quarta-feira, 14 de junho de 2006

O pequeno burguês

Reformulador do samba-enredo, ao qual deu maior dinâmica, Martinho José Ferreira, o Martinho da Vila, foi se consagrar como estilizador de um outro tipo de samba, o partido-alto. “O que fiz foi pegar o partido-alto — que não era usado nem nas escolas, ficando apenas nos grupos e rodinhas — e dar uma forma, armando uma historinha com versos e refrão muito característico”, esclareceu o sambista em entrevista a Tárik de Souza, nos anos oitenta (História da música popular brasileira).

Esse esquema ele usou em seu primeiro grande sucesso, “O Pequeno Burguês”, e noutros sambas lançados na ocasião. “O Pequeno Burguês” narra a luta de um personagem sem recursos, que dá duro para se formar numa faculdade particular e receber o seu “canudo de papel”: “Felicidade, passei no vestibular / mas a faculdade é particular / particular, ela é particular / (...) / mas felizmente / eu consegui me formar / mas da minha formatura / não cheguei a participar”.

Além de vitorioso nas carreiras de cantor e compositor, Martinho tornou-se um batalhador pela valorização e difusão da cultura negra (A Canção no Tempo – Vol. 2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

O Pequeno Burguês (samba, 1969) - Martinho da Vila - Intérprete: Martinho da Vila

LP Martinho Da Vila / Título da música: O Pequeno Burguês / Martinho da Vila (Compositor) / Martinho da Vila (Intérprete) / Gravadora: RCA Victor / Ano: 1969 / Nº Álbum: BBL 1488 / Lado A / Faixa 3 / Gênero musical: Samba / MPB.

C                      Dm
Felicidade, passei no vestibular
           G7             C
Mas a faculdade, é particular
                         Dm
Particular, ela é particular
      G7                 C
Particular, ela é particular
Livros tão caros
                Dm
Tanta taxa pra pagar
                   G7
Meu dinheiro muito raro
                       C
Alguém teve que emprestar
                                     Dm
Meu dinheiro alguém teve que emprestar
           G7                        C
Meu dinheiro alguém teve que emprestar
 C
Morei no subúrbio
                Dm
Andei de trem atrasado
                   G7
Do trabalho ia pra aula
                     C
Sem jantar e bem cansado
Mas lá em casa à meia-noite
                     Dm
Tinha sempre a me esperar
                  G7
Um punhado de problemas
                C
E crianças pra criar
                              Dm
Para criar, só crianças pra criar
      G7                     C
Para criar, só crianças pra criar
Mas felizmente
                 Dm
Eu consegui me formar
                   G7
Mas da minha formatura
                     C
Nem cheguei a participar
Faltou dinheiro pra beca
                  Dm
E também pro meu anel
                G7
Nem o diretor careca
                 C
Entregou o meu papel
                             Dm
O meu papel, meu canudo de papel
        G7                   C
O meu papel, meu canudo de papel
E depois de tantos anos
                   Dm
Só decepções, desenganos
                  G7
Dizem que sou burguês
              C
Muito privilegiado
                    Dm
Mas burgueses são vocês
                  G7         C
Eu não passo de um pobre coitado
                      Dm
E quem quiser ser como eu
            G7          C
Vai ter que penar um bocado
        Dm
Um bom bocado
     G7            C
Vai penar um bom bocado
        Dm
Um bom bocado 
     G7            C
Vai penar um bom bocado

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