Se alguém realizasse um concurso para eleger a canção mais executada nos bares noturnos de São Paulo, a vencedora seria muito certamente “Ronda”, do biólogo-compositor Paulo Vanzolini, cuja obra gravada não chega a cinquenta músicas. “Ronda” traduz na letra e na melodia o que há de mais comovedor para a alma do boêmio, com a história da mulher — naturalmente, também frequentadora da noite — que, “com perfeita paciência”, segue em busca do amante, ainda que na convicção de um dia encontrá-lo “bebendo com outras mulheres, rolando um dadinho, jogando bilhar...” “E nesse dia então”, promete a personagem “vai dar na primeira edição: cena de sangue num bar da Avenida São João”.
Sem dúvida, este samba-canção é uma obra-prima condensada em poucos versos, sob a forma de uma narrativa cinematográfica. Inspirada e composta na época em que o autor, ainda jovem, servia no exército e costumava arrebanhar soldados bêbados em bares e prostíbulos, teve a sua primeira gravação em agosto de 53, no Rio, com a cantora Inezita Barroso, em disco RCA cujo lado A trazia a moda “Marvada Pinga". O problema era que não tinha sido escolhida uma música para o lado B. Então, como Paulo Vanzolini e sua mulher estavam no estúdio, acompanhando Inezita, foi sugerido que se incluísse uma composição de sua autoria, pois não havia tempo a perder.
Assim, de forma improvisada, “Ronda” foi gravada com a cantora sendo apoiada por um grupo de músicos de primeira, entre os quais Garoto, Zé Menezes, Bola Sete, Chiquinho do Acordeom e Abel Ferreira, tendo este inventado uma introdução na hora. Entretanto, o disco não despertou o menor interesse e “Ronda” permaneceu desconhecida, menos pelos boêmios, companheiros de noitadas do autor.
Quatorze anos depois, ao realizar o disco-brinde Onze sambas e uma capoeira, apenas com canções de Vanzolini, o produtor Marcus Pereira escolheu “Ronda” para uma das faixas, entregando-a a Cláudia Moreno. Isso marcou o começo de sua escalada para o sucesso consagrador, atingido pela calorosa versão da cantora Márcia, e de outras também expressivas gravações como as de Carmen Costa, Ângela Maria, Nora Ney e Maria Bethânia.
Precedida pela clássica introdução que reproduz seus compassos finais, “Ronda” tem a virtude de conquistar o ouvinte logo a partir das notas iniciais, o que se deve ao charme produzido pela descida de meio em meio tom, nas notas mi, mi bemol e ré, que recaem sobre as sílabas “da”, de “ci-da-de” , no primeiro verso, “rar” e “trar” das palavras “pro-cu-rar” e “en-con-trar”, no segundo, respectivamente harmonizadas com acordes de lá menor com sétima, dó menor com lá no baixo e ré com sétima.
Em 1978, Caetano Veloso utilizou a melodia de sua frase final para arrematar a sua canção “Sampa”. Pertencente à casta dos bons compositores que não sabem tocar instrumento algum, Paulo Vanzolini não se envergonha de confessar que não consegue distinguir a diferença entre os modos maior e menor da música.
Ronda (samba-canção, 1951 - sucesso em 1967) - Paulo Vanzolini - Intérprete: Márcia
LP Ronda / Título da música: Ronda / Paulo Vanzolini (Compositor) / Márcia (Intérprete) / Gravadora: Odeon / Ano: 1977 / Nº Álbum: SMOFB 3929 / Lado B / Faixa 1 / Gênero musical: Samba-canção / MPB.
Sem dúvida, este samba-canção é uma obra-prima condensada em poucos versos, sob a forma de uma narrativa cinematográfica. Inspirada e composta na época em que o autor, ainda jovem, servia no exército e costumava arrebanhar soldados bêbados em bares e prostíbulos, teve a sua primeira gravação em agosto de 53, no Rio, com a cantora Inezita Barroso, em disco RCA cujo lado A trazia a moda “Marvada Pinga". O problema era que não tinha sido escolhida uma música para o lado B. Então, como Paulo Vanzolini e sua mulher estavam no estúdio, acompanhando Inezita, foi sugerido que se incluísse uma composição de sua autoria, pois não havia tempo a perder.
Paulo Vanzolini |
Quatorze anos depois, ao realizar o disco-brinde Onze sambas e uma capoeira, apenas com canções de Vanzolini, o produtor Marcus Pereira escolheu “Ronda” para uma das faixas, entregando-a a Cláudia Moreno. Isso marcou o começo de sua escalada para o sucesso consagrador, atingido pela calorosa versão da cantora Márcia, e de outras também expressivas gravações como as de Carmen Costa, Ângela Maria, Nora Ney e Maria Bethânia.
Precedida pela clássica introdução que reproduz seus compassos finais, “Ronda” tem a virtude de conquistar o ouvinte logo a partir das notas iniciais, o que se deve ao charme produzido pela descida de meio em meio tom, nas notas mi, mi bemol e ré, que recaem sobre as sílabas “da”, de “ci-da-de” , no primeiro verso, “rar” e “trar” das palavras “pro-cu-rar” e “en-con-trar”, no segundo, respectivamente harmonizadas com acordes de lá menor com sétima, dó menor com lá no baixo e ré com sétima.
Em 1978, Caetano Veloso utilizou a melodia de sua frase final para arrematar a sua canção “Sampa”. Pertencente à casta dos bons compositores que não sabem tocar instrumento algum, Paulo Vanzolini não se envergonha de confessar que não consegue distinguir a diferença entre os modos maior e menor da música.
Ronda (samba-canção, 1951 - sucesso em 1967) - Paulo Vanzolini - Intérprete: Márcia
LP Ronda / Título da música: Ronda / Paulo Vanzolini (Compositor) / Márcia (Intérprete) / Gravadora: Odeon / Ano: 1977 / Nº Álbum: SMOFB 3929 / Lado B / Faixa 1 / Gênero musical: Samba-canção / MPB.
Tom: G
G Bm De noite, eu rondo a cidade, F E a te procurar, sem encontrar. Am Am7+ No meio de olhares, espio Am7 D7 em todos os bares, você não está. G Bm E Volto prá casa abatida, Am Cm desencantada da vida, G E Eb7 o sonho alegria me dá, D7 G Bm Bbº nele você está. Am Ah, se eu tivesse D7 quem bem me quisesse, G esse alguém me diria: F#m B7 Desiste, esta busca é inútil, Em Am D7 eu não desistia. G Bm Porém, com perfeita paciência, F E sigo a te buscar, hei de encontrar, Am Am7+ bebendo com outras mulheres, Am7 D7 rolando um dadinho, jogando bilhar. G Bm E nesse dia, então, E Am Cm F vai dar na primeira edição: G E Eb7 Cena de sangue num bar D7/5+ G7+ da Avenida São João.
Fonte: A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34.
Sensacional na verdade um clássico da música brasileira parabéns a nos que tivemos a oportunidade de conhecer essa maravilha...
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