queixume, Eu vou pra Vila, Gago apaixonado e Dona Aracy. De Almirante e Homero Dornellas, a estrelíssima cantou no Teatro Recreio, na revista Dá nela (1930) um samba que fez furor, usando pela primeira vez a cuíca, o pandeiro, o surdo, o ganzá, o reco-reco, o tamborim e o triângulo. Tratava-se de Na Pavuna, que com a repercussão acabou virando ele próprio uma revista, de Freire Júnior e Luiz Iglesias, estreando no Cassino Beira Mar, naquele mesmo ano.

No Teatro João Caetano, em setembro de 1930, estreou a revista Vai dar o que falar, de Luiz Peixoto, com música de Ary Barroso. Nela, estreava Carmen Miranda, que passou por um susto. A platéia vaiou um dos seus quadros, do qual participavam cavalos da Polícia Militar e que representava o meretrício do Mangue. Ouviu-se um estampido de um tiro, os cavalos se assustaram e dispararam no local. Carmen foi praticamente empurrada para o palco, mas acalmou o público cantando. Os jornais creditaram a ela o fato de não ter ocorrido uma tragédia.

Ainda no reinado de Aracy, em 1932, na revista Com a letra, ela registra um raríssimo samba da lavra de Lamartine Babo, Só dando com uma pedra nela, que o autor viria a gravar em parceria com Mário Reis. E, em Angu de caroço, ela contribui para o início da carreira, no teatro de revista, do ator Oscar Tereza Dias, o Oscarito, que, em dupla com ela, lança o samba de Noel, Mulato bamba, gravado no ano seguinte por Mário Reis.

Surge então a Casa de Caboclo, uma companhia montada pelo bailarino Duque (Antônio Lopes de Amorim Diniz), o mesmo que levara o maxixe e os Oito Batutas a Paris. Na companhia, aparece um duo chamado Jararaca e Ratinho e uma nova vedete com o nome de Dercy Gonçalves. A revista chama-se Que-qué qué casa e limitava-se a repetir os sambas lançados em outros teatros.

Até a chegada dos anos 40, o teatro de revista manteve sua missão de lançador da música brasileira. Em 1939, na revista Camisa amarela, no Teatro Recreio, Moreira da Silva ainda encontra espaço para popularizar o samba de breque. Daí para frente, mudaria a filosofia, entrariam as vedetes estrangeiras, reinariam as plumas e os paetês, o texto ganharia o espaço maior e o rádio passaria a ser o grande divulgador da música do povo.

A malícia do samba no teatro de revista

Dizem todos: / Tem uma graça feiticeira, / Só porque aqui nasci / Nesta terra brasileira / Com meu cheiro de canela / Minha cor de sapoti, / Dizem todos: / Lá vem ela! / O demônio da Araci!

O samba Graça de Araci, de Ary Barroso, na revista Não adianta chorar, encenada em agosto de 1929, no Teatro Recreio do Rio de Janeiro, retratava musicalmente a mais polêmica, musical e importante vedete que o teatro de revista brasileiro teve em toda a sua história.

Zilda de Carvalho Espíndola começou a escalada para a fama no teatro de revista brasileiro, ao integrar o elenco de Sonho de Ópio, estreada em novembro de 1923, no Teatro São José. A figura de mulher bem brasileira, a morenice tentadora e petulante, somadas à boa voz, segura interpretação e presença dominante em cena, logo fizeram dela atriz disputada pelos empresários para as montagens de revistas subsequentes.

Aliás, disputada foi a palavra que Aracy Cortes, nome artístico adotado por Zilda, mais ouviu em toda a sua vida. Disputava-se Aracy atriz, Aracy mulher e, principalmente, Aracy cantora. Em muito pouco tempo, a fama de intérprete afinada, maliciosa, de excelente estampa, agradando plenamente ao público, fazia com que todos os compositores a procurassem para ver suas músicas incluídas nas revistas por ela estreladas.

A princípio, Aracy era obrigada a cantar as músicas apontadas pelo repertório original dos espetáculos, mas sua força cresceu tanto que passou a impor composições e compositores de seu agrado. De tal forma que até mesmo algumas revistas acabavam por serem batizadas com nomes de suas músicas favoritas.

No início da carreira, houve, entre ela e o compositor Sinhô, como que uma troca de favores. Era ele quem tinha fama, enquanto ela era principiante. Mas depois de ter aprendido muito de interpretação com o maestro Paulino Sacramento, de ser dirigida e orientada por Luís Peixoto, Aracy começou a se ombrear com o compositor e, quando cantou dele, em 1929, o samba Jura, estava efetivamente consagrada. Todas as noites bisava e trisava, na revista Microlândia, de Marques Porto, Luís Peixoto e Alfredo de Carvalho, no Teatro Fênix, de início, e posteriormente no Palace-Théâtre. Interessava, então, a Sinhô que a força de Aracy fosse usada no lançamento de suas músicas.

Mulher muito à frente de seu tempo, Aracy Cortes desde sempre desafiava preconceitos. Escorada na beleza física e na graça com que se apresentava nos palcos do teatro de revista, construiu carreira que lhe permitia todas as ousadias. Como a posar praticamente nua, "vestida" apenas com um violão, foto de 1924, resultando em um dos seus maiores sucessos, a canção "Gemer num violão", que ela interpretava de forma desabusada, sempre na certeza de ser chamada de volta ao palco, três ou quatro vezes por noite. Até encerrar em definitivo a carreira, no musical "Rosa de ouro", que a conduziu ao palco nos anos 60, manteve a pose e o charme de grande estrela.

Força que ficou patente em outro clássico absoluto da música popular brasileira, tido pelos pesquisadores como o primeiro samba-canção que se conhece. Linda flor, de Henrique Vogeler, fora lançado, com letra de Cândido Costa, em uma comédia musicada de Freire Júnior, chamada A verdade ao meio-dia, em agosto de 1928. Cantada por Dulce de Almeida, passou despercebida. Mais tarde, ao montar a revista Miss Brasil (no Teatro Recreio, em dezembro do mesmo ano), Luís Peixoto colocou nova letra, rebatizou-a como Iaiá, que acabou famosa como Ai, Ioiô, e entregou-a a Aracy. Sucesso imediato no palco e definitivo em disco, com prêmio ganho até na Alemanha.

A voz de Aracy Cortes tinha o “toque de Midas”. Nada mais natural, portanto, que fosse assediada por todos os grandes compositores. Desde o maestro Paulino Sacramento, seu mestre musical, de quem lançou o samba Ai, madame, logo na estreia, até o consagrado Ary Barroso, todos a cortejavam. E ela rainha que era, aceitava tranquilamente a corte. De Ary começou logo com Vou à Penha e Vamos deixar de intimidade (ambos, depois gravados por Mário Reis), lançados na revista Laranja da China, de Olegário Mariano, no Teatro Carlos Gomes, em 1929. Lançou no teatro e no disco (de Ary e Lamartine Babo), Gemer num violão e, só de Ary, o citado Graça de Aracy, além de Eu sou do amor, Orgia, Boneca de piche, Deixa disso, Na batucada da vida, entre os mais conhecidos.

Noel Rosa, que pouca gente sabe ter andado pelo teatro de revista, entregou muito samba de sua autoria à voz de Aracy. Em janeiro de 1931, na revista Deixa essa mulher falar, ela cantava do Poeta da Vila, Com que roupa?. Além deste, em outras revistas, Aracy voltou a interpretar Noel em primeira mão, com sambas depois consagrados em diversas gravações: Queixume, Gago apaixonado e Dona Aracy.

Muitos outros sambistas de respeito pediram a bênção à grande estrela. Wilson Batista contava que aos 16 anos, trabalhando como eletricista no Teatro Recreio, teve seu samba Na estrada da vida lançado por ela. Almirante viu seu clássico (em parceria com Candoca da Anunciação) Na Pavuna cantado por Aracy na revista Dá nela, no Teatro Recreio, em 1930. Com tanto sucesso que virou nome de outra revista, montada por Freire Júnior no Teatro Cassino Beira Mar. De Ismael Silva e Nilton Bastos, ela lançou Se você jurar e, de Lamartine Babo, o samba Lua cor de prata e o antológico Canção para inglês ver. Mário Lago entregou-lhe Beijei, e Custódio Mesquita fez para ela, em parceria com Paulo Orlando, O tempo passa. De Kid Pepe, Germano Augusto e Seda, Aracy imortalizou o samba Implorar.

Bastaria, enfim, a simples carreira de Aracy Cortes para justificar o teatro de revista como palco lançador de sucessos da música popular brasileira, em particular o samba. Mas, a revista ainda fez mais, durante algum tempo, antes de se tornar apenas um festival de plumas, pernas e piadas.

Em junho de 1941, por exemplo, estreava no Teatro João Caetano, sempre na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, a revista Brasil Pandeiro, de Freire Júnior e Luís Pereira, musicada pelo baiano Assis Valente. Luxuosa e feérica, a revista apresentava quadros empolgantes e apoteóticos, ideal para a sambista Horacina Correia, uma mulata transpirando ritmo, lançar o samba que dava título à revista: “O tio Sam está querendo / conhecer a nossa batucada. / Anda dizendo que o molho da baiana / melhorou seu prato. / Vai entrar no cuscuz, / acarajé e abará”.


No ano seguinte, Assis Valente volta à revista, musicando A vitória é nossa, de Geysa Bôscoli e Freire Júnior, e, em 1943, sempre tendo como pano de fundo a presença brasileira na Segunda Guerra Mundial, Assis e Freire se juntam de novo e encenam Rei Momo na Guerra, estrelado por Dercy Gonçalves. O ponto alto era a figura do compositor Geraldo Pereira e 150 passistas e ritmistas da Escola de Samba da Mangueira, que pela primeira vez evoluía em um palco de revista.

Em 1944, Walter Pinto encena, assinada por Geysa Bôscoli e Luís Peixoto, a revista Momo na fila, sempre no seu reduto, o Teatro Recreio. Novamente Dercy é a estrela, e o êxito alcançado no ano anterior leva a Mangueira de volta ao teatro de revista, desta vez uma mini-escola de samba completa, sempre dirigida por seu compositor Geraldo Pereira. Para encenar To aí nessa boca, de 1949, J. Maia aproveitou a composição Que samba bom, de Geraldo Pereira, e criou a revista.

Não foi, porém, apenas Aracy Cortes que lançou grandes sambas e sambistas no teatro de revista. Mas, intérpretes de outros sambas alcançaram também sucesso, paralelas a Aracy, ou mesmo depois de a estrela entrar em declínio. Em 1933, por exemplo, quando da montagem de É batata, de Luiz Iglesias e Freire Júnior, da qual a própria estrela era Aracy, estava no palco uma estrela-mirim, apelidada Shirley Temple brasileira, que se chamava Isa Rodrigues. O comediante Oscarito, oriundo dos circos e que já tinha projeção na revista, sua mulher Margot Louro e a atriz Eva Todor dividiam, com a revelação infantil, as preferências do público. Aracy Cortes cantava Mulher, samba do portelense João da Gente, e Isa Rodrigues, que se tornaria grande caricata, arrebatava o público, cantando com Oscarito, de Ary Barroso, No tabuleiro da baiana, que Carmen Miranda acabara de gravar.

O gênero – designado mais como batuque que samba -, uma apoteose de basilidade, a figura da “baiana” sempre agradando, às vezes a mulher branca fingindo-se de mulata, fora lançado nos palcos por outra sambista de bossa e talento, a bela Deo Maia. Esta sim, mulata autêntica, que por longos anos manteve seu sucesso no teatro de revista, sempre com uma multidão de fãs. Fora do teatro, Deo Maia jamais conseguiu o mesmo êxito.

Ainda por muito tempo, o teatro de revista lançaria sambas e sambistas. As modificações sociais e políticas pelas quais passariam o Brasil não deixariam, porém, de atingi-lo e, ao fim dos anos 50, as coisas já tomavam outros rumos.

No final do ciclo como lançador de sucessos, o teatro de revista tem seu magnífico canto de cisne. No Teatro Carlos Gomes, na revista Branco tu é meu, em janeiro de 1952, Linda Baptista lança, de Lupicínio Rodrigues, o samba Vingança.

Praça Tiradentes e o teatro de revista

Centro nervoso dos teatros de revista do Rio de Janeiro, a Praça Tiradentes atraía compositores, músicos e cantores, à procura de emprego para seus talentos, nos muitos palcos iluminados, que faziam a cidade sonhar e cantar.

Nos anos 20 e 30, com a popularização do teatro, em particular as revistas, os “musicais”, o cenário teatral no Rio de Janeiro, antes sem oferecer nenhum conforto e com poucas opções de diversão melhorada, se vitaliza. As casas de espetáculo não somente se multiplicam pelos vários espaços centrais da cidade, como se vão adequando aos novos estratos sociais emergentes, principalmente as classes médias.

Dentro desse contexto, a Praça Tiradentes e seu entorno constituíram-se em um dos privilegiados locais para divulgação e circulação dos artistas – em especial, músicos, compositores e cantores – do período. Além de dos teatros João Caetano, Recreio, São José, Carlos Gomes, entre outros, onde se concentravam aqueles profissionais, bares e leiterias também representavam lugares de atração e de encontro para os que buscavam na praça uma oportunidade para exercer profissionalmente seus talentos.

Os mais procurados eram a Leiteria Dom Pedro II e o Café Carlos Gomes, onde hoje existe o Café Thalia, pontos de reunião de compositores como Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Wilson Batista, Henrique de Almeida, Roberto Martins, Bidê, Marçal, Jorge Faraj, Ataulfo Alves, Antonio Almeida e tantos outros.

Sabiam eles que, a qualquer momento, poderia surgir a chance de um trabalho ser aproveitado em uma das muitas revistas que eram encenadas nos teatros da praça. Custódio Mesquita, Ary Barroso, Sinhô, André Filho, Francisco Matoso já tinham se consagrado por ali e de repente a sorte poderia aparecer. No caso de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, jamais conseguiram participar das revistas, mas acabaram por se encontrar nos bares da praça e formar uma das mais importantes parcerias da música popular brasileira.

A maioria dos cantores e compositores “ainda do time de aspirantes” frequentava a Praça Tiradentes, uma espécie de vestibular. Depois de famosos e ganhando dinheiro para pagar elegantes alfaiates, já bem-sucedidos, transferiam-se para o Café Nice ou para o Café Papagaio, ao lado da conceituada Confeitaria Colombo.

Enquanto isso não acontecia, a solução era enfrentar as xícaras de café com leite nos botequins da Praça Tiradentes, compor os sambas em suas mesas, com tampo de mármore e pé de ferro, e aguardar que o sucesso os viesse resgatar dali. Ou que o próprio teatro de revista se encarregasse de os fazer famosos.


Fonte: História do Samba (fascículos) - Editora Globo.